Conheça o Impossible Burger, o hambúrguer vegetal do Vale do Silício


Molécula da Impossible Foods dá 'gosto' de carne a produto vegetal, mas textura ainda é desafio para popularizar produto

Por Bruno Capelas e enviado a Las Vegas

Tem gosto de carne, cheiro de carne e até sangra como carne – mas não vem de animal nenhum e, sim, das plantas. Trata-se do Impossible Burger, carro-chefe da startup americana Impossible Foods. O nome da empresa não foi escolhido à toa: sua missão, à primeira vista impossível, é criar um alimento que busca se parecer com o bife mais saboroso, mas de origem 100% vegetal. Criada em 2011 por Patrick Brown, um professor de bioquímica da Universidade de Stanford, a Impossible Foods lançou na semana passada, durante a feira de tecnologia CES, a segunda versão de sua carne – chamada pela empresa de Impossible Burger 2.0. 

Foi a primeira vez que o tradicional evento de tecnologia americano, realizado há mais de cinco décadas, teve um lançamento de comida. Para Brown, as duas coisas estão intrinsecamente relacionadas. “Comida é a maior tecnologia que temos, há mais de 10 mil anos. Avançamos como civilização quando descobrimos o fogo e a agricultura e pudemos comer de forma diferente”, disse o cientista. 

continua após a publicidade
Hamburguer vegetal imita até mesmo o 'sangue' de uma carne mal passada Foto: Anthony Lindsey/Impossible Foods

Desde a criação da Impossible Foods, ele comanda um time de engenheiros, geneticistas e especialistas em alimentos para descobrir como fazer “carne” a partir de plantas. O objetivo? Reduzir o impacto da pecuária bovina no planeta. “A produção da pecuária hoje não é sustentável. Não vamos conseguir alimentar 7 bilhões de pessoas ocupando tanto espaço no solo assim”, afirma o pesquisador. 

A solução para a Impossible Foods foi encontrada quando a equipe de Brown descobriu a “heme”, uma molécula rica em ferro responsável pelo gosto característico da carne quando vai ao fogo. Ela também existe em vegetais como trigo e soja – é a partir dessa molécula, inserida nos vegetais em laboratório, que a Impossible Foods consegue fazer sua carne de origem vegetal, com ajuda de engenharia genética e fermentação. 

continua após a publicidade

Hoje, a fábrica da empresa, localizada em Redwood City, no Vale do Silício, é capaz de gerar 900 toneladas de alimento por mês – a produção abastece uma rede de 5 mil restaurantes nos EUA, Hong Kong e Macau, entre locais com estrelas Michelin e redes de fast-food. Além disso, o produto também é aprovado pela Food and Drug Administration, autoridade sanitária dos EUA. 

Update. Além de ser usada em hambúrgueres, a carne de origem vegetal da Impossible Foods também pode virar almôndega, ensopado, recheio para tortas e até mesmo parte de um steak tartare – o prato de origem eslava que tem carne crua e condimentos. Em sua primeira versão, o alimento era feito a partir de proteína de trigo. Foi bem aceito, mas recebeu reclamações de clientes que queriam um produto sem glúten. 

Fábrica da Impossible Foods produz 900 toneladasde carne vegetal por mês Foto: Anthony Lindsey/Impossible Foods
continua após a publicidade

Agora, o Impossible Burger é feito a partir de proteína de soja, sendo não só acessível a celíacos, como também kosher e halal (ou seja, permitido para judeus e muçulmanos ortodoxos). “Recebemos sugestões dos consumidores e mudamos. É algo que conseguimos fazer, ao contrário da vaca, que não evolui há milhões de anos”, gaba-se Brown. O produto também não tem colesterol e 212 calorias a cada 100 gramas – 18% a menos que a carne bovina tradicional. 

Em Las Vegas, a reportagem do Estado experimentou a segunda versão, em vários formatos: recheio de taco e empanadas, além de steak tartare e almôndega. De fato, trata-se de algo que se parece bastante com carne no sabor, mas a textura ainda é um pouco distante – é mais “chiclete” do que um bife grelhado na churrasqueira, que se desmancha na boca. 

Além disso, foi possível ver o Impossible Burger sendo preparado – um trabalho tão fácil como fritar um bife. “Estou empolgada com as possibilidades”, disse a chef americana Mary Sue Milliken, dona da cadeia de restaurantes Border Grill, durante o evento. “Acredito que é minha responsabilidade, como chef, oferecer aos meus clientes alternativas mais sustentáveis. Muita gente se preocupa com o planeta, mas não sabe o que fazer.”

continua após a publicidade

Para o pesquisador do MIT Media Lab Caleb Harper, especializado em agricultura computacional, o experimento da Impossible é um primeiro passo. “Hoje, gastamos 30 calorias para produzir uma caloria de proteína de carne bovina. Em termos energéticos, é algo pouco eficiente”, diz. “O Impossible Burger é um começo, mas podemos ir muito além em termos de sabor e nutrientes do que apenas replicar a carne.” 

Planos. Por enquanto, a segunda versão do Impossible Burger está disponível apenas em uma dezena de restaurantes nos EUA. Até março, espera-se, estará em toda a cadeia de fornecimento da empresa. Mas há mais vindo aí: a expectativa da startup é começar a vender sua carne por quilo em mercearias e supermercados americanos ainda em 2019. “Inicialmente, o preço será equivalente a de um quilo de carne gourmet. Quando ganharmos escala, seremos competitivos”, promete Brown. 

Além disso, a empresa almeja também fazer versões vegetais de frango e peixe, bem como de derivados do leite. A meta mais ambiciosa, porém, é fazer com que o mundo pare de consumir carne de origem animal até 2035 – na conversa com o Estado, Brown dispara dados sobre como o consumo de carne é insustentável. Entre seus argumentos está o fato de 41% do território dos EUA ser hoje dedicado à criação de gado ou ao plantio da alimentação para o rebanho – os números são do governo local. Ou de que são necessários 100 mil litros de água para gerar um quilo de carne bovina. 

continua após a publicidade

“É o único jeito de que temos de evitar uma catástrofe ambiental”, diz Brown. E ele direciona suas ambições para o Brasil. “Vocês são famosos pelo churrasco, mas também pela Amazônia. Precisamos salvar a Amazônia.” 

*O repórter viajou a Las Vegas (EUA) a convite da Intel

Tem gosto de carne, cheiro de carne e até sangra como carne – mas não vem de animal nenhum e, sim, das plantas. Trata-se do Impossible Burger, carro-chefe da startup americana Impossible Foods. O nome da empresa não foi escolhido à toa: sua missão, à primeira vista impossível, é criar um alimento que busca se parecer com o bife mais saboroso, mas de origem 100% vegetal. Criada em 2011 por Patrick Brown, um professor de bioquímica da Universidade de Stanford, a Impossible Foods lançou na semana passada, durante a feira de tecnologia CES, a segunda versão de sua carne – chamada pela empresa de Impossible Burger 2.0. 

Foi a primeira vez que o tradicional evento de tecnologia americano, realizado há mais de cinco décadas, teve um lançamento de comida. Para Brown, as duas coisas estão intrinsecamente relacionadas. “Comida é a maior tecnologia que temos, há mais de 10 mil anos. Avançamos como civilização quando descobrimos o fogo e a agricultura e pudemos comer de forma diferente”, disse o cientista. 

Hamburguer vegetal imita até mesmo o 'sangue' de uma carne mal passada Foto: Anthony Lindsey/Impossible Foods

Desde a criação da Impossible Foods, ele comanda um time de engenheiros, geneticistas e especialistas em alimentos para descobrir como fazer “carne” a partir de plantas. O objetivo? Reduzir o impacto da pecuária bovina no planeta. “A produção da pecuária hoje não é sustentável. Não vamos conseguir alimentar 7 bilhões de pessoas ocupando tanto espaço no solo assim”, afirma o pesquisador. 

A solução para a Impossible Foods foi encontrada quando a equipe de Brown descobriu a “heme”, uma molécula rica em ferro responsável pelo gosto característico da carne quando vai ao fogo. Ela também existe em vegetais como trigo e soja – é a partir dessa molécula, inserida nos vegetais em laboratório, que a Impossible Foods consegue fazer sua carne de origem vegetal, com ajuda de engenharia genética e fermentação. 

Hoje, a fábrica da empresa, localizada em Redwood City, no Vale do Silício, é capaz de gerar 900 toneladas de alimento por mês – a produção abastece uma rede de 5 mil restaurantes nos EUA, Hong Kong e Macau, entre locais com estrelas Michelin e redes de fast-food. Além disso, o produto também é aprovado pela Food and Drug Administration, autoridade sanitária dos EUA. 

Update. Além de ser usada em hambúrgueres, a carne de origem vegetal da Impossible Foods também pode virar almôndega, ensopado, recheio para tortas e até mesmo parte de um steak tartare – o prato de origem eslava que tem carne crua e condimentos. Em sua primeira versão, o alimento era feito a partir de proteína de trigo. Foi bem aceito, mas recebeu reclamações de clientes que queriam um produto sem glúten. 

Fábrica da Impossible Foods produz 900 toneladasde carne vegetal por mês Foto: Anthony Lindsey/Impossible Foods

Agora, o Impossible Burger é feito a partir de proteína de soja, sendo não só acessível a celíacos, como também kosher e halal (ou seja, permitido para judeus e muçulmanos ortodoxos). “Recebemos sugestões dos consumidores e mudamos. É algo que conseguimos fazer, ao contrário da vaca, que não evolui há milhões de anos”, gaba-se Brown. O produto também não tem colesterol e 212 calorias a cada 100 gramas – 18% a menos que a carne bovina tradicional. 

Em Las Vegas, a reportagem do Estado experimentou a segunda versão, em vários formatos: recheio de taco e empanadas, além de steak tartare e almôndega. De fato, trata-se de algo que se parece bastante com carne no sabor, mas a textura ainda é um pouco distante – é mais “chiclete” do que um bife grelhado na churrasqueira, que se desmancha na boca. 

Além disso, foi possível ver o Impossible Burger sendo preparado – um trabalho tão fácil como fritar um bife. “Estou empolgada com as possibilidades”, disse a chef americana Mary Sue Milliken, dona da cadeia de restaurantes Border Grill, durante o evento. “Acredito que é minha responsabilidade, como chef, oferecer aos meus clientes alternativas mais sustentáveis. Muita gente se preocupa com o planeta, mas não sabe o que fazer.”

Para o pesquisador do MIT Media Lab Caleb Harper, especializado em agricultura computacional, o experimento da Impossible é um primeiro passo. “Hoje, gastamos 30 calorias para produzir uma caloria de proteína de carne bovina. Em termos energéticos, é algo pouco eficiente”, diz. “O Impossible Burger é um começo, mas podemos ir muito além em termos de sabor e nutrientes do que apenas replicar a carne.” 

Planos. Por enquanto, a segunda versão do Impossible Burger está disponível apenas em uma dezena de restaurantes nos EUA. Até março, espera-se, estará em toda a cadeia de fornecimento da empresa. Mas há mais vindo aí: a expectativa da startup é começar a vender sua carne por quilo em mercearias e supermercados americanos ainda em 2019. “Inicialmente, o preço será equivalente a de um quilo de carne gourmet. Quando ganharmos escala, seremos competitivos”, promete Brown. 

Além disso, a empresa almeja também fazer versões vegetais de frango e peixe, bem como de derivados do leite. A meta mais ambiciosa, porém, é fazer com que o mundo pare de consumir carne de origem animal até 2035 – na conversa com o Estado, Brown dispara dados sobre como o consumo de carne é insustentável. Entre seus argumentos está o fato de 41% do território dos EUA ser hoje dedicado à criação de gado ou ao plantio da alimentação para o rebanho – os números são do governo local. Ou de que são necessários 100 mil litros de água para gerar um quilo de carne bovina. 

“É o único jeito de que temos de evitar uma catástrofe ambiental”, diz Brown. E ele direciona suas ambições para o Brasil. “Vocês são famosos pelo churrasco, mas também pela Amazônia. Precisamos salvar a Amazônia.” 

*O repórter viajou a Las Vegas (EUA) a convite da Intel

Tem gosto de carne, cheiro de carne e até sangra como carne – mas não vem de animal nenhum e, sim, das plantas. Trata-se do Impossible Burger, carro-chefe da startup americana Impossible Foods. O nome da empresa não foi escolhido à toa: sua missão, à primeira vista impossível, é criar um alimento que busca se parecer com o bife mais saboroso, mas de origem 100% vegetal. Criada em 2011 por Patrick Brown, um professor de bioquímica da Universidade de Stanford, a Impossible Foods lançou na semana passada, durante a feira de tecnologia CES, a segunda versão de sua carne – chamada pela empresa de Impossible Burger 2.0. 

Foi a primeira vez que o tradicional evento de tecnologia americano, realizado há mais de cinco décadas, teve um lançamento de comida. Para Brown, as duas coisas estão intrinsecamente relacionadas. “Comida é a maior tecnologia que temos, há mais de 10 mil anos. Avançamos como civilização quando descobrimos o fogo e a agricultura e pudemos comer de forma diferente”, disse o cientista. 

Hamburguer vegetal imita até mesmo o 'sangue' de uma carne mal passada Foto: Anthony Lindsey/Impossible Foods

Desde a criação da Impossible Foods, ele comanda um time de engenheiros, geneticistas e especialistas em alimentos para descobrir como fazer “carne” a partir de plantas. O objetivo? Reduzir o impacto da pecuária bovina no planeta. “A produção da pecuária hoje não é sustentável. Não vamos conseguir alimentar 7 bilhões de pessoas ocupando tanto espaço no solo assim”, afirma o pesquisador. 

A solução para a Impossible Foods foi encontrada quando a equipe de Brown descobriu a “heme”, uma molécula rica em ferro responsável pelo gosto característico da carne quando vai ao fogo. Ela também existe em vegetais como trigo e soja – é a partir dessa molécula, inserida nos vegetais em laboratório, que a Impossible Foods consegue fazer sua carne de origem vegetal, com ajuda de engenharia genética e fermentação. 

Hoje, a fábrica da empresa, localizada em Redwood City, no Vale do Silício, é capaz de gerar 900 toneladas de alimento por mês – a produção abastece uma rede de 5 mil restaurantes nos EUA, Hong Kong e Macau, entre locais com estrelas Michelin e redes de fast-food. Além disso, o produto também é aprovado pela Food and Drug Administration, autoridade sanitária dos EUA. 

Update. Além de ser usada em hambúrgueres, a carne de origem vegetal da Impossible Foods também pode virar almôndega, ensopado, recheio para tortas e até mesmo parte de um steak tartare – o prato de origem eslava que tem carne crua e condimentos. Em sua primeira versão, o alimento era feito a partir de proteína de trigo. Foi bem aceito, mas recebeu reclamações de clientes que queriam um produto sem glúten. 

Fábrica da Impossible Foods produz 900 toneladasde carne vegetal por mês Foto: Anthony Lindsey/Impossible Foods

Agora, o Impossible Burger é feito a partir de proteína de soja, sendo não só acessível a celíacos, como também kosher e halal (ou seja, permitido para judeus e muçulmanos ortodoxos). “Recebemos sugestões dos consumidores e mudamos. É algo que conseguimos fazer, ao contrário da vaca, que não evolui há milhões de anos”, gaba-se Brown. O produto também não tem colesterol e 212 calorias a cada 100 gramas – 18% a menos que a carne bovina tradicional. 

Em Las Vegas, a reportagem do Estado experimentou a segunda versão, em vários formatos: recheio de taco e empanadas, além de steak tartare e almôndega. De fato, trata-se de algo que se parece bastante com carne no sabor, mas a textura ainda é um pouco distante – é mais “chiclete” do que um bife grelhado na churrasqueira, que se desmancha na boca. 

Além disso, foi possível ver o Impossible Burger sendo preparado – um trabalho tão fácil como fritar um bife. “Estou empolgada com as possibilidades”, disse a chef americana Mary Sue Milliken, dona da cadeia de restaurantes Border Grill, durante o evento. “Acredito que é minha responsabilidade, como chef, oferecer aos meus clientes alternativas mais sustentáveis. Muita gente se preocupa com o planeta, mas não sabe o que fazer.”

Para o pesquisador do MIT Media Lab Caleb Harper, especializado em agricultura computacional, o experimento da Impossible é um primeiro passo. “Hoje, gastamos 30 calorias para produzir uma caloria de proteína de carne bovina. Em termos energéticos, é algo pouco eficiente”, diz. “O Impossible Burger é um começo, mas podemos ir muito além em termos de sabor e nutrientes do que apenas replicar a carne.” 

Planos. Por enquanto, a segunda versão do Impossible Burger está disponível apenas em uma dezena de restaurantes nos EUA. Até março, espera-se, estará em toda a cadeia de fornecimento da empresa. Mas há mais vindo aí: a expectativa da startup é começar a vender sua carne por quilo em mercearias e supermercados americanos ainda em 2019. “Inicialmente, o preço será equivalente a de um quilo de carne gourmet. Quando ganharmos escala, seremos competitivos”, promete Brown. 

Além disso, a empresa almeja também fazer versões vegetais de frango e peixe, bem como de derivados do leite. A meta mais ambiciosa, porém, é fazer com que o mundo pare de consumir carne de origem animal até 2035 – na conversa com o Estado, Brown dispara dados sobre como o consumo de carne é insustentável. Entre seus argumentos está o fato de 41% do território dos EUA ser hoje dedicado à criação de gado ou ao plantio da alimentação para o rebanho – os números são do governo local. Ou de que são necessários 100 mil litros de água para gerar um quilo de carne bovina. 

“É o único jeito de que temos de evitar uma catástrofe ambiental”, diz Brown. E ele direciona suas ambições para o Brasil. “Vocês são famosos pelo churrasco, mas também pela Amazônia. Precisamos salvar a Amazônia.” 

*O repórter viajou a Las Vegas (EUA) a convite da Intel

Tem gosto de carne, cheiro de carne e até sangra como carne – mas não vem de animal nenhum e, sim, das plantas. Trata-se do Impossible Burger, carro-chefe da startup americana Impossible Foods. O nome da empresa não foi escolhido à toa: sua missão, à primeira vista impossível, é criar um alimento que busca se parecer com o bife mais saboroso, mas de origem 100% vegetal. Criada em 2011 por Patrick Brown, um professor de bioquímica da Universidade de Stanford, a Impossible Foods lançou na semana passada, durante a feira de tecnologia CES, a segunda versão de sua carne – chamada pela empresa de Impossible Burger 2.0. 

Foi a primeira vez que o tradicional evento de tecnologia americano, realizado há mais de cinco décadas, teve um lançamento de comida. Para Brown, as duas coisas estão intrinsecamente relacionadas. “Comida é a maior tecnologia que temos, há mais de 10 mil anos. Avançamos como civilização quando descobrimos o fogo e a agricultura e pudemos comer de forma diferente”, disse o cientista. 

Hamburguer vegetal imita até mesmo o 'sangue' de uma carne mal passada Foto: Anthony Lindsey/Impossible Foods

Desde a criação da Impossible Foods, ele comanda um time de engenheiros, geneticistas e especialistas em alimentos para descobrir como fazer “carne” a partir de plantas. O objetivo? Reduzir o impacto da pecuária bovina no planeta. “A produção da pecuária hoje não é sustentável. Não vamos conseguir alimentar 7 bilhões de pessoas ocupando tanto espaço no solo assim”, afirma o pesquisador. 

A solução para a Impossible Foods foi encontrada quando a equipe de Brown descobriu a “heme”, uma molécula rica em ferro responsável pelo gosto característico da carne quando vai ao fogo. Ela também existe em vegetais como trigo e soja – é a partir dessa molécula, inserida nos vegetais em laboratório, que a Impossible Foods consegue fazer sua carne de origem vegetal, com ajuda de engenharia genética e fermentação. 

Hoje, a fábrica da empresa, localizada em Redwood City, no Vale do Silício, é capaz de gerar 900 toneladas de alimento por mês – a produção abastece uma rede de 5 mil restaurantes nos EUA, Hong Kong e Macau, entre locais com estrelas Michelin e redes de fast-food. Além disso, o produto também é aprovado pela Food and Drug Administration, autoridade sanitária dos EUA. 

Update. Além de ser usada em hambúrgueres, a carne de origem vegetal da Impossible Foods também pode virar almôndega, ensopado, recheio para tortas e até mesmo parte de um steak tartare – o prato de origem eslava que tem carne crua e condimentos. Em sua primeira versão, o alimento era feito a partir de proteína de trigo. Foi bem aceito, mas recebeu reclamações de clientes que queriam um produto sem glúten. 

Fábrica da Impossible Foods produz 900 toneladasde carne vegetal por mês Foto: Anthony Lindsey/Impossible Foods

Agora, o Impossible Burger é feito a partir de proteína de soja, sendo não só acessível a celíacos, como também kosher e halal (ou seja, permitido para judeus e muçulmanos ortodoxos). “Recebemos sugestões dos consumidores e mudamos. É algo que conseguimos fazer, ao contrário da vaca, que não evolui há milhões de anos”, gaba-se Brown. O produto também não tem colesterol e 212 calorias a cada 100 gramas – 18% a menos que a carne bovina tradicional. 

Em Las Vegas, a reportagem do Estado experimentou a segunda versão, em vários formatos: recheio de taco e empanadas, além de steak tartare e almôndega. De fato, trata-se de algo que se parece bastante com carne no sabor, mas a textura ainda é um pouco distante – é mais “chiclete” do que um bife grelhado na churrasqueira, que se desmancha na boca. 

Além disso, foi possível ver o Impossible Burger sendo preparado – um trabalho tão fácil como fritar um bife. “Estou empolgada com as possibilidades”, disse a chef americana Mary Sue Milliken, dona da cadeia de restaurantes Border Grill, durante o evento. “Acredito que é minha responsabilidade, como chef, oferecer aos meus clientes alternativas mais sustentáveis. Muita gente se preocupa com o planeta, mas não sabe o que fazer.”

Para o pesquisador do MIT Media Lab Caleb Harper, especializado em agricultura computacional, o experimento da Impossible é um primeiro passo. “Hoje, gastamos 30 calorias para produzir uma caloria de proteína de carne bovina. Em termos energéticos, é algo pouco eficiente”, diz. “O Impossible Burger é um começo, mas podemos ir muito além em termos de sabor e nutrientes do que apenas replicar a carne.” 

Planos. Por enquanto, a segunda versão do Impossible Burger está disponível apenas em uma dezena de restaurantes nos EUA. Até março, espera-se, estará em toda a cadeia de fornecimento da empresa. Mas há mais vindo aí: a expectativa da startup é começar a vender sua carne por quilo em mercearias e supermercados americanos ainda em 2019. “Inicialmente, o preço será equivalente a de um quilo de carne gourmet. Quando ganharmos escala, seremos competitivos”, promete Brown. 

Além disso, a empresa almeja também fazer versões vegetais de frango e peixe, bem como de derivados do leite. A meta mais ambiciosa, porém, é fazer com que o mundo pare de consumir carne de origem animal até 2035 – na conversa com o Estado, Brown dispara dados sobre como o consumo de carne é insustentável. Entre seus argumentos está o fato de 41% do território dos EUA ser hoje dedicado à criação de gado ou ao plantio da alimentação para o rebanho – os números são do governo local. Ou de que são necessários 100 mil litros de água para gerar um quilo de carne bovina. 

“É o único jeito de que temos de evitar uma catástrofe ambiental”, diz Brown. E ele direciona suas ambições para o Brasil. “Vocês são famosos pelo churrasco, mas também pela Amazônia. Precisamos salvar a Amazônia.” 

*O repórter viajou a Las Vegas (EUA) a convite da Intel

Tem gosto de carne, cheiro de carne e até sangra como carne – mas não vem de animal nenhum e, sim, das plantas. Trata-se do Impossible Burger, carro-chefe da startup americana Impossible Foods. O nome da empresa não foi escolhido à toa: sua missão, à primeira vista impossível, é criar um alimento que busca se parecer com o bife mais saboroso, mas de origem 100% vegetal. Criada em 2011 por Patrick Brown, um professor de bioquímica da Universidade de Stanford, a Impossible Foods lançou na semana passada, durante a feira de tecnologia CES, a segunda versão de sua carne – chamada pela empresa de Impossible Burger 2.0. 

Foi a primeira vez que o tradicional evento de tecnologia americano, realizado há mais de cinco décadas, teve um lançamento de comida. Para Brown, as duas coisas estão intrinsecamente relacionadas. “Comida é a maior tecnologia que temos, há mais de 10 mil anos. Avançamos como civilização quando descobrimos o fogo e a agricultura e pudemos comer de forma diferente”, disse o cientista. 

Hamburguer vegetal imita até mesmo o 'sangue' de uma carne mal passada Foto: Anthony Lindsey/Impossible Foods

Desde a criação da Impossible Foods, ele comanda um time de engenheiros, geneticistas e especialistas em alimentos para descobrir como fazer “carne” a partir de plantas. O objetivo? Reduzir o impacto da pecuária bovina no planeta. “A produção da pecuária hoje não é sustentável. Não vamos conseguir alimentar 7 bilhões de pessoas ocupando tanto espaço no solo assim”, afirma o pesquisador. 

A solução para a Impossible Foods foi encontrada quando a equipe de Brown descobriu a “heme”, uma molécula rica em ferro responsável pelo gosto característico da carne quando vai ao fogo. Ela também existe em vegetais como trigo e soja – é a partir dessa molécula, inserida nos vegetais em laboratório, que a Impossible Foods consegue fazer sua carne de origem vegetal, com ajuda de engenharia genética e fermentação. 

Hoje, a fábrica da empresa, localizada em Redwood City, no Vale do Silício, é capaz de gerar 900 toneladas de alimento por mês – a produção abastece uma rede de 5 mil restaurantes nos EUA, Hong Kong e Macau, entre locais com estrelas Michelin e redes de fast-food. Além disso, o produto também é aprovado pela Food and Drug Administration, autoridade sanitária dos EUA. 

Update. Além de ser usada em hambúrgueres, a carne de origem vegetal da Impossible Foods também pode virar almôndega, ensopado, recheio para tortas e até mesmo parte de um steak tartare – o prato de origem eslava que tem carne crua e condimentos. Em sua primeira versão, o alimento era feito a partir de proteína de trigo. Foi bem aceito, mas recebeu reclamações de clientes que queriam um produto sem glúten. 

Fábrica da Impossible Foods produz 900 toneladasde carne vegetal por mês Foto: Anthony Lindsey/Impossible Foods

Agora, o Impossible Burger é feito a partir de proteína de soja, sendo não só acessível a celíacos, como também kosher e halal (ou seja, permitido para judeus e muçulmanos ortodoxos). “Recebemos sugestões dos consumidores e mudamos. É algo que conseguimos fazer, ao contrário da vaca, que não evolui há milhões de anos”, gaba-se Brown. O produto também não tem colesterol e 212 calorias a cada 100 gramas – 18% a menos que a carne bovina tradicional. 

Em Las Vegas, a reportagem do Estado experimentou a segunda versão, em vários formatos: recheio de taco e empanadas, além de steak tartare e almôndega. De fato, trata-se de algo que se parece bastante com carne no sabor, mas a textura ainda é um pouco distante – é mais “chiclete” do que um bife grelhado na churrasqueira, que se desmancha na boca. 

Além disso, foi possível ver o Impossible Burger sendo preparado – um trabalho tão fácil como fritar um bife. “Estou empolgada com as possibilidades”, disse a chef americana Mary Sue Milliken, dona da cadeia de restaurantes Border Grill, durante o evento. “Acredito que é minha responsabilidade, como chef, oferecer aos meus clientes alternativas mais sustentáveis. Muita gente se preocupa com o planeta, mas não sabe o que fazer.”

Para o pesquisador do MIT Media Lab Caleb Harper, especializado em agricultura computacional, o experimento da Impossible é um primeiro passo. “Hoje, gastamos 30 calorias para produzir uma caloria de proteína de carne bovina. Em termos energéticos, é algo pouco eficiente”, diz. “O Impossible Burger é um começo, mas podemos ir muito além em termos de sabor e nutrientes do que apenas replicar a carne.” 

Planos. Por enquanto, a segunda versão do Impossible Burger está disponível apenas em uma dezena de restaurantes nos EUA. Até março, espera-se, estará em toda a cadeia de fornecimento da empresa. Mas há mais vindo aí: a expectativa da startup é começar a vender sua carne por quilo em mercearias e supermercados americanos ainda em 2019. “Inicialmente, o preço será equivalente a de um quilo de carne gourmet. Quando ganharmos escala, seremos competitivos”, promete Brown. 

Além disso, a empresa almeja também fazer versões vegetais de frango e peixe, bem como de derivados do leite. A meta mais ambiciosa, porém, é fazer com que o mundo pare de consumir carne de origem animal até 2035 – na conversa com o Estado, Brown dispara dados sobre como o consumo de carne é insustentável. Entre seus argumentos está o fato de 41% do território dos EUA ser hoje dedicado à criação de gado ou ao plantio da alimentação para o rebanho – os números são do governo local. Ou de que são necessários 100 mil litros de água para gerar um quilo de carne bovina. 

“É o único jeito de que temos de evitar uma catástrofe ambiental”, diz Brown. E ele direciona suas ambições para o Brasil. “Vocês são famosos pelo churrasco, mas também pela Amazônia. Precisamos salvar a Amazônia.” 

*O repórter viajou a Las Vegas (EUA) a convite da Intel

Tudo Sobre

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.