Rivais no mundo dos celulares, Apple e Google decidiram juntar forças para criar uma tecnologia capaz de monitorar o avanço do coronavírus. As empresas fizeram um anúncio conjunto nesta sexta, 10, sobre um programa amplo de colaboração para que suas plataformas móveis, respectivamente, iOS e Android, possam 'conversar' para rastrear a disseminação do vírus.
A ideia é usar o Bluetooth e os contatos na agenda dos smartphones para detectar automaticamente a proximidade entre pessoas - o Bluetooth é a tecnologia escolhida por ser voltada para comunicação sem fio em curtas distâncias, o que seria ainda mais preciso que projetos que utilizam torres de telefonia celular. A tecnologia de baixo consumo de Bluetooth permite também preservar a bateria do aparelho, algo semelhante ao usado em projetos de internet das coisas (IoT).
O projeto será implementado em duas fases: na primeira, ambas lançarão APIs que poderão ser embutidas em aplicativos feitos tanto para iOS quanto para Android por agências de saúde e outros parceiros do projetos. Com isso, ao instalar esses apps, o telefone utilizará o Bluetooth para detectar se o usuário se aproximou de pessoas possivelmente contaminadas. A primeira fase deve ser concluída no mês de maio. Os aplicativos de saúde pública passarão por um processo de aprovação para obter acesso a essas APIs.
Na segunda fase, o trabalho seria estendido de maneira mais avançada nos próprios sistemas operacionais das empresas. A funcionalidade está prevista para os "próximos meses". Quando isso acontecer, a 'conversa' entre sistemas poderá acontecer por diferentes aplicativos, e não apenas onde as APIs foram instaladas. As empresas dizem que o projeto deve ser encerrado ao final da pandemia. Ainda não há informações específicas para o Brasil.
Sobre privacidade, já que há crescentes preocupações sobre o aumento da vigilância no contexto de coronavírus, as empresas afirmaram que o rastreamento só será feito com o consentimento do usuário. Disseram também que publicarão informações sobre o trabalho de modo aberto para que outras pessoas possam analisar.
Quando um aparelho se comunica por Bluetooth com outro, o primeiro emite uma série de números que é 'lida' pelo segundo. O objetivo é que pessoas que tenham testado positivo para covid-19 possam conectar essa informação ao número emitido pelo Bluetooth. Assim, outras pessoas podem ficar sabendo se estiveram próximas a quem se contaminou - os sistemas operacionais não identificarão a pessoa contaminada, e sim, informarão ao usuário que o celular de alguém que informou estar contaminado esteve próximo.
Ainda assim, os dados, segundo as empresas, ficarão armazenadas no próprio celular e não serão enviados a servidores nas nuvens - a prática é semelhante ao que a Apple já faz em diferentes ferramentas do iPhone, como o processamento de informações da assistente digital Siri.
Os aparelhos fariam uma leitura de proximidade a cada cinco minutos e armazenariam essas informações num banco de dados com o histórico dos últimos 14 dias, período de incubação do vírus. Caso algum resultados positivo surja no período, o usuário é notificado.
"Todos nós na Apple e no Google acreditamos que nunca existiu um momento mais importante do que este para trabalharmos juntos com o objetivo de resolver um dos problemas mais urgentes do mundo. Por meio de uma estreita cooperação e de colaboração com os desenvolvedores, governos e prestadores de saúde pública, esperamos usar o poder da tecnologia para ajudar países ao redor do mundo a reduzir a propagação da covid-19 e acelerar o retorno à vida cotidiana", afirmaram as companhias em comunicado.
O anúncio apareceu também nas contas no Twitter dos presidentes das duas gigantes, Tim Cook (Apple) e Sundar Pichai (Google).