Por dentro da rede

Opinião|O avanço da IA exigirá novos debates sobre ética; leia análise


Desenvolvimento do supercomputador DeepSouth e os dilemas éticos emergentes na simulação de conexões neuronais revelam discussão ética na era da IA

Por Demi Getschko

É curioso observar, no vórtice de evolução tecnológica em que vivemos, a alternância de tendências e dos modismos. Ao sabor do que é mais impactante mercadologicamente, e qual a mitológica fênix, conceitos algo esquecidos são reciclados e revividos, quando a roda da tecnologia volta a lhes dar fôlego. Inteligência artificial (IA), em seus quase 70 anos de existência, passou por diversos “invernos” durante os quais sua popularidade caiu, mas hoje, graças às capacidades de processamento e armazenamento, é o tema mais quente. Há que se descontar as extrapolações que, indiscriminadamente, aplicam a etiqueta IA em tudo.

IA já teve diversos invernos, mas voltou com força  Foto: Aly Song/Reuters

Só pra recordar temas dormentes - mas que podem reviver de um momento a outro - a discretização do digital tem como alternativas computadores analógicos. Do mesmo modo que há espaço para a “lógica difusa” (fuzzy) além da lógica binária fixa. Afinal o cérebro humano tem um funcionamento analógico, mais associado a eventos químicos e elétricos que a eventos binários. Essa era a abordagem das “redes neurais”, ao simularem formas de simulação do aprendizado que acontece com as conexões e sinapses neuronais em nossos miolos.

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O maciço poder que a computação tradicional desenvolveu, manteve-a como principal simulador, em lógica discreta, de eventos que seriam mais apropriadamente tratados como analógicos. Mas isso não preclude a cíclica retomada de linhas antes abandonadas ou menos estimuladas. Notícia desta semana, por exemplo, apregoa que um supercomputador, usando redes neurais e a ser lançado em abril do ano que vem, conseguirá atingir a capacidade humana em termos de conexões neuronais. O DeepSouth, em desenvolvimento por equipe australiana e alemã, alega que realizará mais de 200 trilhões de operações sinápticas por segundo, rivalizando com o que o cérebro humano consegue. E há ainda um ponto muito importante nos dias de hoje: o consumo de energia do DeepSouth, por usar plataforma diversa da dos supercomputadores convencionais, deve ser muito menor do que o destes.

Enquanto aguarda-se a comprovação desses números, alguns dos pontos de debate hoje poderão ser recalibrados. Afinal, adotando-se um esquema de rede neuronal com aprendizagem não supervisionada, estamos criando algo que aprende de forma muito próxima à nossa. Revisitaríamos a discussão que temos hoje sobre “ética da IA”? Indo “além das sandálias”, arrisco-me a dizer que é uma saida simplória bradar por ética sem definirmos a priori o que queremos que IA entenda por isso. Arrisco-me a dizer que nós mesmo usamos “ética” como uma platitude que não gerará reação adversa, mas em nos darmos ao difícil trabalho de definir o que esperamos com isso. Afinal, cada um quer da IA a ética que a ele próprio parecer adequada...

E com isso termina o último texto do ano. Pegando carona com Mário Quintana, “quando se vê, já são seis horas! / quando se vê, já é sexta-feira! / quando se vê, já é Natal.../ quando se vê, já terminou o ano…”. Obrigado, bom Natal a todos, e um excelente 2014!

É curioso observar, no vórtice de evolução tecnológica em que vivemos, a alternância de tendências e dos modismos. Ao sabor do que é mais impactante mercadologicamente, e qual a mitológica fênix, conceitos algo esquecidos são reciclados e revividos, quando a roda da tecnologia volta a lhes dar fôlego. Inteligência artificial (IA), em seus quase 70 anos de existência, passou por diversos “invernos” durante os quais sua popularidade caiu, mas hoje, graças às capacidades de processamento e armazenamento, é o tema mais quente. Há que se descontar as extrapolações que, indiscriminadamente, aplicam a etiqueta IA em tudo.

IA já teve diversos invernos, mas voltou com força  Foto: Aly Song/Reuters

Só pra recordar temas dormentes - mas que podem reviver de um momento a outro - a discretização do digital tem como alternativas computadores analógicos. Do mesmo modo que há espaço para a “lógica difusa” (fuzzy) além da lógica binária fixa. Afinal o cérebro humano tem um funcionamento analógico, mais associado a eventos químicos e elétricos que a eventos binários. Essa era a abordagem das “redes neurais”, ao simularem formas de simulação do aprendizado que acontece com as conexões e sinapses neuronais em nossos miolos.

O maciço poder que a computação tradicional desenvolveu, manteve-a como principal simulador, em lógica discreta, de eventos que seriam mais apropriadamente tratados como analógicos. Mas isso não preclude a cíclica retomada de linhas antes abandonadas ou menos estimuladas. Notícia desta semana, por exemplo, apregoa que um supercomputador, usando redes neurais e a ser lançado em abril do ano que vem, conseguirá atingir a capacidade humana em termos de conexões neuronais. O DeepSouth, em desenvolvimento por equipe australiana e alemã, alega que realizará mais de 200 trilhões de operações sinápticas por segundo, rivalizando com o que o cérebro humano consegue. E há ainda um ponto muito importante nos dias de hoje: o consumo de energia do DeepSouth, por usar plataforma diversa da dos supercomputadores convencionais, deve ser muito menor do que o destes.

Enquanto aguarda-se a comprovação desses números, alguns dos pontos de debate hoje poderão ser recalibrados. Afinal, adotando-se um esquema de rede neuronal com aprendizagem não supervisionada, estamos criando algo que aprende de forma muito próxima à nossa. Revisitaríamos a discussão que temos hoje sobre “ética da IA”? Indo “além das sandálias”, arrisco-me a dizer que é uma saida simplória bradar por ética sem definirmos a priori o que queremos que IA entenda por isso. Arrisco-me a dizer que nós mesmo usamos “ética” como uma platitude que não gerará reação adversa, mas em nos darmos ao difícil trabalho de definir o que esperamos com isso. Afinal, cada um quer da IA a ética que a ele próprio parecer adequada...

E com isso termina o último texto do ano. Pegando carona com Mário Quintana, “quando se vê, já são seis horas! / quando se vê, já é sexta-feira! / quando se vê, já é Natal.../ quando se vê, já terminou o ano…”. Obrigado, bom Natal a todos, e um excelente 2014!

É curioso observar, no vórtice de evolução tecnológica em que vivemos, a alternância de tendências e dos modismos. Ao sabor do que é mais impactante mercadologicamente, e qual a mitológica fênix, conceitos algo esquecidos são reciclados e revividos, quando a roda da tecnologia volta a lhes dar fôlego. Inteligência artificial (IA), em seus quase 70 anos de existência, passou por diversos “invernos” durante os quais sua popularidade caiu, mas hoje, graças às capacidades de processamento e armazenamento, é o tema mais quente. Há que se descontar as extrapolações que, indiscriminadamente, aplicam a etiqueta IA em tudo.

IA já teve diversos invernos, mas voltou com força  Foto: Aly Song/Reuters

Só pra recordar temas dormentes - mas que podem reviver de um momento a outro - a discretização do digital tem como alternativas computadores analógicos. Do mesmo modo que há espaço para a “lógica difusa” (fuzzy) além da lógica binária fixa. Afinal o cérebro humano tem um funcionamento analógico, mais associado a eventos químicos e elétricos que a eventos binários. Essa era a abordagem das “redes neurais”, ao simularem formas de simulação do aprendizado que acontece com as conexões e sinapses neuronais em nossos miolos.

O maciço poder que a computação tradicional desenvolveu, manteve-a como principal simulador, em lógica discreta, de eventos que seriam mais apropriadamente tratados como analógicos. Mas isso não preclude a cíclica retomada de linhas antes abandonadas ou menos estimuladas. Notícia desta semana, por exemplo, apregoa que um supercomputador, usando redes neurais e a ser lançado em abril do ano que vem, conseguirá atingir a capacidade humana em termos de conexões neuronais. O DeepSouth, em desenvolvimento por equipe australiana e alemã, alega que realizará mais de 200 trilhões de operações sinápticas por segundo, rivalizando com o que o cérebro humano consegue. E há ainda um ponto muito importante nos dias de hoje: o consumo de energia do DeepSouth, por usar plataforma diversa da dos supercomputadores convencionais, deve ser muito menor do que o destes.

Enquanto aguarda-se a comprovação desses números, alguns dos pontos de debate hoje poderão ser recalibrados. Afinal, adotando-se um esquema de rede neuronal com aprendizagem não supervisionada, estamos criando algo que aprende de forma muito próxima à nossa. Revisitaríamos a discussão que temos hoje sobre “ética da IA”? Indo “além das sandálias”, arrisco-me a dizer que é uma saida simplória bradar por ética sem definirmos a priori o que queremos que IA entenda por isso. Arrisco-me a dizer que nós mesmo usamos “ética” como uma platitude que não gerará reação adversa, mas em nos darmos ao difícil trabalho de definir o que esperamos com isso. Afinal, cada um quer da IA a ética que a ele próprio parecer adequada...

E com isso termina o último texto do ano. Pegando carona com Mário Quintana, “quando se vê, já são seis horas! / quando se vê, já é sexta-feira! / quando se vê, já é Natal.../ quando se vê, já terminou o ano…”. Obrigado, bom Natal a todos, e um excelente 2014!

Opinião por Demi Getschko

É engenheiro eletricista

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