O diretor-geral do site Expedia, Dara Khosrowshahi, foi escolhido para ser o novo presidente executivo do Uber, após uma reunião do conselho de administração da empresa. Ele assume com a difícil missão de restabelecer o rumo do serviço de carona paga, que desde junho estava sem uma liderança, depois que o cofundador Travis Kalanick deixou o comando da empresa. Khosrowshahi também precisa fazer a companhia, que atualmente perde dinheiro, se transformar em um gigante rentável.
Dividido, o conselho de administração da Uber aprovou a contratação de Khosrowshahi após três dias de reuniões e depois de rejeitar o principal candidato para o cargo, Jeff Immelt, atual presidente da General Electric (GE), e Meg Whitman, atual presidente executiva da HP Enterprise, segundo fontes próximas.
A empresa que Dara Khosrowshahi administra, a Expedia, é uma das maiores agências de viagens online do mundo. O executivo está na empresa desde 2005 e tem participado da revolução que serviços digitais podem causar na vida das pessoas e na forma de organização das cidades. A companhia de Bellevue, no Estado norte-americano de Washington, tem ações negociadas em Bolsa e, atualmente, é avaliada em US$ 23 bilhões. O Uber é maior: apesar da crise, a estimativa é de que a empresa de capital fechado tenha valor de mercado de US$ 70 bilhões.
Apesar da alta valorização, o Uber está longe de ser uma empresa lucrativa, o que será um desafio para Khosrowshahi. Na semana passada, o Uber divulgou resultados do segundo trimestre, que mostram que a empresa reduziu seu prejuízo em 9% e aumentou o volume de corridas. O Uber teve prejuízo líquido de US$ 645 milhões, abaixo dos US$ 708 milhões do 1º trimestre e dos US$ 991 milhões nos últimos três messes de 2016. Os pedidos de corridas para o período atingiram 8,7 milhões de viagens, alta de 17% ante o trimestre anterior. O número de viagens globais no aplicativo aumentou 150% em relação ao ano anterior, puxado por países em desenvolvimento, como o Brasil. Recentemente, a empresa alcançou 15 milhões de usuários ativos no Brasil.
Além disso, o executivo terá de conduzir a reestruturação do Uber, que vive uma grave crise nos últimos meses. Em fevereiro, a empresa iniciou uma investigação interna sobre a cultura, após denúncias de casos de assédio sexual e moral dentro da companhia. Como resultado, mais de 20 funcionários foram demitidos. Após a divulgação dos resultados completos da investigação, o vice-presidente de negócios – e segundo na linha de comando – Emil Michael deixou a empresa, seguido pelo próprio Kalanick, em junho. Desde então, a empresa busca um novo presidente executivo e também tenta colocar em prática as recomendações contidas no relatório da investigação, que foi conduzida pelo escritório de advocacia do ex-advogado-geral dos Estados Unidos, Eric Holder.
A empresa também enfrentou outros escândalos recentemente, como quando Kalanick discutiu com um motorista do serviço e foi gravado, as revelações que mostraram que o Uber usou um software para evitar a fiscalização pelo governo e a competição do rival Lyft em diversos países. Mais recentemente, há ainda o embate na Justiça com a Waymo, divisão de carros autônomos do Google, sobre um suposto roubo de tecnologia por um executivo do Uber. No Brasil, é importante lembrar, o Uber também passa por uma batalha contra motoristas na Justiça do Trabalho – as decisões divergem até aqui.
Símbolo. A chegada de Khosrowshahi também é um símbolo para a empresa, que está tentando se transformar em uma companhia que apoia a diversidade. De acordo com o jornal norte-americano The New York Times, o executivo deixou o Irã com sua família para viver nos Estados Unidos por conta da revolução no país, no final dos anos 1970. Por ser imigrante, ele tem se posicionado contra o veto de imigração do presidente norte-americano Donald Trump. Junto com a Amazon, a Expedia foi uma das duas empresas que se posicionaram em uma ação na Justiça contra o veto.
Na ocasião, Khosrowshahi se posicionou sobre o assunto em um e-mail enviado aos funcionários da empresa. "Nós certamente não nos sentimos como refugiados, mas na prática acho que somos. Meus pais deixaram tudo para trás para viver aqui, para ficarem seguros e dar uma chance aos seus filhos de terem uma nova vida", afirmou o executivo.