Jack Ma mostra por que os magnatas da China são discretos


Melhor estratégia é passar despercebido enquanto líderes empresariais são detidos, marginalizados ou silenciados

Por Redação
O bilionário Jack Ma tornou-se alvo das autoridades da China Foto: Carlos Barria/Reuters

Jack Ma, o empresário mais famoso que a China já produziu, anda evitando os holofotes. Amigos dizem que ele está pintando e praticando tai chi. Às vezes, ele compartilha desenhos com Masayoshi Son, o CEO bilionário do conglomerado japonês SoftBank.

O mundo todo viu Ma pela primeira vez depois de meses na semana passada, durante uma reunião virtual do conselho da Sociedade Geográfica Russa. Enquanto o presidente Vladimir Putin e outros discutiam os assuntos do Ártico e a conservação dos leopardos, Ma podia ser visto com a cabeça apoiada em uma das mãos, parecendo profundamente entediado.

continua após a publicidade

Para Ma (o carismático empresário que, há duas décadas, mostrou como a China abalaria o mundo na era da internet; cujo rosto adorna prateleiras de admiráveis livros de negócios; que nunca encontrou uma multidão que não ficasse maravilhada com sua presença), é uma mudança de rumo radical.

Sob o líder do Partido Comunista, Xi Jinping, a China puniu e humilhou uma série de magnatas que acumularam enorme riqueza e influência, mas, na visão  do partido, passaram dos limites. Até o momento, Ma e as joias da coroa de seu império online, o titã do varejo eletrônico Alibaba e a gigante das fintechs Ant Group, são os maiores alvos de Pequim, à medida que as autoridades começam a regulamentar a poderosa indústria de internet do país como nunca antes.

Autoridades dos Estados Unidos e da Europa vêm tentando controlar os gigantes da internet há anos. Mas é difícil imaginar os reguladores ocidentais provocando uma mudança de sorte tão significativa quanto a que se abateu sobre Ma. Xi afirmou amplo controle sobre o setor  privado da China, exigindo, acima dos lucros, o compromisso com o partido e com a estabilidade social.

continua após a publicidade

Xiao Jianhua, que já foi um conselheiro financeiro de confiança de muitas elites chinesas, perdeu seu hotel de luxo em Hong Kong no ano de 2017. Ye Jianming, magnata do petróleo que buscava conexões com Washington, foi detido, assim como Wu Xiaohui, cuja seguradora comprara o Waldorf Astoria Hotel em Manhattan. Wu depois foi para a prisão. Lai Xiaomin, ex-presidente de uma empresa financeira, foi executado este ano.

“A regra de ferro é que não pode haver centros individuais de poder fora do partido”, disse Richard McGregor, membro sênior do Lowy Institute e autor de The Party: The Secret World of China’s Communist Rulers (em tradução livre, O Partido: o mundo secreto dos governantes comunistas da China).

Represália contra Alibaba

continua após a publicidade

A repressão de Pequim às empresas de tecnologia já está afetando as salas de reuniões para além do Alibaba.

Na semana passada, a autoridade antitruste da China convocou 34 das principais empresas de internet para falar sobre as novas regras de concorrência leal. Em poucas horas, as companhias já estavam discutindo mudanças nos negócios e prometendo publicamente que iriam andar na linha.

“Essas novas regulamentações vão exigir que as plataformas da internet pensem em como vão inovar no futuro, e o resultado, provavelmente, é menos inovação”, disse Gordon Orr, membro não executivo do conselho da Meituan, a gigante chinesa de entrega de alimentos.

continua após a publicidade

Ainda assim, o Alibaba e outros titãs da internet têm um status na China que pode protegê-los de um tratamento mais severo. As autoridades elogiam as contribuições econômicas dos titãs, mesmo agora quando apertam a supervisão. Xi quer que a economia chinesa seja impulsionada mais por suas próprias inovações do que por aquelas de potências estrangeiras inconstantes.

Isso significa que talvez seja muito cedo para declarar que Jack Ma está na lona.

“A empresa dele é muito mais importante para o sucesso e o funcionamento da economia chinesa do que a de qualquer outro empreendedor”, disse McGregor. “O governo quer continuar colhendo os benefícios da empresa de Jack Ma - mas nos seus próprios termos. O governo não está nacionalizando o Alibaba. Não está confiscando seus ativos. É simplesmente uma questão de estreitar o campo em que a empresa opera”.

continua após a publicidade

O Alibaba não quis comentar.

Experiência

Ma não é neófito no trato com as autoridades chinesas.

continua após a publicidade

Ele trabalhou breve e tristemente em uma agência de publicidade administrada pelo governo antes de fundar o Alibaba em 1999. Na época, a China ainda estava se acostumando com a ideia de ter empreendedores privados poderosos, e Ma provou ser perito em encantar funcionários do governo.

“O Alibaba tem chance de crescer e se tornar uma empresa de nível mundial”, disse Wang Guoping, então secretário do Partido Comunista na cidade oriental de Hangzhou, onde fica a sede do Alibaba, na década de 2000. “O que uma empresa de nível mundial mais precisa é de uma alma, um comandante, um empresário de primeira linha. E eu acredito que Jack Ma cumpre esses pré-requisitos”.

Em 2011, Ma sentiu o gostinho de como suas ambições podiam desagradar acionistas e reguladores. Ele discretamente assumiu o Alipay, serviço de pagamento do Alibaba, o que irritou um dos maiores investidores do Alibaba, o Yahoo. Ma disse que a mudança fora necessária por causa das novas regulamentações chinesas. O Alipay mais tarde se tornou o Ant Group.

“A transferência do Alipay o encorajou”, disse Duncan Clark, que conhece Ma desde 1999 e é presidente da BDA China, uma empresa de consultoria. “Ele meio que escapou impune”.

À medida que o Alibaba crescia, Ma começou a ser cortejado por presidentes e estrelas de cinema, mas também por um círculo mais amplo de outros empresários chineses. Essa “caixa de ressonância” pode ter distorcido as ideias de Ma sobre si mesmo e sua posição junto ao governo, disse Clark.

Não fosse por isso, ele poderia ter visto os recados expressos, principalmente quando Xi passou a incentivar as empresas privadas a trabalharem em maior proximidade com o estado.

Quando Ma deixou o cargo de presidente do Alibaba em 2019, um comentário no jornal oficial do Partido Comunista declarou: “Não existe a chamada era Jack Ma - apenas Jack Ma como participante desta era”.

Ma também praticamente sumiu de vista dentro de suas empresas. Em janeiro, ele apareceu em um grupo de bate-papo interno para responder a uma pergunta sobre negócios, de acordo com uma pessoa que viu a mensagem, mas não estava autorizada a falar publicamente. Mais tarde, os funcionários compartilharam a mensagem de Ma para tranquilizar os colegas mais nervosos.

Recentemente, o grupo de pesquisa Hurun Report, de Xangai, estimou que, pela primeira vez em três anos, Ma não era uma das três pessoas mais ricas da China. O novo número 1 do país é Zhong Shanshan, o discreto presidente de uma gigante da água engarrafada e de uma empresa farmacêutica.

Quando sua companhia de água abriu o capital no ano passado, Zhong era tão pouco conhecido que as notícias chinesas sobre sua fortuna repentina tiveram de explicar aos leitores como pronunciar um obscuro caractere chinês em seu nome. / Tradução de Renato Prelorentzou.

O bilionário Jack Ma tornou-se alvo das autoridades da China Foto: Carlos Barria/Reuters

Jack Ma, o empresário mais famoso que a China já produziu, anda evitando os holofotes. Amigos dizem que ele está pintando e praticando tai chi. Às vezes, ele compartilha desenhos com Masayoshi Son, o CEO bilionário do conglomerado japonês SoftBank.

O mundo todo viu Ma pela primeira vez depois de meses na semana passada, durante uma reunião virtual do conselho da Sociedade Geográfica Russa. Enquanto o presidente Vladimir Putin e outros discutiam os assuntos do Ártico e a conservação dos leopardos, Ma podia ser visto com a cabeça apoiada em uma das mãos, parecendo profundamente entediado.

Para Ma (o carismático empresário que, há duas décadas, mostrou como a China abalaria o mundo na era da internet; cujo rosto adorna prateleiras de admiráveis livros de negócios; que nunca encontrou uma multidão que não ficasse maravilhada com sua presença), é uma mudança de rumo radical.

Sob o líder do Partido Comunista, Xi Jinping, a China puniu e humilhou uma série de magnatas que acumularam enorme riqueza e influência, mas, na visão  do partido, passaram dos limites. Até o momento, Ma e as joias da coroa de seu império online, o titã do varejo eletrônico Alibaba e a gigante das fintechs Ant Group, são os maiores alvos de Pequim, à medida que as autoridades começam a regulamentar a poderosa indústria de internet do país como nunca antes.

Autoridades dos Estados Unidos e da Europa vêm tentando controlar os gigantes da internet há anos. Mas é difícil imaginar os reguladores ocidentais provocando uma mudança de sorte tão significativa quanto a que se abateu sobre Ma. Xi afirmou amplo controle sobre o setor  privado da China, exigindo, acima dos lucros, o compromisso com o partido e com a estabilidade social.

Xiao Jianhua, que já foi um conselheiro financeiro de confiança de muitas elites chinesas, perdeu seu hotel de luxo em Hong Kong no ano de 2017. Ye Jianming, magnata do petróleo que buscava conexões com Washington, foi detido, assim como Wu Xiaohui, cuja seguradora comprara o Waldorf Astoria Hotel em Manhattan. Wu depois foi para a prisão. Lai Xiaomin, ex-presidente de uma empresa financeira, foi executado este ano.

“A regra de ferro é que não pode haver centros individuais de poder fora do partido”, disse Richard McGregor, membro sênior do Lowy Institute e autor de The Party: The Secret World of China’s Communist Rulers (em tradução livre, O Partido: o mundo secreto dos governantes comunistas da China).

Represália contra Alibaba

A repressão de Pequim às empresas de tecnologia já está afetando as salas de reuniões para além do Alibaba.

Na semana passada, a autoridade antitruste da China convocou 34 das principais empresas de internet para falar sobre as novas regras de concorrência leal. Em poucas horas, as companhias já estavam discutindo mudanças nos negócios e prometendo publicamente que iriam andar na linha.

“Essas novas regulamentações vão exigir que as plataformas da internet pensem em como vão inovar no futuro, e o resultado, provavelmente, é menos inovação”, disse Gordon Orr, membro não executivo do conselho da Meituan, a gigante chinesa de entrega de alimentos.

Ainda assim, o Alibaba e outros titãs da internet têm um status na China que pode protegê-los de um tratamento mais severo. As autoridades elogiam as contribuições econômicas dos titãs, mesmo agora quando apertam a supervisão. Xi quer que a economia chinesa seja impulsionada mais por suas próprias inovações do que por aquelas de potências estrangeiras inconstantes.

Isso significa que talvez seja muito cedo para declarar que Jack Ma está na lona.

“A empresa dele é muito mais importante para o sucesso e o funcionamento da economia chinesa do que a de qualquer outro empreendedor”, disse McGregor. “O governo quer continuar colhendo os benefícios da empresa de Jack Ma - mas nos seus próprios termos. O governo não está nacionalizando o Alibaba. Não está confiscando seus ativos. É simplesmente uma questão de estreitar o campo em que a empresa opera”.

O Alibaba não quis comentar.

Experiência

Ma não é neófito no trato com as autoridades chinesas.

Ele trabalhou breve e tristemente em uma agência de publicidade administrada pelo governo antes de fundar o Alibaba em 1999. Na época, a China ainda estava se acostumando com a ideia de ter empreendedores privados poderosos, e Ma provou ser perito em encantar funcionários do governo.

“O Alibaba tem chance de crescer e se tornar uma empresa de nível mundial”, disse Wang Guoping, então secretário do Partido Comunista na cidade oriental de Hangzhou, onde fica a sede do Alibaba, na década de 2000. “O que uma empresa de nível mundial mais precisa é de uma alma, um comandante, um empresário de primeira linha. E eu acredito que Jack Ma cumpre esses pré-requisitos”.

Em 2011, Ma sentiu o gostinho de como suas ambições podiam desagradar acionistas e reguladores. Ele discretamente assumiu o Alipay, serviço de pagamento do Alibaba, o que irritou um dos maiores investidores do Alibaba, o Yahoo. Ma disse que a mudança fora necessária por causa das novas regulamentações chinesas. O Alipay mais tarde se tornou o Ant Group.

“A transferência do Alipay o encorajou”, disse Duncan Clark, que conhece Ma desde 1999 e é presidente da BDA China, uma empresa de consultoria. “Ele meio que escapou impune”.

À medida que o Alibaba crescia, Ma começou a ser cortejado por presidentes e estrelas de cinema, mas também por um círculo mais amplo de outros empresários chineses. Essa “caixa de ressonância” pode ter distorcido as ideias de Ma sobre si mesmo e sua posição junto ao governo, disse Clark.

Não fosse por isso, ele poderia ter visto os recados expressos, principalmente quando Xi passou a incentivar as empresas privadas a trabalharem em maior proximidade com o estado.

Quando Ma deixou o cargo de presidente do Alibaba em 2019, um comentário no jornal oficial do Partido Comunista declarou: “Não existe a chamada era Jack Ma - apenas Jack Ma como participante desta era”.

Ma também praticamente sumiu de vista dentro de suas empresas. Em janeiro, ele apareceu em um grupo de bate-papo interno para responder a uma pergunta sobre negócios, de acordo com uma pessoa que viu a mensagem, mas não estava autorizada a falar publicamente. Mais tarde, os funcionários compartilharam a mensagem de Ma para tranquilizar os colegas mais nervosos.

Recentemente, o grupo de pesquisa Hurun Report, de Xangai, estimou que, pela primeira vez em três anos, Ma não era uma das três pessoas mais ricas da China. O novo número 1 do país é Zhong Shanshan, o discreto presidente de uma gigante da água engarrafada e de uma empresa farmacêutica.

Quando sua companhia de água abriu o capital no ano passado, Zhong era tão pouco conhecido que as notícias chinesas sobre sua fortuna repentina tiveram de explicar aos leitores como pronunciar um obscuro caractere chinês em seu nome. / Tradução de Renato Prelorentzou.

O bilionário Jack Ma tornou-se alvo das autoridades da China Foto: Carlos Barria/Reuters

Jack Ma, o empresário mais famoso que a China já produziu, anda evitando os holofotes. Amigos dizem que ele está pintando e praticando tai chi. Às vezes, ele compartilha desenhos com Masayoshi Son, o CEO bilionário do conglomerado japonês SoftBank.

O mundo todo viu Ma pela primeira vez depois de meses na semana passada, durante uma reunião virtual do conselho da Sociedade Geográfica Russa. Enquanto o presidente Vladimir Putin e outros discutiam os assuntos do Ártico e a conservação dos leopardos, Ma podia ser visto com a cabeça apoiada em uma das mãos, parecendo profundamente entediado.

Para Ma (o carismático empresário que, há duas décadas, mostrou como a China abalaria o mundo na era da internet; cujo rosto adorna prateleiras de admiráveis livros de negócios; que nunca encontrou uma multidão que não ficasse maravilhada com sua presença), é uma mudança de rumo radical.

Sob o líder do Partido Comunista, Xi Jinping, a China puniu e humilhou uma série de magnatas que acumularam enorme riqueza e influência, mas, na visão  do partido, passaram dos limites. Até o momento, Ma e as joias da coroa de seu império online, o titã do varejo eletrônico Alibaba e a gigante das fintechs Ant Group, são os maiores alvos de Pequim, à medida que as autoridades começam a regulamentar a poderosa indústria de internet do país como nunca antes.

Autoridades dos Estados Unidos e da Europa vêm tentando controlar os gigantes da internet há anos. Mas é difícil imaginar os reguladores ocidentais provocando uma mudança de sorte tão significativa quanto a que se abateu sobre Ma. Xi afirmou amplo controle sobre o setor  privado da China, exigindo, acima dos lucros, o compromisso com o partido e com a estabilidade social.

Xiao Jianhua, que já foi um conselheiro financeiro de confiança de muitas elites chinesas, perdeu seu hotel de luxo em Hong Kong no ano de 2017. Ye Jianming, magnata do petróleo que buscava conexões com Washington, foi detido, assim como Wu Xiaohui, cuja seguradora comprara o Waldorf Astoria Hotel em Manhattan. Wu depois foi para a prisão. Lai Xiaomin, ex-presidente de uma empresa financeira, foi executado este ano.

“A regra de ferro é que não pode haver centros individuais de poder fora do partido”, disse Richard McGregor, membro sênior do Lowy Institute e autor de The Party: The Secret World of China’s Communist Rulers (em tradução livre, O Partido: o mundo secreto dos governantes comunistas da China).

Represália contra Alibaba

A repressão de Pequim às empresas de tecnologia já está afetando as salas de reuniões para além do Alibaba.

Na semana passada, a autoridade antitruste da China convocou 34 das principais empresas de internet para falar sobre as novas regras de concorrência leal. Em poucas horas, as companhias já estavam discutindo mudanças nos negócios e prometendo publicamente que iriam andar na linha.

“Essas novas regulamentações vão exigir que as plataformas da internet pensem em como vão inovar no futuro, e o resultado, provavelmente, é menos inovação”, disse Gordon Orr, membro não executivo do conselho da Meituan, a gigante chinesa de entrega de alimentos.

Ainda assim, o Alibaba e outros titãs da internet têm um status na China que pode protegê-los de um tratamento mais severo. As autoridades elogiam as contribuições econômicas dos titãs, mesmo agora quando apertam a supervisão. Xi quer que a economia chinesa seja impulsionada mais por suas próprias inovações do que por aquelas de potências estrangeiras inconstantes.

Isso significa que talvez seja muito cedo para declarar que Jack Ma está na lona.

“A empresa dele é muito mais importante para o sucesso e o funcionamento da economia chinesa do que a de qualquer outro empreendedor”, disse McGregor. “O governo quer continuar colhendo os benefícios da empresa de Jack Ma - mas nos seus próprios termos. O governo não está nacionalizando o Alibaba. Não está confiscando seus ativos. É simplesmente uma questão de estreitar o campo em que a empresa opera”.

O Alibaba não quis comentar.

Experiência

Ma não é neófito no trato com as autoridades chinesas.

Ele trabalhou breve e tristemente em uma agência de publicidade administrada pelo governo antes de fundar o Alibaba em 1999. Na época, a China ainda estava se acostumando com a ideia de ter empreendedores privados poderosos, e Ma provou ser perito em encantar funcionários do governo.

“O Alibaba tem chance de crescer e se tornar uma empresa de nível mundial”, disse Wang Guoping, então secretário do Partido Comunista na cidade oriental de Hangzhou, onde fica a sede do Alibaba, na década de 2000. “O que uma empresa de nível mundial mais precisa é de uma alma, um comandante, um empresário de primeira linha. E eu acredito que Jack Ma cumpre esses pré-requisitos”.

Em 2011, Ma sentiu o gostinho de como suas ambições podiam desagradar acionistas e reguladores. Ele discretamente assumiu o Alipay, serviço de pagamento do Alibaba, o que irritou um dos maiores investidores do Alibaba, o Yahoo. Ma disse que a mudança fora necessária por causa das novas regulamentações chinesas. O Alipay mais tarde se tornou o Ant Group.

“A transferência do Alipay o encorajou”, disse Duncan Clark, que conhece Ma desde 1999 e é presidente da BDA China, uma empresa de consultoria. “Ele meio que escapou impune”.

À medida que o Alibaba crescia, Ma começou a ser cortejado por presidentes e estrelas de cinema, mas também por um círculo mais amplo de outros empresários chineses. Essa “caixa de ressonância” pode ter distorcido as ideias de Ma sobre si mesmo e sua posição junto ao governo, disse Clark.

Não fosse por isso, ele poderia ter visto os recados expressos, principalmente quando Xi passou a incentivar as empresas privadas a trabalharem em maior proximidade com o estado.

Quando Ma deixou o cargo de presidente do Alibaba em 2019, um comentário no jornal oficial do Partido Comunista declarou: “Não existe a chamada era Jack Ma - apenas Jack Ma como participante desta era”.

Ma também praticamente sumiu de vista dentro de suas empresas. Em janeiro, ele apareceu em um grupo de bate-papo interno para responder a uma pergunta sobre negócios, de acordo com uma pessoa que viu a mensagem, mas não estava autorizada a falar publicamente. Mais tarde, os funcionários compartilharam a mensagem de Ma para tranquilizar os colegas mais nervosos.

Recentemente, o grupo de pesquisa Hurun Report, de Xangai, estimou que, pela primeira vez em três anos, Ma não era uma das três pessoas mais ricas da China. O novo número 1 do país é Zhong Shanshan, o discreto presidente de uma gigante da água engarrafada e de uma empresa farmacêutica.

Quando sua companhia de água abriu o capital no ano passado, Zhong era tão pouco conhecido que as notícias chinesas sobre sua fortuna repentina tiveram de explicar aos leitores como pronunciar um obscuro caractere chinês em seu nome. / Tradução de Renato Prelorentzou.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.