O futuro da Apple foi posto em dúvidas neste final de semana, quando foi revelado que um dos principais investidores da companhia vendeu metade da sua participação na fabricante do iPhone – e sem explicar o que motivou a decisão, causando rebuliço em Wall Street. Nesta segunda-feira, 5, as ações da empresa chegaram a cair mais de 10% em meio à crise nas Bolsas mundiais e fecharam com retração de 4,8%.
O fundo de investimento Berkshire Hathaway, liderado pelo bilionário americano Warren Buffett (conhecido como um “oráculo” em Wall Street, onde seus movimentos de compra e venda de papéis são acompanhados atentamente por outros investidores), anunciou no sábado 3, junto às autoridades americanas de mercado, que vendeu o equivalente a US$ 56 bilhões em ações na Apple.
O valor vendido por Buffett é pouco mais da metade do que a gestora havia registrado em ações na dona do iPhone no final de março, de US$ 135,4 bilhões (ou 789 milhões de papéis). Com os US$ 84,2 bilhões restantes (400 milhões de papéis), a Apple ainda continua como a maior empresa do portfólio da Berkshire Hathaway, que inclui o Bank of America e a montadora chinesa de veículos elétricos BYD. Hoje, a participação da gestora na companhia é de 2,6%.
A venda no trimestre aconteceu em meio a uma alta nas ações das empresas de tecnologia, incluindo as da Apple, cuja avaliação de mercado cresceu 23% nos três meses encerrados em junho, segundo a Bloomberg.
Outros investidores institucionais na Apple incluem a gestora Vanguard e a BlackRock, com cerca de 8% e 6% respectivamente.
A entrada de Warren Buffett na Apple aconteceu em 2016. Desde então, a participação do americano só veio aumentando na companhia, ajudando a impulsionar a empresa para um valuation que superou o marco inédito de US$ 3 trilhões. Até janeiro de 2024, a gestora possuía o equivalente a 915 milhões de ações na fabricante do iPhone, equivalente a 5,92%.
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Para o analista Daniel Ives, da consultoria americana WedBush, a venda de ações não é um “sinal de fumaça para más notícias” e que mais de 10% dos papéis já haviam sido vendidos no primeiro trimestre deste ano, diz em comunicado a investidores.
“Buffett é um forte defensor da Apple”, escreve Ives, “e Berkshire ainda tem mais que o dobro (na Apple) do que na sua segunda posição (do portfólio), o Bank of America, com cerca de US$ 41 bilhões”.
Em entrevista à agência Bloomberg, o analista Joe Gilbert afirma que a decisão de Buffett é “meramente um gerenciamento de risco”. “Se houvesse preocupações sobre a viabilidade de longo-prazo da Apple, Buffett teria tirado toda sua posição”, afirma, citando como a gestora costuma fazer quando deixa de acreditar na tese de alguma companhia.
Apple sob pressão
A venda de ações acontece em um momento delicado para a Apple, que está sob pressão para apresentar resultados e produtos para o médio e longo prazos enquanto tem de provar a sustentabilidade do próprio negócio no curto prazo.
No trimestre encerrado em junho de 2024, a empresa registrou queda na venda do iPhone, principal produto da empresa, de US$ 39,3 bilhões, queda de 1% em relação a igual período de 2023. As cifras levantaram um sinal amarelo nos investidores da companhia, preocupados com o enfraquecimento da demanda pelo smartphone da marca.
No total, a Apple registrou receita líquida de US$ 85,8 bilhões e lucro trimestral de US$ 21,4 bilhões. Os números foram superiores ao mesmo trimestre de 2023, quando foi totalizada receita de US$ 81,8 bilhões e lucro líquido de US$ 19,9 bilhões.
A cifra foi impulsionada por Serviços (categoria que inclui assinaturas recorrentes e taxas, como compras de apps e outros serviços), totalizando US$ 24,2 bilhões (US$ 21,2 bilhões em 2023). Vendas de computadores Mac e dos tablets iPad também contribuíram para o aumento na receita, de US$ 7 bilhões e US$ 7,2 bilhões respectivamente.
Ao mesmo tempo, a companhia vem sendo pressionada a apresentar serviços e produtos aptos para a nova corrida da inteligência artificial (IA), a qual vem sendo liderada pela parceria entre a startup OpenAI (do ChatGPT) e a gigante Microsoft, seguida de Google.
Em junho passado, a empresa revelou uma nova plataforma de recursos adaptados para a inteligência artificial generativa, chamada de Apple Intelligence. As funcionalidades incluem tornar a assistente pessoal Siri mais rápida e eficiente, ferramentas de geração de texto em e-mails e mensagens, criação de ilustrações e incrementos nos sistemas da companhia. Essas novidades devem ser liberadas para alguns poucos dispositivos compatíveis a partir do final de 2024 ou no início de 2025.
Além disso, o próximo iPhone da marca (batizado informalmente de iPhone 16) deve trazer um chip com mais redes neurais, capazes de processar informações de IA com mais velocidade.