AI Pin, aparelho sucesso na Semana da Moda em Paris, é finalmente lançado; conheça


Além de fashion, dispositivo quer substituir o smartphone

Por Erin Griffith e Tripp Mickle
Atualização:

THE NEW YORK TIMES - Dentro de um antigo estábulo de cavalos em São Francisco, EUA, uma onda de sons suaves emergiu de pequenos dispositivos que piscavam e estavam presos ao peito dos funcionários da startup chamada Humane.

Faltavam apenas algumas semanas para que o gadget da startup, o AI Pin, fosse revelado ao mundo após US$ 240 milhões em financiamento, 25 patentes, um ritmo constante de propaganda e parcerias com uma lista das principais empresas de tecnologia, incluindo OpenAI, Microsoft e Salesforce.

Após ganhar destaque na Semana da Moda em Paris, o aparelho tinha uma missão: libertar o mundo de seu vício em smartphones. A solução? Mais tecnologia.

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O casal Imran Chaudhri e Bethany Bongiorno, fundadores da Humane, imagina um futuro com menos dependência das telas que seu antigo empregador, a Apple. A inteligência artificial (IA) “pode criar uma experiência que permita que o computador fique essencialmente em segundo plano”, disse Chaudhri.

Eles estão anunciando o pin como o primeiro dispositivo artificialmente inteligente. Ele pode ser controlado falando em voz alta, tocando em um touch pad ou projetando um visor a laser na palma da mão. Em um instante, o assistente virtual do dispositivo pode enviar uma mensagem de texto, tocar uma música, tirar uma foto, fazer uma ligação ou traduzir uma conversa em tempo real para outro idioma.

AI Pin promete ser como uma assistente virtual palpável Foto: Humane/Reprodução
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O sistema conta com a IA para ajudar a responder perguntas e pode resumir as mensagens recebidas com um simples comando: “Me acompanhe”.

A tecnologia é um passo à frente da Siri, Alexa e Google Assistente. Ela pode acompanhar uma conversa de uma pergunta a outra, sem precisar de um contexto explícito. Também é capaz de editar uma única palavra em uma mensagem ditada, em vez de exigir que o usuário corrija um erro repetindo o texto do início ao fim, como fazem outros sistemas, e faz isso por meio de um dispositivo que lembra os crachás usados em Star Trek.

Para quem está por dentro da tecnologia, trata-se de um projeto revolucionário. Para quem está de fora, é uma fantasia de ficção científica.

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Na Humane, há uma profunda ansiedade com relação às próximas semanas. O setor de tecnologia tem um grande cemitério de produtos vestíveis que não conseguiram se firmar. A empresa vai começar a enviar os pins no próximo ano, e espera vender cerca de 100 mil unidades pelo valor de US$ 699 cada, com uma assinatura mensal de US$ 24 no primeiro ano.

Para que a startup seja bem-sucedida, as pessoas vão ter que aprender um novo sistema operacional, chamado Cosmos, e estar abertas a obter novos números de telefone para o dispositivo (o pin vem com seu próprio plano sem fio).

Os usuários também vão precisar aprender a ditar em vez de digitar textos e trocar uma câmera com zoom por fotos em grande angular. Será necessário paciência pois alguns recursos, como reconhecimento de objetos e vídeos, não estarão disponíveis inicialmente e o pin às vezes pode falhar, como aconteceu durante algumas demonstrações da empresa para o The New York Times.

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Sam Altman, CEO da OpenAI, disse em uma entrevista que espera que a IA seja “uma grande parte” da forma como interagimos com os computadores. Ele investiu na Humane e em outra empresa de IA, a Rewind AI, que planeja fabricar um colar que registrará o que as pessoas dizem e ouvem. Ele também discutiu a possibilidade de formar uma equipe com Jony Ive, ex-designer-chefe da Apple, para criar um gadget de IA com ambição semelhante à da Humane.

O Humane tem a vantagem de ser o primeiro desses dispositivos focados em IA a ser disponibilizado, mas Altman disse em uma entrevista que isso não era garantia de sucesso. “Isso caberá aos clientes decidir”, disse ele. “Talvez seja uma ponte longe demais”, disse ele, “ou talvez as pessoas pensem: ‘Isso é muito melhor do que meu telefone’”. Muitas tecnologias que pareciam ser uma aposta certa acabam sendo vendidas com 90% de desconto na Best Buy, acrescentou.

Culpa do iPhone

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Bongiorno e Chaudhri têm um casamento de contrastes.

Eles se conheceram na Apple em 2008. Chaudhri estava trabalhando na interface humana da empresa, definindo os movimentos de deslizar e arrastar que controlam o iPhone. Bongiorno era gerente de programa do iPhone e do iPad. Eles trabalharam juntos até deixarem a Apple no final de 2016.

Um monge budista chamado Brother Spirit os levou à Humane. Chaudhri e Bongiorno haviam desenvolvido conceitos para dois produtos de IA: um dispositivo para a saúde da mulher e o Pin. Brother Spirit, que eles conheceram por meio de seu acupunturista, recomendou que eles compartilhassem as ideias com seu amigo, Marc Benioff, fundador da Salesforce.

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Sentados sob uma palmeira em um penhasco acima do oceano na casa de Benioff no Havaí em 2018, eles explicaram os dois dispositivos. “Este aqui”, disse Benioff, apontando para o AI Pin, enquanto os golfinhos invadiam as ondas abaixo, “é enorme”.

“Será uma empresa gigantesca”, acrescentou.

Humane planeja vender 100 mil exemplares no primeiro ano de venda do pin Foto: EFE/ Humane

O objetivo da Humane era replicar a utilidade do iPhone sem nenhum dos componentes que nos tornam viciados - o efeito da dopamina de arrastar para atualizar um feed do Facebook ou deslizar para ver um novo vídeo do TikTok. Eles fizeram experimentos secretos com componentes de hardware e criaram um assistente virtual, como Siri ou Alexa, trabalhando com modelos de linguagem personalizados baseados, em parte, nas ofertas da OpenAI.

O elemento de ficção científica mais importante do dispositivo - o laser que projeta um menu de texto em uma mão - começou dentro de uma caixa do tamanho de uma caixa de fósforos. Foram necessários três anos para miniaturizá-lo.

A Humane estabeleceu uma cultura empresarial inspirada na Apple, incluindo seu sigilo. Durante sua fase de experimentação, a startup chamou a atenção ao anunciar investidores de alto nível, como Altman, e fazer declarações públicas grandiosas - embora vagas - sobre a criação da “próxima mudança entre humanos e computação”. A Humane também manteve a obsessão da Apple por detalhes de design, desde os cantos curvos do dispositivo e a embalagem branca reciclável até os banheiros em estilo japonês no escritório da empresa.

Mas a Humane se afastou da cultura rígida e exigente da Apple em alguns aspectos. A empresa incentivava a equipe a trabalhar em conjunto, questionar planos e se manifestar.

José Benitez Cong, um executivo de longa data da Apple que se considerava aposentado, juntou-se à Humane, em parte, para se redimir. Benitez Cong disse que estava “enojado” com o que o iPhone havia feito à sociedade, observando que seu filho conseguia imitar um movimento de deslizar com 1 ano de idade. “Isso poderia ser algo que me ajudaria a superar minha culpa de trabalhar no iPhone”, disse Benitez Cong.

Segurando a luz

O dispositivo está chegando em um momento em que o entusiasmo e o ceticismo em relação à IA atingem novos patamares a cada semana. Os pesquisadores do setor estão alertando sobre o risco existencial da tecnologia e os órgãos reguladores estão ansiosos para reprimi-la.

No entanto, os investidores estão despejando dinheiro avidamente nas startups de IA. Antes mesmo de a Humane lançar um produto, seus patrocinadores a avaliaram em US$ 850 milhões.

Além do valor do pin, os usuários terão de pagar cerca de US$ 20 mensais para utilizar o dispositivo Foto: EFE/ Humane

A empresa tentou promover uma mensagem de confiança e transparência, apesar de ter passado a maior parte de sua existência trabalhando em segredo. Os AI Pins da Humane têm o que a empresa chama de “luz de confiança” que pisca quando o dispositivo está sendo gravando - a Humane disse que não vende dados de usuários a terceiros nem os utiliza para treinar seus modelos de IA.

Nos meses que antecederam seu lançamento, a Humane alimentou a expectativa. Em abril, Chaudhri exibiu o projetor a laser do Pin durante uma palestra TED (mais tarde, as pessoas o acusaram de falsificar a demonstração, disse ele, mas ele garantiu que era real). Em setembro, em um eco do lançamento do Apple Watch, a supermodelo Naomi Campbell usou o pin da Humane - quase imperceptível sem que se saiba procurá-lo - em um blazer Coperni cinza na passarela da Semana da Moda em Paris.

Loja de aplicativos de IA

Os defensores da Humane têm uma maneira simples de descartar o ceticismo sobre suas perspectivas - eles invocam o primeiro iPod. Considerado desajeitado, ele tinha apenas um uso, tocar músicas, mas lançou as bases para a verdadeira revolução, os smartphones. Da mesma forma, a Humane prevê um ecossistema inteiro de empresas criando recursos para seu sistema operacional - uma versão de IA da App Store da Apple.

Em uma demonstração no escritório da Humane de um recurso que será implementado em uma versão futura do produto, um designer de software pegou um biscoito de chocolate e tocou o Pin em seu peito esquerdo e perguntou: “Quanto açúcar tem aqui?”

“Desculpe-me, mas não consegui pesquisar a quantidade de açúcar em um biscoito de aveia com passas”, disse o assistente virtual.

Chaudhri ignorou o erro. “Para ser justo, tenho dificuldade em saber a diferença entre um biscoito de chocolate e um biscoito de aveia e passas.”

A ambição da Humane de revolucionar o smartphone é audaciosa, criativa e até mesmo irracional; o tipo de coisa pela qual o Vale do Silício deveria ser conhecido, mas que os críticos lamentam, nos últimos anos se transformou em frivolidades incrementais, como aplicativos de selfie e caminhões de pizza robóticos.

Mas mesmo depois de meses usando seus AI Pins o dia todo, os fundadores da Humane não conseguem se desligar totalmente de suas telas. “Estamos usando menos nossos smartphones?” perguntou Chaudhri. “Estamos usando-os de forma diferente.” /TRADUZIDO POR ALICE LABATE

THE NEW YORK TIMES - Dentro de um antigo estábulo de cavalos em São Francisco, EUA, uma onda de sons suaves emergiu de pequenos dispositivos que piscavam e estavam presos ao peito dos funcionários da startup chamada Humane.

Faltavam apenas algumas semanas para que o gadget da startup, o AI Pin, fosse revelado ao mundo após US$ 240 milhões em financiamento, 25 patentes, um ritmo constante de propaganda e parcerias com uma lista das principais empresas de tecnologia, incluindo OpenAI, Microsoft e Salesforce.

Após ganhar destaque na Semana da Moda em Paris, o aparelho tinha uma missão: libertar o mundo de seu vício em smartphones. A solução? Mais tecnologia.

O casal Imran Chaudhri e Bethany Bongiorno, fundadores da Humane, imagina um futuro com menos dependência das telas que seu antigo empregador, a Apple. A inteligência artificial (IA) “pode criar uma experiência que permita que o computador fique essencialmente em segundo plano”, disse Chaudhri.

Eles estão anunciando o pin como o primeiro dispositivo artificialmente inteligente. Ele pode ser controlado falando em voz alta, tocando em um touch pad ou projetando um visor a laser na palma da mão. Em um instante, o assistente virtual do dispositivo pode enviar uma mensagem de texto, tocar uma música, tirar uma foto, fazer uma ligação ou traduzir uma conversa em tempo real para outro idioma.

AI Pin promete ser como uma assistente virtual palpável Foto: Humane/Reprodução

O sistema conta com a IA para ajudar a responder perguntas e pode resumir as mensagens recebidas com um simples comando: “Me acompanhe”.

A tecnologia é um passo à frente da Siri, Alexa e Google Assistente. Ela pode acompanhar uma conversa de uma pergunta a outra, sem precisar de um contexto explícito. Também é capaz de editar uma única palavra em uma mensagem ditada, em vez de exigir que o usuário corrija um erro repetindo o texto do início ao fim, como fazem outros sistemas, e faz isso por meio de um dispositivo que lembra os crachás usados em Star Trek.

Para quem está por dentro da tecnologia, trata-se de um projeto revolucionário. Para quem está de fora, é uma fantasia de ficção científica.

Na Humane, há uma profunda ansiedade com relação às próximas semanas. O setor de tecnologia tem um grande cemitério de produtos vestíveis que não conseguiram se firmar. A empresa vai começar a enviar os pins no próximo ano, e espera vender cerca de 100 mil unidades pelo valor de US$ 699 cada, com uma assinatura mensal de US$ 24 no primeiro ano.

Para que a startup seja bem-sucedida, as pessoas vão ter que aprender um novo sistema operacional, chamado Cosmos, e estar abertas a obter novos números de telefone para o dispositivo (o pin vem com seu próprio plano sem fio).

Os usuários também vão precisar aprender a ditar em vez de digitar textos e trocar uma câmera com zoom por fotos em grande angular. Será necessário paciência pois alguns recursos, como reconhecimento de objetos e vídeos, não estarão disponíveis inicialmente e o pin às vezes pode falhar, como aconteceu durante algumas demonstrações da empresa para o The New York Times.

Sam Altman, CEO da OpenAI, disse em uma entrevista que espera que a IA seja “uma grande parte” da forma como interagimos com os computadores. Ele investiu na Humane e em outra empresa de IA, a Rewind AI, que planeja fabricar um colar que registrará o que as pessoas dizem e ouvem. Ele também discutiu a possibilidade de formar uma equipe com Jony Ive, ex-designer-chefe da Apple, para criar um gadget de IA com ambição semelhante à da Humane.

O Humane tem a vantagem de ser o primeiro desses dispositivos focados em IA a ser disponibilizado, mas Altman disse em uma entrevista que isso não era garantia de sucesso. “Isso caberá aos clientes decidir”, disse ele. “Talvez seja uma ponte longe demais”, disse ele, “ou talvez as pessoas pensem: ‘Isso é muito melhor do que meu telefone’”. Muitas tecnologias que pareciam ser uma aposta certa acabam sendo vendidas com 90% de desconto na Best Buy, acrescentou.

Culpa do iPhone

Bongiorno e Chaudhri têm um casamento de contrastes.

Eles se conheceram na Apple em 2008. Chaudhri estava trabalhando na interface humana da empresa, definindo os movimentos de deslizar e arrastar que controlam o iPhone. Bongiorno era gerente de programa do iPhone e do iPad. Eles trabalharam juntos até deixarem a Apple no final de 2016.

Um monge budista chamado Brother Spirit os levou à Humane. Chaudhri e Bongiorno haviam desenvolvido conceitos para dois produtos de IA: um dispositivo para a saúde da mulher e o Pin. Brother Spirit, que eles conheceram por meio de seu acupunturista, recomendou que eles compartilhassem as ideias com seu amigo, Marc Benioff, fundador da Salesforce.

Sentados sob uma palmeira em um penhasco acima do oceano na casa de Benioff no Havaí em 2018, eles explicaram os dois dispositivos. “Este aqui”, disse Benioff, apontando para o AI Pin, enquanto os golfinhos invadiam as ondas abaixo, “é enorme”.

“Será uma empresa gigantesca”, acrescentou.

Humane planeja vender 100 mil exemplares no primeiro ano de venda do pin Foto: EFE/ Humane

O objetivo da Humane era replicar a utilidade do iPhone sem nenhum dos componentes que nos tornam viciados - o efeito da dopamina de arrastar para atualizar um feed do Facebook ou deslizar para ver um novo vídeo do TikTok. Eles fizeram experimentos secretos com componentes de hardware e criaram um assistente virtual, como Siri ou Alexa, trabalhando com modelos de linguagem personalizados baseados, em parte, nas ofertas da OpenAI.

O elemento de ficção científica mais importante do dispositivo - o laser que projeta um menu de texto em uma mão - começou dentro de uma caixa do tamanho de uma caixa de fósforos. Foram necessários três anos para miniaturizá-lo.

A Humane estabeleceu uma cultura empresarial inspirada na Apple, incluindo seu sigilo. Durante sua fase de experimentação, a startup chamou a atenção ao anunciar investidores de alto nível, como Altman, e fazer declarações públicas grandiosas - embora vagas - sobre a criação da “próxima mudança entre humanos e computação”. A Humane também manteve a obsessão da Apple por detalhes de design, desde os cantos curvos do dispositivo e a embalagem branca reciclável até os banheiros em estilo japonês no escritório da empresa.

Mas a Humane se afastou da cultura rígida e exigente da Apple em alguns aspectos. A empresa incentivava a equipe a trabalhar em conjunto, questionar planos e se manifestar.

José Benitez Cong, um executivo de longa data da Apple que se considerava aposentado, juntou-se à Humane, em parte, para se redimir. Benitez Cong disse que estava “enojado” com o que o iPhone havia feito à sociedade, observando que seu filho conseguia imitar um movimento de deslizar com 1 ano de idade. “Isso poderia ser algo que me ajudaria a superar minha culpa de trabalhar no iPhone”, disse Benitez Cong.

Segurando a luz

O dispositivo está chegando em um momento em que o entusiasmo e o ceticismo em relação à IA atingem novos patamares a cada semana. Os pesquisadores do setor estão alertando sobre o risco existencial da tecnologia e os órgãos reguladores estão ansiosos para reprimi-la.

No entanto, os investidores estão despejando dinheiro avidamente nas startups de IA. Antes mesmo de a Humane lançar um produto, seus patrocinadores a avaliaram em US$ 850 milhões.

Além do valor do pin, os usuários terão de pagar cerca de US$ 20 mensais para utilizar o dispositivo Foto: EFE/ Humane

A empresa tentou promover uma mensagem de confiança e transparência, apesar de ter passado a maior parte de sua existência trabalhando em segredo. Os AI Pins da Humane têm o que a empresa chama de “luz de confiança” que pisca quando o dispositivo está sendo gravando - a Humane disse que não vende dados de usuários a terceiros nem os utiliza para treinar seus modelos de IA.

Nos meses que antecederam seu lançamento, a Humane alimentou a expectativa. Em abril, Chaudhri exibiu o projetor a laser do Pin durante uma palestra TED (mais tarde, as pessoas o acusaram de falsificar a demonstração, disse ele, mas ele garantiu que era real). Em setembro, em um eco do lançamento do Apple Watch, a supermodelo Naomi Campbell usou o pin da Humane - quase imperceptível sem que se saiba procurá-lo - em um blazer Coperni cinza na passarela da Semana da Moda em Paris.

Loja de aplicativos de IA

Os defensores da Humane têm uma maneira simples de descartar o ceticismo sobre suas perspectivas - eles invocam o primeiro iPod. Considerado desajeitado, ele tinha apenas um uso, tocar músicas, mas lançou as bases para a verdadeira revolução, os smartphones. Da mesma forma, a Humane prevê um ecossistema inteiro de empresas criando recursos para seu sistema operacional - uma versão de IA da App Store da Apple.

Em uma demonstração no escritório da Humane de um recurso que será implementado em uma versão futura do produto, um designer de software pegou um biscoito de chocolate e tocou o Pin em seu peito esquerdo e perguntou: “Quanto açúcar tem aqui?”

“Desculpe-me, mas não consegui pesquisar a quantidade de açúcar em um biscoito de aveia com passas”, disse o assistente virtual.

Chaudhri ignorou o erro. “Para ser justo, tenho dificuldade em saber a diferença entre um biscoito de chocolate e um biscoito de aveia e passas.”

A ambição da Humane de revolucionar o smartphone é audaciosa, criativa e até mesmo irracional; o tipo de coisa pela qual o Vale do Silício deveria ser conhecido, mas que os críticos lamentam, nos últimos anos se transformou em frivolidades incrementais, como aplicativos de selfie e caminhões de pizza robóticos.

Mas mesmo depois de meses usando seus AI Pins o dia todo, os fundadores da Humane não conseguem se desligar totalmente de suas telas. “Estamos usando menos nossos smartphones?” perguntou Chaudhri. “Estamos usando-os de forma diferente.” /TRADUZIDO POR ALICE LABATE

THE NEW YORK TIMES - Dentro de um antigo estábulo de cavalos em São Francisco, EUA, uma onda de sons suaves emergiu de pequenos dispositivos que piscavam e estavam presos ao peito dos funcionários da startup chamada Humane.

Faltavam apenas algumas semanas para que o gadget da startup, o AI Pin, fosse revelado ao mundo após US$ 240 milhões em financiamento, 25 patentes, um ritmo constante de propaganda e parcerias com uma lista das principais empresas de tecnologia, incluindo OpenAI, Microsoft e Salesforce.

Após ganhar destaque na Semana da Moda em Paris, o aparelho tinha uma missão: libertar o mundo de seu vício em smartphones. A solução? Mais tecnologia.

O casal Imran Chaudhri e Bethany Bongiorno, fundadores da Humane, imagina um futuro com menos dependência das telas que seu antigo empregador, a Apple. A inteligência artificial (IA) “pode criar uma experiência que permita que o computador fique essencialmente em segundo plano”, disse Chaudhri.

Eles estão anunciando o pin como o primeiro dispositivo artificialmente inteligente. Ele pode ser controlado falando em voz alta, tocando em um touch pad ou projetando um visor a laser na palma da mão. Em um instante, o assistente virtual do dispositivo pode enviar uma mensagem de texto, tocar uma música, tirar uma foto, fazer uma ligação ou traduzir uma conversa em tempo real para outro idioma.

AI Pin promete ser como uma assistente virtual palpável Foto: Humane/Reprodução

O sistema conta com a IA para ajudar a responder perguntas e pode resumir as mensagens recebidas com um simples comando: “Me acompanhe”.

A tecnologia é um passo à frente da Siri, Alexa e Google Assistente. Ela pode acompanhar uma conversa de uma pergunta a outra, sem precisar de um contexto explícito. Também é capaz de editar uma única palavra em uma mensagem ditada, em vez de exigir que o usuário corrija um erro repetindo o texto do início ao fim, como fazem outros sistemas, e faz isso por meio de um dispositivo que lembra os crachás usados em Star Trek.

Para quem está por dentro da tecnologia, trata-se de um projeto revolucionário. Para quem está de fora, é uma fantasia de ficção científica.

Na Humane, há uma profunda ansiedade com relação às próximas semanas. O setor de tecnologia tem um grande cemitério de produtos vestíveis que não conseguiram se firmar. A empresa vai começar a enviar os pins no próximo ano, e espera vender cerca de 100 mil unidades pelo valor de US$ 699 cada, com uma assinatura mensal de US$ 24 no primeiro ano.

Para que a startup seja bem-sucedida, as pessoas vão ter que aprender um novo sistema operacional, chamado Cosmos, e estar abertas a obter novos números de telefone para o dispositivo (o pin vem com seu próprio plano sem fio).

Os usuários também vão precisar aprender a ditar em vez de digitar textos e trocar uma câmera com zoom por fotos em grande angular. Será necessário paciência pois alguns recursos, como reconhecimento de objetos e vídeos, não estarão disponíveis inicialmente e o pin às vezes pode falhar, como aconteceu durante algumas demonstrações da empresa para o The New York Times.

Sam Altman, CEO da OpenAI, disse em uma entrevista que espera que a IA seja “uma grande parte” da forma como interagimos com os computadores. Ele investiu na Humane e em outra empresa de IA, a Rewind AI, que planeja fabricar um colar que registrará o que as pessoas dizem e ouvem. Ele também discutiu a possibilidade de formar uma equipe com Jony Ive, ex-designer-chefe da Apple, para criar um gadget de IA com ambição semelhante à da Humane.

O Humane tem a vantagem de ser o primeiro desses dispositivos focados em IA a ser disponibilizado, mas Altman disse em uma entrevista que isso não era garantia de sucesso. “Isso caberá aos clientes decidir”, disse ele. “Talvez seja uma ponte longe demais”, disse ele, “ou talvez as pessoas pensem: ‘Isso é muito melhor do que meu telefone’”. Muitas tecnologias que pareciam ser uma aposta certa acabam sendo vendidas com 90% de desconto na Best Buy, acrescentou.

Culpa do iPhone

Bongiorno e Chaudhri têm um casamento de contrastes.

Eles se conheceram na Apple em 2008. Chaudhri estava trabalhando na interface humana da empresa, definindo os movimentos de deslizar e arrastar que controlam o iPhone. Bongiorno era gerente de programa do iPhone e do iPad. Eles trabalharam juntos até deixarem a Apple no final de 2016.

Um monge budista chamado Brother Spirit os levou à Humane. Chaudhri e Bongiorno haviam desenvolvido conceitos para dois produtos de IA: um dispositivo para a saúde da mulher e o Pin. Brother Spirit, que eles conheceram por meio de seu acupunturista, recomendou que eles compartilhassem as ideias com seu amigo, Marc Benioff, fundador da Salesforce.

Sentados sob uma palmeira em um penhasco acima do oceano na casa de Benioff no Havaí em 2018, eles explicaram os dois dispositivos. “Este aqui”, disse Benioff, apontando para o AI Pin, enquanto os golfinhos invadiam as ondas abaixo, “é enorme”.

“Será uma empresa gigantesca”, acrescentou.

Humane planeja vender 100 mil exemplares no primeiro ano de venda do pin Foto: EFE/ Humane

O objetivo da Humane era replicar a utilidade do iPhone sem nenhum dos componentes que nos tornam viciados - o efeito da dopamina de arrastar para atualizar um feed do Facebook ou deslizar para ver um novo vídeo do TikTok. Eles fizeram experimentos secretos com componentes de hardware e criaram um assistente virtual, como Siri ou Alexa, trabalhando com modelos de linguagem personalizados baseados, em parte, nas ofertas da OpenAI.

O elemento de ficção científica mais importante do dispositivo - o laser que projeta um menu de texto em uma mão - começou dentro de uma caixa do tamanho de uma caixa de fósforos. Foram necessários três anos para miniaturizá-lo.

A Humane estabeleceu uma cultura empresarial inspirada na Apple, incluindo seu sigilo. Durante sua fase de experimentação, a startup chamou a atenção ao anunciar investidores de alto nível, como Altman, e fazer declarações públicas grandiosas - embora vagas - sobre a criação da “próxima mudança entre humanos e computação”. A Humane também manteve a obsessão da Apple por detalhes de design, desde os cantos curvos do dispositivo e a embalagem branca reciclável até os banheiros em estilo japonês no escritório da empresa.

Mas a Humane se afastou da cultura rígida e exigente da Apple em alguns aspectos. A empresa incentivava a equipe a trabalhar em conjunto, questionar planos e se manifestar.

José Benitez Cong, um executivo de longa data da Apple que se considerava aposentado, juntou-se à Humane, em parte, para se redimir. Benitez Cong disse que estava “enojado” com o que o iPhone havia feito à sociedade, observando que seu filho conseguia imitar um movimento de deslizar com 1 ano de idade. “Isso poderia ser algo que me ajudaria a superar minha culpa de trabalhar no iPhone”, disse Benitez Cong.

Segurando a luz

O dispositivo está chegando em um momento em que o entusiasmo e o ceticismo em relação à IA atingem novos patamares a cada semana. Os pesquisadores do setor estão alertando sobre o risco existencial da tecnologia e os órgãos reguladores estão ansiosos para reprimi-la.

No entanto, os investidores estão despejando dinheiro avidamente nas startups de IA. Antes mesmo de a Humane lançar um produto, seus patrocinadores a avaliaram em US$ 850 milhões.

Além do valor do pin, os usuários terão de pagar cerca de US$ 20 mensais para utilizar o dispositivo Foto: EFE/ Humane

A empresa tentou promover uma mensagem de confiança e transparência, apesar de ter passado a maior parte de sua existência trabalhando em segredo. Os AI Pins da Humane têm o que a empresa chama de “luz de confiança” que pisca quando o dispositivo está sendo gravando - a Humane disse que não vende dados de usuários a terceiros nem os utiliza para treinar seus modelos de IA.

Nos meses que antecederam seu lançamento, a Humane alimentou a expectativa. Em abril, Chaudhri exibiu o projetor a laser do Pin durante uma palestra TED (mais tarde, as pessoas o acusaram de falsificar a demonstração, disse ele, mas ele garantiu que era real). Em setembro, em um eco do lançamento do Apple Watch, a supermodelo Naomi Campbell usou o pin da Humane - quase imperceptível sem que se saiba procurá-lo - em um blazer Coperni cinza na passarela da Semana da Moda em Paris.

Loja de aplicativos de IA

Os defensores da Humane têm uma maneira simples de descartar o ceticismo sobre suas perspectivas - eles invocam o primeiro iPod. Considerado desajeitado, ele tinha apenas um uso, tocar músicas, mas lançou as bases para a verdadeira revolução, os smartphones. Da mesma forma, a Humane prevê um ecossistema inteiro de empresas criando recursos para seu sistema operacional - uma versão de IA da App Store da Apple.

Em uma demonstração no escritório da Humane de um recurso que será implementado em uma versão futura do produto, um designer de software pegou um biscoito de chocolate e tocou o Pin em seu peito esquerdo e perguntou: “Quanto açúcar tem aqui?”

“Desculpe-me, mas não consegui pesquisar a quantidade de açúcar em um biscoito de aveia com passas”, disse o assistente virtual.

Chaudhri ignorou o erro. “Para ser justo, tenho dificuldade em saber a diferença entre um biscoito de chocolate e um biscoito de aveia e passas.”

A ambição da Humane de revolucionar o smartphone é audaciosa, criativa e até mesmo irracional; o tipo de coisa pela qual o Vale do Silício deveria ser conhecido, mas que os críticos lamentam, nos últimos anos se transformou em frivolidades incrementais, como aplicativos de selfie e caminhões de pizza robóticos.

Mas mesmo depois de meses usando seus AI Pins o dia todo, os fundadores da Humane não conseguem se desligar totalmente de suas telas. “Estamos usando menos nossos smartphones?” perguntou Chaudhri. “Estamos usando-os de forma diferente.” /TRADUZIDO POR ALICE LABATE

THE NEW YORK TIMES - Dentro de um antigo estábulo de cavalos em São Francisco, EUA, uma onda de sons suaves emergiu de pequenos dispositivos que piscavam e estavam presos ao peito dos funcionários da startup chamada Humane.

Faltavam apenas algumas semanas para que o gadget da startup, o AI Pin, fosse revelado ao mundo após US$ 240 milhões em financiamento, 25 patentes, um ritmo constante de propaganda e parcerias com uma lista das principais empresas de tecnologia, incluindo OpenAI, Microsoft e Salesforce.

Após ganhar destaque na Semana da Moda em Paris, o aparelho tinha uma missão: libertar o mundo de seu vício em smartphones. A solução? Mais tecnologia.

O casal Imran Chaudhri e Bethany Bongiorno, fundadores da Humane, imagina um futuro com menos dependência das telas que seu antigo empregador, a Apple. A inteligência artificial (IA) “pode criar uma experiência que permita que o computador fique essencialmente em segundo plano”, disse Chaudhri.

Eles estão anunciando o pin como o primeiro dispositivo artificialmente inteligente. Ele pode ser controlado falando em voz alta, tocando em um touch pad ou projetando um visor a laser na palma da mão. Em um instante, o assistente virtual do dispositivo pode enviar uma mensagem de texto, tocar uma música, tirar uma foto, fazer uma ligação ou traduzir uma conversa em tempo real para outro idioma.

AI Pin promete ser como uma assistente virtual palpável Foto: Humane/Reprodução

O sistema conta com a IA para ajudar a responder perguntas e pode resumir as mensagens recebidas com um simples comando: “Me acompanhe”.

A tecnologia é um passo à frente da Siri, Alexa e Google Assistente. Ela pode acompanhar uma conversa de uma pergunta a outra, sem precisar de um contexto explícito. Também é capaz de editar uma única palavra em uma mensagem ditada, em vez de exigir que o usuário corrija um erro repetindo o texto do início ao fim, como fazem outros sistemas, e faz isso por meio de um dispositivo que lembra os crachás usados em Star Trek.

Para quem está por dentro da tecnologia, trata-se de um projeto revolucionário. Para quem está de fora, é uma fantasia de ficção científica.

Na Humane, há uma profunda ansiedade com relação às próximas semanas. O setor de tecnologia tem um grande cemitério de produtos vestíveis que não conseguiram se firmar. A empresa vai começar a enviar os pins no próximo ano, e espera vender cerca de 100 mil unidades pelo valor de US$ 699 cada, com uma assinatura mensal de US$ 24 no primeiro ano.

Para que a startup seja bem-sucedida, as pessoas vão ter que aprender um novo sistema operacional, chamado Cosmos, e estar abertas a obter novos números de telefone para o dispositivo (o pin vem com seu próprio plano sem fio).

Os usuários também vão precisar aprender a ditar em vez de digitar textos e trocar uma câmera com zoom por fotos em grande angular. Será necessário paciência pois alguns recursos, como reconhecimento de objetos e vídeos, não estarão disponíveis inicialmente e o pin às vezes pode falhar, como aconteceu durante algumas demonstrações da empresa para o The New York Times.

Sam Altman, CEO da OpenAI, disse em uma entrevista que espera que a IA seja “uma grande parte” da forma como interagimos com os computadores. Ele investiu na Humane e em outra empresa de IA, a Rewind AI, que planeja fabricar um colar que registrará o que as pessoas dizem e ouvem. Ele também discutiu a possibilidade de formar uma equipe com Jony Ive, ex-designer-chefe da Apple, para criar um gadget de IA com ambição semelhante à da Humane.

O Humane tem a vantagem de ser o primeiro desses dispositivos focados em IA a ser disponibilizado, mas Altman disse em uma entrevista que isso não era garantia de sucesso. “Isso caberá aos clientes decidir”, disse ele. “Talvez seja uma ponte longe demais”, disse ele, “ou talvez as pessoas pensem: ‘Isso é muito melhor do que meu telefone’”. Muitas tecnologias que pareciam ser uma aposta certa acabam sendo vendidas com 90% de desconto na Best Buy, acrescentou.

Culpa do iPhone

Bongiorno e Chaudhri têm um casamento de contrastes.

Eles se conheceram na Apple em 2008. Chaudhri estava trabalhando na interface humana da empresa, definindo os movimentos de deslizar e arrastar que controlam o iPhone. Bongiorno era gerente de programa do iPhone e do iPad. Eles trabalharam juntos até deixarem a Apple no final de 2016.

Um monge budista chamado Brother Spirit os levou à Humane. Chaudhri e Bongiorno haviam desenvolvido conceitos para dois produtos de IA: um dispositivo para a saúde da mulher e o Pin. Brother Spirit, que eles conheceram por meio de seu acupunturista, recomendou que eles compartilhassem as ideias com seu amigo, Marc Benioff, fundador da Salesforce.

Sentados sob uma palmeira em um penhasco acima do oceano na casa de Benioff no Havaí em 2018, eles explicaram os dois dispositivos. “Este aqui”, disse Benioff, apontando para o AI Pin, enquanto os golfinhos invadiam as ondas abaixo, “é enorme”.

“Será uma empresa gigantesca”, acrescentou.

Humane planeja vender 100 mil exemplares no primeiro ano de venda do pin Foto: EFE/ Humane

O objetivo da Humane era replicar a utilidade do iPhone sem nenhum dos componentes que nos tornam viciados - o efeito da dopamina de arrastar para atualizar um feed do Facebook ou deslizar para ver um novo vídeo do TikTok. Eles fizeram experimentos secretos com componentes de hardware e criaram um assistente virtual, como Siri ou Alexa, trabalhando com modelos de linguagem personalizados baseados, em parte, nas ofertas da OpenAI.

O elemento de ficção científica mais importante do dispositivo - o laser que projeta um menu de texto em uma mão - começou dentro de uma caixa do tamanho de uma caixa de fósforos. Foram necessários três anos para miniaturizá-lo.

A Humane estabeleceu uma cultura empresarial inspirada na Apple, incluindo seu sigilo. Durante sua fase de experimentação, a startup chamou a atenção ao anunciar investidores de alto nível, como Altman, e fazer declarações públicas grandiosas - embora vagas - sobre a criação da “próxima mudança entre humanos e computação”. A Humane também manteve a obsessão da Apple por detalhes de design, desde os cantos curvos do dispositivo e a embalagem branca reciclável até os banheiros em estilo japonês no escritório da empresa.

Mas a Humane se afastou da cultura rígida e exigente da Apple em alguns aspectos. A empresa incentivava a equipe a trabalhar em conjunto, questionar planos e se manifestar.

José Benitez Cong, um executivo de longa data da Apple que se considerava aposentado, juntou-se à Humane, em parte, para se redimir. Benitez Cong disse que estava “enojado” com o que o iPhone havia feito à sociedade, observando que seu filho conseguia imitar um movimento de deslizar com 1 ano de idade. “Isso poderia ser algo que me ajudaria a superar minha culpa de trabalhar no iPhone”, disse Benitez Cong.

Segurando a luz

O dispositivo está chegando em um momento em que o entusiasmo e o ceticismo em relação à IA atingem novos patamares a cada semana. Os pesquisadores do setor estão alertando sobre o risco existencial da tecnologia e os órgãos reguladores estão ansiosos para reprimi-la.

No entanto, os investidores estão despejando dinheiro avidamente nas startups de IA. Antes mesmo de a Humane lançar um produto, seus patrocinadores a avaliaram em US$ 850 milhões.

Além do valor do pin, os usuários terão de pagar cerca de US$ 20 mensais para utilizar o dispositivo Foto: EFE/ Humane

A empresa tentou promover uma mensagem de confiança e transparência, apesar de ter passado a maior parte de sua existência trabalhando em segredo. Os AI Pins da Humane têm o que a empresa chama de “luz de confiança” que pisca quando o dispositivo está sendo gravando - a Humane disse que não vende dados de usuários a terceiros nem os utiliza para treinar seus modelos de IA.

Nos meses que antecederam seu lançamento, a Humane alimentou a expectativa. Em abril, Chaudhri exibiu o projetor a laser do Pin durante uma palestra TED (mais tarde, as pessoas o acusaram de falsificar a demonstração, disse ele, mas ele garantiu que era real). Em setembro, em um eco do lançamento do Apple Watch, a supermodelo Naomi Campbell usou o pin da Humane - quase imperceptível sem que se saiba procurá-lo - em um blazer Coperni cinza na passarela da Semana da Moda em Paris.

Loja de aplicativos de IA

Os defensores da Humane têm uma maneira simples de descartar o ceticismo sobre suas perspectivas - eles invocam o primeiro iPod. Considerado desajeitado, ele tinha apenas um uso, tocar músicas, mas lançou as bases para a verdadeira revolução, os smartphones. Da mesma forma, a Humane prevê um ecossistema inteiro de empresas criando recursos para seu sistema operacional - uma versão de IA da App Store da Apple.

Em uma demonstração no escritório da Humane de um recurso que será implementado em uma versão futura do produto, um designer de software pegou um biscoito de chocolate e tocou o Pin em seu peito esquerdo e perguntou: “Quanto açúcar tem aqui?”

“Desculpe-me, mas não consegui pesquisar a quantidade de açúcar em um biscoito de aveia com passas”, disse o assistente virtual.

Chaudhri ignorou o erro. “Para ser justo, tenho dificuldade em saber a diferença entre um biscoito de chocolate e um biscoito de aveia e passas.”

A ambição da Humane de revolucionar o smartphone é audaciosa, criativa e até mesmo irracional; o tipo de coisa pela qual o Vale do Silício deveria ser conhecido, mas que os críticos lamentam, nos últimos anos se transformou em frivolidades incrementais, como aplicativos de selfie e caminhões de pizza robóticos.

Mas mesmo depois de meses usando seus AI Pins o dia todo, os fundadores da Humane não conseguem se desligar totalmente de suas telas. “Estamos usando menos nossos smartphones?” perguntou Chaudhri. “Estamos usando-os de forma diferente.” /TRADUZIDO POR ALICE LABATE

THE NEW YORK TIMES - Dentro de um antigo estábulo de cavalos em São Francisco, EUA, uma onda de sons suaves emergiu de pequenos dispositivos que piscavam e estavam presos ao peito dos funcionários da startup chamada Humane.

Faltavam apenas algumas semanas para que o gadget da startup, o AI Pin, fosse revelado ao mundo após US$ 240 milhões em financiamento, 25 patentes, um ritmo constante de propaganda e parcerias com uma lista das principais empresas de tecnologia, incluindo OpenAI, Microsoft e Salesforce.

Após ganhar destaque na Semana da Moda em Paris, o aparelho tinha uma missão: libertar o mundo de seu vício em smartphones. A solução? Mais tecnologia.

O casal Imran Chaudhri e Bethany Bongiorno, fundadores da Humane, imagina um futuro com menos dependência das telas que seu antigo empregador, a Apple. A inteligência artificial (IA) “pode criar uma experiência que permita que o computador fique essencialmente em segundo plano”, disse Chaudhri.

Eles estão anunciando o pin como o primeiro dispositivo artificialmente inteligente. Ele pode ser controlado falando em voz alta, tocando em um touch pad ou projetando um visor a laser na palma da mão. Em um instante, o assistente virtual do dispositivo pode enviar uma mensagem de texto, tocar uma música, tirar uma foto, fazer uma ligação ou traduzir uma conversa em tempo real para outro idioma.

AI Pin promete ser como uma assistente virtual palpável Foto: Humane/Reprodução

O sistema conta com a IA para ajudar a responder perguntas e pode resumir as mensagens recebidas com um simples comando: “Me acompanhe”.

A tecnologia é um passo à frente da Siri, Alexa e Google Assistente. Ela pode acompanhar uma conversa de uma pergunta a outra, sem precisar de um contexto explícito. Também é capaz de editar uma única palavra em uma mensagem ditada, em vez de exigir que o usuário corrija um erro repetindo o texto do início ao fim, como fazem outros sistemas, e faz isso por meio de um dispositivo que lembra os crachás usados em Star Trek.

Para quem está por dentro da tecnologia, trata-se de um projeto revolucionário. Para quem está de fora, é uma fantasia de ficção científica.

Na Humane, há uma profunda ansiedade com relação às próximas semanas. O setor de tecnologia tem um grande cemitério de produtos vestíveis que não conseguiram se firmar. A empresa vai começar a enviar os pins no próximo ano, e espera vender cerca de 100 mil unidades pelo valor de US$ 699 cada, com uma assinatura mensal de US$ 24 no primeiro ano.

Para que a startup seja bem-sucedida, as pessoas vão ter que aprender um novo sistema operacional, chamado Cosmos, e estar abertas a obter novos números de telefone para o dispositivo (o pin vem com seu próprio plano sem fio).

Os usuários também vão precisar aprender a ditar em vez de digitar textos e trocar uma câmera com zoom por fotos em grande angular. Será necessário paciência pois alguns recursos, como reconhecimento de objetos e vídeos, não estarão disponíveis inicialmente e o pin às vezes pode falhar, como aconteceu durante algumas demonstrações da empresa para o The New York Times.

Sam Altman, CEO da OpenAI, disse em uma entrevista que espera que a IA seja “uma grande parte” da forma como interagimos com os computadores. Ele investiu na Humane e em outra empresa de IA, a Rewind AI, que planeja fabricar um colar que registrará o que as pessoas dizem e ouvem. Ele também discutiu a possibilidade de formar uma equipe com Jony Ive, ex-designer-chefe da Apple, para criar um gadget de IA com ambição semelhante à da Humane.

O Humane tem a vantagem de ser o primeiro desses dispositivos focados em IA a ser disponibilizado, mas Altman disse em uma entrevista que isso não era garantia de sucesso. “Isso caberá aos clientes decidir”, disse ele. “Talvez seja uma ponte longe demais”, disse ele, “ou talvez as pessoas pensem: ‘Isso é muito melhor do que meu telefone’”. Muitas tecnologias que pareciam ser uma aposta certa acabam sendo vendidas com 90% de desconto na Best Buy, acrescentou.

Culpa do iPhone

Bongiorno e Chaudhri têm um casamento de contrastes.

Eles se conheceram na Apple em 2008. Chaudhri estava trabalhando na interface humana da empresa, definindo os movimentos de deslizar e arrastar que controlam o iPhone. Bongiorno era gerente de programa do iPhone e do iPad. Eles trabalharam juntos até deixarem a Apple no final de 2016.

Um monge budista chamado Brother Spirit os levou à Humane. Chaudhri e Bongiorno haviam desenvolvido conceitos para dois produtos de IA: um dispositivo para a saúde da mulher e o Pin. Brother Spirit, que eles conheceram por meio de seu acupunturista, recomendou que eles compartilhassem as ideias com seu amigo, Marc Benioff, fundador da Salesforce.

Sentados sob uma palmeira em um penhasco acima do oceano na casa de Benioff no Havaí em 2018, eles explicaram os dois dispositivos. “Este aqui”, disse Benioff, apontando para o AI Pin, enquanto os golfinhos invadiam as ondas abaixo, “é enorme”.

“Será uma empresa gigantesca”, acrescentou.

Humane planeja vender 100 mil exemplares no primeiro ano de venda do pin Foto: EFE/ Humane

O objetivo da Humane era replicar a utilidade do iPhone sem nenhum dos componentes que nos tornam viciados - o efeito da dopamina de arrastar para atualizar um feed do Facebook ou deslizar para ver um novo vídeo do TikTok. Eles fizeram experimentos secretos com componentes de hardware e criaram um assistente virtual, como Siri ou Alexa, trabalhando com modelos de linguagem personalizados baseados, em parte, nas ofertas da OpenAI.

O elemento de ficção científica mais importante do dispositivo - o laser que projeta um menu de texto em uma mão - começou dentro de uma caixa do tamanho de uma caixa de fósforos. Foram necessários três anos para miniaturizá-lo.

A Humane estabeleceu uma cultura empresarial inspirada na Apple, incluindo seu sigilo. Durante sua fase de experimentação, a startup chamou a atenção ao anunciar investidores de alto nível, como Altman, e fazer declarações públicas grandiosas - embora vagas - sobre a criação da “próxima mudança entre humanos e computação”. A Humane também manteve a obsessão da Apple por detalhes de design, desde os cantos curvos do dispositivo e a embalagem branca reciclável até os banheiros em estilo japonês no escritório da empresa.

Mas a Humane se afastou da cultura rígida e exigente da Apple em alguns aspectos. A empresa incentivava a equipe a trabalhar em conjunto, questionar planos e se manifestar.

José Benitez Cong, um executivo de longa data da Apple que se considerava aposentado, juntou-se à Humane, em parte, para se redimir. Benitez Cong disse que estava “enojado” com o que o iPhone havia feito à sociedade, observando que seu filho conseguia imitar um movimento de deslizar com 1 ano de idade. “Isso poderia ser algo que me ajudaria a superar minha culpa de trabalhar no iPhone”, disse Benitez Cong.

Segurando a luz

O dispositivo está chegando em um momento em que o entusiasmo e o ceticismo em relação à IA atingem novos patamares a cada semana. Os pesquisadores do setor estão alertando sobre o risco existencial da tecnologia e os órgãos reguladores estão ansiosos para reprimi-la.

No entanto, os investidores estão despejando dinheiro avidamente nas startups de IA. Antes mesmo de a Humane lançar um produto, seus patrocinadores a avaliaram em US$ 850 milhões.

Além do valor do pin, os usuários terão de pagar cerca de US$ 20 mensais para utilizar o dispositivo Foto: EFE/ Humane

A empresa tentou promover uma mensagem de confiança e transparência, apesar de ter passado a maior parte de sua existência trabalhando em segredo. Os AI Pins da Humane têm o que a empresa chama de “luz de confiança” que pisca quando o dispositivo está sendo gravando - a Humane disse que não vende dados de usuários a terceiros nem os utiliza para treinar seus modelos de IA.

Nos meses que antecederam seu lançamento, a Humane alimentou a expectativa. Em abril, Chaudhri exibiu o projetor a laser do Pin durante uma palestra TED (mais tarde, as pessoas o acusaram de falsificar a demonstração, disse ele, mas ele garantiu que era real). Em setembro, em um eco do lançamento do Apple Watch, a supermodelo Naomi Campbell usou o pin da Humane - quase imperceptível sem que se saiba procurá-lo - em um blazer Coperni cinza na passarela da Semana da Moda em Paris.

Loja de aplicativos de IA

Os defensores da Humane têm uma maneira simples de descartar o ceticismo sobre suas perspectivas - eles invocam o primeiro iPod. Considerado desajeitado, ele tinha apenas um uso, tocar músicas, mas lançou as bases para a verdadeira revolução, os smartphones. Da mesma forma, a Humane prevê um ecossistema inteiro de empresas criando recursos para seu sistema operacional - uma versão de IA da App Store da Apple.

Em uma demonstração no escritório da Humane de um recurso que será implementado em uma versão futura do produto, um designer de software pegou um biscoito de chocolate e tocou o Pin em seu peito esquerdo e perguntou: “Quanto açúcar tem aqui?”

“Desculpe-me, mas não consegui pesquisar a quantidade de açúcar em um biscoito de aveia com passas”, disse o assistente virtual.

Chaudhri ignorou o erro. “Para ser justo, tenho dificuldade em saber a diferença entre um biscoito de chocolate e um biscoito de aveia e passas.”

A ambição da Humane de revolucionar o smartphone é audaciosa, criativa e até mesmo irracional; o tipo de coisa pela qual o Vale do Silício deveria ser conhecido, mas que os críticos lamentam, nos últimos anos se transformou em frivolidades incrementais, como aplicativos de selfie e caminhões de pizza robóticos.

Mas mesmo depois de meses usando seus AI Pins o dia todo, os fundadores da Humane não conseguem se desligar totalmente de suas telas. “Estamos usando menos nossos smartphones?” perguntou Chaudhri. “Estamos usando-os de forma diferente.” /TRADUZIDO POR ALICE LABATE

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