O ataque cibernético à rede de hotéis Marriott, no qual foram roubados dados pessoais de 500 milhões de hóspedes, é parte de uma investida de espionagem chinesa que também hackeou operadoras de planos de saúde e arquivos de milhões de americanos com acesso a informações confidenciais, segundo duas fontes próximas às investigações.
De acordo com as fontes, os hackers são suspeitos de agir em nome do Ministério de Segurança do Estado, a agência de espionagem civil controlada pelo Partido Comunista. A revelação vem à tona quando o governo Trump planeja ações contra políticas comerciais, cibernéticas e econômicas da China, a serem iniciadas talvez dentro de dias.
Essas ações incluem o indiciamento de hackers chineses trabalhando para os serviços de informações e para as Forças Armadas da China, segundo quatro funcionários do governo que falaram sob a condição de anonimato. O governo Trump também planeja liberar relatórios de inteligência mostrando que as tentativas chinesas de montar um banco de dados contendo nomes de executivos americanos e de funcionários do governo com acesso a informações confidenciais vêm ocorrendo no mínimo desde 2014.
Outras opções dos EUA incluem uma ordem executiva destinada a dificultar a obtenção por empresas chinesas de componentes estratégicos de equipamentos de comunicação, segundo um alto funcionário com conhecimento dos planos.
As medidas seguem-se a uma crescente preocupação do governo de que a trégua de 90 dias negociada há duas semanas em Buenos Aires pelos presidentes Donald Trump e Xi Jinping tenha pouco efeito com vistas a uma eventual mudança de comportamento da China. Esse comportamento inclui coagir empresas americanas a fornecer dados tecnológicos sigilosos caso queiram entrar no mercado chinês; inclui também o roubo de segredos industriais americanos, que são repassados a empresas estatais chinesas.
O hackeamento da rede Marriott’s Starwood, descoberto apenas em setembro e revelado no mês passado, não deve fazer parte dos indiciamentos previstos. Entretanto, dois dos funcionários do governo informaram que está sendo dado caráter de urgência à investigação do caso, tendo em vista que a Marriott é a principal fornecedora de hospedagem para funcionários do governo e pessoal militar.
O caso Marriott é também parte do constrangimento que a administração Trump vem sofrendo com a volta das intrusões chinesas no governo e em empresas – prática que o presidente Barack Obama acreditava ter encerrado em 2015 num acordo acertado com Xi.
Geng Shuang, porta-voz do Ministério do Exterior chinês, negou que a China tivesse conhecimento do hackeamento da Marriot. “A China se opõe firmemente a toda forma de ataque cibernético e combate isso com todos os meios legais”, disse Geng. “Se forem apresentadas provas, os departamentos chineses competentes vão investigar.”
Negociadores comerciais dos dois lados do Pacífico chegaram a um acordo pelo qual a China se comprometeu a comprar mais US$ 1,2 trilhão em bens e serviços americanos nos próximos anos e a analisar as preocupações americanas sobre propriedade intelectual.
Trump disse na terça-feira que altos funcionários dos Estados Unidos e da China mantêm as primeiras conversações, por telefone, desde que os dois países concordaram com uma trégua, no dia 1º, e que as conversações estão sendo “muito produtivas”.
Mas, enquanto altos funcionários do governo conduzem separadamente as conversações sobre comércio, a planejada ampla investida contra a China pode prejudicar os meios de Trump para chegar a um acordo maior com Xi.
As acusações dos EUA contra altos membros dos serviços de informação da China levam ao risco de endurecer a oposição em Pequim às negociações com Trump. Outro obstáculo é o enquadramento de altos executivos da área tecnológica, como Meng Wanzhou, principal executiva financeira da gigante de comunicações Huawei e filha de seu fundador.
A prisão de Meng, detida no Canadá sob suspeita de fraude envolvendo violações das sanções americanas contra o Irã, enfureceu os chineses. Na terça-feira. um juiz canadense estipulou sua fiança em US$ 7,5 milhões, enquanto ela aguarda extradição para os Estados Unidos. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ