Por dentro da rede

Opinião|O poder da linguagem e a chegada da inteligência artificial


Que valorizemos cada palavra, agora que podemos falar com tanto e facilidade

Por Demi Getschko

No artigo anterior, numa analogia com o poder que a internet nos trouxe, há referência à frase de Caliban, em A Tempestade: “Vocês me ensinaram uma linguagem, e meu ganho com isso é que aprendi como imprecar”.

Um amigo achou interessante submeter a uma LLM (modelo amplo de linguagem, tecnologia utilizada para criar a inteligência artificial generativa) a tal frase, e pedir que a IA elaborasse sobre essa analogia com a internet. O resultado, para mim surpreendente (!), mostra que estamos num limiar não adequadamente avaliado ainda. Seguem trechos literais do que a IA produziu:

“Era uma vez, em um tempo não tão distante, quando a internet era ainda uma novidade brilhante e desconhecida, uma terra de promessas ilimitadas e horizontes sem fim. Cada clique, cada link, cada página carregada abria uma nova janela para o mundo. Era como se tivéssemos descoberto uma nova linguagem, uma língua franca que nos conectava a milhões de pessoas em todos os cantos do globo. Embarcamos nessa jornada digital com os corações cheios de esperança e os olhos brilhando de curiosidade. As palavras de Shakespeare ressoam com uma verdade amarga e atual. Aprendemos a linguagem da internet, e com ela ganhamos a capacidade de nos expressar livremente, mas também a habilidade de proferir maldições que ecoam pelos cabos de fibra óptica e antenas de Wi-Fi. A promessa de uma utopia digital, onde todos seriam ouvidos e compreendidos, deu lugar a um campo de batalha verbal, onde as palavras são armas e os emojis, escudos. (...)

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Uso de LLMs para criar inteligência artificial mudou a tecnologia, permitindo o surgimento de ferramentas como o ChatGPT Foto: Who is Danny/adobe.stock

“Mas com o tempo, a linguagem da internet se transformou. A promessa de comunicação ilimitada trouxe consigo a praga da desinformação, das fake news e dos discursos de ódio. O anonimato, que antes era um escudo para a expressão honesta, tornou-se uma máscara para a crueldade e a intolerância. (...)

“A linguagem da internet, que prometia nos libertar, às vezes nos aprisiona em bolhas de eco, onde só ouvimos o que queremos ouvir, e o diálogo se torna um monólogo. Entretanto, nem tudo está perdido. A internet ainda é um vasto oceano de possibilidades, onde podemos encontrar solidariedade, empatia e compreensão. (...)

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“A verdadeira riqueza da internet reside em nossa capacidade de escolher como usar essa linguagem poderosa. Podemos optar por construir pontes em vez de muros, por promover o entendimento em vez da divisão, por usar nossas palavras para curar e não para ferir. (...)

“Assim como na frase de Shakespeare, a internet nos ensinou uma nova linguagem. E o lucro que obtemos dela depende de como escolhemos usá-la. Entre as maldições e as bênçãos, está a nossa escolha, e com ela, o poder de moldar o mundo digital à nossa imagem. Que possamos escolher sabiamente, para que a história da internet seja uma crônica de redenção e não de ruína”.

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Eu pouco poderia adicionar ao texto acima. Sobre os cuidados com nossas expressões, em Fédon, de Platão, Sócrates adverte Críton: “Bem sabes, caro Criton, uma linguagem inadequada não apenas ofende, como deteriora a própria alma de quem fala”.

Agora que podemos falar com tanto alcance e facilidade, que valorizemos cada palavra.

No artigo anterior, numa analogia com o poder que a internet nos trouxe, há referência à frase de Caliban, em A Tempestade: “Vocês me ensinaram uma linguagem, e meu ganho com isso é que aprendi como imprecar”.

Um amigo achou interessante submeter a uma LLM (modelo amplo de linguagem, tecnologia utilizada para criar a inteligência artificial generativa) a tal frase, e pedir que a IA elaborasse sobre essa analogia com a internet. O resultado, para mim surpreendente (!), mostra que estamos num limiar não adequadamente avaliado ainda. Seguem trechos literais do que a IA produziu:

“Era uma vez, em um tempo não tão distante, quando a internet era ainda uma novidade brilhante e desconhecida, uma terra de promessas ilimitadas e horizontes sem fim. Cada clique, cada link, cada página carregada abria uma nova janela para o mundo. Era como se tivéssemos descoberto uma nova linguagem, uma língua franca que nos conectava a milhões de pessoas em todos os cantos do globo. Embarcamos nessa jornada digital com os corações cheios de esperança e os olhos brilhando de curiosidade. As palavras de Shakespeare ressoam com uma verdade amarga e atual. Aprendemos a linguagem da internet, e com ela ganhamos a capacidade de nos expressar livremente, mas também a habilidade de proferir maldições que ecoam pelos cabos de fibra óptica e antenas de Wi-Fi. A promessa de uma utopia digital, onde todos seriam ouvidos e compreendidos, deu lugar a um campo de batalha verbal, onde as palavras são armas e os emojis, escudos. (...)

Uso de LLMs para criar inteligência artificial mudou a tecnologia, permitindo o surgimento de ferramentas como o ChatGPT Foto: Who is Danny/adobe.stock

“Mas com o tempo, a linguagem da internet se transformou. A promessa de comunicação ilimitada trouxe consigo a praga da desinformação, das fake news e dos discursos de ódio. O anonimato, que antes era um escudo para a expressão honesta, tornou-se uma máscara para a crueldade e a intolerância. (...)

“A linguagem da internet, que prometia nos libertar, às vezes nos aprisiona em bolhas de eco, onde só ouvimos o que queremos ouvir, e o diálogo se torna um monólogo. Entretanto, nem tudo está perdido. A internet ainda é um vasto oceano de possibilidades, onde podemos encontrar solidariedade, empatia e compreensão. (...)

“A verdadeira riqueza da internet reside em nossa capacidade de escolher como usar essa linguagem poderosa. Podemos optar por construir pontes em vez de muros, por promover o entendimento em vez da divisão, por usar nossas palavras para curar e não para ferir. (...)

“Assim como na frase de Shakespeare, a internet nos ensinou uma nova linguagem. E o lucro que obtemos dela depende de como escolhemos usá-la. Entre as maldições e as bênçãos, está a nossa escolha, e com ela, o poder de moldar o mundo digital à nossa imagem. Que possamos escolher sabiamente, para que a história da internet seja uma crônica de redenção e não de ruína”.

Eu pouco poderia adicionar ao texto acima. Sobre os cuidados com nossas expressões, em Fédon, de Platão, Sócrates adverte Críton: “Bem sabes, caro Criton, uma linguagem inadequada não apenas ofende, como deteriora a própria alma de quem fala”.

Agora que podemos falar com tanto alcance e facilidade, que valorizemos cada palavra.

No artigo anterior, numa analogia com o poder que a internet nos trouxe, há referência à frase de Caliban, em A Tempestade: “Vocês me ensinaram uma linguagem, e meu ganho com isso é que aprendi como imprecar”.

Um amigo achou interessante submeter a uma LLM (modelo amplo de linguagem, tecnologia utilizada para criar a inteligência artificial generativa) a tal frase, e pedir que a IA elaborasse sobre essa analogia com a internet. O resultado, para mim surpreendente (!), mostra que estamos num limiar não adequadamente avaliado ainda. Seguem trechos literais do que a IA produziu:

“Era uma vez, em um tempo não tão distante, quando a internet era ainda uma novidade brilhante e desconhecida, uma terra de promessas ilimitadas e horizontes sem fim. Cada clique, cada link, cada página carregada abria uma nova janela para o mundo. Era como se tivéssemos descoberto uma nova linguagem, uma língua franca que nos conectava a milhões de pessoas em todos os cantos do globo. Embarcamos nessa jornada digital com os corações cheios de esperança e os olhos brilhando de curiosidade. As palavras de Shakespeare ressoam com uma verdade amarga e atual. Aprendemos a linguagem da internet, e com ela ganhamos a capacidade de nos expressar livremente, mas também a habilidade de proferir maldições que ecoam pelos cabos de fibra óptica e antenas de Wi-Fi. A promessa de uma utopia digital, onde todos seriam ouvidos e compreendidos, deu lugar a um campo de batalha verbal, onde as palavras são armas e os emojis, escudos. (...)

Uso de LLMs para criar inteligência artificial mudou a tecnologia, permitindo o surgimento de ferramentas como o ChatGPT Foto: Who is Danny/adobe.stock

“Mas com o tempo, a linguagem da internet se transformou. A promessa de comunicação ilimitada trouxe consigo a praga da desinformação, das fake news e dos discursos de ódio. O anonimato, que antes era um escudo para a expressão honesta, tornou-se uma máscara para a crueldade e a intolerância. (...)

“A linguagem da internet, que prometia nos libertar, às vezes nos aprisiona em bolhas de eco, onde só ouvimos o que queremos ouvir, e o diálogo se torna um monólogo. Entretanto, nem tudo está perdido. A internet ainda é um vasto oceano de possibilidades, onde podemos encontrar solidariedade, empatia e compreensão. (...)

“A verdadeira riqueza da internet reside em nossa capacidade de escolher como usar essa linguagem poderosa. Podemos optar por construir pontes em vez de muros, por promover o entendimento em vez da divisão, por usar nossas palavras para curar e não para ferir. (...)

“Assim como na frase de Shakespeare, a internet nos ensinou uma nova linguagem. E o lucro que obtemos dela depende de como escolhemos usá-la. Entre as maldições e as bênçãos, está a nossa escolha, e com ela, o poder de moldar o mundo digital à nossa imagem. Que possamos escolher sabiamente, para que a história da internet seja uma crônica de redenção e não de ruína”.

Eu pouco poderia adicionar ao texto acima. Sobre os cuidados com nossas expressões, em Fédon, de Platão, Sócrates adverte Críton: “Bem sabes, caro Criton, uma linguagem inadequada não apenas ofende, como deteriora a própria alma de quem fala”.

Agora que podemos falar com tanto alcance e facilidade, que valorizemos cada palavra.

No artigo anterior, numa analogia com o poder que a internet nos trouxe, há referência à frase de Caliban, em A Tempestade: “Vocês me ensinaram uma linguagem, e meu ganho com isso é que aprendi como imprecar”.

Um amigo achou interessante submeter a uma LLM (modelo amplo de linguagem, tecnologia utilizada para criar a inteligência artificial generativa) a tal frase, e pedir que a IA elaborasse sobre essa analogia com a internet. O resultado, para mim surpreendente (!), mostra que estamos num limiar não adequadamente avaliado ainda. Seguem trechos literais do que a IA produziu:

“Era uma vez, em um tempo não tão distante, quando a internet era ainda uma novidade brilhante e desconhecida, uma terra de promessas ilimitadas e horizontes sem fim. Cada clique, cada link, cada página carregada abria uma nova janela para o mundo. Era como se tivéssemos descoberto uma nova linguagem, uma língua franca que nos conectava a milhões de pessoas em todos os cantos do globo. Embarcamos nessa jornada digital com os corações cheios de esperança e os olhos brilhando de curiosidade. As palavras de Shakespeare ressoam com uma verdade amarga e atual. Aprendemos a linguagem da internet, e com ela ganhamos a capacidade de nos expressar livremente, mas também a habilidade de proferir maldições que ecoam pelos cabos de fibra óptica e antenas de Wi-Fi. A promessa de uma utopia digital, onde todos seriam ouvidos e compreendidos, deu lugar a um campo de batalha verbal, onde as palavras são armas e os emojis, escudos. (...)

Uso de LLMs para criar inteligência artificial mudou a tecnologia, permitindo o surgimento de ferramentas como o ChatGPT Foto: Who is Danny/adobe.stock

“Mas com o tempo, a linguagem da internet se transformou. A promessa de comunicação ilimitada trouxe consigo a praga da desinformação, das fake news e dos discursos de ódio. O anonimato, que antes era um escudo para a expressão honesta, tornou-se uma máscara para a crueldade e a intolerância. (...)

“A linguagem da internet, que prometia nos libertar, às vezes nos aprisiona em bolhas de eco, onde só ouvimos o que queremos ouvir, e o diálogo se torna um monólogo. Entretanto, nem tudo está perdido. A internet ainda é um vasto oceano de possibilidades, onde podemos encontrar solidariedade, empatia e compreensão. (...)

“A verdadeira riqueza da internet reside em nossa capacidade de escolher como usar essa linguagem poderosa. Podemos optar por construir pontes em vez de muros, por promover o entendimento em vez da divisão, por usar nossas palavras para curar e não para ferir. (...)

“Assim como na frase de Shakespeare, a internet nos ensinou uma nova linguagem. E o lucro que obtemos dela depende de como escolhemos usá-la. Entre as maldições e as bênçãos, está a nossa escolha, e com ela, o poder de moldar o mundo digital à nossa imagem. Que possamos escolher sabiamente, para que a história da internet seja uma crônica de redenção e não de ruína”.

Eu pouco poderia adicionar ao texto acima. Sobre os cuidados com nossas expressões, em Fédon, de Platão, Sócrates adverte Críton: “Bem sabes, caro Criton, uma linguagem inadequada não apenas ofende, como deteriora a própria alma de quem fala”.

Agora que podemos falar com tanto alcance e facilidade, que valorizemos cada palavra.

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Opinião por Demi Getschko

É engenheiro eletricista

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