Maior caso de sucesso entre as montadoras nos últimos anos, a Tesla teve um ano para esquecer. A companhia liderada por Elon Musk perdeu US$ 622 bilhões em valor de mercado em 2022. Na terça, 21, a empresa viu as ações caírem 8,8%, enquanto o acumulado do ano registra encolhimento de 61%, quarta pior performance de uma empresa S&P 500 no ano.
O momento ruim acontece no mesmo período em que Musk se envolveu na compra e no comando do Twitter, empresa adquirida por ele por US$ 44 bilhões. Para investidores da Tesla, o envolvimento dele com a rede social distraiu o executivo em um momento delicado.
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Com o momento macroeconômico global de inflação e juros altos, todas as gigantes da tecnologia sofreram. A Amazon perdeu US$ 805 bilhões em valor de mercado (queda de 48%), a Apple perdeu US$ 753 bilhões (queda de 24%), a Microsoft perdeu US$ 700 bilhões (queda de 27%) e o Facebook perdeu US$ 466 bilhões (queda de 64%).
Com isso, a Tesla passou a vender menos, o que aumentou seu inventário e fez a companhia pisar no freio das entregas. No quarto trimestre, a montadora deverá entregar entre 410 mil e 415 mil unidades de veículos, bem abaixo da expectativa mais pessimista do mercado de 435 mil. Isso faz as ações recuarem, já que a expectativa de investidores é a de que a empresa tenha retorno menor.
Fatores macroeconômicos têm sido a narrativa favorita de Musk sobre o encolhimento das ações. Na terça ele tuitou sobre o assunto: “Com a aproximação das taxas de retornos entre poupança, que são garantidas, e ações, que não são garantidas, as pessoas vão retirar o seu dinheiro do mercado de ações, o que causa as quedas”.
Por outro lado, a Tesla vem apresentando resultado pior no mercado de ações que as outras montadoras (a Ford e a GM tiveram queda no ano de, respectivamente, 26% e 14%), que passaram a investir em carros elétricos e já se tornaram uma ameaça nos EUA e na China, os dois maiores mercados da empresa liderada por Musk. Isso também incentiva investidores removerem recursos da Tesla, o que puxa para baixo o valor das ações.
Papel do Twitter
Apesar dos fatores macroeconômicos e da dinâmica do mercado de veículos elétricos, a aquisição do Twitter por parte do bilionário também exerce pressão sobre a Tesla. Um dos resultados do negócio é que anunciantes passaram a temer sobre uma relaxação na moderação de conteúdo, o que poderia associar marcas a conteúdos extremistas. Além disso, as demissões em massa promovidas pelo empresário levantaram preocupações sobre a sustentabilidade da plataforma do ponto de vista técnico.
Tudo isso fez anunciantes pisarem no freio, o que fez Musk recorrer a formas alternativas para levantar dinheiro para a plataforma e cumprir as obrigações do financiamento obtido por ele para realizar o negócio. Isso fez com que Musk passasse a vender grandes volumes de ações da Tesla, mesmo prometendo publicamente que não faria isso.
No começo do mês, Musk vendeu o equivalente a US$ 3,6 bilhões em ações da Tesla - ele disse aos funcionários do Twitter que o movimento foi necessário para salvar o negócio. Por outro lado, isso ajudou a enfraquecer os papéis da montadora.
A relação entre Twitter e Tesla vem desagradando investidores, que acreditam que Musk está distraído com a rede social. Dan Ives, analista da consultoria WedBush Securities, escreveu nesta quinta, 23, um comunicado a investidores que diz: “Ao mesmo tempo que a Tesla está cortando preço e vendo o inventário crescer globalmente diante de uma recessão global, Musk está ‘dormindo no volante’ do ponto de vista de liderança da Tesla em um momento que os investidores precisam de um CEO para navegar por uma tempestade”.
Dan Ives, analista da WedBush Securities
Ele também diz: “Musk perdeu a credibilidade com a comunidade de investimentos de forma geral com falsas promessas (vendeu ações diversas vezes), o fiasco do Twitter, abertura para tempestade política e a deterioração de marca da Tesla, o que levou a um completo desastre para as ações da montadora”.