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Opinião|Boa ciência é humilde e sabe que pode ser substituída se houver falhas


Não são poucos nem desprezíveis os conhecimentos que a ciência estabelecida recebe das tradições de ambientes muito menos sofisticados

Por Demi Getschko

O ano termina e ressurgem nossas resoluções gregorianas ocidentais de sempre.

Voltando às reminiscências características da época, lembrei-me de Aleksandar Mandic que, além ter sempre um martelo sobre a mesa lá no iG, grudava na parede uma série de frases as mais variadas. Escreveu, inclusive, um livreto (Mandicas) onde essas frases estavam reunidas. Uma das que ele mais gostava era “tudo pode”.

O “tudo pode” remeteu-me a um cientista-filósofo bastante polêmico, Paul Feyerabend. Para ele, o único princípio que não inibe o progresso seria: “tudo vale a pena”. Feyerabend aborda de forma pouco convencional o conceito de “ciência” e a coloca como uma “ideologia” que, como as demais, deveria estar sob o comando das ferramentas da democracia.

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Numa palestra que deu em Viena em 1975, e que está disponível em texto com o provocador título “Como defender a sociedade contra a ciência”, ele expõe a tese de que “há muitas formas de desenvolver ciência, que não devem ser travadas em algum método único”. E que, “da mesma forma que se apoia a separação de Estado e Igreja, dever-se-ia buscar a separação entre Estado e Ciência”. A chocante afirmação usa como argumento que há coisas mais importantes, social e humanamente, do que a unção de uma “verdade científica”.

Quantas noções úteis e simples da agricultura, por exemplo, não podem recolhidas de uma conversa com os que lidam historicamente com a terra?

Essa discussão, sobre modelos e paradigmas, também é travada por outros importantes nomes na área, como Karl Popper e Thomas Kuhn. Num exemplo simples, de um não especialista, a mecânica de Newton continua servindo perfeitamente ao dia-a-dia , mesmo que tenha sido ultrapassada na Física com Einstein.

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Aliás, não são poucos nem desprezíveis os conhecimentos que a ciência estabelecida recebe das tradições de ambientes muito menos sofisticados. Quantas noções úteis e simples da agricultura, por exemplo, não podem recolhidas de uma conversa com os que lidam historicamente com a terra?

Lembro-me que, numa viagem de ônibus de algumas horas, sentou-se ao meu lado um senhor de etnia indígena, e desfilou-me uma coleção de conhecimentos únicos sobre ervas e tratamentos, que ele tinha obtido de sua avó e que preservava. Ou seja, são importantes os resultados palpáveis, venham da ciência estabelecida ou também dos ricos conhecimentos acumulados, mesmo que sem rigor científico.

A boa ciência é humilde e sabe que suas “verdades” podem ser substituídas sempre que falharem num teste. Como disse Shakespeare via Hamlet, “há mais mistérios entre o céu e a terra, Horácio, do que sonha nossa vã filosofia”.

O ano termina e ressurgem nossas resoluções gregorianas ocidentais de sempre.

Voltando às reminiscências características da época, lembrei-me de Aleksandar Mandic que, além ter sempre um martelo sobre a mesa lá no iG, grudava na parede uma série de frases as mais variadas. Escreveu, inclusive, um livreto (Mandicas) onde essas frases estavam reunidas. Uma das que ele mais gostava era “tudo pode”.

O “tudo pode” remeteu-me a um cientista-filósofo bastante polêmico, Paul Feyerabend. Para ele, o único princípio que não inibe o progresso seria: “tudo vale a pena”. Feyerabend aborda de forma pouco convencional o conceito de “ciência” e a coloca como uma “ideologia” que, como as demais, deveria estar sob o comando das ferramentas da democracia.

Numa palestra que deu em Viena em 1975, e que está disponível em texto com o provocador título “Como defender a sociedade contra a ciência”, ele expõe a tese de que “há muitas formas de desenvolver ciência, que não devem ser travadas em algum método único”. E que, “da mesma forma que se apoia a separação de Estado e Igreja, dever-se-ia buscar a separação entre Estado e Ciência”. A chocante afirmação usa como argumento que há coisas mais importantes, social e humanamente, do que a unção de uma “verdade científica”.

Quantas noções úteis e simples da agricultura, por exemplo, não podem recolhidas de uma conversa com os que lidam historicamente com a terra?

Essa discussão, sobre modelos e paradigmas, também é travada por outros importantes nomes na área, como Karl Popper e Thomas Kuhn. Num exemplo simples, de um não especialista, a mecânica de Newton continua servindo perfeitamente ao dia-a-dia , mesmo que tenha sido ultrapassada na Física com Einstein.

Aliás, não são poucos nem desprezíveis os conhecimentos que a ciência estabelecida recebe das tradições de ambientes muito menos sofisticados. Quantas noções úteis e simples da agricultura, por exemplo, não podem recolhidas de uma conversa com os que lidam historicamente com a terra?

Lembro-me que, numa viagem de ônibus de algumas horas, sentou-se ao meu lado um senhor de etnia indígena, e desfilou-me uma coleção de conhecimentos únicos sobre ervas e tratamentos, que ele tinha obtido de sua avó e que preservava. Ou seja, são importantes os resultados palpáveis, venham da ciência estabelecida ou também dos ricos conhecimentos acumulados, mesmo que sem rigor científico.

A boa ciência é humilde e sabe que suas “verdades” podem ser substituídas sempre que falharem num teste. Como disse Shakespeare via Hamlet, “há mais mistérios entre o céu e a terra, Horácio, do que sonha nossa vã filosofia”.

O ano termina e ressurgem nossas resoluções gregorianas ocidentais de sempre.

Voltando às reminiscências características da época, lembrei-me de Aleksandar Mandic que, além ter sempre um martelo sobre a mesa lá no iG, grudava na parede uma série de frases as mais variadas. Escreveu, inclusive, um livreto (Mandicas) onde essas frases estavam reunidas. Uma das que ele mais gostava era “tudo pode”.

O “tudo pode” remeteu-me a um cientista-filósofo bastante polêmico, Paul Feyerabend. Para ele, o único princípio que não inibe o progresso seria: “tudo vale a pena”. Feyerabend aborda de forma pouco convencional o conceito de “ciência” e a coloca como uma “ideologia” que, como as demais, deveria estar sob o comando das ferramentas da democracia.

Numa palestra que deu em Viena em 1975, e que está disponível em texto com o provocador título “Como defender a sociedade contra a ciência”, ele expõe a tese de que “há muitas formas de desenvolver ciência, que não devem ser travadas em algum método único”. E que, “da mesma forma que se apoia a separação de Estado e Igreja, dever-se-ia buscar a separação entre Estado e Ciência”. A chocante afirmação usa como argumento que há coisas mais importantes, social e humanamente, do que a unção de uma “verdade científica”.

Quantas noções úteis e simples da agricultura, por exemplo, não podem recolhidas de uma conversa com os que lidam historicamente com a terra?

Essa discussão, sobre modelos e paradigmas, também é travada por outros importantes nomes na área, como Karl Popper e Thomas Kuhn. Num exemplo simples, de um não especialista, a mecânica de Newton continua servindo perfeitamente ao dia-a-dia , mesmo que tenha sido ultrapassada na Física com Einstein.

Aliás, não são poucos nem desprezíveis os conhecimentos que a ciência estabelecida recebe das tradições de ambientes muito menos sofisticados. Quantas noções úteis e simples da agricultura, por exemplo, não podem recolhidas de uma conversa com os que lidam historicamente com a terra?

Lembro-me que, numa viagem de ônibus de algumas horas, sentou-se ao meu lado um senhor de etnia indígena, e desfilou-me uma coleção de conhecimentos únicos sobre ervas e tratamentos, que ele tinha obtido de sua avó e que preservava. Ou seja, são importantes os resultados palpáveis, venham da ciência estabelecida ou também dos ricos conhecimentos acumulados, mesmo que sem rigor científico.

A boa ciência é humilde e sabe que suas “verdades” podem ser substituídas sempre que falharem num teste. Como disse Shakespeare via Hamlet, “há mais mistérios entre o céu e a terra, Horácio, do que sonha nossa vã filosofia”.

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Opinião por Demi Getschko

É engenheiro eletricista

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