Espalha como vírus; caduca feito disquete


O escritor Bráulio Tavares vai ao futebol para investigar o comportamento do jargão tecnológico

Por Redação Link
Atualização:

BRÁULIO TAVARES *, especial para o Estado

A Filosofia nasceu falando grego; o Direito, latim; e o futebol, inglês. A criação de uma cultura nova faz que tudo nela seja batizado no idioma de onde ela brotou. Daí que ainda hoje usamos expressões aparentemente bárbaras como silogismo, habeas corpus e gol.

Quando eu tinha dez anos, meu pai me levava ao estádio e dizia coisas tipo: “Não é possível o juiz marcar um free-kick nessa jogada! O full-back não fez nada e o center-forward estava em off-side”. Dizem que ingleses inventaram o foot-ball de 1863 e brasileiros criaram o futebol de hoje. Pode até ser. Mas, mais do que traduzir o jogo, recriamos uma língua. Escanteio, zagueiro, volante, impedimento; lençol, elástico, pedalada, trivela, cavadinha, três-dedos. Os resíduos anglo-saxões são mínimos: gol, bola, drible, pênalti, futebol…

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O mesmo acontece com a tecnologia, inventada e disseminada em inglês. Profetizo, com a ousadia caolha dos profetas, que no universo de computadores e internet os termos estrangeiros darão lugar a palavras aportuguesadas que a população preferir. Eu uso saite em vez de site. Sítio é simpático, mas duvido que pegue, por estar contaminado pela ideia de pequena propriedade rural. E o que dizer de drive? Por que não adotar logo draive, pendraive, já que é assim que falamos?

Mas há sutilezas. Prefiro websaite a uebsaite. Por quê? O W facilita a indexação remissiva de substantivos próprios e comuns, além de ser uma letra recém-anistiada, com o K e Y. E ueb vai longe demais na outra direção.

Termos informáticos caducam com rapidez. De vez em quando, digo “tenho isso no meu winchester”, a galera desaba de rir. Em 1991, um amigo me deu um disquete de 5 1/4 . Perguntei: “É um disco rígido?”. Ele: “Não, é um disco flexível.” Eu: “Mas é rígido”. Ele: “Eu sei. Vá se acostumando”.

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Antes eu falava torre. Depois, CPU. Agora não sei mais como chamar o monolito à minha esquerda, que deve ser um dos últimos do continente, porque hoje todo mundo usa laptop, que aliás mudou de nome: é notebook. Será assim no mundo inteiro? Quando viajamos achamos graça em pessoas de lugares distantes que usam termos de dez anos atrás. Toda viagem no espaço é uma viagem no tempo. O diálogo entre esses espaçotempos faz mover a Bolsa de Valores em que umas palavras se alastram como vírus e outras caducam como disquetes

* BRÁULIO TAVARES, escritor, é autor de A Máquina Voadora (Rocco, 1994)

BRÁULIO TAVARES *, especial para o Estado

A Filosofia nasceu falando grego; o Direito, latim; e o futebol, inglês. A criação de uma cultura nova faz que tudo nela seja batizado no idioma de onde ela brotou. Daí que ainda hoje usamos expressões aparentemente bárbaras como silogismo, habeas corpus e gol.

Quando eu tinha dez anos, meu pai me levava ao estádio e dizia coisas tipo: “Não é possível o juiz marcar um free-kick nessa jogada! O full-back não fez nada e o center-forward estava em off-side”. Dizem que ingleses inventaram o foot-ball de 1863 e brasileiros criaram o futebol de hoje. Pode até ser. Mas, mais do que traduzir o jogo, recriamos uma língua. Escanteio, zagueiro, volante, impedimento; lençol, elástico, pedalada, trivela, cavadinha, três-dedos. Os resíduos anglo-saxões são mínimos: gol, bola, drible, pênalti, futebol…

O mesmo acontece com a tecnologia, inventada e disseminada em inglês. Profetizo, com a ousadia caolha dos profetas, que no universo de computadores e internet os termos estrangeiros darão lugar a palavras aportuguesadas que a população preferir. Eu uso saite em vez de site. Sítio é simpático, mas duvido que pegue, por estar contaminado pela ideia de pequena propriedade rural. E o que dizer de drive? Por que não adotar logo draive, pendraive, já que é assim que falamos?

Mas há sutilezas. Prefiro websaite a uebsaite. Por quê? O W facilita a indexação remissiva de substantivos próprios e comuns, além de ser uma letra recém-anistiada, com o K e Y. E ueb vai longe demais na outra direção.

Termos informáticos caducam com rapidez. De vez em quando, digo “tenho isso no meu winchester”, a galera desaba de rir. Em 1991, um amigo me deu um disquete de 5 1/4 . Perguntei: “É um disco rígido?”. Ele: “Não, é um disco flexível.” Eu: “Mas é rígido”. Ele: “Eu sei. Vá se acostumando”.

Antes eu falava torre. Depois, CPU. Agora não sei mais como chamar o monolito à minha esquerda, que deve ser um dos últimos do continente, porque hoje todo mundo usa laptop, que aliás mudou de nome: é notebook. Será assim no mundo inteiro? Quando viajamos achamos graça em pessoas de lugares distantes que usam termos de dez anos atrás. Toda viagem no espaço é uma viagem no tempo. O diálogo entre esses espaçotempos faz mover a Bolsa de Valores em que umas palavras se alastram como vírus e outras caducam como disquetes

* BRÁULIO TAVARES, escritor, é autor de A Máquina Voadora (Rocco, 1994)

BRÁULIO TAVARES *, especial para o Estado

A Filosofia nasceu falando grego; o Direito, latim; e o futebol, inglês. A criação de uma cultura nova faz que tudo nela seja batizado no idioma de onde ela brotou. Daí que ainda hoje usamos expressões aparentemente bárbaras como silogismo, habeas corpus e gol.

Quando eu tinha dez anos, meu pai me levava ao estádio e dizia coisas tipo: “Não é possível o juiz marcar um free-kick nessa jogada! O full-back não fez nada e o center-forward estava em off-side”. Dizem que ingleses inventaram o foot-ball de 1863 e brasileiros criaram o futebol de hoje. Pode até ser. Mas, mais do que traduzir o jogo, recriamos uma língua. Escanteio, zagueiro, volante, impedimento; lençol, elástico, pedalada, trivela, cavadinha, três-dedos. Os resíduos anglo-saxões são mínimos: gol, bola, drible, pênalti, futebol…

O mesmo acontece com a tecnologia, inventada e disseminada em inglês. Profetizo, com a ousadia caolha dos profetas, que no universo de computadores e internet os termos estrangeiros darão lugar a palavras aportuguesadas que a população preferir. Eu uso saite em vez de site. Sítio é simpático, mas duvido que pegue, por estar contaminado pela ideia de pequena propriedade rural. E o que dizer de drive? Por que não adotar logo draive, pendraive, já que é assim que falamos?

Mas há sutilezas. Prefiro websaite a uebsaite. Por quê? O W facilita a indexação remissiva de substantivos próprios e comuns, além de ser uma letra recém-anistiada, com o K e Y. E ueb vai longe demais na outra direção.

Termos informáticos caducam com rapidez. De vez em quando, digo “tenho isso no meu winchester”, a galera desaba de rir. Em 1991, um amigo me deu um disquete de 5 1/4 . Perguntei: “É um disco rígido?”. Ele: “Não, é um disco flexível.” Eu: “Mas é rígido”. Ele: “Eu sei. Vá se acostumando”.

Antes eu falava torre. Depois, CPU. Agora não sei mais como chamar o monolito à minha esquerda, que deve ser um dos últimos do continente, porque hoje todo mundo usa laptop, que aliás mudou de nome: é notebook. Será assim no mundo inteiro? Quando viajamos achamos graça em pessoas de lugares distantes que usam termos de dez anos atrás. Toda viagem no espaço é uma viagem no tempo. O diálogo entre esses espaçotempos faz mover a Bolsa de Valores em que umas palavras se alastram como vírus e outras caducam como disquetes

* BRÁULIO TAVARES, escritor, é autor de A Máquina Voadora (Rocco, 1994)

BRÁULIO TAVARES *, especial para o Estado

A Filosofia nasceu falando grego; o Direito, latim; e o futebol, inglês. A criação de uma cultura nova faz que tudo nela seja batizado no idioma de onde ela brotou. Daí que ainda hoje usamos expressões aparentemente bárbaras como silogismo, habeas corpus e gol.

Quando eu tinha dez anos, meu pai me levava ao estádio e dizia coisas tipo: “Não é possível o juiz marcar um free-kick nessa jogada! O full-back não fez nada e o center-forward estava em off-side”. Dizem que ingleses inventaram o foot-ball de 1863 e brasileiros criaram o futebol de hoje. Pode até ser. Mas, mais do que traduzir o jogo, recriamos uma língua. Escanteio, zagueiro, volante, impedimento; lençol, elástico, pedalada, trivela, cavadinha, três-dedos. Os resíduos anglo-saxões são mínimos: gol, bola, drible, pênalti, futebol…

O mesmo acontece com a tecnologia, inventada e disseminada em inglês. Profetizo, com a ousadia caolha dos profetas, que no universo de computadores e internet os termos estrangeiros darão lugar a palavras aportuguesadas que a população preferir. Eu uso saite em vez de site. Sítio é simpático, mas duvido que pegue, por estar contaminado pela ideia de pequena propriedade rural. E o que dizer de drive? Por que não adotar logo draive, pendraive, já que é assim que falamos?

Mas há sutilezas. Prefiro websaite a uebsaite. Por quê? O W facilita a indexação remissiva de substantivos próprios e comuns, além de ser uma letra recém-anistiada, com o K e Y. E ueb vai longe demais na outra direção.

Termos informáticos caducam com rapidez. De vez em quando, digo “tenho isso no meu winchester”, a galera desaba de rir. Em 1991, um amigo me deu um disquete de 5 1/4 . Perguntei: “É um disco rígido?”. Ele: “Não, é um disco flexível.” Eu: “Mas é rígido”. Ele: “Eu sei. Vá se acostumando”.

Antes eu falava torre. Depois, CPU. Agora não sei mais como chamar o monolito à minha esquerda, que deve ser um dos últimos do continente, porque hoje todo mundo usa laptop, que aliás mudou de nome: é notebook. Será assim no mundo inteiro? Quando viajamos achamos graça em pessoas de lugares distantes que usam termos de dez anos atrás. Toda viagem no espaço é uma viagem no tempo. O diálogo entre esses espaçotempos faz mover a Bolsa de Valores em que umas palavras se alastram como vírus e outras caducam como disquetes

* BRÁULIO TAVARES, escritor, é autor de A Máquina Voadora (Rocco, 1994)

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