Segundo homem mais rico do mundo, Jeff Bezos já tem data para se aposentar: a partir de agosto o fundador da Amazon deixará o posto de CEO, passando o cargo para Andy Jassy, funcionário da empresa desde 1997 e líder divisão de serviços em nuvem da gigante. A decisão da aposentadoria foi comunicada no mais recente balanço da companhia, publicado nesta terça, 2.
"Estou empolgado em anunciar que no terceiro trimestre, farei a a transição para presidente do conselho da Amazon e Andy Jassy será o CEO", escreveu ele numa carta aos funcionários. "Eu vejo a Amazon em seu ano mais inventivo na história, tornando este o momento perfeito para essa transição", escreveu Bezos no documento.
De fato, os números ajudam: em 2020, a Amazon registrou lucro líquido de US$ 21,3 bilhões em 2020, ante US$ 11,6 bilhões no ano anterior — alta de 84% na comparação. Já no último trimestre de 2020, o lucro ficou em US$ 7,2 bilhões, ante US$ 3,3 bilhões no mesmo período de 2019. As ações da empresa permanceram estáveis após o anúncio, com variação positiva de 0,34% no momento da publicação desta reportagem.
Como é de se esperar, as festas de fim de ano e Black Friday foram positivas para a companhia no último trimestre. As vendas saltaram de US$ 87,4 bilhões, no último trimestre de 2019, para US$ 125,6 bilhões no mesmo período, alta de 42%, descontado o câmbio favorável de US$ 1,7 bilhão.
Charlie O’Shea, analista da Moody's, acredita que a transição na chefia será suave. "Uma das coisas que aprendemos com a Amazon é que há um grande banco de reservas lá. Eles já trocaram de executivos sem perder o ritmo", disse em nota. "Não é que o Bezos vai pegar um barquinho e desaparecer. Ele ainda estará envolvido na estratégia geral da empresa".
Fundador
Bezos fundou a Amazon, então uma simples loja de livros online, em 1994 e a transformou em uma das companhias mais valiosas do mundo. Em janeiro do ano passado, a empresa ultrapassou a marca de US$ 1 trilhão em valor de mercado.
O patrimônio do executivo cresceu junto: atualmente, é avaliado em US$188 bilhões, segundo o Bloomberg Billionaires Index. O empresário permaneceu à frente da empresa, da qual se tornou rosto principal, por mais tempo do que executivos de status parecido. Bezos sai após 27 anos — Bill Gates permaneceu como CEO da Microsoft por 23 anos, mesmo período de tempo de Steve Jobs no comando da Apple.
O movimento, porém, é tendência. Em 2019, Larry Page e Sergey Brin, que fundaram o Google em 1998, deixaram seus cargos executivos na Alphabet, companhia dona do Google, passando o bastão para Sundar Pichai, que até então comandava apenas o buscador. De certa forma, a saída de Bezos da chefia da Amazon também aposenta a era dos grandes CEOs que ascenderam nos anos 1990.
Bezos afirmou que continuará engajado nas iniciativas importantes da gigante, mas passará a usar o tempo extra em outros negócios, entre eles os fundos Day 1 e o Bezos Earth Fund, a empresa de exploração espacial Blue Origin e o jornal americano The Washington Post. O foco nos outros projetos fazem sentido: os próximos anos devem ser agitados para a Blue Origin, com o aquecimento do setor privado de exploração espacial. Espera-se que a empresa espacial, pela primeira vez, comece a transportar humanos em seu foguete New Shepard.
Já o The Earth Fund foi criado em fevereiro de 2020 com uma missão ainda mais urgente: o combate às mudanças climáticas — a promessa é de destinar até US$ 10 bilhões para as causas ambientais do Planeta. A iniciativa, que prevê encaminhar os recursos para organizações, para ativistas e para a área da ciência, anunciou, em novembro do ano passado, que iria receber cerca de US$ 791 milhões em doação para investir em 16 instituições. Na ocasião, Bezos afirmou que a quantia doada era “apenas o começo” das ajudas planejadas pelo fundo.
Além disso, o empresário também já havia dedicado esforços ao The Day 1 Fund, juntamente com MacKenzie Scott, sua ex-esposa, para ajudar famílias carentes e crianças em idade pré-escolar. O fundo foi criado em 2018 e visava a doar, em seu início, até US$ 2 bilhões para a causa.
Substituto
Para substituir Bezos, a empresa terá Andy Jassy, funcionário de longa data, agora na cadeira presidencial. Formado em Harvard, Jassy tem 52 anos e faz parte da Amazon desde 1997. Em 2003, o empresário ajudou a construir a Amazon Web Services, chefiando a divisão de serviços de nuvem da empresa. Em 2006, também se tornou o vice-presidente da AWS e, mais tarde, assumiu o posto mais alto da divisão.
Ao lado de Jeff Wilke, Jessy se tornou o braço direito de Bezos na Amazon. A aposentadoria de Wilke, no início do ano, porém, o colocou como o principal nome para assumir a empresa, caso Bezos se aposentasse.
A escolha por Jassy também faz sentido: atualmente, a AWS é uma das principais divisões da companhia atualmente. No quarto trimestre de 2020, a receita da AWS creceu 28%, para US$ 12,74 bilhões. Já o lucro teve alta de 37%, totalizando US$ 3,6 bilhões — embora o resultado tenha apresentado desaceleração em comparação a 2019.
A transição, porém, acontece em um momento importante para a Amazon. De um lado, a empresa tem batido recorde de lucros em meio à pandemia do novo coronavírus, com os usuários mais dependentes de serviços online. De outro, porém, a companhia, assim como outras gigantes de tecnologia, enfrenta um escrutínio regulatório, com legisladores preocupados com práticas anticompetitivas no setor.
"Andy fez um trabalho incrível na AWS. Os números dizem isso. A AWS continuará sendo uma máquina de lucros para a companhia, dando suporte à divisão de varejo como um investimento contínuo", diz O' Shea, da Moody's.
Entre os cotados para substituição de Andy Jassy como CEO da AWS, estão Charlie Bell, Peter DeSantis e Matt Garman, membros do chamado "S-Team", grupo de liderança sênior da Amazon. / COLABOROU REBECA SOARES, ESPECIAL PARA O ESTADÃO