Depois que a Apple anunciou o cancelamento do projeto para construir seu carro elétrico, realocando boa parte dos cerca de 2 mil funcionários dessa área para a divisão de inteligência artificial (IA), muitos analistas começaram a fazer a seguinte pergunta: será que agora o preço das ações da fabricante do iPhone vai subir na mesma magnitude de alta que as outras gigantes do setor tecnológico?
Em 2023, as ações da Apple subiram 49%, mas tiveram o pior desempenho entre as chamadas “sete magníficas” (Apple, Meta, Nvidia, Tesla, Google, Microsoft e Amazon). Só o papel da Nvidia, por exemplo, disparou 240% no ano passado, maior ganho do índice S&P 500.
E neste ano, no acumulado até o pregão de quinta, as ações da Apple caíam 5,77%, enquanto o índice Nasdaq registrava uma alta acumulada de 6,24%. O ganho da Nvidia em 2024, até ontem, era de 56,83%.
Ou seja, a Apple deixou de ser apenas o “patinho feio” das “sete magníficas”. Diante do desempenho da ação neste ano, a Apple enfrenta um desafio duro para superar as desconfianças dos investidores sobre dois pontos importantes.
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O primeiro é como irá reverter a tendência de queda nas receitas registrada nos últimos quatro trimestres. O segundo ponto é como a Apple apagará a impressão entre analistas e investidores de que ficou bem para trás na corrida para liderar os resultados e benefícios com a IA, algo que a Nvidia já vem sendo recompensada apresentando receitas recordes nos seus balanços com a venda dos seus chips, descritos como “aceleradores de IA”.
Não à toa, durante uma reunião anual com os seus acionistas, o CEO da Apple, Tim Cook, enfatizou repetidamente que a empresa está investindo “significativamente” em IA.
“Vemos um incrível potencial para avanços na IA generativa, motivo pelo qual estamos atualmente investindo significativamente nessa área”, disse Cook.
Na prática, contudo, a Apple até agora não apresentou nada de concreto ao mercado nessa área, como o ChatGPT, da OpenAI, ou o Gemini, do Google. Os investidores vão querer ver algum anúncio concreto de produto ou de projeto na área de IA neste ano, caso contrário as ações da Apple poderão sofrer uma correção maior.
Isso porque as vendas da empresa têm ficado abaixo das expectativas dos investidores. No ano fiscal de 2023, encerrado em setembro do ano passado, a Apple reportou receitas de US$ 89,5 bilhões, numa queda de 1% em relação ao ano anterior. Foi o quarto trimestre consecutivo de queda nas vendas, no maior período de declínio de receitas desde 2001.
Outro sinal de problema: em 2023, a Apple não lançou novos modelos de iPad, ao contrário do que sempre aconteceu desde que esse produto foi lançado, em 2010. E não só isso: vendas de “laptops” e de computadores Mac registraram queda de quase 27%, para US$ 10,2 bilhões, no ano fiscal de 2023.
Portanto, a decisão de encerrar o Projeto Titan, como era chamado o projeto para a construção do seu carro elétrico, animou muitos analistas.
O analista da Wedbush, Daniel Ives, disse que a decisão de “arrancar o band-aid do projeto Titan e focar em projetos de IA generativa” é claramente o melhor movimento que a Apple pode seguir. Ives ainda mantém uma recomendação de “outperform” (equivalente a compra) para as ações da Apple, com uma projeção de preço-alvo em 12 meses de US$ 250 (ante a cotação de US$ 181,42 na quarta-feira).
O fato é que a Apple corre contra o tempo para tentar alcançar as outras “sete magníficas” na corrida pela liderança na IA. Muitos esperam, por exemplo, o lançamento de novos modelos de iPhone com capacidade e funções que proporcionem aos consumidores a experiência de IA que outras gigantes tecnológicas já oferecem. Agora, é esperar para ver