"Mark Zuckerberg, [a diretora de operações] Sheryl Sandberg e seus times estão trabalhando contra o tempo para entender os fatos e tomar as medidas necessárias, porque entendem a seriedade desse assunto". Foi assim que o Facebook saiu de quase quatro dias de silêncio e finalmente se posicionou a respeito do polêmico uso ilícito de dados pessoais de 50 milhões de seus usuários pela consultoria política Cambridge Analytica, revelado no último final de semana pelo jornal inglês The Observer e pelo jornal americano The New York Times.
Após chamar as ações da Cambridge Analytica de "inaceitáveis" na última sexta-feira, quando suspendeu as atividades da empresa em sua rede social, o Facebook subiu o tom e se disse "ultrajado" pelo que a consultoria política fez.
No entanto, o posicionamento -- sem conter uma palavra direta de Mark Zuckerberg -- trata a rede social como vítima, e não como um ator em meio ao escândalo em si. Vale lembrar que a Cambridge Analytica obteve as informações a partir da interface de programação de aplicativos (API) do Facebook, e não por meio de uma brecha de segurança. "A empresa inteira está ultrajada. Estamos trabalhando fortemente para proteger nossas práticas e as informações das pessoas", disse o Facebook, no comunicado.
Nos últimos dias, Zuckerberg e Sheryl Sandberg, diretora de operações e número 2 na escala de comando do Facebook, têm recebido críticas por seu silêncio quanto ao incidente. De acordo com o site Axios, o presidente executivo da rede social mais popular do mundo pretende falar publicamente sobre o assunto nas próximas 24 horas. O executivo, segundo fontes próximas, tentará em seu pronunciamento recuperar a confiança dos usuários. Ontem, vários especialistas afirmaram que trata-se da maior crise da história do Facebook.
Antes de Zuckerberg se pronunciar, porém, há muitas questões sem resposta, segundo fontes consultadas pela reportagem da revista americana Wired. "Há quatro dúvidas consumindo a empresa: como proteger o sistema do Facebook para evitar que esse problema se repita? O Facebook deve processar a Cambridge Analytica? Zuckerberg deve depor no Parlamento britânico e no Senado americano? E o que fazer com Joseph Chancellor, psicólogo que trabalhou com Aleksandr Kogan, dono do quiz usado pela Cambridge Analytica, e agora trabalha no Facebook?", escreveu a publicação.
Em uma reunião interna do Facebook com funcionários, realizada na última terça-feira, os dois não apareceram -- o encontro foi liderado por Paul Grewal, da área de políticas públicas da empresa. A expectativa agora é de que Mark Zuckerberg fale com os funcionários no próximo dia 23, na tradicional sessão de perguntas e respostas do Facebook feitas às sextas-feiras.
Correr contra o tempo é importante para o Facebook, não só por sua imagem, mas também por questões financeiras: nos últimos dois dias, a empresa perdeu 9% de seu valor de mercado -- ou quase US$ 50 bilhões. Sozinho, Mark Zuckerberg já perdeu US$ 7,3 bilhões de sua fortuna pessoal com a desvalorização da empresa.