Não dá para dizer que os últimos meses foram tranquilos para o Twitter, que vem encarando encolhimento nos números de usuários e de receita publicitária — a gestão Elon Musk, iniciada em novembro de 2022, parece aumentar a sensação de problemas. Ainda assim, a plataforma que consagrou o passarinho azul segue ostentando relevância entre as diversas redes sociais, e parece pouco ameaçada pela concorrência.
As mudanças não foram poucas nos últimos tempos: cerca de 75% dos funcionários foram demitidos, apagões inexplicados aconteceram, a política de moderação de conteúdo foi afrouxada e, mais recentemente, uma mudança de marca começou a ser implementada — o Twitter agora se chama X na expectativa de ser um superaplicativo. Muitos, incluindo ex-empregados, apostaram que a rede não duraria meses sob a gestão Musk.
Além disso, novas plataformas surgiram com a expectativa de surfar no eventual fracasso da rede social do passarinho azul. A lista é grande: Mastodon, rede descentralizada; Bluesky, nascida das mãos do mesmo fundador do Twitter; Koo, solução indiana que, tão rápida foi adotada pelos brasileiros, logo foi esquecida; e Threads, irmão do Instagram que já começa perder fôlego após quebrar recordes e se apresentar como o maior concorrente ao Twitter.
O Similarweb, que reúne dados de audiências de diversos sites na internet, não deixa dúvidas: o Twitter está em queda desde janeiro de 2023. Nas comparações anuais, a plataforma passou o primeiro semestre deste ano encolhendo em visitantes únicos, visitas ao site e engajamento — três importantes métricas.
“Baseado nos dados da semana passada, até 23 de julho, o tráfego para o site do Twitter caiu 10% em relação à semana anterior e encolheu 9,4% na comparação com os mesmos dias do ano passado”, diz David F. Carr, analista da Similarweb.
Além disso, de julho de 2022 a junho de 2023, o Twitter saiu de pouco mais de 226 milhões de usuários ativos por mês (MAUs, na sigla em inglês) para 220,3 milhões, diz o Similarweb.
Jasmine Enberg, da Insider Intelligence
Outro dado é pouco animador: a receita da plataforma, vinda principalmente de anúncios publicitários, vem despencando. Em raro momento em que aponta a fragilidade do negócio, Musk confessou em tuíte que esse número caiu “aproximadamente” 50%, sem dar mais detalhes.
A consultoria de marketing Insider Intelligence projetou em março que, neste ano, a empresa pode somar US$ 2,98 bilhões em receita publicitária. Em outubro de 2022, o número dessa projeção era de US$ 4,74 bilhões.
“As luzes estão acesas, mas estão mais fracas. Elon Musk reavaliou a companhia em menos do que pagou por ela (em US$ 20 bilhões). E para a maior parte das marcas e anunciantes, os contras de ter uma presença paga no Twitter ainda superam os benefícios”, escreveu em abril a analista Jasmine Enberg.
Crise constante
Esse cenário de crise nos números, no entanto, teve pouco efeito para fortalecer os rivais.
O Twitter continuou com o quarto lugar na fatia do mercado de redes sociais em junho deste ano, representando 9,34%. A sua frente, apenas os aplicativos da Meta: Facebook (30,74%), Instagram (23,36%) e WhatsApp (16,37%), que tiveram pouca oscilação no primeiro semestre deste ano. Já o TikTok aparece em quinto, com 6,52%, sem crescimento nesses seis meses de 2023.
As métricas apontam que o Threads, lançado no início deste mês, também não ameaça. O tempo de tela no aplicativo da Meta despencou de 21 minutos diários para 5 minutos, em celulares Android, diz a Similarweb. O Twitter continuou estável, com 25 minutos em média por usuário.
Já o número de usuários ativos por dia (DAUs, na sigla em inglês) foi de 49 milhões no Threads em 7 de julho (pico histórico do app) para 12,6 milhões em 23 de julho. O Twitter continuou com uma média de 107,9 milhões em julho em celulares Android.
David F. Carr, da Similarweb
“Até o momento, o Twitter (ou X) parece estar sofrendo, mas o Threads está no começo de representar um desafio à rede”, conclui em relatório David F. Carr, da Similarweb.
Enberg, da Insider Intelligence, concorda. “O Threads não é o suficiente para ser uma alternativa ao Twitter”, escreve em relatório deste mês. “Alguns usuários disseram que não sabem por que estão usando o aplicativo, a não ser para participar do hype e ver se poderia ser um substituto em potencial do Twitter. Tampouco está totalmente claro o que os executivos da Meta planejam fazer com o Threads.”
Resiliente a crises?
O consultor de redes sociais Alexandre Inagaki acrescenta que o Twitter não é resiliente a crises, vide a queda em usuários e receita publicitária. Na verdade, continua ele, a plataforma sofre de outro problema: falta de concorrência.
“Quem precisa criar conta em mais uma rede social que seja essencialmente igual às anteriores?”, diz. “Mas, se o Threads implementar as novidades necessárias, é o único concorrente no momento que vejo ter potencial para se tomar o seu lugar. Porque tem recursos financeiros e estrutura técnica de sobra para buscar superar o Twitter, ao contrário do Koo, Mastodon, Bluesky.”
Aos trancos e barrancos, o Twitter continua — ao menos por enquanto.