Elon Musk quer tocar música dentro do seu cérebro; saiba como é possível


Sistema da Neuralink, startup apoiada pelo empresário, busca conectar cérebro humano diretamente a computadores; ideia surgida no Twitter, streaming cerebral pode ser viável, dizem pesquisadores

Por Bruno Romani
Nos aparelhos da Neuralink,linhas flexíveis de eletrodos são aplicadas nas proximidades dos neurônios Foto: The New York Times

Depois de sonhar com a retomada das viagens especiais e propor a substituição da base energética da indústria automobilística, Elon Musk tem um novo plano. E ela tem sabor futurista: fazer streaming de música diretamente para o cérebro das pessoas. É algo que tornaria obsoletos não só os fones de ouvido, mas também os próprios ouvidos. Pode parecer uma promessa marketeira, mas, segundo especialistas consultados pelo Estadão, a viabilidade da ideia parece mais possível que a colonização de Marte – outro sonho do empresário. 

A primeira pista sobre o plano surgiu no Twitter, rede social na qual Musk se sente tão confortável quanto no quintal de casa. O empresário fez algumas publicações sobre a Neuralink, startup na qual ele já investiu US$ 100 milhões. Seu foco é o desenvolvimento de uma interface capaz de conectar o cérebro humano a computadores. No meio da conversa, o cientista da computação Austin Howard perguntou a Musk se um dia seria possível fazer streaming de música diretamente para o cérebro usando a interface da Neuralink. 

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A resposta foi simples: “sim”. No dia 28 de agosto, a Neuralink fará apenas o seu segundo evento público – o primeiro foi no ano passado –, no qual deve revelar novos avanços de suas pesquisas. Ainda que os detalhes sejam escassos, neurologistas conseguem enxergar os caminhos por onde a companhia deve seguir caso realmente deseje colocar o seu refrão favorito lá dentro do principal órgão humano. 

“Recebemos as ondas acústicas no ouvido. O sinal é traduzido no nervo auditivo, onde um grupo de neurônios consegue interpretá-los. Assim percebemos os sons”, explica Gisele Sampaio, neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein. A interface da Neuralink, por sua vez, poderia substituir o sistema auditivo ao levar diretamente ao cérebro sinais sonoros já convertidos em modulações compreensíveis para o órgão. 

“Nosso cérebro é um ‘bicho’ que não é do nosso corpo. Ele aprende a brincar com o corpo ao longo da vida e não entende especificamente os órgãos. Ele transforma tudo em um processo de modelagem. Sinais de sonoros chegam como ruído e são organizados até você perceber o som”, explica Daniel Ciampi, neurologista do HC-FMUSP. 

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Doenças como a epilepsia provam que o cérebro não precisa dos órgãos receptores para entender sinais ligados a eles. Um dos sintomas da doença é a produção de círculos coloridos no campo da visão. Numa crise, os pacientes enxergam as imagens, embora os olhos não estejam recebendo informações do tipo – são as modulações cerebrais anormais causadas pela doença que geram a informação.

Estudos já demonstraram que a modulação correta de sinais cerebrais podem provocar avanços consideráveis para determinadas doenças. Em casos de mal de Parkinson, por exemplo, interfaces cerebrais são capazes de fazer pacientes pararem de tremer. No ano passado, a Neuralink falou sobre como sua interface poderia ajudar pacientes com a doença – uma de suas conselheiras, Jamie Henderson, é professora de neurocirurgia em Stanford e especialista no tratamento da epilepsia. 

O envio de sinais sonoros originados em serviços de streaming diretamente para o cérebro representaria um avanço ao implante coclear. Usada há quase 30 anos, a técnica faz uma conexão externa com a cóclea, o nervo auditivo que recebe, converte e envia sinais sonoros para o cérebro. Pelo o que a Neuralink mostrou até aqui, seria possível pular a cóclea – nas imagens de divulgação da empresa, o local do seu implante fica atrás da orelha, mesma região dos implantes cocleares. 

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Nos estudos da Neuralink, linhas flexíveis de eletrodos nas proximidades dos neurônios são aplicadas com o uso de finas agulhas manipuladas por robôs. Os documentos da empresa falam que ele seriam capazes de implantar 192 fios por minutos. Testes em laboratórios com ratos tinham até 1,5 mil eletrodos. 

A técnica tem claro potencial, portanto, para beneficiar pacientes com doenças auditivas graves, que comprometem inclusive o nervo – o streaming seria apenas uma consequência leve disso. “Do mesmo jeito que usamos implantes cerebrais para tratar doenças, é possível que a gente consiga modular atividades de várias áreas do encéfalo para situações que não sejam patológicas”, diz Gisele.

“Uma das questões seria a fonte de energia desse dispositivo. Com doentes de Parkinson, a fonte da interface é externa, e tudo precisa ser ajustado. Se essa fonte desliga, os sintomas voltam. Ninguém gostaria de andar com uma fonte externa só para ouvir música”, afirma a médica. 

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Outra dúvida é a forma como a conexão com o serviço de streaming seria feita. “Não vejo o porquê de ter uma conexão Bluetooth com um dispositivo que tenha o serviço, como um celular”, diz Ciampi. Os documentos da Neuralink falam que a interface terá uma entrada USB-C, a mesma usada em muitos celulares, para a transmissão de informações.

“O caminho para a proposta de Musk é relativamente simples”, diz Ciampi. “Mas é preciso ter em mente que um implante desses não será a mesma coisa que ir até uma loja da Apple e comprar um iPod. Um implante coclear fura um osso do crânio e demora três horas para ser feito. Imaginar agulhas passando pelo cérebro parece demais para alguém saudável apenas ouvir música.”

Nos aparelhos da Neuralink,linhas flexíveis de eletrodos são aplicadas nas proximidades dos neurônios Foto: The New York Times

Depois de sonhar com a retomada das viagens especiais e propor a substituição da base energética da indústria automobilística, Elon Musk tem um novo plano. E ela tem sabor futurista: fazer streaming de música diretamente para o cérebro das pessoas. É algo que tornaria obsoletos não só os fones de ouvido, mas também os próprios ouvidos. Pode parecer uma promessa marketeira, mas, segundo especialistas consultados pelo Estadão, a viabilidade da ideia parece mais possível que a colonização de Marte – outro sonho do empresário. 

A primeira pista sobre o plano surgiu no Twitter, rede social na qual Musk se sente tão confortável quanto no quintal de casa. O empresário fez algumas publicações sobre a Neuralink, startup na qual ele já investiu US$ 100 milhões. Seu foco é o desenvolvimento de uma interface capaz de conectar o cérebro humano a computadores. No meio da conversa, o cientista da computação Austin Howard perguntou a Musk se um dia seria possível fazer streaming de música diretamente para o cérebro usando a interface da Neuralink. 

A resposta foi simples: “sim”. No dia 28 de agosto, a Neuralink fará apenas o seu segundo evento público – o primeiro foi no ano passado –, no qual deve revelar novos avanços de suas pesquisas. Ainda que os detalhes sejam escassos, neurologistas conseguem enxergar os caminhos por onde a companhia deve seguir caso realmente deseje colocar o seu refrão favorito lá dentro do principal órgão humano. 

“Recebemos as ondas acústicas no ouvido. O sinal é traduzido no nervo auditivo, onde um grupo de neurônios consegue interpretá-los. Assim percebemos os sons”, explica Gisele Sampaio, neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein. A interface da Neuralink, por sua vez, poderia substituir o sistema auditivo ao levar diretamente ao cérebro sinais sonoros já convertidos em modulações compreensíveis para o órgão. 

“Nosso cérebro é um ‘bicho’ que não é do nosso corpo. Ele aprende a brincar com o corpo ao longo da vida e não entende especificamente os órgãos. Ele transforma tudo em um processo de modelagem. Sinais de sonoros chegam como ruído e são organizados até você perceber o som”, explica Daniel Ciampi, neurologista do HC-FMUSP. 

Doenças como a epilepsia provam que o cérebro não precisa dos órgãos receptores para entender sinais ligados a eles. Um dos sintomas da doença é a produção de círculos coloridos no campo da visão. Numa crise, os pacientes enxergam as imagens, embora os olhos não estejam recebendo informações do tipo – são as modulações cerebrais anormais causadas pela doença que geram a informação.

Estudos já demonstraram que a modulação correta de sinais cerebrais podem provocar avanços consideráveis para determinadas doenças. Em casos de mal de Parkinson, por exemplo, interfaces cerebrais são capazes de fazer pacientes pararem de tremer. No ano passado, a Neuralink falou sobre como sua interface poderia ajudar pacientes com a doença – uma de suas conselheiras, Jamie Henderson, é professora de neurocirurgia em Stanford e especialista no tratamento da epilepsia. 

O envio de sinais sonoros originados em serviços de streaming diretamente para o cérebro representaria um avanço ao implante coclear. Usada há quase 30 anos, a técnica faz uma conexão externa com a cóclea, o nervo auditivo que recebe, converte e envia sinais sonoros para o cérebro. Pelo o que a Neuralink mostrou até aqui, seria possível pular a cóclea – nas imagens de divulgação da empresa, o local do seu implante fica atrás da orelha, mesma região dos implantes cocleares. 

Nos estudos da Neuralink, linhas flexíveis de eletrodos nas proximidades dos neurônios são aplicadas com o uso de finas agulhas manipuladas por robôs. Os documentos da empresa falam que ele seriam capazes de implantar 192 fios por minutos. Testes em laboratórios com ratos tinham até 1,5 mil eletrodos. 

A técnica tem claro potencial, portanto, para beneficiar pacientes com doenças auditivas graves, que comprometem inclusive o nervo – o streaming seria apenas uma consequência leve disso. “Do mesmo jeito que usamos implantes cerebrais para tratar doenças, é possível que a gente consiga modular atividades de várias áreas do encéfalo para situações que não sejam patológicas”, diz Gisele.

“Uma das questões seria a fonte de energia desse dispositivo. Com doentes de Parkinson, a fonte da interface é externa, e tudo precisa ser ajustado. Se essa fonte desliga, os sintomas voltam. Ninguém gostaria de andar com uma fonte externa só para ouvir música”, afirma a médica. 

Outra dúvida é a forma como a conexão com o serviço de streaming seria feita. “Não vejo o porquê de ter uma conexão Bluetooth com um dispositivo que tenha o serviço, como um celular”, diz Ciampi. Os documentos da Neuralink falam que a interface terá uma entrada USB-C, a mesma usada em muitos celulares, para a transmissão de informações.

“O caminho para a proposta de Musk é relativamente simples”, diz Ciampi. “Mas é preciso ter em mente que um implante desses não será a mesma coisa que ir até uma loja da Apple e comprar um iPod. Um implante coclear fura um osso do crânio e demora três horas para ser feito. Imaginar agulhas passando pelo cérebro parece demais para alguém saudável apenas ouvir música.”

Nos aparelhos da Neuralink,linhas flexíveis de eletrodos são aplicadas nas proximidades dos neurônios Foto: The New York Times

Depois de sonhar com a retomada das viagens especiais e propor a substituição da base energética da indústria automobilística, Elon Musk tem um novo plano. E ela tem sabor futurista: fazer streaming de música diretamente para o cérebro das pessoas. É algo que tornaria obsoletos não só os fones de ouvido, mas também os próprios ouvidos. Pode parecer uma promessa marketeira, mas, segundo especialistas consultados pelo Estadão, a viabilidade da ideia parece mais possível que a colonização de Marte – outro sonho do empresário. 

A primeira pista sobre o plano surgiu no Twitter, rede social na qual Musk se sente tão confortável quanto no quintal de casa. O empresário fez algumas publicações sobre a Neuralink, startup na qual ele já investiu US$ 100 milhões. Seu foco é o desenvolvimento de uma interface capaz de conectar o cérebro humano a computadores. No meio da conversa, o cientista da computação Austin Howard perguntou a Musk se um dia seria possível fazer streaming de música diretamente para o cérebro usando a interface da Neuralink. 

A resposta foi simples: “sim”. No dia 28 de agosto, a Neuralink fará apenas o seu segundo evento público – o primeiro foi no ano passado –, no qual deve revelar novos avanços de suas pesquisas. Ainda que os detalhes sejam escassos, neurologistas conseguem enxergar os caminhos por onde a companhia deve seguir caso realmente deseje colocar o seu refrão favorito lá dentro do principal órgão humano. 

“Recebemos as ondas acústicas no ouvido. O sinal é traduzido no nervo auditivo, onde um grupo de neurônios consegue interpretá-los. Assim percebemos os sons”, explica Gisele Sampaio, neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein. A interface da Neuralink, por sua vez, poderia substituir o sistema auditivo ao levar diretamente ao cérebro sinais sonoros já convertidos em modulações compreensíveis para o órgão. 

“Nosso cérebro é um ‘bicho’ que não é do nosso corpo. Ele aprende a brincar com o corpo ao longo da vida e não entende especificamente os órgãos. Ele transforma tudo em um processo de modelagem. Sinais de sonoros chegam como ruído e são organizados até você perceber o som”, explica Daniel Ciampi, neurologista do HC-FMUSP. 

Doenças como a epilepsia provam que o cérebro não precisa dos órgãos receptores para entender sinais ligados a eles. Um dos sintomas da doença é a produção de círculos coloridos no campo da visão. Numa crise, os pacientes enxergam as imagens, embora os olhos não estejam recebendo informações do tipo – são as modulações cerebrais anormais causadas pela doença que geram a informação.

Estudos já demonstraram que a modulação correta de sinais cerebrais podem provocar avanços consideráveis para determinadas doenças. Em casos de mal de Parkinson, por exemplo, interfaces cerebrais são capazes de fazer pacientes pararem de tremer. No ano passado, a Neuralink falou sobre como sua interface poderia ajudar pacientes com a doença – uma de suas conselheiras, Jamie Henderson, é professora de neurocirurgia em Stanford e especialista no tratamento da epilepsia. 

O envio de sinais sonoros originados em serviços de streaming diretamente para o cérebro representaria um avanço ao implante coclear. Usada há quase 30 anos, a técnica faz uma conexão externa com a cóclea, o nervo auditivo que recebe, converte e envia sinais sonoros para o cérebro. Pelo o que a Neuralink mostrou até aqui, seria possível pular a cóclea – nas imagens de divulgação da empresa, o local do seu implante fica atrás da orelha, mesma região dos implantes cocleares. 

Nos estudos da Neuralink, linhas flexíveis de eletrodos nas proximidades dos neurônios são aplicadas com o uso de finas agulhas manipuladas por robôs. Os documentos da empresa falam que ele seriam capazes de implantar 192 fios por minutos. Testes em laboratórios com ratos tinham até 1,5 mil eletrodos. 

A técnica tem claro potencial, portanto, para beneficiar pacientes com doenças auditivas graves, que comprometem inclusive o nervo – o streaming seria apenas uma consequência leve disso. “Do mesmo jeito que usamos implantes cerebrais para tratar doenças, é possível que a gente consiga modular atividades de várias áreas do encéfalo para situações que não sejam patológicas”, diz Gisele.

“Uma das questões seria a fonte de energia desse dispositivo. Com doentes de Parkinson, a fonte da interface é externa, e tudo precisa ser ajustado. Se essa fonte desliga, os sintomas voltam. Ninguém gostaria de andar com uma fonte externa só para ouvir música”, afirma a médica. 

Outra dúvida é a forma como a conexão com o serviço de streaming seria feita. “Não vejo o porquê de ter uma conexão Bluetooth com um dispositivo que tenha o serviço, como um celular”, diz Ciampi. Os documentos da Neuralink falam que a interface terá uma entrada USB-C, a mesma usada em muitos celulares, para a transmissão de informações.

“O caminho para a proposta de Musk é relativamente simples”, diz Ciampi. “Mas é preciso ter em mente que um implante desses não será a mesma coisa que ir até uma loja da Apple e comprar um iPod. Um implante coclear fura um osso do crânio e demora três horas para ser feito. Imaginar agulhas passando pelo cérebro parece demais para alguém saudável apenas ouvir música.”

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