Nesta semana, Sheryl Sandberg, ex-chefe de operações e número 2 de Mark Zuckerberg no Facebook, anunciou que está de saída da empresa que ajudou a administrar desde 2008. Após 14 anos de trabalho, a empresária decidiu que era hora de “começar um novo capítulo''. Entretanto, mais do que apenas seguir em outros projetos, Sheryl precisava de outra necessidade fundamental: descanso.
Diante das mudanças que a companhia vem passando, o afastamento de Sheryl parece ter tido esse motivo a mais para a mudança de ares. Como face pública da empresa, os últimos anos foram de escrutínio e dor de cabeça para resolver escândalos em que a Meta, holding renomeada do Facebook, esteve envolvida.
Segundo fontes ouvidas pelo jornal americano Wall Street Journal, Sheryl se sentia cansada e menos disposta a encarar a rotina de operações do Facebook, da qual era a chefe. Algumas pessoas próximas a ela disseram que a empresária ainda havia comentado sobre estar sobrecarregada e que se sentia um “saco de pancadas” da empresa nos últimos anos.
“Ela se vê como uma pessoa que tem sido um alvo, tratada como executiva de uma forma que não aconteceria com um homem. Sendo uma questão de gênero ou não, ela está cansada disso”, afirmou uma pessoa que trabalhou com Sheryl por muitos anos, segundo o jornal americano.
A saída da executiva acontece após escândalos, perda de usuários e uma mudança na direção do Facebook. Sheryl encerra sua passagem pela companhia longe do ápice de reputação que atingiu na década passada. Na época, Sheryl usou sua fama corporativa para falar sobre outras questões além dos negócios de publicidade, como o que as mulheres poderiam alcançar no local de trabalho, além de ser uma importante ponte entre o Facebook e a Casa Branca.
Além disso, recentemente, Sheryl viu Zuckerberg distribuir parte de sua responsabilidade em relação à políticas das plataformas para Nick Clegg, logo após o episódio do Facebook Papers, em que a ex-funcionária Frances Haugen divulgou documentos internos da empresa. Na renomeação da companhia para Meta, com o objetivo de focar em projetos relacionados ao metaverso, Sheryl tão pouco estava envolvida com a nova categoria.
Sheryl sentia que a nova área não dependia de publicidade e que os desejos de Zuckerberg para o metaverso não estavam de acordo com os esforços dela. Com isso, Sheryl não participou da maioria das reuniões da diretoria que tratavam do assunto.
Tempos difíceis
Quando entrou no Facebook, em 2008, Sheryl ficou com o papel de líder das operações burocráticas da empresa. Como executiva responsável por uma das áreas de negócios do Google, a expectativa de Zuckerberg era que ela pudesse assumir papel semelhante na companhia de rede social. O papel de Sheryl na conversão da plataforma de conexão em motor de publicidade online foi essencial, e tornou o Facebook uma das maiores empresas do mundo em pouco tempo.
Depois das eleições presidenciais de 2016, o Facebook ficou sob intenso escrutínio pela forma como foi mal utilizado para fomentar a divisão e espalhar desinformação — a executiva foi responsável pela equipe de políticas e segurança da empresa durante o pleito. Em 2018, a rede social também passou por uma grave crise após o escândalo envolvendo a Cambridge Analytica, firma de marketing político que usou indevidamente dados de 87 milhões de usuários do Facebook.
Somente nos últimos anos, Sheryl enfrentou diversas situações que a envolviam profissionalmente e em sua vida pessoal. No início do ano, o Wall Street Journal afirmou que ela havia pressionado o tabloide britânico Daily Sun para não publicar histórias de seu ex-namorado, Bobby Kotick, então presidente da empresa de games Activision Blizzard.
Depois do anúncio da saída da empresa, foi revelada uma investigação interna, segundo o jornal americano, que averiguava se a empresária usara recursos corporativos para resolver detalhes de seu casamento com Tom Bernthal, que vai acontecer entre junho e setembro deste ano.
Apesar da situação, para uma porta-voz do Facebook, porém, nada disso foi mais forte do que o desejo de, finalmente, poder descansar longe da rotina de ‘apagar incêndio' que a empresária tinha na empresa.
“Nada disso tem nada a ver com sua decisão pessoal de sair”, disse Caroline Nolan, porta-voz da Meta, ao Wall Street Journal.
Sheryl deve deixar a empresa entre setembro e novembro de 2022, mas vai continuar sendo parte do conselho de diretores da empresa. No cargo, o ex-chefe de crescimento da Meta, Javier Olivan, vai assumir a posição./COM NEW YORK TIMES