Um ano após ser o lançado, o Bard, chatbot inteligente do Google, será aposentado - ou quase isso. A partir desta quinta, 8, ele ganha novo nome: Gemini, o mesmo nome da inteligência artificial (IA) que turbina a ferramenta desde dezembro do ano passado. A mudança faz parte de uma série de anúncios na estratégia de IA do Google, que visa construir um pacote de produtos alimentados pelo Gemini e que coloca em cheque a existência do Google Assistente, o assistente de voz lançado em 2016 para competir com Alexa, da Amazon, e Siri, da Apple.
Junto com a mudança de nome, o Google lançou um aplicativo próprio para o Gemini no Android - no iPhone, ele vai funcionar dentro do app do Google. Nos telefones com o sistema do Google, existirá um novo atalho para o serviço. Mais importante: ao acessar o app, o usuário poderá tornar o Gemini no principal assistente do aparelho, substituindo o Google Assistente. Assim, todas as outras formas de ativar o Google Assistente, como a palavra de acionamento por voz “Hey, Google”, serão direcionadas para o Gemini
Além de realizar tarefas típicas de IAs generativas, como criar texto e gerar imagens, o Gemini assumirá comandos hoje realizadas pelo Google Assistente, como se conectar a dispositivos de casas conectadas. Em entrevista coletiva com jornalistas de diferentes países acompanha pelo Estadão, Sissie Hsiao, vice-presidente e diretora geral de Gemini e Google Assistente, refutou a aposentadoria do primeiro assistente da companhia. Mas deu pistas de que nem sempre será assim.
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“A chegada do Gemini aos celulares é um primeiro passo superimportante para construir um verdadeiro assistente de IA”, afirmou na apresentação. No entanto, ela reforçou que a interação por voz não é a principal ponto de comunicação com o app do Gemini, ao contrário do que foca o Google Assistente. A ideia é que os usuários possam usar texto, áudio e imagens. O Gemini é um modelo de fundação, o que significa que é uma IA que pode receber comandos e gerar respostas com multimodalidade (texto, áudio, fotografias e expressões matemáticas, por exemplo). No futuro, o Google promete até interação por vídeo.
No entanto, os sinais de que algo não vai bem para o Google Assistente estão por todos os lados. Na rodada de demissões do Google no mês passado, engenheiros do time de Google Assistente foram cortados - a nova onda de demissões em massa no mundo da tecnologia é atribuída por especialistas como um rearranjo de investimentos no setor, com foco total em IA.
Além disso, nesta semana a Samsung avisou seus clientes que suas TVs vão perder suporte ao Google Assistente. Hsiao falou na apresentação que não há planos no momento para levar o Gemini para outros dispositivos.
Na versão para celular, o Gemini estará disponível na versão Pro, um dos três modelos de IA revelados no fim do ano passado. A partir desta quinta, 8, o app está disponível gratuitamente nos EUA e na Inglaterra, em inglês. Na semana que vem, estará disponível na Ásia também em inglês. O Google diz que pretende disponibilizar a ferramentas em outros países e idiomas “em breve”.
Chegou a hora de cobrar por ferramentas de IA
Depois de passar 2023 oferecendo seus sistemas de IA como “experimentos”, o Google indicou também que chegou a era em que ferramentas avançadas de IA serão pagas. Essa é uma resposta à euforia e expectativa de investidores, que impulsionaram o valor das gigantes da tecnologia em 2023 - no ano passado, as ações do Google se valorizaram 58%.
Assim, a companhia anunciou também o Gemini Advanced, modalidade do chatbot que usam o Gemini Ultra 1.0, modelo mais avançado já criado pela empresa que foi revelado também em dezembro passado. Disponível apenas na web, o modelo fará parte plano pago chamado Google One AI Premium, que custa R$ 96,99 por mês. Além do acesso à IA mais poderosa, o usuário terá direito a 2TB de armazenamento e recursos extras no Google Photos, no Google Meet e no Google Calendar. O plano equivalente no Google One atual sai por R$ 34,99 por mês.
Ele já está disponível em 150 países, incluindo o Brasil, apenas em inglês - no entanto, grandes modelos de IA costumam funcionar em idiomas para os quais ainda não foi adaptado.
A estratégia de preços lembra a adotada pela OpenAI, que cobra US$ 20 por mês pelo acesso ao ChatGPT Plus. Ele permite usar o GPT-4, modelo de IA mais avançado da empresa.
O Gemini foi desenvolvido com a DeepMind, empresa especialista em IA adquirida pelo Google em 2014 por US$ 500 milhões - o negócio acelerou a fundação da OpenAI no ano seguinte por Sam Altman. Segundo o Google, o Gemini Ultra é mais sofisticado em problemas de lógica, geração de código de programação e prompts mais detalhados e com nuances.
O sistema também pode ser personalizado para respostas mais precisas, algo na linha do Microsoft Copilot, assistente da empresa fundada por Bill Gates que usa o GPT e que foi incorporado em diversas ferramentas da empresa. O Google afirma ainda que o Gemini Ultra consegue sugerir e gerar conteúdo a partir da análise de tendências na internet.
Para o futuro, o Google prometeu outra ferramenta paga turbinada pelo Gemini. O Duet AI, recurso de IA generativa que funcionava como assistente do pacote corporativo Workspace, será disponibilizado para assinantes do One AI Premium. Ele pode gerar resumos de e-mails e planilhas, transcrições e atas no Google Meet, entre outros recursos. Lançado em agosto do ano passado, estava disponível para 1 milhão de contas corporativas.