Precisando ensinar seu avô, tio ou mesmo um vizinho mais velho a usar o WhatsApp? Não importa o grau de intimidade com a pessoa, essa situação expõe fortes barreiras culturais e etárias.
O senso comum repete a dica: é só ter paciência. Mas será mesmo essa a única virtude necessária? Não. Boa comunicação, técnica, escuta e capacidade de encorajamento pode influenciar no sucesso – ou não – do processo de ensino do aluno.
Convidamos Luciana Allan, diretora do Instituto Crescer, para comentar sobre as virtudes que os mais jovens devem ter para ensinar idosos que querem usar o aplicativo de mensagens. Confira
O meio é a mensagem
“Saber se comunicar é uma das habilidades mais importantes quando o assunto é ensinar”, diz Allan. Para quê usar as expressões “printar” ou “bugar” quando quem segura o celular não as entende? E se você falar que ao apertar os dois botões ao mesmo tempo é possível tirar uma foto da tela? A frase fica mais longa, porém mais simples.
Uma boa interação é convite à coparticipação entre aluno e professor, diz Allan, o que facilita a compreensão de ambos. “Comunicação não é apenas verbal, olhe bem para o olho da pessoa”.
Não seja um ‘expert’
Parece controverso, mas não é. As principais demandas dos idosos são simples: enviar mensagens de texto, fazer ligações de voz e de vídeo e acessar algum serviço público ou aplicativo bancário, diz Allan. Mas, em alguns casos também vale ensinar a colocar figurinhas, emojis e gifs nas conversas.
No contexto brasileiro, onde em 2023, 66% dos idosos já tinham acessado a internet, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é provável que você não fale para um completo leigo. “É importante não estabelecer restrições para os objetivos da pessoa que está sendo ensinada”, diz.
Encoraje a outra pessoa
É parte importante do processo a celebração de conquistas. Ao se propor a ensinar alguém é necessário estar de antemão preparado para repetir instruções e lidar com frustrações, mas demonstrar algum entusiasmo ajuda muito. “Emocionalmente, reconhecer os avanços aumenta a autoestima e cria engajamento para seguir em frente rumo a novos desafios”, diz Allan.
Contextualize
É bem mais fácil dominar as tecnologias para quem teve contato com ela durante a juventude, devido à maior plasticidade neuronal que existe nessa fase da vida”, diz. Além disso é preciso ter o chamado “fit cultural”, que se refere à valores e crenças que cada um carrega. Por isso, se a duração do áudio não for um problema para ele, que continue assim.
Se as próprias crianças se irritam quando tratadas como crianças porque um idoso gostaria? “Lembre-se sempre que você vai ensiná-lo sobre tecnologia, mas que existem centenas de outras coisas que ele pode te ensinar no decorrer do relacionamento de vocês”, responde.
Segurança
O aplicativo é muito usado por criminosos. Para que a próxima vítima não seja quem você ensina é preciso dedicar um tempo para explicar como os golpes funcionam e as melhores maneiras de se proteger. “Demonstre exemplos de pessoas pedindo empréstimos se passando por familiares, de links anunciando promoções ou prêmios em dinheiro”, sugere.
A Secretaria Nacional dos Direito da Pessoa Idosa tem uma cartilha onde detalha algumas prevenções que vale dar uma olhada. “Golpes de WhatsApp são enquadrados como crime de violência patrimonial e, segundo o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, foram 74,2 mil crimes desse time, sendo quase metade realizado contra idosos”.
Com a mão na massa
Com a parte comportamental aprendida, agora é hora de colocar a mão na massa. Veja abaixo os principais elementos do aplicativo que devem ser ensinados.
- Conheça o Layout
Localize as principais funcionalidades do app, como a barra de pesquisa, a câmera e o ícone de adicionar contatos. É melhor citar por etapas, por exemplo: na parte de cima à direita você encontra a ‘camerazinha’ que tira fotos e filma, o símbolo de + para criar um contato, começar uma nova conversa ou montar um grupo.
Na parte de baixo da esquerda para a direita ficam as atualizações/status, que são textos, fotos, vídeos, gifs e mensagens de voz com duração de 24 horas. Também é possível se inscrever em sites de notícias. As funções seguintes são as ‘Ligações’, aquelas tradicionais de áudio, e mesmo local onde se vê o histórico delas.
Em ‘Comunidades’ pessoas são reunidas em grupos de assuntos específicos, por exemplo o grupo do condomínio ou de torcedores de um time de futebol. As ‘Conversas’ mostram todas as mensagens que recebeu ou enviou. Em ‘Configurações’ você edita seu perfil e ativa funções de privacidade, segurança e armazenamento.
- Principais funcionalidades
Dentro da conversa, ao clicar na foto do contato, você acessa todo o conteúdo enviado ou recebido daquela pessoa e consegue personalizar seu visual e definir preferências de privacidade. É onde se pode bloquear e denunciar um contato.
Na ‘Camerazinha’, ao clicar uma chamada de vídeo se inicia, enquanto no ‘Telefone’ uma ligação de áudio
Na parte de baixo da tela, no +, um leque de opções é aberto para escolher fotos, abrir a câmera, enviar localização, contato, documento ou fazer um pagamento. Também dá para fazer uma enquete, utilidade bastante utilizada em grupos.
Do lado direito um cifrão vai te destinar para uma tela onde é possível fazer pagamentos, mas isso só dá certo se o aplicativo estiver sincronizado com uma carteira digital (vamos deixar isso de lado, afinal o guia é descomplicado).
Em seguida vêm os ícones de foto e mensagem de áudio. É só pressioná-los e começar a falar, quando terminar, solte e a mensagem é enviada.
- Identificar golpes
Os criminosos agem de três maneiras principais no WhatsApp, entenda o funcionamento dos golpes e nunca caia neles:
- Phishing: Para obter dados pessoais como senhas e número de cartões de crédito, criminosos se passam por empresas, amigos ou familiares para induzir a vítima a fornecer essas informações ou clicar em links maliciosos. Ensine o idoso que é necessário desconfiar sempre de mensagens que pedem algum tipo de recurso financeiro - mesmo que pareça de uma instituição financeira.
- Engenharia social: Criminosos abordam vítimas e fingem ser familiares e dizem que mudaram de número e pedem um Pix ou o código de confirmação do WhatsApp para clonar a conta, por exemplo. É importante falar sobre o assunto e deixar o idoso alerta para mensagens do tipo.
- Aplicativos espiões: Eles monitoram secretamente as atividades do usuário e rastreiam informações pessoais, como ligações, localização e até dados bancários. Esses aplicativos são instalados quando criminosos, por meio de links, invadem o aparelho ou você baixa um app fora das lojas oficiais do seu celular. Neste ponto, é importante tratar dos perigos de clicar em links desconhecidos, mesmo que a origem pareça ser de uma fonte confiável.
- Dica bônus
O que fazer se um parente caiu em um golpe de WhatsApp? A primeira atitude é ajudar a fazer um boletim de ocorrência online, principalmente se houve transferência de dinheiro, no site da Polícia Civil do seu estado. Depois entre em contato com o suporte do WhatsApp, informe o número de telefone com o código do País, e-mail, sistema operacional do celular e detalhe o que ocorreu.
Para garantir, exclua aplicativos suspeitos ou que o idoso não baixou. É possível verifica-los em ‘Configurações’.