THE NEW YORK TIMES - Quando o colega de trabalho de Diane Hirsh Theriault voltou do almoço para o escritório do Google em Cambridge, Massachusetts, em uma tarde de outubro, seu crachá de trabalho não conseguia abrir a catraca. Ele logo percebeu que isso era um sinal de que havia sido demitido.
Hirsh Theriault percebeu na sequência que a maioria de seus colegas engenheiros do Google News em Cambridge também havia perdido seus empregos. Mais de 40 pessoas da divisão de notícias foram demitidas, segundo um sindicato da empresa, embora várias delas tenham recebido ofertas de emprego em outros lugares dentro do Google.
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A experiência de Hirsh Theriault é cada vez mais comum no Google, onde a volta dos cortes contínuos de empregos nos últimos meses deixou os funcionários nervosos. As demissões atrasaram os projetos e fizeram com que os funcionários passassem horas de trabalho tentando descobrir quais grupos foram atingidos e quem poderia ser o próximo, disseram 10 funcionários atuais e antigos do Google.
Além disso, as demissões mudaram a narrativa que por muito tempo definiu o trabalho no Google - que era mais uma comunidade onde a criatividade e o pensamento inovador eram incentivados. Era um lugar divertido e diferente para se trabalhar.
Sundar Pichai, chefe-executivo do Google, disse há mais de um ano que a empresa cortaria 12 mil empregos, ou 6% da força de trabalho, descrevendo a decisão como “difícil”, mas necessária para a empresa se “preparar para o futuro”.
Esses cortes foram feitos ao longo de 2023 com demissões contínuas. Agora, esse movimento voltou: desde o início de janeiro, a empresa cortou mais de mil empregos, afetando sua divisão de vendas de anúncios, o YouTube e os funcionários que trabalham no assistente de voz Google Assistente.
A Alphabet, empresa controladora do Google, disse que está tentando reduzir as despesas para pagar seu crescente investimento em inteligência artificial (IA), e o Google está tentando reduzir as camadas de burocracia para que os funcionários possam se concentrar nas prioridades da empresa, disse Courtenay Mencini, porta-voz do Google. A empresa acrescentou que não estava realizando uma demissão em toda a empresa e que as reorganizações faziam parte do curso normal dos negócios.
“A realidade é que, para criar a capacidade para esse investimento, temos que fazer escolhas difíceis”, escreveu Pichai em uma nota aos funcionários em 17 de janeiro. Para algumas divisões, “isso significa reorganizar e, em alguns casos, eliminar funções”. As equipes ainda poderão cortar outras funções ao longo do ano, acrescentou.
Clima péssimo
Os funcionários dizem que o clima no local de trabalho se tornou sombrio. Embora o Google tenha se esforçado muito para desenvolver produtos de inteligência artificial e acompanhar o ritmo de concorrentes como a Microsoft e a startup OpenAI, alguns dos seres humanos que desenvolvem a tecnologia da empresa se sentem menos importantes.
Agora “os prédios estão meio vazios às 4h30″, escreveu Hirsh Theriault em uma publicação no LinkedIn. “Conheço muitas pessoas, inclusive eu, que costumavam fazer trabalho extra à noite e nos fins de semana para concluir a demonstração ou simplesmente por tédio. Isso acabou.”
As demissões do Google foram menores do que as de outras grandes empresas de tecnologia, como a Meta. E como porcentagem da força de trabalho total da empresa, elas são muito menores do que os cortes recentes em empresas como a Xerox e a Twitch. A força de trabalho em tempo integral do Google era de 182.502 pessoas no final de 2023, apenas 4% menor do que no final de 2022. Na terça-feira, 1, a empresa disse que teve um lucro de US$ 20,7 bilhões no último trimestre de 2023, um aumento de 52% em relação ao ano anterior.
Mas os cortes de empregos do Google acompanharam mudanças mais amplas na forma como a empresa operava, à medida que reorganizava os grupos de trabalho e removia as camadas de gerenciamento. Os funcionários reclamam que a reorganização foi realizada de forma caótica e mal comunicada.
Quando o YouTube demitiu uma de suas equipes de gerentes de fornecedores, responsáveis pela aprovação de pedidos de compra para que as empresas de moderação de conteúdo sejam pagas, a empresa não notificou outros grupos que dependem da equipe, disse uma pessoa, embora alguns dos trabalhadores tenham tido a chance de recuperar seus empregos.
Quando as demissões recomeçaram em janeiro, um funcionário do Google na Suíça criou um documento interno para que os funcionários acompanhassem os cortes de empregos, já que a empresa pouco falou a eles sobre onde está fazendo os cortes. O documento se tornou uma fonte essencial de informações, segundo os funcionários, juntamente com relatórios de notícias, mídia social e, claro, a “rádio peão”.
“Do ponto de vista de RH, isso é um pesadelo”, disse Meghan M. Biro, cuja empresa, TalentCulture, cria conteúdo sobre as melhores práticas em recursos humanos. “Isso reverte completamente a imagem da empresa como um empregador desejável.”
O Google disse que os líderes comunicaram claramente às equipes quando elas estavam passando por mudanças.
Em entrevistas, os funcionários alertaram que alguns dos cortes poderiam ser prejudiciais para partes da empresa que já estão lutando para concluir tarefas difíceis. Em janeiro, o Google cortou centenas de funcionários de sua principal organização de engenharia, responsável pela infraestrutura e pelas ferramentas usadas em toda a empresa.
Uma das prioridades da divisão principal é ajudar o Google a cumprir a Lei dos Serviços Digitais (DSA) na Europa quando a lei entrar em vigor em 6 de março. A lei obrigará os gigantes da tecnologia a mostrar aos consumidores suas opções de serviços online, como navegadores da web, e os forçará a obter consentimento para compartilhar dados de usuários dentro da empresa. Mas os funcionários que estão trabalhando nos esforços temem que a empresa esteja atrasada e que possa ser difícil para o Google estar em total conformidade até o prazo final.
O Google diz que já havia começado a implantar telas de consentimento para usuários europeus em janeiro e que esperava introduzir mais mudanças antes do prazo final. Acrescentou que as recentes reduções de empregos em sua divisão principal não afetariam o cronograma.
Fim das experimentações
Durante muito tempo, os funcionários do Google foram incentivados a trabalhar em projetos experimentais. Mas, no último ano, fazer algo experimental provou ser arriscado, disseram quatro funcionários que falaram sob condição de anonimato. A empresa praticamente fechou a Área 120, sua incubadora interna que tentava desenvolver novos produtos e serviços, e alterou a estratégia do X, uma “fábrica de projetos inovadores” que tentava criar novas empresas.
O Google disse que os funcionários estavam constantemente fazendo “coisas extraordinariamente inovadoras e ambiciosas em toda a empresa”.
Os funcionários estão mais relutantes em solicitar os chamados projetos de 20%, ou projetos paralelos, que costumavam ser uma forma de explorar uma ideia fora de seu trabalho regular que eles consideravam interessante, disseram cinco pessoas. Essa foi uma mudança lamentável para Rupert Breheny, que passou 16 anos no Google, a maior parte em Zurique, trabalhando em produtos como o Google Street View no Maps.
“O que levava você ao Google era a paixão”, disse Breheny, que foi demitido no verão passado. “Você podia se divertir fazendo coisas. Foi assim por um longo tempo”.
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