Nas últimas duas semanas, o cerco fechou para o Facebook: uma série de reportagens do jornal americano Wall Street Journal tem mostrado problemas da rede social na moderação de conteúdo, indicando que a empresa foi omissa na maneira como trata o que circula pelas plataformas. Em meio ao escândalo, o Facebook tentou explicar nesta quinta-feira, 23, como a plataforma reduz o alcance de publicações tidas como "negativas" na rede social, de forma que não obstruam o debate público com conteúdos tomados por "problemáticos".
As informações foram reveladas em uma roda de conversa com jornalistas, da qual participou o Estadão. Reunidos sob o que chama de Diretrizes de Distribuição, a empresa explicou que conteúdos de "clickbait" (em tradução livre do inglês, são as "iscas de cliques", em que títulos pouco assertivos tentam direcionar o leitor a uma página externa), publicações sensacionalistas sobre saúde (sobre emagrecimento milagroso, por exemplo) e notícias sem assinatura transparente têm a circulação diminuída pelos algoritmos da rede social — isto é, não são removidos completamente, mas são vistos por menos pessoas.
Também entram nesse rebaixamento as fazendas de anúncios (sites que oferecem pouco conteúdo, apenas para oferecer dezenas de anúncios de terceiros), comentários possíveis de serem ocultados, páginas suspeitas de espalhar spam, publicações de pessoas que fazem compartilhamento excessivo em grupos, posts de veículos noticiosos "altamente desacreditados" e artigos jornalísticos não originais, entre outros.
Segundo a empresa, o objetivo é tornar mais difícil o acesso a esse tipo de material, que pode ser "problemático" para a comunidade. O Facebook garante que ainda mantém os padrões para a remoção de conteúdo que infrinja as regras da empresa.
Sob consultoria de especialistas de diversas áreas, as mudanças foram feitas ao longo de diversos anos, diz a empresa, mas só agora estão reunidas de forma mais clara aos usuários.
"Esta não é a primeira vez que tentamos explicar como o nosso algoritmo funciona, mas estamos tentando ampliar mais esse trabalho", declarou Jason Hirsch, gerente de políticas públicas do feed de notícias, em mesa redonda com o Estadão nesta quinta.
Hirsh explica que diversos elementos compõem o que entra ou não no feed de notícias da plataforma – posts de amigos e parentes, por exemplo, têm prioridade. Os robôs da empresa também recebem sinais de engajamento do usuário, como curtidas, comentários ou quanto tempo leu determinada publicação.
A empresa também leva em consideração o que é dito pelo usuário, que pode sinalizar se deseja ver ou não mais conteúdos daquele gênero. "Precisamos achar novos meios de dar visibilidade em diferentes aspectos do aspecto de priorização do nosso algoritmo", acrescentou o executivo.
Pressão
O encontro do Facebook acontece após revelações feitas pelo jornal americano Wall Street Journal, que, em uma série de reportagens realizadas a partir de documentos internos obtidos da reda social, afirma que a empresa foi negligente com violações das regras da rede social.
De acordo com o jornal, a empresa abria exceções para celebridades por meio de uma "lista branca" quanto ao uso de conteúdo violasse as regras da plataforma. O atleta Neymar Jr., a democrata americana Hillary Clinton e o ex-presidente americano Donald Trump teriam sido exemplos dessa prática.
Segundo a fala de um funcionário do Facebook, essas ações são "uma quebra de confiança", que, "ao contrário do resto da nossa comunidade, essas pessoas podem violar nossos padrões sem quaisquer consequências”.
Além disso, o dossiê afirma que o Facebook tem sido negligente em assuntos como tráfico de drogas e também ignora o impacto do Instagram na saúde mental de adolescentes.