Por que a China se voltou contra Jack Ma?


O chefe do Alibaba está pagando por contrariar Pequim, mas a mudança de atitude do governo também é uma reação à crescente desigualdade de riqueza e a redução de oportunidades para os jovens

Por Li Yuan
Jack Ma virou alvo em seu país natal Foto: Maxim Shemetov/Reuters

Na China, Jack Ma é sinônimo de sucesso. O professor de inglês que se tornou um empresário de internet é a pessoa mais rica do país. Ele fundou o Alibaba, uma companhia que é a mais próxima e a maior concorrente global da Amazon – no Brasil, a face desse império é a AliExpress. Quando Donald Trump assumiu a presidência nos Estados Unidos em 2016, Ma foi o primeiro chinês de projeção com o qual ele se encontrou.

Esse sucesso se traduziu numa vida de rockstar para “Daddy Ma” (Papai Ma) como é chamado por alguns. Ele interpretou um mestre de kung fu imbatível num curta metragem de 2017 repleto de astros e estrelas do cinema chinês. Cantou com a diva pop Faye Wong. Uma pintura que criou com o maior artista da China, Zeng Fanzhi, foi vendida num leilão da Sotheby’s por US$ 5,4 milhões. Para os jovens com ambição na China, Daddy Ma era um exemplo a seguir.

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Mas ultimamente esse sentimento mudou e Daddy Ma se tornou aquele que os chineses amam odiar. Tem sido chamado de vilão, capitalista do mal e sanguessuga. Um escritor listou os dez pecados capitais de Ma. Em vez de pai, alguns começaram a chamá-lo de “filho” ou “neto”. Em mensagens sobre ele, um número crescente de pessoas fez comentários citando a frase de Marx: “trabalhadores do mundo, uni-vos”.

A perda de status acontece num momento em que Ma enfrenta problemas crescentes com o governo chinês. As autoridades do país iniciaram uma investigação antitruste contra o Alibaba, a gigantesca empresa de e-commerce cofundada por ele e sobre a qual ainda tem um controle considerável.

Ao mesmo tempo, as autoridades continuam sua pressão contra o Ant Group, grupo de tecnologia financeira afiliado ao Alibaba.

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No mês passado foi anulado o planejado IPO do Ant Group, menos de duas semanas depois de Ma ter criticado os órgãos reguladores dizendo que eram obcecados com a minimização dos riscos e acusou os bancos de se comportarem como casas de penhores, emprestando apenas para aqueles que oferecem garantias. Na quinta-feira, na mesma manhã em que foi anunciada a investigação antitruste, quatro agências reguladoras informaram que seus agentes se reuniriam com os responsáveis do Ant Group para discutirem novas medidas de supervisão.

Aparentemente a mudança dessa imagem pública de Ma decorre em grande parte das críticas crescentes que o governo tem feito sobre seu império empresarial. Mas num exame mais atento verifica-se que há uma tendência mais profunda e mais preocupante do governo chinês e dos empresários chineses que foram a força que tirou o país da sua era econômica sombria nas quatro últimas décadas.

Um número cada vez maior de pessoas vem sentindo que as oportunidades como as que Ma desfrutou estão desaparecendo, mesmo com o crescimento das atividades pós-coronavírus. Embora a China possua mais bilionários do que os Estados Unidos e a Índia combinados, 600 milhões de pessoas no país ainda vivem comUS$ 150 ou menos por mês. E mesmo que o consumo nos 11 primeiros meses deste ano tenha caído 5% em todo país, os gastos com artigos de luxo têm previsão de crescimento de quase 50% em comparação com o ano passado.

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Jovens formados em universidades, mesmo aqueles que se diplomaram nos Estados Unidos, se deparam com perspectivas de emprego limitadas e salários baixos. Uma casa nas melhores cidades hoje custa muito caro. Os jovens que tomaram empréstimos de uma nova geração de líderes online, como o Ant Group de Ma, estão cada vez mais preocupados com suas dívidas.

Apesar de todo o sucesso econômico da China, um ressentimento antigo contra os ricos ainda persiste. E no caso de Ma ele se revelou como uma vingança.

“Um bilionário como Jack Ma certamente seria enforcado num poste”, disse um comentarista numa postagem na mídia social que circulou amplamente, referindo-se ao slogan dos linchamentos na Revolução Francesa “À la lanterne!”. O artigo teve 122 mil curtidas na plataforma Weibo, similar ao Twitter, e foi lido mais de 100 mil vezes no site de mídia social WeChat.

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O Partido Comunista parece mais do que disposto a fazer uso desse ressentimento. O que pode significar problemas mais adiante para os empresários e empresas privadas, especialmente no governo de Xi Jinping, que valoriza o servilismo e a lealdade acima de tudo.

Na reunião anual da liderança de governo, na semana passada, quando são estabelecidas as medidas políticas para o ano seguinte, o partido prometeu tornar mais rígidas as medidas antitruste e impedir “a expansão desordenada do capital”.

Alguns empresários afirmam que a hostilidade contra Ma e o Ant Group coloca dúvidas quanto à direção que o país seguirá.

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“Você pode assumir o controle absoluto ou ter uma economia dinâmica, inovadora”, disse Fred Hu, fundador da companhia de investimentos Primavera Capital Group, em Hong Kong. “Mas é duvidoso ter ambas as coisas”.

Xi não fez nenhum segredo quanto ao seu ideal capitalista. Dez dias depois do fracasso do IPO do Ant Group ele foi a uma exposição consagrada a Zhang Jian, industrial que foi muito ativo há mais de um século. Zhang ajudou a construir sua cidade natal, Nantong, e abriu centenas de escolas. Os empresários da era Xi, segundo a mensagem que passou, devem colocar seu país acima da empresa.

Ma tem seus projetos filantrópicos, como iniciativas na educação rural e instituiu um prêmio para ajudar o talento empreendedor na África. Mas sob muitos outros aspectos, o exuberante empresário difere muito de Zhang.

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Ele tem mais reputação do que seus colegas em setores como o imobiliário e manufatura que se beneficiam dos estreitos vínculos cultivados dentro do governo, ignorando as regras ambientais e explorando os empregados.

Ma é famoso por fazer declarações ousadas e desafiar as autoridades. Em 2003 criou o Alipay, que depois se tornou parte do Ant Group, colocando seu império comercial no centro do mundo das finanças controlado pelo Estado.

“Diante do que ocorreu, o Ant Group no final terá de ser controlado pelo Estado que poderá até se tornar seu proprietário majoritário”, disse Zhiwu Chen, economista da faculdade de administração da Universidade de Hong Kong.

É muito cedo para saber até onde irão os órgãos reguladores no controle de Ma e das big techs. Mas algumas pessoas que defendem o livre mercado na China estão preocupadas com a ideia de que o país esteja seguindo por um caminho mais linha mais dura, como a dos anos 1950, quando o partido eliminou o capital, comparando a inclinação capitalista a impurezas, falhas e fraquezas.

Para essas pessoas, a linguagem usada recentemente pro Eric Jing, chairman do Ant Group, evocou aquela era. Numa conferência que proferiu em 15 de dezembro, afirmou que sua companhia estava “se olhando no espelho, buscando nossas deficiências e realizando um check-up completo”. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Jack Ma virou alvo em seu país natal Foto: Maxim Shemetov/Reuters

Na China, Jack Ma é sinônimo de sucesso. O professor de inglês que se tornou um empresário de internet é a pessoa mais rica do país. Ele fundou o Alibaba, uma companhia que é a mais próxima e a maior concorrente global da Amazon – no Brasil, a face desse império é a AliExpress. Quando Donald Trump assumiu a presidência nos Estados Unidos em 2016, Ma foi o primeiro chinês de projeção com o qual ele se encontrou.

Esse sucesso se traduziu numa vida de rockstar para “Daddy Ma” (Papai Ma) como é chamado por alguns. Ele interpretou um mestre de kung fu imbatível num curta metragem de 2017 repleto de astros e estrelas do cinema chinês. Cantou com a diva pop Faye Wong. Uma pintura que criou com o maior artista da China, Zeng Fanzhi, foi vendida num leilão da Sotheby’s por US$ 5,4 milhões. Para os jovens com ambição na China, Daddy Ma era um exemplo a seguir.

Mas ultimamente esse sentimento mudou e Daddy Ma se tornou aquele que os chineses amam odiar. Tem sido chamado de vilão, capitalista do mal e sanguessuga. Um escritor listou os dez pecados capitais de Ma. Em vez de pai, alguns começaram a chamá-lo de “filho” ou “neto”. Em mensagens sobre ele, um número crescente de pessoas fez comentários citando a frase de Marx: “trabalhadores do mundo, uni-vos”.

A perda de status acontece num momento em que Ma enfrenta problemas crescentes com o governo chinês. As autoridades do país iniciaram uma investigação antitruste contra o Alibaba, a gigantesca empresa de e-commerce cofundada por ele e sobre a qual ainda tem um controle considerável.

Ao mesmo tempo, as autoridades continuam sua pressão contra o Ant Group, grupo de tecnologia financeira afiliado ao Alibaba.

No mês passado foi anulado o planejado IPO do Ant Group, menos de duas semanas depois de Ma ter criticado os órgãos reguladores dizendo que eram obcecados com a minimização dos riscos e acusou os bancos de se comportarem como casas de penhores, emprestando apenas para aqueles que oferecem garantias. Na quinta-feira, na mesma manhã em que foi anunciada a investigação antitruste, quatro agências reguladoras informaram que seus agentes se reuniriam com os responsáveis do Ant Group para discutirem novas medidas de supervisão.

Aparentemente a mudança dessa imagem pública de Ma decorre em grande parte das críticas crescentes que o governo tem feito sobre seu império empresarial. Mas num exame mais atento verifica-se que há uma tendência mais profunda e mais preocupante do governo chinês e dos empresários chineses que foram a força que tirou o país da sua era econômica sombria nas quatro últimas décadas.

Um número cada vez maior de pessoas vem sentindo que as oportunidades como as que Ma desfrutou estão desaparecendo, mesmo com o crescimento das atividades pós-coronavírus. Embora a China possua mais bilionários do que os Estados Unidos e a Índia combinados, 600 milhões de pessoas no país ainda vivem comUS$ 150 ou menos por mês. E mesmo que o consumo nos 11 primeiros meses deste ano tenha caído 5% em todo país, os gastos com artigos de luxo têm previsão de crescimento de quase 50% em comparação com o ano passado.

Jovens formados em universidades, mesmo aqueles que se diplomaram nos Estados Unidos, se deparam com perspectivas de emprego limitadas e salários baixos. Uma casa nas melhores cidades hoje custa muito caro. Os jovens que tomaram empréstimos de uma nova geração de líderes online, como o Ant Group de Ma, estão cada vez mais preocupados com suas dívidas.

Apesar de todo o sucesso econômico da China, um ressentimento antigo contra os ricos ainda persiste. E no caso de Ma ele se revelou como uma vingança.

“Um bilionário como Jack Ma certamente seria enforcado num poste”, disse um comentarista numa postagem na mídia social que circulou amplamente, referindo-se ao slogan dos linchamentos na Revolução Francesa “À la lanterne!”. O artigo teve 122 mil curtidas na plataforma Weibo, similar ao Twitter, e foi lido mais de 100 mil vezes no site de mídia social WeChat.

O Partido Comunista parece mais do que disposto a fazer uso desse ressentimento. O que pode significar problemas mais adiante para os empresários e empresas privadas, especialmente no governo de Xi Jinping, que valoriza o servilismo e a lealdade acima de tudo.

Na reunião anual da liderança de governo, na semana passada, quando são estabelecidas as medidas políticas para o ano seguinte, o partido prometeu tornar mais rígidas as medidas antitruste e impedir “a expansão desordenada do capital”.

Alguns empresários afirmam que a hostilidade contra Ma e o Ant Group coloca dúvidas quanto à direção que o país seguirá.

“Você pode assumir o controle absoluto ou ter uma economia dinâmica, inovadora”, disse Fred Hu, fundador da companhia de investimentos Primavera Capital Group, em Hong Kong. “Mas é duvidoso ter ambas as coisas”.

Xi não fez nenhum segredo quanto ao seu ideal capitalista. Dez dias depois do fracasso do IPO do Ant Group ele foi a uma exposição consagrada a Zhang Jian, industrial que foi muito ativo há mais de um século. Zhang ajudou a construir sua cidade natal, Nantong, e abriu centenas de escolas. Os empresários da era Xi, segundo a mensagem que passou, devem colocar seu país acima da empresa.

Ma tem seus projetos filantrópicos, como iniciativas na educação rural e instituiu um prêmio para ajudar o talento empreendedor na África. Mas sob muitos outros aspectos, o exuberante empresário difere muito de Zhang.

Ele tem mais reputação do que seus colegas em setores como o imobiliário e manufatura que se beneficiam dos estreitos vínculos cultivados dentro do governo, ignorando as regras ambientais e explorando os empregados.

Ma é famoso por fazer declarações ousadas e desafiar as autoridades. Em 2003 criou o Alipay, que depois se tornou parte do Ant Group, colocando seu império comercial no centro do mundo das finanças controlado pelo Estado.

“Diante do que ocorreu, o Ant Group no final terá de ser controlado pelo Estado que poderá até se tornar seu proprietário majoritário”, disse Zhiwu Chen, economista da faculdade de administração da Universidade de Hong Kong.

É muito cedo para saber até onde irão os órgãos reguladores no controle de Ma e das big techs. Mas algumas pessoas que defendem o livre mercado na China estão preocupadas com a ideia de que o país esteja seguindo por um caminho mais linha mais dura, como a dos anos 1950, quando o partido eliminou o capital, comparando a inclinação capitalista a impurezas, falhas e fraquezas.

Para essas pessoas, a linguagem usada recentemente pro Eric Jing, chairman do Ant Group, evocou aquela era. Numa conferência que proferiu em 15 de dezembro, afirmou que sua companhia estava “se olhando no espelho, buscando nossas deficiências e realizando um check-up completo”. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Jack Ma virou alvo em seu país natal Foto: Maxim Shemetov/Reuters

Na China, Jack Ma é sinônimo de sucesso. O professor de inglês que se tornou um empresário de internet é a pessoa mais rica do país. Ele fundou o Alibaba, uma companhia que é a mais próxima e a maior concorrente global da Amazon – no Brasil, a face desse império é a AliExpress. Quando Donald Trump assumiu a presidência nos Estados Unidos em 2016, Ma foi o primeiro chinês de projeção com o qual ele se encontrou.

Esse sucesso se traduziu numa vida de rockstar para “Daddy Ma” (Papai Ma) como é chamado por alguns. Ele interpretou um mestre de kung fu imbatível num curta metragem de 2017 repleto de astros e estrelas do cinema chinês. Cantou com a diva pop Faye Wong. Uma pintura que criou com o maior artista da China, Zeng Fanzhi, foi vendida num leilão da Sotheby’s por US$ 5,4 milhões. Para os jovens com ambição na China, Daddy Ma era um exemplo a seguir.

Mas ultimamente esse sentimento mudou e Daddy Ma se tornou aquele que os chineses amam odiar. Tem sido chamado de vilão, capitalista do mal e sanguessuga. Um escritor listou os dez pecados capitais de Ma. Em vez de pai, alguns começaram a chamá-lo de “filho” ou “neto”. Em mensagens sobre ele, um número crescente de pessoas fez comentários citando a frase de Marx: “trabalhadores do mundo, uni-vos”.

A perda de status acontece num momento em que Ma enfrenta problemas crescentes com o governo chinês. As autoridades do país iniciaram uma investigação antitruste contra o Alibaba, a gigantesca empresa de e-commerce cofundada por ele e sobre a qual ainda tem um controle considerável.

Ao mesmo tempo, as autoridades continuam sua pressão contra o Ant Group, grupo de tecnologia financeira afiliado ao Alibaba.

No mês passado foi anulado o planejado IPO do Ant Group, menos de duas semanas depois de Ma ter criticado os órgãos reguladores dizendo que eram obcecados com a minimização dos riscos e acusou os bancos de se comportarem como casas de penhores, emprestando apenas para aqueles que oferecem garantias. Na quinta-feira, na mesma manhã em que foi anunciada a investigação antitruste, quatro agências reguladoras informaram que seus agentes se reuniriam com os responsáveis do Ant Group para discutirem novas medidas de supervisão.

Aparentemente a mudança dessa imagem pública de Ma decorre em grande parte das críticas crescentes que o governo tem feito sobre seu império empresarial. Mas num exame mais atento verifica-se que há uma tendência mais profunda e mais preocupante do governo chinês e dos empresários chineses que foram a força que tirou o país da sua era econômica sombria nas quatro últimas décadas.

Um número cada vez maior de pessoas vem sentindo que as oportunidades como as que Ma desfrutou estão desaparecendo, mesmo com o crescimento das atividades pós-coronavírus. Embora a China possua mais bilionários do que os Estados Unidos e a Índia combinados, 600 milhões de pessoas no país ainda vivem comUS$ 150 ou menos por mês. E mesmo que o consumo nos 11 primeiros meses deste ano tenha caído 5% em todo país, os gastos com artigos de luxo têm previsão de crescimento de quase 50% em comparação com o ano passado.

Jovens formados em universidades, mesmo aqueles que se diplomaram nos Estados Unidos, se deparam com perspectivas de emprego limitadas e salários baixos. Uma casa nas melhores cidades hoje custa muito caro. Os jovens que tomaram empréstimos de uma nova geração de líderes online, como o Ant Group de Ma, estão cada vez mais preocupados com suas dívidas.

Apesar de todo o sucesso econômico da China, um ressentimento antigo contra os ricos ainda persiste. E no caso de Ma ele se revelou como uma vingança.

“Um bilionário como Jack Ma certamente seria enforcado num poste”, disse um comentarista numa postagem na mídia social que circulou amplamente, referindo-se ao slogan dos linchamentos na Revolução Francesa “À la lanterne!”. O artigo teve 122 mil curtidas na plataforma Weibo, similar ao Twitter, e foi lido mais de 100 mil vezes no site de mídia social WeChat.

O Partido Comunista parece mais do que disposto a fazer uso desse ressentimento. O que pode significar problemas mais adiante para os empresários e empresas privadas, especialmente no governo de Xi Jinping, que valoriza o servilismo e a lealdade acima de tudo.

Na reunião anual da liderança de governo, na semana passada, quando são estabelecidas as medidas políticas para o ano seguinte, o partido prometeu tornar mais rígidas as medidas antitruste e impedir “a expansão desordenada do capital”.

Alguns empresários afirmam que a hostilidade contra Ma e o Ant Group coloca dúvidas quanto à direção que o país seguirá.

“Você pode assumir o controle absoluto ou ter uma economia dinâmica, inovadora”, disse Fred Hu, fundador da companhia de investimentos Primavera Capital Group, em Hong Kong. “Mas é duvidoso ter ambas as coisas”.

Xi não fez nenhum segredo quanto ao seu ideal capitalista. Dez dias depois do fracasso do IPO do Ant Group ele foi a uma exposição consagrada a Zhang Jian, industrial que foi muito ativo há mais de um século. Zhang ajudou a construir sua cidade natal, Nantong, e abriu centenas de escolas. Os empresários da era Xi, segundo a mensagem que passou, devem colocar seu país acima da empresa.

Ma tem seus projetos filantrópicos, como iniciativas na educação rural e instituiu um prêmio para ajudar o talento empreendedor na África. Mas sob muitos outros aspectos, o exuberante empresário difere muito de Zhang.

Ele tem mais reputação do que seus colegas em setores como o imobiliário e manufatura que se beneficiam dos estreitos vínculos cultivados dentro do governo, ignorando as regras ambientais e explorando os empregados.

Ma é famoso por fazer declarações ousadas e desafiar as autoridades. Em 2003 criou o Alipay, que depois se tornou parte do Ant Group, colocando seu império comercial no centro do mundo das finanças controlado pelo Estado.

“Diante do que ocorreu, o Ant Group no final terá de ser controlado pelo Estado que poderá até se tornar seu proprietário majoritário”, disse Zhiwu Chen, economista da faculdade de administração da Universidade de Hong Kong.

É muito cedo para saber até onde irão os órgãos reguladores no controle de Ma e das big techs. Mas algumas pessoas que defendem o livre mercado na China estão preocupadas com a ideia de que o país esteja seguindo por um caminho mais linha mais dura, como a dos anos 1950, quando o partido eliminou o capital, comparando a inclinação capitalista a impurezas, falhas e fraquezas.

Para essas pessoas, a linguagem usada recentemente pro Eric Jing, chairman do Ant Group, evocou aquela era. Numa conferência que proferiu em 15 de dezembro, afirmou que sua companhia estava “se olhando no espelho, buscando nossas deficiências e realizando um check-up completo”. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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