Um dos grandes defeitos da campanha curta imposta pela lei eleitoral é que mal temos tempo para pensar. Em apenas um mês, mais eficaz que debater é botar todas as fichas no jogo das emoções. E, num ambiente assim, para quem aposta na desinformação o trabalho é facilitado. Ainda não é possível precisar, mas esta eleição tem cara de estar ainda pior nas redes sociais do que a de 2018.
Os indícios são muitos e o problema está descentralizado. Em 2018, o foco estava no Facebook e no WhatsApp. Ambos ainda são parte importante do problema que temos. Mas, agora, ainda há Telegram, TikTok e Kwai. Uma análise encomendada pela Agência Pública ao projeto Eleições Sem Fake, da UFMG, descobriu que foi nas duas plataformas de vídeos curtos que surgiram mais de 40% dos filmetes relacionados à campanha postos no WhatsApp.
Leia também
Em vídeos curtos é muito fácil tirar uma fala de contexto ou mesmo falsificar. Basta unir a falta de contexto ao consumo passivo, sem reflexão, que o veículo para falsificar a informação se torna perfeito.
Mas os chineses não são os únicos problemáticos. A Meta, holding do Facebook, Instagram e WhatsApp, havia prometido maior controle e filtros sofisticados, mas não entregou nada. A ONG internacional Global Witness criou dez peças publicitárias com informações falsas sobre a eleição brasileira e tentou publicá-las no Facebook. As dez foram aceitas pelo sistema. Não foram ao ar porque a ONG só queria testar os filtros.
A experiência foi confirmada por outra organização estrangeira, a SumOfUs. Com base em uma amostra de 2,8 mil anúncios no Facebook brasileiro, encontrou dezenas com o objetivo de insuflar violência política e minar a credibilidade do sistema eleitoral. Os mesmos pesquisadores descobriram uma quantidade imensa de conteúdos estimulando um golpe de Estado em apenas três grupos de WhatsApp.
Tudo indica que Jair Bolsonaro perderá a eleição. Não temos como prever o impacto da campanha golpista no caso de derrota. Dificilmente terminaria num golpe de sucesso, mas o temor por violência é real.
Temos um problema que tem de ser encarado com mais seriedade. As principais plataformas em atividade no Brasil são terreno fértil para ameaças à democracia. Estamos na segunda eleição presidencial em que estas companhias nada fazem. No caso da Meta, sua irresponsabilidade já é recorrente. Não é uma companhia que tenha qualquer compromisso com valores democráticos.
Que tipo de sociedade somos se permitirmos que tudo aconteça de novo em 2026?