O bilionário Jared Isaacman fez história na manhã desta quinta, 12, ao se tornar o primeiro civil a realizar uma caminhada espacial, quando astronautas deixam o interior da nave e ficam em contato direto com o espaço - antes dele, apenas astronautas militares de agências públicas, como a Nasa, haviam realizado a façanha. Foram 10 minutos fora da cápsula Crew Dragon para testar os trajes EVA especialmente projetados pela Space X, empresa de tecnologia espacial de Elon Musk.
A partir de um processo de despressurização e abertura de uma escotilha circular, Isaacman saiu da cápsula a 700 quilômetros da Terra por volta das 7h, pelo horário de Brasília. Ele ficou com quase todo o corpo para fora da cápsula durante 10 minutos, enquanto era possível ter uma visão da Terra, na região do Pacífico. Ele realizou movimentos com os braços como parte dos testes realizados com os trajes da SpaceX e sempre manteve uma das mãos em uma das alças da nave.
“Em casa, todos temos muito trabalho a fazer, mas daqui, parece um mundo perfeito” disse Isaacman enquanto ainda mantinha o corpo fora da cápsula.
Sarah Gillis, engenheira líder de operações espaciais da SpaceX que integra a tripulação da missão, também participou da saída da cápsula, consolidando sua posição como uma das primeiras funcionárias da empresa a viajar para o espaço. Ela retornou para dentro da cápsula às 8h20, quando a nave começou a ser repressurizada a caminhada dela durou 7 minutos. A missão é considerada um sucesso quando essa parte é completada, o que aconteceu às 8h55. A missão foi considerada um sucesso às 8h58.
Embora apenas dois tripulantes tenham colocado o corpo para fora da nave (o que é considerado uma caminhada espacial), todos os membros da equipe, incluindo Scott “Kidd” Poteet e Anna Menon, experimentaram o vácuo espacial dentro da cápsula, pois ela foi totalmente despressurizada. Reveja como foi.
Segundo a NBC, Bill Nelson, chefe da Nasa, parabenizou a missão com uma mensagem no X. “O sucesso de hoje representa um grande salto para a indústria espacial comercial e para o plano de longo prazo da Nasa de construir uma vibrante economia espacial nos EUA”, escreveu ele.
A missão Polaris Dawn decolou na última terça-feira, 10, às 6h30 do horário de Brasília, do Kennedy Space Center, na Flórida. Na quarta, 11, a equipe já havia feito história ao atingir a distância mais longa da Terra que o ser humano já esteve desde a era Apollo: 1,4 mil quilômetros do planeta. A missão bateu o último número da missão Gemini 11, que esteve a 1,3 mil quilômetros do planeta.
O objetivo final do Programa Polaris é validar a tecnologia da Space X para poder levar civis até o espaço. A missão conta com trajes especiais, recursos inéditos de suporte à vida, pesquisas médicas sobre altitude e teste de conexão de internet no espaço. Para isso, os astronautas enfrentaram grandes riscos, como exposição aos cinturões de radiação - vários desses testes passam a ser feitos após a caminhada espacial. A viagem tem previsão de mais um dia de duração, mas ainda não há detalhes sobre o retorno para a Terra.
Sobre a missão
O bilionário Jared Isaacman, que é piloto e astronauta, está por trás do financiamento dessa missão juntamente com a SpaceX - a viagem é a primeira das três previstas no Programa Polaris. A iniciativa é considerada um marco na exploração espacial privada.
É a primeira vez, desde a era Apollo, em 1970, que seres humanos estão tão distantes da Terra, a 1,4 mil quilômetros. Assim, a Space X se tornou a primeira empresa privada a realizar uma caminhada espacial - com a cápsula Dragon totalmente despressurizada -, o que está sendo considerado como uma revolução para o turismo espacial.
Além do feito inédito, a missão tem objetivo de pesquisas médicas sobre os efeitos de altitude extrema no corpo humano e testes de conexão de internet via raios laser no espaço.
Em 2021, Isaacman já realizou uma viagem para orbitar a Terra, a Inspiration4, a primeira missão espacial totalmente civil. O projeto foi uma campanha de arrecadação de fundos para o combate ao câncer infantil. A tripulação foi composta por quatro pessoas de diferentes origens, sem experiência prévia em voos espaciais. Em uma cápsula SpaceX Crew Dragon, de 13 pés de largura, o grupo passou três dias orbitando a Terra.
Dessa vez, a tripulação que embarcou na SpaceX Falcon 9 é composta por Jared Isaacman, o comandante, e mais três pessoas do ramo, Scott Poteet, ex-piloto da Força Aérea, Sarah Gillis e Anna Menon, engenheiras da empresa.
Segundo a NASA, os cinturões de radiação, áreas que o grupo está explorando, são lugares onde as concentrações de partículas de alta energia do sol interagem com a atmosfera da Terra e ficam presas, criando duas faixas perigosas de radiação. Além disso, a espaçonave abriu para que os tripulantes pudessem ‘caminhar pelo espaço’. Foi a primeira vez que astronautas não governamentais encararam esse desafio.
Para isso, em apenas dois anos e meio, a SpaceX trabalhou no desenvolvimento de trajes de Atividade Extra-Veicular (EVA). A criação de novas tecnologias de segurança também é um dos objetivos do Programa Polaris.
Programação Espacial
Após o lançamento, a tripulação seguiu viagem para uma órbita oval que está a 1,4 mil quilômetros da Terra, na faixa interna dos cinturões de radiação da Van Allen, que começam a mil quilômetros de altitude. Esse marco já é considerado recorde de distância e o mais longe que o ser humano já esteve desde a era Apollo. A missão bateu o último número da missão Gemini 11, que esteve a 1,3 mil quilômetros do planeta.
Chegando ao espaço, o quarteto passou por um processo de ‘pré-respiração’, na preparação para a caminhada espacial. O método é parecido com o que mergulhadores realizam para evitar a doença da descompressão.
Com duração de 45 horas, os tripulantes purificaram o nitrogênio do sangue. Assim, quando a cápsula Dragon foi despressurizada e exposta ao vácuo do espaço, o gás não formou bolhas na corrente sanguínea, o que levaria os astronautas a morte.
No terceiro dia, eles abriram a escotilha da cápsula Crew Dragon, a 700 quilômetros de altitude da Terra, para realizar a primeira caminhada espacial feita por civis.
Toda a espaçonave ficou ‘exposta ao vazio’, mas apenas Isaacman e Gillis sairam para caminhada espacial. Eles estavam presos a cabos e sairam um de cada vez.
Riscos e inovações da Polaris Dawn
Planejada em menos de três anos, essa missão já é considerada a mais revolucionária e ousada da SpaceX e, também, a mais arriscada.
Um ponto bastante inovador, é o desenvolvimento dos trajes de Atividade Extra-Veicular (EVA) para essa missão, visto que, há anos a NASA procura uma tecnologia capaz de substituir as tradicionais ‘roupas de astronautas’.
Os trajes desenvolvidos pela SpaceX não contam com um Sistema Primário de Suporte à Vida, ou PLSS, que são aquelas ‘mochilas’ que permitem que os astronautas flutuem mais livremente pelo espaço, essenciais na hora que precisam realizar algum reparo e substituição de peças fora da estação espacial. Nesse caso, o quarteto está recebendo o suporte de vida por meio de mangueiras presas à espaçonave, medida que é considerada de alto risco.
O modelo desenvolvido também inclui um visor HUD (head-up display), câmera de última geração nos capacetes e novos tecidos de gerenciamento térmico.
Além disso, a missão também conta com um software de reinicialização automática, que sem intervenção humana pode solucionar falhas de computadores que podem ocorrer por causa dos altos índices de radiação.
Entre os objetivos da Polaris Dawn, também estão o desenvolvimento de pesquisas científicas, como o uso de ultrassom para monitorar, detectar e quantificar êmbolos gasosos venosos, o estudo sobre a doença de descompressão e o entendimento de como a radiação espacial afeta os sistemas humanos além de fornecer amostras biológicas para análises em um Biobanco de longo prazo e a pesquisa sobre a Síndrome Neuro-Ocular Associada ao Voo Espacial (SANS).
A espaçonave também precisou de diferentes testes para passar nos índices de exposição de radiação. Engenheiros da SpaceX, literalmente, pegaram peças usadas no veículo e peças de computadores que serão usadas na comunicação, e levaram para um laboratório de oncologia. A equipe expôs os materiais à radiação até que se quebrassem, assim, tendo precisão de quando e como a tecnologia pode falhar.
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Conheça a tripulação
A bordo da espaçonave Falcon 9, estão quatro pessoas altamente experientes no ramo da tecnologia espacial e que trabalham internamente na SpaceX.
Jared Isaacman
O comandante e financiador da missão Polaris Dawn, de apenas 41 anos, nasceu no estado de Nova Jersey. Atualmente, também é CEO da empresa Shift4, líder em soluções integradas de processamento de pagamentos.
Isaacman possui um currículo com mais de 7 mil horas de em aviação, inclusive, em aeronaves experimentais e ex-militares. Foi o comandante da Inspiration4, a primeira missão completamente civil para o espaço, que arrecadou mais de U$ 240 milhões para o combate ao câncer infantil.
Pessoalmente, o bilionário também detém diversos recordes mundiais, como dois voos de velocidade ao redor do mundo em 2008 e 2009 para arrecadação de fundos para a Make-a-Wish Foundation e mais de 100 shows aéreos voltados para causas beneficentes.
Em 2011, ele co-fundou o que se tornaria a maior força aérea privada do mundo, a Draken International, para treinar pilotos para as Forças Armadas dos EUA.
Scott “Kidd” Poteet
Natural do Tennessee, Poteet, de 50 anos, é piloto da missão, amigo pessoal de Isaacman e tenente-coronel aposentado da Força Aérea dos EUA, a qual serviu por 20 anos em diversas funções. Na missão Inspiration4, ele ocupou o cargo de Diretor de missão.
Após sua carreira na Força Aérea, Kidd atuou em várias funções, incluindo a de Diretor de desenvolvimento de negócios na Draken International e de Vice presidente de estratégia na Shift4.
Além disso, Poteet também se dedica ao triatlon, competindo em 15 Ironman desde 2000.
Sarah Gillis
A jovem do Colorado, de apenas 30 anos, decidiu abandonar o sonho de ser violinista e seguir no ramo espacial quando um mentor do Ensino Médio, ex-astronauta da NASA, Joe Tanner, a incentivou a se formar em Engenharia Aeroespacial. Em 2015, enquanto estudava Engenharia e Dança na Universidade do Colorado, Sarah começou a estagiar na SpaceX, trabalhando em testes com humanos no interior da espaçonave Dragon, antes de entrar no programa de treinamento de astronautas em tempo integral.
Atualmente, é Engenheira líder de operações espaciais na SpaceX, responsável por supervisionar o programa de treinamento de astronautas da empresa. Incluindo o desenvolvimento do currículo específico da missão e a execução do treinamento para os astronautas da NASA e comerciais que voam a bordo da espaçonave Dragon. Ela preparou os astronautas da NASA para as primeiras missões Demo-2 e Crew-1 e, mais recentemente, treinou diretamente os astronautas da Inspiration4.
Sarah tem vasta experiência em operações de controle de missão, apoiou, em tempo real, missões de reabastecimento de carga da Dragon para a Estação Espacial Internacional como Oficial de navegação e Comunicadora da tripulação para as missões de voo espacial humano.
Anna Menon
Nascida no Texas, Anna Menon, de 38 anos, é Engenheira líder de operações espaciais na SpaceX, onde gerencia o desenvolvimento das operações da tripulação e atua no controle da missão como Diretora de missão e Comunicadora da tripulação.
Durante seu período na SpaceX, liderou a implementação dos recursos da tripulação da Dragon, ajudou a criar a função de Operador comunicador da tripulação e desenvolveu respostas operacionais críticas para emergências de veículos, como incêndio ou despressurização da cabine. Anna atuou no controle da missão durante várias missões Dragon.
Antes da SpaceX, Anna trabalhou por sete anos na NASA como Controladora de voo biomédico para a Estação Espacial Internacional. Nessa função, ela apoiou as tripulações da estação espacial a partir do controle da missão, ajudou a integrar engenheiros e cuidados médicos de parceiros internacionais e liderou o planejamento e a execução de todas as operações biomédicas da Expedição 47/48.
Bacharel em Matemática e Espanhol pela Texas Christian University, Anna também é Mestre em Engenharia Biomédica pela Duke University.
Com um currículo que envolve muitas ações beneficentes, em 2015, a engenheira ajudou na solução de água e saneamento após o terremoto do Nepal. Além disso, foi voluntária nas organizações Engineers Without Borders e Engineering World Health.
*Mariana Cury é estagiária sob supervisão de Bruno Romani