Big Techs reduzem diversidade interna com demissões em massa


Mulheres e pessoas latinas foram as mais afetadas por cortes nas empresas de tecnologia

Por Naomi Nix
Atualização:

THE WASHINGTON POST - Não é de hoje que o setor de tecnologia tem dificuldades para recrutar funcionários levando em consideração a diversidade. Mas a última onda de cortes nas empresas do Vale do Silício impactou de forma mais cruel as mulheres e pessoas latinas, de acordo com análises publicadas recentemente dos dados demográficos das demissões.

Uma análise dos dados do site Layoffs.fyi, que acompanha as demissões do setor, revela que as mulheres representavam cerca de 39% do quadro de funcionários, mas 46% de todas as demissões desde setembro, de acordo com Reyhan Ayas, economista sênior da Revelio Labs, empresa que analisa tendências no mercado de trabalho. Os trabalhadores de origem hispânica também tinham mais chances de estar entre os demitidos do que entre os funcionários mantidos, segundo os dados da Revelio.

“No geral, sem dúvidas os cargos não técnicos são os mais afetados, as mulheres são as mais afetadas”, disse Reyhan. “E as iniciativas (de diversidade, equidade e inclusão) de modo geral foram prejudicadas, pelo menos em algumas empresas, pelas demissões no último ano.”

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As mulheres e outros profissionais de grupos com menor representatividade no setor estavam particularmente vulneráveis a demissões porque haviam chegado há menos tempo em seus empregos e ocupavam cargos que as empresas estavam menos interessadas em manter, disseram especialistas ao Washington Post.

A diversidade “nunca foi o ponto forte deles”, disse Benjamín Juárez, cofundador do Latinos in Tech (”Latinos na tecnologia”, em tradução livre), um grupo que oferece formação em conhecimentos técnicos. “Provavelmente não será durante esse tempo de pouca atividade.”

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Muitas das maiores empresas de tecnologia aumentaram o número de profissionais desses grupos sub-representados entre seus funcionários durante a pandemia com o atrativo do trabalho remoto, o que permitiu o recrutamento numa área geográfica maior e a contratação de pessoas que, de outra forma, prefeririam permanecer em casa. Mas as demissões ameaçam essas conquistas.

Uma das razões pelas quais as mulheres e os trabalhadores hispânicos podem ter sido desproporcionalmente afetados pelos cortes é o fato de as empresas recorrerem à estratégia de “os últimos a chegar são os primeiros a sair” para decidir quais empregos manter e quais cortar.

O tempo médio de serviço de um funcionário demitido era de apenas um ano, algo insignificante em comparação com o tempo que aqueles não demitidos estavam na empresa, de acordo com a Revelio. Os trabalhadores dispensados tinham mais chances de exercer funções que as empresas de tecnologia estavam dispostas a cortar, como serviços de recrutamento e de atendimento ao cliente, mostram os dados.

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“Quando se está num emprego há pouco tempo, você não tem muitos amigos e conexões dentro da empresa, então também tende a estar entre aqueles que são cortados primeiro”, disse Bhaskar Chakravorti, diretor de negócios globais da Fletcher School na Universidade Tufts. “(A estratégia de) o último a chegar ser o primeiro a sair afetou uma faixa ampla de pessoas, mas como as mulheres e outros grupos com menor representatividade no setor foram contratados de forma desproporcional nos últimos dois anos, também foram demitidos desproporcionalmente.”

O caso da Meta

Brit Levy, 35 anos, estava ansiosa para começar o programa de treinamento remunerado da Meta para aspirantes a gerentes de Recursos Humanos no ano passado, pois queria se firmar na área de recrutamento e ajudar outras famílias de militares a encontrar empregos no lucrativo setor de tecnologia.

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Brit, que é mexicana-americana, concordou em começar o programa de um ano em abril, depois de verificar com a Meta que seu emprego estaria garantido durante o treinamento, apesar dos desafios financeiros da empresa. Ela foi informada que o programa, cujo objetivo é melhorar o canal direto com recrutadores com foco na diversidade, tinha financiamento para todo o ano.

Cerca de seis meses depois, a Meta demitiu Brit e a maioria dos demais participantes do treinamento que ela estava fazendo, assim como 13% de seus funcionários em tempo integral, em meio à queda no crescimento da receita devido a uma economia tímida e maior concorrência no mercado de mídias sociais.

“Jamais recomendaria que alguém se inscrevesse num programa de diversidade com a Meta”, disse Brit. “Basicamente, (a Meta) nos humilha.”

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Brit Levy foi contratada para um programa de treinamento de 12 meses na Meta, mas foi demitida no final do ano passado Foto: Alisha Jucevic/The Washington Post

A Meta é uma empresa que recorreu ao trabalho remoto durante a pandemia para alcançar diversidade em sua equipe. Entre 2021 e 2022, a porcentagem de trabalhadores negros, hispânicos, multirraciais e asiáticos no mercado de trabalho dos EUA aumentou, enquanto a de trabalhadores brancos caiu 1,5 ponto percentual, de acordo com o relatório anual de diversidade da Meta. As lideranças das empresas também passaram a apresentar maior diversidade, com a proporção de gestores mulheres, negros e hispânicos aumentando, segundo o relatório.

A diretora de diversidade da Meta, Maxine Williams, disse no ano passado que os candidatos nos EUA que aceitaram ofertas de emprego remotas estavam mais propensos a ser de grupos raciais subrepresentados; globalmente, tinham mais chances de ser mulheres.

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Entre 2021 e 2022, a participação de mulheres entre os funcionários da Meta cresceu ligeiramente de 36,7% para 37,1%, de acordo com o relatório da empresa.

Chakravorti acrescentou que os trabalhadores remotos também podem ter se tornado mais vulneráveis aos cortes porque receberam tarefas menos relevantes e tiveram menos tempo de interação com seus gestores em comparação com aqueles frequentando o escritório.

“Quando as pessoas começaram a voltar para os escritórios, havia uma espécie de dois tipos de cidadania dentro de uma determinada empresa” entre aquelas que trabalhavam apenas remotamente e as que às vezes iam ao escritório, disse ele.

A flexibilização das restrições de segurança por causa da pandemia atingiu a Meta num momento em que seu modelo de negócio principal estava sofrendo outras ameaças graves.

A gigante das mídias sociais tem competido tanto por usuários como pelo dinheiro de publicidade com os aplicativos rivais, como o TikTok. A Apple implementou novas restrições de privacidade que prejudicam a capacidade da Meta de coletar dados sobre seus usuários para fins de publicidade direcionada. Enquanto isso, os profissionais de marketing têm recuado nos gastos com publicidade por causa das incertezas na economia global.

No ano passado, os executivos da Meta divulgaram um número extraordinário de diretrizes, descrevendo uma nova era de expectativas de desempenho melhores e desacelerando as contratações conforme a empresa saía da pandemia com uma lista crescente de desafios econômicos. Os gestores foram convidados a identificar aqueles com desempenho fraco, o que provocou uma onda de ansiedade e ressentimento entre os funcionários do Facebook.

O tratamento dado pela Meta àqueles com pouca representatividade entre seus trabalhadores já estava passando por escrutínio. Em 2020, um gerente afroamericano e dois candidatos a emprego cujas contratações foram negadas pelo Facebook apresentaram uma queixa à Comissão de Oportunidades Iguais de Emprego (EEOC, na sigla em inglês), alegando que a empresa é preconceituosa com funcionários negros em avaliações, promoções, salários e práticas de contratação. O caso está em andamento.

“Não é que eles estivessem apenas demitindo pessoas com desempenho fraco”, disse Peter Romer-Friedman, advogado que representa os autores da denúncia no caso. “Na medida em que a empresa estava demitindo alguém por ter um desempenho inferior, acho que é muito claro como isso é problemático, porque o sistema de avaliação da Meta está repleto de problemas de discriminação.”

Em novembro, Lori Goler, diretora de recursos humanos da Meta, disse aos funcionários que a empresa não levou abertamente em consideração a diversidade quando decidiu quais postos de trabalho cortaria, de acordo com uma gravação da reunião ouvida pelo Washington Post.

“A maneira como pensamos sobre DEI”, disse Lori, usando o acrônimo para diversidade, equidade e inclusão, “é a mesma de como ponderamos todos os nossos processos de gestão de pessoas, que é quanto menos discrição e mais objetividade você tiver em qualquer gestão de equipe, melhor será para o DEI”. A equipe de recrutamento foi bastante atingida, disse ela.

Lori afirmou durante a reunião que uma das estratégias usadas pela empresa foi “uma espécie de os últimos a chegar são os primeiros a sair. E é assim que se chega a critérios mais objetivos. E fizemos isso de várias maneiras em toda a empresa enquanto tentávamos avançar com os planos e as demissões”.

Ela também disse que cerca de 46% das demissões ocorreram nas equipes de tecnologia, enquanto 54% aconteceram na parte comercial da empresa. Na Meta, as mulheres e as pessoas não-brancas são mais propensas a desempenhar funções na parte comercial do que atuar em cargos de engenharia.

Conforme a situação financeira da Meta piorava e a empresa começava a desacelerar e depois congelar as contratações, Brit disse que havia muito menos para ela e seus colegas fazerem. Por isso, algumas vezes, ela passava boa parte de seus expedientes entrando em contato com outros funcionários da Meta para aprender mais sobre a empresa e os planos de carreira deles.

Dois meses depois dos cortes, Brit disse que ainda está tendo dificuldades para encontrar um emprego na área de recrutamento ou em qualquer outra. Até o momento, ela disse ter se candidatado a centenas de vagas, mas conseguiu apenas algumas entrevistas.

“Estou me candidatando para tudo”, afirmou. “Não está sendo fácil.” / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

THE WASHINGTON POST - Não é de hoje que o setor de tecnologia tem dificuldades para recrutar funcionários levando em consideração a diversidade. Mas a última onda de cortes nas empresas do Vale do Silício impactou de forma mais cruel as mulheres e pessoas latinas, de acordo com análises publicadas recentemente dos dados demográficos das demissões.

Uma análise dos dados do site Layoffs.fyi, que acompanha as demissões do setor, revela que as mulheres representavam cerca de 39% do quadro de funcionários, mas 46% de todas as demissões desde setembro, de acordo com Reyhan Ayas, economista sênior da Revelio Labs, empresa que analisa tendências no mercado de trabalho. Os trabalhadores de origem hispânica também tinham mais chances de estar entre os demitidos do que entre os funcionários mantidos, segundo os dados da Revelio.

“No geral, sem dúvidas os cargos não técnicos são os mais afetados, as mulheres são as mais afetadas”, disse Reyhan. “E as iniciativas (de diversidade, equidade e inclusão) de modo geral foram prejudicadas, pelo menos em algumas empresas, pelas demissões no último ano.”

As mulheres e outros profissionais de grupos com menor representatividade no setor estavam particularmente vulneráveis a demissões porque haviam chegado há menos tempo em seus empregos e ocupavam cargos que as empresas estavam menos interessadas em manter, disseram especialistas ao Washington Post.

A diversidade “nunca foi o ponto forte deles”, disse Benjamín Juárez, cofundador do Latinos in Tech (”Latinos na tecnologia”, em tradução livre), um grupo que oferece formação em conhecimentos técnicos. “Provavelmente não será durante esse tempo de pouca atividade.”

Muitas das maiores empresas de tecnologia aumentaram o número de profissionais desses grupos sub-representados entre seus funcionários durante a pandemia com o atrativo do trabalho remoto, o que permitiu o recrutamento numa área geográfica maior e a contratação de pessoas que, de outra forma, prefeririam permanecer em casa. Mas as demissões ameaçam essas conquistas.

Uma das razões pelas quais as mulheres e os trabalhadores hispânicos podem ter sido desproporcionalmente afetados pelos cortes é o fato de as empresas recorrerem à estratégia de “os últimos a chegar são os primeiros a sair” para decidir quais empregos manter e quais cortar.

O tempo médio de serviço de um funcionário demitido era de apenas um ano, algo insignificante em comparação com o tempo que aqueles não demitidos estavam na empresa, de acordo com a Revelio. Os trabalhadores dispensados tinham mais chances de exercer funções que as empresas de tecnologia estavam dispostas a cortar, como serviços de recrutamento e de atendimento ao cliente, mostram os dados.

“Quando se está num emprego há pouco tempo, você não tem muitos amigos e conexões dentro da empresa, então também tende a estar entre aqueles que são cortados primeiro”, disse Bhaskar Chakravorti, diretor de negócios globais da Fletcher School na Universidade Tufts. “(A estratégia de) o último a chegar ser o primeiro a sair afetou uma faixa ampla de pessoas, mas como as mulheres e outros grupos com menor representatividade no setor foram contratados de forma desproporcional nos últimos dois anos, também foram demitidos desproporcionalmente.”

O caso da Meta

Brit Levy, 35 anos, estava ansiosa para começar o programa de treinamento remunerado da Meta para aspirantes a gerentes de Recursos Humanos no ano passado, pois queria se firmar na área de recrutamento e ajudar outras famílias de militares a encontrar empregos no lucrativo setor de tecnologia.

Brit, que é mexicana-americana, concordou em começar o programa de um ano em abril, depois de verificar com a Meta que seu emprego estaria garantido durante o treinamento, apesar dos desafios financeiros da empresa. Ela foi informada que o programa, cujo objetivo é melhorar o canal direto com recrutadores com foco na diversidade, tinha financiamento para todo o ano.

Cerca de seis meses depois, a Meta demitiu Brit e a maioria dos demais participantes do treinamento que ela estava fazendo, assim como 13% de seus funcionários em tempo integral, em meio à queda no crescimento da receita devido a uma economia tímida e maior concorrência no mercado de mídias sociais.

“Jamais recomendaria que alguém se inscrevesse num programa de diversidade com a Meta”, disse Brit. “Basicamente, (a Meta) nos humilha.”

Brit Levy foi contratada para um programa de treinamento de 12 meses na Meta, mas foi demitida no final do ano passado Foto: Alisha Jucevic/The Washington Post

A Meta é uma empresa que recorreu ao trabalho remoto durante a pandemia para alcançar diversidade em sua equipe. Entre 2021 e 2022, a porcentagem de trabalhadores negros, hispânicos, multirraciais e asiáticos no mercado de trabalho dos EUA aumentou, enquanto a de trabalhadores brancos caiu 1,5 ponto percentual, de acordo com o relatório anual de diversidade da Meta. As lideranças das empresas também passaram a apresentar maior diversidade, com a proporção de gestores mulheres, negros e hispânicos aumentando, segundo o relatório.

A diretora de diversidade da Meta, Maxine Williams, disse no ano passado que os candidatos nos EUA que aceitaram ofertas de emprego remotas estavam mais propensos a ser de grupos raciais subrepresentados; globalmente, tinham mais chances de ser mulheres.

Entre 2021 e 2022, a participação de mulheres entre os funcionários da Meta cresceu ligeiramente de 36,7% para 37,1%, de acordo com o relatório da empresa.

Chakravorti acrescentou que os trabalhadores remotos também podem ter se tornado mais vulneráveis aos cortes porque receberam tarefas menos relevantes e tiveram menos tempo de interação com seus gestores em comparação com aqueles frequentando o escritório.

“Quando as pessoas começaram a voltar para os escritórios, havia uma espécie de dois tipos de cidadania dentro de uma determinada empresa” entre aquelas que trabalhavam apenas remotamente e as que às vezes iam ao escritório, disse ele.

A flexibilização das restrições de segurança por causa da pandemia atingiu a Meta num momento em que seu modelo de negócio principal estava sofrendo outras ameaças graves.

A gigante das mídias sociais tem competido tanto por usuários como pelo dinheiro de publicidade com os aplicativos rivais, como o TikTok. A Apple implementou novas restrições de privacidade que prejudicam a capacidade da Meta de coletar dados sobre seus usuários para fins de publicidade direcionada. Enquanto isso, os profissionais de marketing têm recuado nos gastos com publicidade por causa das incertezas na economia global.

No ano passado, os executivos da Meta divulgaram um número extraordinário de diretrizes, descrevendo uma nova era de expectativas de desempenho melhores e desacelerando as contratações conforme a empresa saía da pandemia com uma lista crescente de desafios econômicos. Os gestores foram convidados a identificar aqueles com desempenho fraco, o que provocou uma onda de ansiedade e ressentimento entre os funcionários do Facebook.

O tratamento dado pela Meta àqueles com pouca representatividade entre seus trabalhadores já estava passando por escrutínio. Em 2020, um gerente afroamericano e dois candidatos a emprego cujas contratações foram negadas pelo Facebook apresentaram uma queixa à Comissão de Oportunidades Iguais de Emprego (EEOC, na sigla em inglês), alegando que a empresa é preconceituosa com funcionários negros em avaliações, promoções, salários e práticas de contratação. O caso está em andamento.

“Não é que eles estivessem apenas demitindo pessoas com desempenho fraco”, disse Peter Romer-Friedman, advogado que representa os autores da denúncia no caso. “Na medida em que a empresa estava demitindo alguém por ter um desempenho inferior, acho que é muito claro como isso é problemático, porque o sistema de avaliação da Meta está repleto de problemas de discriminação.”

Em novembro, Lori Goler, diretora de recursos humanos da Meta, disse aos funcionários que a empresa não levou abertamente em consideração a diversidade quando decidiu quais postos de trabalho cortaria, de acordo com uma gravação da reunião ouvida pelo Washington Post.

“A maneira como pensamos sobre DEI”, disse Lori, usando o acrônimo para diversidade, equidade e inclusão, “é a mesma de como ponderamos todos os nossos processos de gestão de pessoas, que é quanto menos discrição e mais objetividade você tiver em qualquer gestão de equipe, melhor será para o DEI”. A equipe de recrutamento foi bastante atingida, disse ela.

Lori afirmou durante a reunião que uma das estratégias usadas pela empresa foi “uma espécie de os últimos a chegar são os primeiros a sair. E é assim que se chega a critérios mais objetivos. E fizemos isso de várias maneiras em toda a empresa enquanto tentávamos avançar com os planos e as demissões”.

Ela também disse que cerca de 46% das demissões ocorreram nas equipes de tecnologia, enquanto 54% aconteceram na parte comercial da empresa. Na Meta, as mulheres e as pessoas não-brancas são mais propensas a desempenhar funções na parte comercial do que atuar em cargos de engenharia.

Conforme a situação financeira da Meta piorava e a empresa começava a desacelerar e depois congelar as contratações, Brit disse que havia muito menos para ela e seus colegas fazerem. Por isso, algumas vezes, ela passava boa parte de seus expedientes entrando em contato com outros funcionários da Meta para aprender mais sobre a empresa e os planos de carreira deles.

Dois meses depois dos cortes, Brit disse que ainda está tendo dificuldades para encontrar um emprego na área de recrutamento ou em qualquer outra. Até o momento, ela disse ter se candidatado a centenas de vagas, mas conseguiu apenas algumas entrevistas.

“Estou me candidatando para tudo”, afirmou. “Não está sendo fácil.” / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

THE WASHINGTON POST - Não é de hoje que o setor de tecnologia tem dificuldades para recrutar funcionários levando em consideração a diversidade. Mas a última onda de cortes nas empresas do Vale do Silício impactou de forma mais cruel as mulheres e pessoas latinas, de acordo com análises publicadas recentemente dos dados demográficos das demissões.

Uma análise dos dados do site Layoffs.fyi, que acompanha as demissões do setor, revela que as mulheres representavam cerca de 39% do quadro de funcionários, mas 46% de todas as demissões desde setembro, de acordo com Reyhan Ayas, economista sênior da Revelio Labs, empresa que analisa tendências no mercado de trabalho. Os trabalhadores de origem hispânica também tinham mais chances de estar entre os demitidos do que entre os funcionários mantidos, segundo os dados da Revelio.

“No geral, sem dúvidas os cargos não técnicos são os mais afetados, as mulheres são as mais afetadas”, disse Reyhan. “E as iniciativas (de diversidade, equidade e inclusão) de modo geral foram prejudicadas, pelo menos em algumas empresas, pelas demissões no último ano.”

As mulheres e outros profissionais de grupos com menor representatividade no setor estavam particularmente vulneráveis a demissões porque haviam chegado há menos tempo em seus empregos e ocupavam cargos que as empresas estavam menos interessadas em manter, disseram especialistas ao Washington Post.

A diversidade “nunca foi o ponto forte deles”, disse Benjamín Juárez, cofundador do Latinos in Tech (”Latinos na tecnologia”, em tradução livre), um grupo que oferece formação em conhecimentos técnicos. “Provavelmente não será durante esse tempo de pouca atividade.”

Muitas das maiores empresas de tecnologia aumentaram o número de profissionais desses grupos sub-representados entre seus funcionários durante a pandemia com o atrativo do trabalho remoto, o que permitiu o recrutamento numa área geográfica maior e a contratação de pessoas que, de outra forma, prefeririam permanecer em casa. Mas as demissões ameaçam essas conquistas.

Uma das razões pelas quais as mulheres e os trabalhadores hispânicos podem ter sido desproporcionalmente afetados pelos cortes é o fato de as empresas recorrerem à estratégia de “os últimos a chegar são os primeiros a sair” para decidir quais empregos manter e quais cortar.

O tempo médio de serviço de um funcionário demitido era de apenas um ano, algo insignificante em comparação com o tempo que aqueles não demitidos estavam na empresa, de acordo com a Revelio. Os trabalhadores dispensados tinham mais chances de exercer funções que as empresas de tecnologia estavam dispostas a cortar, como serviços de recrutamento e de atendimento ao cliente, mostram os dados.

“Quando se está num emprego há pouco tempo, você não tem muitos amigos e conexões dentro da empresa, então também tende a estar entre aqueles que são cortados primeiro”, disse Bhaskar Chakravorti, diretor de negócios globais da Fletcher School na Universidade Tufts. “(A estratégia de) o último a chegar ser o primeiro a sair afetou uma faixa ampla de pessoas, mas como as mulheres e outros grupos com menor representatividade no setor foram contratados de forma desproporcional nos últimos dois anos, também foram demitidos desproporcionalmente.”

O caso da Meta

Brit Levy, 35 anos, estava ansiosa para começar o programa de treinamento remunerado da Meta para aspirantes a gerentes de Recursos Humanos no ano passado, pois queria se firmar na área de recrutamento e ajudar outras famílias de militares a encontrar empregos no lucrativo setor de tecnologia.

Brit, que é mexicana-americana, concordou em começar o programa de um ano em abril, depois de verificar com a Meta que seu emprego estaria garantido durante o treinamento, apesar dos desafios financeiros da empresa. Ela foi informada que o programa, cujo objetivo é melhorar o canal direto com recrutadores com foco na diversidade, tinha financiamento para todo o ano.

Cerca de seis meses depois, a Meta demitiu Brit e a maioria dos demais participantes do treinamento que ela estava fazendo, assim como 13% de seus funcionários em tempo integral, em meio à queda no crescimento da receita devido a uma economia tímida e maior concorrência no mercado de mídias sociais.

“Jamais recomendaria que alguém se inscrevesse num programa de diversidade com a Meta”, disse Brit. “Basicamente, (a Meta) nos humilha.”

Brit Levy foi contratada para um programa de treinamento de 12 meses na Meta, mas foi demitida no final do ano passado Foto: Alisha Jucevic/The Washington Post

A Meta é uma empresa que recorreu ao trabalho remoto durante a pandemia para alcançar diversidade em sua equipe. Entre 2021 e 2022, a porcentagem de trabalhadores negros, hispânicos, multirraciais e asiáticos no mercado de trabalho dos EUA aumentou, enquanto a de trabalhadores brancos caiu 1,5 ponto percentual, de acordo com o relatório anual de diversidade da Meta. As lideranças das empresas também passaram a apresentar maior diversidade, com a proporção de gestores mulheres, negros e hispânicos aumentando, segundo o relatório.

A diretora de diversidade da Meta, Maxine Williams, disse no ano passado que os candidatos nos EUA que aceitaram ofertas de emprego remotas estavam mais propensos a ser de grupos raciais subrepresentados; globalmente, tinham mais chances de ser mulheres.

Entre 2021 e 2022, a participação de mulheres entre os funcionários da Meta cresceu ligeiramente de 36,7% para 37,1%, de acordo com o relatório da empresa.

Chakravorti acrescentou que os trabalhadores remotos também podem ter se tornado mais vulneráveis aos cortes porque receberam tarefas menos relevantes e tiveram menos tempo de interação com seus gestores em comparação com aqueles frequentando o escritório.

“Quando as pessoas começaram a voltar para os escritórios, havia uma espécie de dois tipos de cidadania dentro de uma determinada empresa” entre aquelas que trabalhavam apenas remotamente e as que às vezes iam ao escritório, disse ele.

A flexibilização das restrições de segurança por causa da pandemia atingiu a Meta num momento em que seu modelo de negócio principal estava sofrendo outras ameaças graves.

A gigante das mídias sociais tem competido tanto por usuários como pelo dinheiro de publicidade com os aplicativos rivais, como o TikTok. A Apple implementou novas restrições de privacidade que prejudicam a capacidade da Meta de coletar dados sobre seus usuários para fins de publicidade direcionada. Enquanto isso, os profissionais de marketing têm recuado nos gastos com publicidade por causa das incertezas na economia global.

No ano passado, os executivos da Meta divulgaram um número extraordinário de diretrizes, descrevendo uma nova era de expectativas de desempenho melhores e desacelerando as contratações conforme a empresa saía da pandemia com uma lista crescente de desafios econômicos. Os gestores foram convidados a identificar aqueles com desempenho fraco, o que provocou uma onda de ansiedade e ressentimento entre os funcionários do Facebook.

O tratamento dado pela Meta àqueles com pouca representatividade entre seus trabalhadores já estava passando por escrutínio. Em 2020, um gerente afroamericano e dois candidatos a emprego cujas contratações foram negadas pelo Facebook apresentaram uma queixa à Comissão de Oportunidades Iguais de Emprego (EEOC, na sigla em inglês), alegando que a empresa é preconceituosa com funcionários negros em avaliações, promoções, salários e práticas de contratação. O caso está em andamento.

“Não é que eles estivessem apenas demitindo pessoas com desempenho fraco”, disse Peter Romer-Friedman, advogado que representa os autores da denúncia no caso. “Na medida em que a empresa estava demitindo alguém por ter um desempenho inferior, acho que é muito claro como isso é problemático, porque o sistema de avaliação da Meta está repleto de problemas de discriminação.”

Em novembro, Lori Goler, diretora de recursos humanos da Meta, disse aos funcionários que a empresa não levou abertamente em consideração a diversidade quando decidiu quais postos de trabalho cortaria, de acordo com uma gravação da reunião ouvida pelo Washington Post.

“A maneira como pensamos sobre DEI”, disse Lori, usando o acrônimo para diversidade, equidade e inclusão, “é a mesma de como ponderamos todos os nossos processos de gestão de pessoas, que é quanto menos discrição e mais objetividade você tiver em qualquer gestão de equipe, melhor será para o DEI”. A equipe de recrutamento foi bastante atingida, disse ela.

Lori afirmou durante a reunião que uma das estratégias usadas pela empresa foi “uma espécie de os últimos a chegar são os primeiros a sair. E é assim que se chega a critérios mais objetivos. E fizemos isso de várias maneiras em toda a empresa enquanto tentávamos avançar com os planos e as demissões”.

Ela também disse que cerca de 46% das demissões ocorreram nas equipes de tecnologia, enquanto 54% aconteceram na parte comercial da empresa. Na Meta, as mulheres e as pessoas não-brancas são mais propensas a desempenhar funções na parte comercial do que atuar em cargos de engenharia.

Conforme a situação financeira da Meta piorava e a empresa começava a desacelerar e depois congelar as contratações, Brit disse que havia muito menos para ela e seus colegas fazerem. Por isso, algumas vezes, ela passava boa parte de seus expedientes entrando em contato com outros funcionários da Meta para aprender mais sobre a empresa e os planos de carreira deles.

Dois meses depois dos cortes, Brit disse que ainda está tendo dificuldades para encontrar um emprego na área de recrutamento ou em qualquer outra. Até o momento, ela disse ter se candidatado a centenas de vagas, mas conseguiu apenas algumas entrevistas.

“Estou me candidatando para tudo”, afirmou. “Não está sendo fácil.” / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

THE WASHINGTON POST - Não é de hoje que o setor de tecnologia tem dificuldades para recrutar funcionários levando em consideração a diversidade. Mas a última onda de cortes nas empresas do Vale do Silício impactou de forma mais cruel as mulheres e pessoas latinas, de acordo com análises publicadas recentemente dos dados demográficos das demissões.

Uma análise dos dados do site Layoffs.fyi, que acompanha as demissões do setor, revela que as mulheres representavam cerca de 39% do quadro de funcionários, mas 46% de todas as demissões desde setembro, de acordo com Reyhan Ayas, economista sênior da Revelio Labs, empresa que analisa tendências no mercado de trabalho. Os trabalhadores de origem hispânica também tinham mais chances de estar entre os demitidos do que entre os funcionários mantidos, segundo os dados da Revelio.

“No geral, sem dúvidas os cargos não técnicos são os mais afetados, as mulheres são as mais afetadas”, disse Reyhan. “E as iniciativas (de diversidade, equidade e inclusão) de modo geral foram prejudicadas, pelo menos em algumas empresas, pelas demissões no último ano.”

As mulheres e outros profissionais de grupos com menor representatividade no setor estavam particularmente vulneráveis a demissões porque haviam chegado há menos tempo em seus empregos e ocupavam cargos que as empresas estavam menos interessadas em manter, disseram especialistas ao Washington Post.

A diversidade “nunca foi o ponto forte deles”, disse Benjamín Juárez, cofundador do Latinos in Tech (”Latinos na tecnologia”, em tradução livre), um grupo que oferece formação em conhecimentos técnicos. “Provavelmente não será durante esse tempo de pouca atividade.”

Muitas das maiores empresas de tecnologia aumentaram o número de profissionais desses grupos sub-representados entre seus funcionários durante a pandemia com o atrativo do trabalho remoto, o que permitiu o recrutamento numa área geográfica maior e a contratação de pessoas que, de outra forma, prefeririam permanecer em casa. Mas as demissões ameaçam essas conquistas.

Uma das razões pelas quais as mulheres e os trabalhadores hispânicos podem ter sido desproporcionalmente afetados pelos cortes é o fato de as empresas recorrerem à estratégia de “os últimos a chegar são os primeiros a sair” para decidir quais empregos manter e quais cortar.

O tempo médio de serviço de um funcionário demitido era de apenas um ano, algo insignificante em comparação com o tempo que aqueles não demitidos estavam na empresa, de acordo com a Revelio. Os trabalhadores dispensados tinham mais chances de exercer funções que as empresas de tecnologia estavam dispostas a cortar, como serviços de recrutamento e de atendimento ao cliente, mostram os dados.

“Quando se está num emprego há pouco tempo, você não tem muitos amigos e conexões dentro da empresa, então também tende a estar entre aqueles que são cortados primeiro”, disse Bhaskar Chakravorti, diretor de negócios globais da Fletcher School na Universidade Tufts. “(A estratégia de) o último a chegar ser o primeiro a sair afetou uma faixa ampla de pessoas, mas como as mulheres e outros grupos com menor representatividade no setor foram contratados de forma desproporcional nos últimos dois anos, também foram demitidos desproporcionalmente.”

O caso da Meta

Brit Levy, 35 anos, estava ansiosa para começar o programa de treinamento remunerado da Meta para aspirantes a gerentes de Recursos Humanos no ano passado, pois queria se firmar na área de recrutamento e ajudar outras famílias de militares a encontrar empregos no lucrativo setor de tecnologia.

Brit, que é mexicana-americana, concordou em começar o programa de um ano em abril, depois de verificar com a Meta que seu emprego estaria garantido durante o treinamento, apesar dos desafios financeiros da empresa. Ela foi informada que o programa, cujo objetivo é melhorar o canal direto com recrutadores com foco na diversidade, tinha financiamento para todo o ano.

Cerca de seis meses depois, a Meta demitiu Brit e a maioria dos demais participantes do treinamento que ela estava fazendo, assim como 13% de seus funcionários em tempo integral, em meio à queda no crescimento da receita devido a uma economia tímida e maior concorrência no mercado de mídias sociais.

“Jamais recomendaria que alguém se inscrevesse num programa de diversidade com a Meta”, disse Brit. “Basicamente, (a Meta) nos humilha.”

Brit Levy foi contratada para um programa de treinamento de 12 meses na Meta, mas foi demitida no final do ano passado Foto: Alisha Jucevic/The Washington Post

A Meta é uma empresa que recorreu ao trabalho remoto durante a pandemia para alcançar diversidade em sua equipe. Entre 2021 e 2022, a porcentagem de trabalhadores negros, hispânicos, multirraciais e asiáticos no mercado de trabalho dos EUA aumentou, enquanto a de trabalhadores brancos caiu 1,5 ponto percentual, de acordo com o relatório anual de diversidade da Meta. As lideranças das empresas também passaram a apresentar maior diversidade, com a proporção de gestores mulheres, negros e hispânicos aumentando, segundo o relatório.

A diretora de diversidade da Meta, Maxine Williams, disse no ano passado que os candidatos nos EUA que aceitaram ofertas de emprego remotas estavam mais propensos a ser de grupos raciais subrepresentados; globalmente, tinham mais chances de ser mulheres.

Entre 2021 e 2022, a participação de mulheres entre os funcionários da Meta cresceu ligeiramente de 36,7% para 37,1%, de acordo com o relatório da empresa.

Chakravorti acrescentou que os trabalhadores remotos também podem ter se tornado mais vulneráveis aos cortes porque receberam tarefas menos relevantes e tiveram menos tempo de interação com seus gestores em comparação com aqueles frequentando o escritório.

“Quando as pessoas começaram a voltar para os escritórios, havia uma espécie de dois tipos de cidadania dentro de uma determinada empresa” entre aquelas que trabalhavam apenas remotamente e as que às vezes iam ao escritório, disse ele.

A flexibilização das restrições de segurança por causa da pandemia atingiu a Meta num momento em que seu modelo de negócio principal estava sofrendo outras ameaças graves.

A gigante das mídias sociais tem competido tanto por usuários como pelo dinheiro de publicidade com os aplicativos rivais, como o TikTok. A Apple implementou novas restrições de privacidade que prejudicam a capacidade da Meta de coletar dados sobre seus usuários para fins de publicidade direcionada. Enquanto isso, os profissionais de marketing têm recuado nos gastos com publicidade por causa das incertezas na economia global.

No ano passado, os executivos da Meta divulgaram um número extraordinário de diretrizes, descrevendo uma nova era de expectativas de desempenho melhores e desacelerando as contratações conforme a empresa saía da pandemia com uma lista crescente de desafios econômicos. Os gestores foram convidados a identificar aqueles com desempenho fraco, o que provocou uma onda de ansiedade e ressentimento entre os funcionários do Facebook.

O tratamento dado pela Meta àqueles com pouca representatividade entre seus trabalhadores já estava passando por escrutínio. Em 2020, um gerente afroamericano e dois candidatos a emprego cujas contratações foram negadas pelo Facebook apresentaram uma queixa à Comissão de Oportunidades Iguais de Emprego (EEOC, na sigla em inglês), alegando que a empresa é preconceituosa com funcionários negros em avaliações, promoções, salários e práticas de contratação. O caso está em andamento.

“Não é que eles estivessem apenas demitindo pessoas com desempenho fraco”, disse Peter Romer-Friedman, advogado que representa os autores da denúncia no caso. “Na medida em que a empresa estava demitindo alguém por ter um desempenho inferior, acho que é muito claro como isso é problemático, porque o sistema de avaliação da Meta está repleto de problemas de discriminação.”

Em novembro, Lori Goler, diretora de recursos humanos da Meta, disse aos funcionários que a empresa não levou abertamente em consideração a diversidade quando decidiu quais postos de trabalho cortaria, de acordo com uma gravação da reunião ouvida pelo Washington Post.

“A maneira como pensamos sobre DEI”, disse Lori, usando o acrônimo para diversidade, equidade e inclusão, “é a mesma de como ponderamos todos os nossos processos de gestão de pessoas, que é quanto menos discrição e mais objetividade você tiver em qualquer gestão de equipe, melhor será para o DEI”. A equipe de recrutamento foi bastante atingida, disse ela.

Lori afirmou durante a reunião que uma das estratégias usadas pela empresa foi “uma espécie de os últimos a chegar são os primeiros a sair. E é assim que se chega a critérios mais objetivos. E fizemos isso de várias maneiras em toda a empresa enquanto tentávamos avançar com os planos e as demissões”.

Ela também disse que cerca de 46% das demissões ocorreram nas equipes de tecnologia, enquanto 54% aconteceram na parte comercial da empresa. Na Meta, as mulheres e as pessoas não-brancas são mais propensas a desempenhar funções na parte comercial do que atuar em cargos de engenharia.

Conforme a situação financeira da Meta piorava e a empresa começava a desacelerar e depois congelar as contratações, Brit disse que havia muito menos para ela e seus colegas fazerem. Por isso, algumas vezes, ela passava boa parte de seus expedientes entrando em contato com outros funcionários da Meta para aprender mais sobre a empresa e os planos de carreira deles.

Dois meses depois dos cortes, Brit disse que ainda está tendo dificuldades para encontrar um emprego na área de recrutamento ou em qualquer outra. Até o momento, ela disse ter se candidatado a centenas de vagas, mas conseguiu apenas algumas entrevistas.

“Estou me candidatando para tudo”, afirmou. “Não está sendo fácil.” / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

THE WASHINGTON POST - Não é de hoje que o setor de tecnologia tem dificuldades para recrutar funcionários levando em consideração a diversidade. Mas a última onda de cortes nas empresas do Vale do Silício impactou de forma mais cruel as mulheres e pessoas latinas, de acordo com análises publicadas recentemente dos dados demográficos das demissões.

Uma análise dos dados do site Layoffs.fyi, que acompanha as demissões do setor, revela que as mulheres representavam cerca de 39% do quadro de funcionários, mas 46% de todas as demissões desde setembro, de acordo com Reyhan Ayas, economista sênior da Revelio Labs, empresa que analisa tendências no mercado de trabalho. Os trabalhadores de origem hispânica também tinham mais chances de estar entre os demitidos do que entre os funcionários mantidos, segundo os dados da Revelio.

“No geral, sem dúvidas os cargos não técnicos são os mais afetados, as mulheres são as mais afetadas”, disse Reyhan. “E as iniciativas (de diversidade, equidade e inclusão) de modo geral foram prejudicadas, pelo menos em algumas empresas, pelas demissões no último ano.”

As mulheres e outros profissionais de grupos com menor representatividade no setor estavam particularmente vulneráveis a demissões porque haviam chegado há menos tempo em seus empregos e ocupavam cargos que as empresas estavam menos interessadas em manter, disseram especialistas ao Washington Post.

A diversidade “nunca foi o ponto forte deles”, disse Benjamín Juárez, cofundador do Latinos in Tech (”Latinos na tecnologia”, em tradução livre), um grupo que oferece formação em conhecimentos técnicos. “Provavelmente não será durante esse tempo de pouca atividade.”

Muitas das maiores empresas de tecnologia aumentaram o número de profissionais desses grupos sub-representados entre seus funcionários durante a pandemia com o atrativo do trabalho remoto, o que permitiu o recrutamento numa área geográfica maior e a contratação de pessoas que, de outra forma, prefeririam permanecer em casa. Mas as demissões ameaçam essas conquistas.

Uma das razões pelas quais as mulheres e os trabalhadores hispânicos podem ter sido desproporcionalmente afetados pelos cortes é o fato de as empresas recorrerem à estratégia de “os últimos a chegar são os primeiros a sair” para decidir quais empregos manter e quais cortar.

O tempo médio de serviço de um funcionário demitido era de apenas um ano, algo insignificante em comparação com o tempo que aqueles não demitidos estavam na empresa, de acordo com a Revelio. Os trabalhadores dispensados tinham mais chances de exercer funções que as empresas de tecnologia estavam dispostas a cortar, como serviços de recrutamento e de atendimento ao cliente, mostram os dados.

“Quando se está num emprego há pouco tempo, você não tem muitos amigos e conexões dentro da empresa, então também tende a estar entre aqueles que são cortados primeiro”, disse Bhaskar Chakravorti, diretor de negócios globais da Fletcher School na Universidade Tufts. “(A estratégia de) o último a chegar ser o primeiro a sair afetou uma faixa ampla de pessoas, mas como as mulheres e outros grupos com menor representatividade no setor foram contratados de forma desproporcional nos últimos dois anos, também foram demitidos desproporcionalmente.”

O caso da Meta

Brit Levy, 35 anos, estava ansiosa para começar o programa de treinamento remunerado da Meta para aspirantes a gerentes de Recursos Humanos no ano passado, pois queria se firmar na área de recrutamento e ajudar outras famílias de militares a encontrar empregos no lucrativo setor de tecnologia.

Brit, que é mexicana-americana, concordou em começar o programa de um ano em abril, depois de verificar com a Meta que seu emprego estaria garantido durante o treinamento, apesar dos desafios financeiros da empresa. Ela foi informada que o programa, cujo objetivo é melhorar o canal direto com recrutadores com foco na diversidade, tinha financiamento para todo o ano.

Cerca de seis meses depois, a Meta demitiu Brit e a maioria dos demais participantes do treinamento que ela estava fazendo, assim como 13% de seus funcionários em tempo integral, em meio à queda no crescimento da receita devido a uma economia tímida e maior concorrência no mercado de mídias sociais.

“Jamais recomendaria que alguém se inscrevesse num programa de diversidade com a Meta”, disse Brit. “Basicamente, (a Meta) nos humilha.”

Brit Levy foi contratada para um programa de treinamento de 12 meses na Meta, mas foi demitida no final do ano passado Foto: Alisha Jucevic/The Washington Post

A Meta é uma empresa que recorreu ao trabalho remoto durante a pandemia para alcançar diversidade em sua equipe. Entre 2021 e 2022, a porcentagem de trabalhadores negros, hispânicos, multirraciais e asiáticos no mercado de trabalho dos EUA aumentou, enquanto a de trabalhadores brancos caiu 1,5 ponto percentual, de acordo com o relatório anual de diversidade da Meta. As lideranças das empresas também passaram a apresentar maior diversidade, com a proporção de gestores mulheres, negros e hispânicos aumentando, segundo o relatório.

A diretora de diversidade da Meta, Maxine Williams, disse no ano passado que os candidatos nos EUA que aceitaram ofertas de emprego remotas estavam mais propensos a ser de grupos raciais subrepresentados; globalmente, tinham mais chances de ser mulheres.

Entre 2021 e 2022, a participação de mulheres entre os funcionários da Meta cresceu ligeiramente de 36,7% para 37,1%, de acordo com o relatório da empresa.

Chakravorti acrescentou que os trabalhadores remotos também podem ter se tornado mais vulneráveis aos cortes porque receberam tarefas menos relevantes e tiveram menos tempo de interação com seus gestores em comparação com aqueles frequentando o escritório.

“Quando as pessoas começaram a voltar para os escritórios, havia uma espécie de dois tipos de cidadania dentro de uma determinada empresa” entre aquelas que trabalhavam apenas remotamente e as que às vezes iam ao escritório, disse ele.

A flexibilização das restrições de segurança por causa da pandemia atingiu a Meta num momento em que seu modelo de negócio principal estava sofrendo outras ameaças graves.

A gigante das mídias sociais tem competido tanto por usuários como pelo dinheiro de publicidade com os aplicativos rivais, como o TikTok. A Apple implementou novas restrições de privacidade que prejudicam a capacidade da Meta de coletar dados sobre seus usuários para fins de publicidade direcionada. Enquanto isso, os profissionais de marketing têm recuado nos gastos com publicidade por causa das incertezas na economia global.

No ano passado, os executivos da Meta divulgaram um número extraordinário de diretrizes, descrevendo uma nova era de expectativas de desempenho melhores e desacelerando as contratações conforme a empresa saía da pandemia com uma lista crescente de desafios econômicos. Os gestores foram convidados a identificar aqueles com desempenho fraco, o que provocou uma onda de ansiedade e ressentimento entre os funcionários do Facebook.

O tratamento dado pela Meta àqueles com pouca representatividade entre seus trabalhadores já estava passando por escrutínio. Em 2020, um gerente afroamericano e dois candidatos a emprego cujas contratações foram negadas pelo Facebook apresentaram uma queixa à Comissão de Oportunidades Iguais de Emprego (EEOC, na sigla em inglês), alegando que a empresa é preconceituosa com funcionários negros em avaliações, promoções, salários e práticas de contratação. O caso está em andamento.

“Não é que eles estivessem apenas demitindo pessoas com desempenho fraco”, disse Peter Romer-Friedman, advogado que representa os autores da denúncia no caso. “Na medida em que a empresa estava demitindo alguém por ter um desempenho inferior, acho que é muito claro como isso é problemático, porque o sistema de avaliação da Meta está repleto de problemas de discriminação.”

Em novembro, Lori Goler, diretora de recursos humanos da Meta, disse aos funcionários que a empresa não levou abertamente em consideração a diversidade quando decidiu quais postos de trabalho cortaria, de acordo com uma gravação da reunião ouvida pelo Washington Post.

“A maneira como pensamos sobre DEI”, disse Lori, usando o acrônimo para diversidade, equidade e inclusão, “é a mesma de como ponderamos todos os nossos processos de gestão de pessoas, que é quanto menos discrição e mais objetividade você tiver em qualquer gestão de equipe, melhor será para o DEI”. A equipe de recrutamento foi bastante atingida, disse ela.

Lori afirmou durante a reunião que uma das estratégias usadas pela empresa foi “uma espécie de os últimos a chegar são os primeiros a sair. E é assim que se chega a critérios mais objetivos. E fizemos isso de várias maneiras em toda a empresa enquanto tentávamos avançar com os planos e as demissões”.

Ela também disse que cerca de 46% das demissões ocorreram nas equipes de tecnologia, enquanto 54% aconteceram na parte comercial da empresa. Na Meta, as mulheres e as pessoas não-brancas são mais propensas a desempenhar funções na parte comercial do que atuar em cargos de engenharia.

Conforme a situação financeira da Meta piorava e a empresa começava a desacelerar e depois congelar as contratações, Brit disse que havia muito menos para ela e seus colegas fazerem. Por isso, algumas vezes, ela passava boa parte de seus expedientes entrando em contato com outros funcionários da Meta para aprender mais sobre a empresa e os planos de carreira deles.

Dois meses depois dos cortes, Brit disse que ainda está tendo dificuldades para encontrar um emprego na área de recrutamento ou em qualquer outra. Até o momento, ela disse ter se candidatado a centenas de vagas, mas conseguiu apenas algumas entrevistas.

“Estou me candidatando para tudo”, afirmou. “Não está sendo fácil.” / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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