Kevin Systrom e Mike Krieger, os dois cofundadores do Instagram, anunciaram na noite desta segunda-feira, 24, sua saída da empresa, por meio de um comunicado oficial, publicado oficialmente no blog da empresa -- antes disso, o jornal New York Times já havia antecipado a saída, citando fontes familiarizadas com o assunto.
"Estamos planejando tirar algum tempo livre para explorar nossa curiosidade e nossa criatividade", declarou Systrom em seu texto, falando também pelo companheiro Krieger, que é brasileiro. "Estamos animados para ver o futuro do Instagram e do Facebook, conforme nos transformamos de líderes a apenas mais dois usuários." Na publicação, Systrom ainda acrescentou que "estamos prontos para nosso novo capítulo", dando pistas de que a dupla pode voltar a colaborar na construção de um novo projeto.
Systrom e Krieger se conheceram enquanto cursavam a Universidade de Stanford. Os dois criaram o Instagram em 2010 e venderam a rede social ao Facebook por US$ 1 bilhão dois anos depois, quando a empresa tinha ainda 30 milhões de usuários. Em junho deste ano, o Instagram chegou à marca de 1 bilhão de usuários.
Análises recentes de mercado, por outro lado, dão conta de que, caso fosse uma empresa autônoma, o Instagram estaria avaliado em cerca de US$ 100 bilhões. Além disso, segundo previsão da Bloomberg Intelligence, o aplicativo pode faturar, sozinho, cerca de US$ 10 bilhões com publicidade em 2018. Segundo a consultoria eMarketer, o Instagram pode responder por até 16% da receita do Facebook em 2018 – no ano passado, essa fatia foi de 10,6%.
Logo após a divulgação do comunicado de Systrom e Krieger, Mark Zuckerberg publicou uma declaração sobre o assunto. "Kevin e Mike são líderes de produto extraordinários e o Instagram reflete seus talentos criativos combinados. Aprendi muito trabalhando com eles nos últimos seis anos e realmente aproveitei isso. Desejo a eles o melhor e aguardo ansioso para ver o que criarão agora", disse o presidente executivo do Facebook.
Segundo a repórter Sarah Frier, da Bloomberg, o principal candidato a suceder Systrom no comando do Instagram é Adam Mosseri, que já comandou a divisão responsável pelo feed de notícias do Facebook. Em sua conta no Twitter, ela também comentou que Systrom estava em licença paternidade, "provavelmente com tempo para pensar sobre o futuro do Instagram", e que nos últimos dias outra executiva importante deixou o Instagram -- a diretora de operações Marne Levine, que foi realocada para um novo posto dentro do Facebook.
A saída dos dois executivos, não parece ter sido tão amigável assim: após a divulgação dos comunicados, diversos veículos de imprensa americanos reportaram que Systrom e Krieger decidiram deixar a empresa após sofrer pressão contínua de Zuckerberg -- os dois discordavam do presidente do Facebook quanto à linha que o Instagram deveria seguir no futuro.
Em abril, a agência de notícias Bloomberg já havia reportado de que a dupla teria discordado de Zuckerberg quando este decidiu que o Instagram deveria ter os Stories, mensagens efêmeras que se apagam em 24 horas. As discordâncias também teriam acontecido em mudanças recentes na caixa de comentários e na relação de compartilhamento de publicações entre as duas redes, reportou o Recode na noite desta segunda-feira, 24.
18 mudanças que mostram a evolução do Instagram
Crise. A saída de Systrom e Krieger acentua a crise que vive o Facebook nos últimos dois anos. De 2016 para cá, a empresa de Mark Zuckerberg sofre com críticas sobre auxiliar a disseminação de notícias falsas, ser frágil à interferência estrangeira, bem como de cuidar mal da privacidade de seus usuários, como demonstrado no caso Cambridge Analytica, no qual dados de 87 milhões de pessoas foram utilizados indevidamente pela consultoria política Cambridge Analytica, que atuou na campanha de Donald Trump, a partir de um aplicativo desenvolvido pelo pesquisador Aleksandr Kogan e publicado na rede social.
A saída também surpreende, até certo ponto, por conta do crescimento recente do Instagram, que chegou em junho deste ano à marca de 1 bilhão de usuários. A empresa é vista por analistas como "a joia da coroa" do Facebook, por ter conseguido passar ilesa em meio à maré de críticas que sofreu a companhia de Zuckerberg nos últimos anos.
Systrom e o brasileiro Krieger não são os primeiros fundadores de partes importantes a deixar o Facebook nos últimos tempos: em abril, no auge do escândalo da Cambridge Analytica, o cofundador e presidente executivo do WhatsApp, Jan Koum, também decidiu deixar a empresa. Segundo fontes próximas a ele, Koum resolveu sair após sofrer pressão crescente dentro da empresa para reduzir o nível de proteção de dados de seus usuários e monetizar o aplicativo de mensagens, hoje utilizado por 1,3 bilhão de pessoas em todo o mundo. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS