A Apple apresentou, na segunda-feira, 9, o iPhone 16, que será lançado em 20 de setembro, com uma característica marcante: Seu chip A18 foi “projetado para a Apple Intelligence”, a plataforma “inacabada” de inteligência artificial (IA) da empresa. Ele supostamente faz coisas como resumir mensagens, escrever e-mails e limpar fotos.
Então, será que a IA da Apple vale a pena? Testando uma versão de pré-lançamento do software, descobri que ela às vezes é útil - e às vezes muito estranha.
Estranhas, como a vez em que me alertou que Donald Trump havia apoiado Tim Walz para presidente. E a vez em que ele inventou que eu estava lecionando na UC Berkeley. (Não.) E a vez em que eleamarcou um óbvio golpe digital como “prioritário” na minha caia de e-mail. (Caramba). E a vez em que ela editou uma selfie para me deixar careca.
Na versão que estou usando, a Apple Intelligence inventa coisas de forma desconfortável. Isso geralmente acontece com informações de baixa importância, como resumos de alertas de aplicativos, mas, mesmo assim, é estranho ver fabricações e interpretações erradas da sua vida aparecerem na tela de bloqueio, na caixa de entrada e em outras partes essenciais do seu iPhone.
Isso significa que, para qualquer pessoa que esteja pensando em gastar US$ 800 (a partir de R$ 7,3 mil no Brasil) em um novo iPhone 16, talvez seja melhor esperar até que a Apple Intelligence descubra o equilíbrio certo entre o útil e o sem sentido - precisamos também entender seu efeito na duração da bateria. Até lá, um modelo mais antigo ou um iPhone lhe servirá muito bem e custará menos. E, no próximo ano, eles terão um iPhone ainda melhor para vender para você.
A Apple diz que o software de IA que estou testando, a terceira versão para desenvolvedores do iOS 18.1, não está concluída e não é necessariamente representativa do produto final.
Normalmente, eu não me daria ao trabalho de escrever sobre software beta. Mas estou escrevendo sobre a Apple Intelligence agora porque a empresa passou mais de 15 minutos fazendo marketing dele durante o evento de lançamento do iPhone 16. “Isso marca o início de uma nova e empolgante era”, disse o CEO Tim Cook. Se a Apple quer que você compre um novo iPhone para ela agora, vou testar de forma independente o que está disponível.
Há recursos da Apple Intelligence que ainda não estavam disponíveis para teste, como emojis de IA generativa personalizáveis. Ainda não sabemos se a assistente Siri será realmente mais inteligente. Perguntei para ela sobre uma vacina e ela não me deu as melhores informações dos Centros de Controle de Doenças; a Apple diz que não usou a Apple Intelligence para isso - foi a velha e simples Siri. Também não sabemos o efeito que a versão final terá sobre a duração da bateria do seu iPhone. Em meus testes prévios, minha bateria se esgota quatro ou mais horas antes a cada dia.
Se pareço cético, é por dois motivos: Primeiro, a Apple há anos vem distorcendo a verdade sobre os recursos reais de sua ferramenta de IA existente, a Siri. Em segundo lugar, já testei muitos produtos de IA generativa que se tornaram badalados, mas que decepcionaram os usuários com informações não confiáveis.
Além do marketing, a Apple sabe que a Apple Intelligence não está pronta. Uma versão com alguns recursos estará disponível “em versão beta” em outubro, segundo a empresa, para aqueles que optarem por ativá-la. Todos os recursos prometidos da Apple Intelligence podem não chegar aos usuários comuns do iPhone 16 e 15 Pro por semanas ou meses.
A má notícia é que é possível que o problema de precisão que eu continuo encontrando seja inerente à tecnologia de IA que a Apple está usando. Talvez tenhamos que nos acostumar com algum nível de absurdo agora espalhado por todos os nossos iPhones.
Quando a Apple Intelligence melhora as coisas
De certa forma, a Apple Intelligence é uma maneira mais inteligente e provavelmente mais segura de levar a IA a um produto de consumo em massa do que a que vimos em outras grandes empresas de tecnologia. Não se trata apenas de um chatbot onisciente acoplado ao seu telefone. Na melhor das hipóteses, a Apple Intelligence integra seus recursos aos aplicativos existentes de pequenas maneiras para acelerar as tarefas.
Eu achei útil de várias maneiras. Por exemplo, no aplicativo Fotos, a Apple Intelligence permite que você use uma linguagem mais natural para encontrar fotos de uma determinada ocasião. Ou você pode destacar uma parte de uma foto que considere perturbadora, e ela usará a IA generativa para fazê-la desaparecer.
O que você mais notará no trabalho da Apple Intelligence é a tentativa de resumir suas montanhas de informações recebidas. Por exemplo, o aplicativo Mail, tradicional há muito tempo, mostra duas linhas de visualização de cada e-mail para ajudá-lo a decidir se deve abri-lo ou não. Com a Apple Intelligence, essas duas linhas agora são um resumo escrito por IA, que pode lhe dar uma noção melhor de se você deseja abrir o e-mail. Ela sabe pular a frase “Espero que você esteja bem”.
O problema inevitável é que a Apple Intelligence às vezes erra, interpretando mal o significado do texto, invertendo os nomes das pessoas ou levando as imagens para uma direção desagradável.
Isso acontece porque os erros factuais - que o setor chama de alucinações - são inerentes a essa geração de tecnologia de IA. A IA generativa não foi projetada para a verdade, mas sim para procurar e recriar padrões. O Gemini do Google e o ChatGPT da OpenAI têm o mesmo problema.
Falei para a Apple sobre as muitas vezes em que vi a Apple Intelligence errar nos fatos (tive pelo menos de cinco a dez momentos de risada por dia). Ela diz que está trabalhando para melhorar a precisão. Mas o mesmo acontece com todas as outras empresas de IA, e isso tem se mostrado um grande desafio. Pesquisas recentes descobriram que a tecnologia de IA mais recente é péssima para resumir.
Para os usuários do iPhone, a questão é saber até que ponto a Apple conseguirá conter os erros em locais onde eles realmente não importam.
“A Apple está se inclinando para casos de uso de baixo risco e alta utilidade. Isso é inteligente”, diz o empresário Phil Libin, ex-CEO da Evernote, que agora dirige a startup de apresentação de vídeos mmhmm. (Como eu, ele também está testando o software de pré-lançamento).
Para ele, a Apple não está agindo como o Google, que adicionou ao seu mecanismo de busca respostas escritas por IA de alto risco que, às vezes, estão completamente erradas.
A maior categoria de erros que eu experimentei é, como diz Libin, de baixo risco: incômodos que me fazem revirar os olhos, mas não causam problemas.
- Ele resume os alertas do aplicativo da minha campainha com vídeo como algo sem sentido, como “Várias pessoas na porta da frente e na casa, com movimento recente na porta da frente”.
- Ele não entende de humor e, por isso, seus resumos de bate-papos com amigos e familiares ou de fotos podem ser ridiculamente idiotas. Certa vez, ele descreveu uma foto do meu lindo bebê como “grupo de pessoas em uma sala com paredes brancas”.
- Pedi à função “limpar” para arrumar meus cabelos rebeldes em uma selfie, e ela me fez ficar careca.
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Mas as coisas ficam cabeludas (perdoe o trocadilho) quando a Apple Intelligence inventa informações erradas. Ela sugeriu a reescrita de um e-mail que escrevi para meus vizinhos e que omitia uma pergunta importante que eu estava tentando fazer com que eles respondessem.
Pior ainda, houve ocasiões em que seus erros me induziram a tomar a atitude errada. Por exemplo, uma vez ele resumiu e elevou ao status de “prioridade” um e-mail que dizia que eu precisava alterar minha senha imediatamente. Na verdade, não era isso que o e-mail dizia - ele apenas me avisava para alterar minha senha se eu não fosse responsável por um login recente.
Ele também resumia e dava prioridade a um e-mail sobre a desativação do meu número de Seguro Social - era um golpe. Fico imaginando o que poderia ter acontecido se alguém não tivesse prestado mais atenção.
Há alguns motivos para sermos otimistas. Mesmo que a Apple não consiga se livrar dos erros, ela pode, e espera-se que o faça, minimizar os locais e tipos de informações de maior risco em que a Apple Intelligence é ativada. Por exemplo, ela deve evitar tentar resumir totalmente as notícias e as redes sociais. Foi assim que ela acabou me dizendo que Trump havia apoiado Walz, a partir de uma leitura incorreta de um alerta sobre o irmão de Walz.
Mas há o risco de que as falhas regulares possam nos fazer sentir que nossos smartphones são menos inteligentes, uma repetição da maneira como muitos já se sentem em relação à incompetência da Siri.
É difícil pensar em outra ocasião em que a Apple tenha pedido para receber seu dinheiro por algo tão inacabado.
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