CUPERTINO - Na segunda-feira, 9, a Apple confirmou rumores de que seus novos celulares teriam um botão específico para fotografias com o lançamento do iPhone 16. Depois do “iPhone de botão” ser motivo de memes na internet - em referência aos modelos antigos lançados antes dos aparelhos com telas totalmente sensíveis ao toque - a tecla física é, agora, uma das maiores novidades apresentadas pela Apple no novo celular. O botão para captura de fotos, chamado de “Camera Control”, aparece em todas as versões da nova família e pode indicar um retorno glorioso das teclas físicas em aparelhos eletrônicos, principalmente nos smartphones.
No evento, a empresa apresentou que o disparador não apenas podia capturar fotos, mas também ter sensibilidade para diferentes tipos de comandos - ou seja, o novo botão não é mecânico como era até o iPhone 6s, mas sim uma região mais sensível com resposta tátil (algo mais parecido o que surgiu a partir do iPhone 7) . Para fazer vídeos, por exemplo, basta segurar o botão. Ainda, é possível deslizar o dedo no botão para controlar o zoom. Ao pressionar com um leve toque, outras funções de câmera podem ser acessadas.
“Falando do botão, isso é uma coisa que a Apple está trabalhando há um tempão, que é usar a resposta tátil, algo já está presente nos trackpads dos MacBooks. Usar esse esquema de sensibilidade de pressão para mudar uma configuração é um detalhe que só a Apple consegue fazer”, explica Eduardo Pellanda, professor e pesquisador em Comunicação Digital da PUC-RS.
Embora a Apple sinalize mais forte a tendência, a volta dos botões aos eletrônicos é um processo em pleno andamento. No TikTok, por exemplo, um botão físico para o Kindle que pode ser acionado à distância viralizou entre os leitores. Nas feiras de tecnologia do início do ano, a capa de celular com teclado da Clicks technology também ganhou vários adeptos saudosos de tempos mais simples. Agora, com o iPhone, isso pode se fortalecer entre smartphones.
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No ano passado, a companhia já dava pistas do que estava acontecendo. A chave de seleção do modo silencioso do iPhone, que tinha sido eliminada nos modelos Pro de 2023, deu lugar ao “botão de ação”, que pode ser configurado para pequenos atalhos no celular, como gravador de voz, lanterna e até câmera. Em 2024, a Apple expandiu o conceito: deu um botão inteiramente dedicado a fotografia e levou o botão de ação para todos os aparelhos da nova geração.
Assim, o iPhone se afasta novamente do que Steve Jobs imaginava para a versão ideal do seu smartphone. O fundador da Apple, morto em 2011, imaginava que o iPhone pudesse ser um bloco único de metal e vidro, livre de emendas, ranhuras, componentes salientes e aberturas. Isso parecia ser o caminho até o iPhone 14, mas o movimento retrocedeu.
Formadora de tendências
“Sempre que a Apple anuncia o lançamento de novas versões de seus produtos, diversos setores, como a indústria de tecnologia, a indústria criativa, a comunicação e o entretenimento, voltam suas atenções para a gigante da tecnologia”, explica o professor Vanderlei Marcos do Prado, do curso de Design de Produto da Faculdade Belas Artes de São Paulo.
No caso do botão de fotos, a mudança não é necessariamente um retorno ao “retrô”, mas apresenta uma solução inteligente ao unir o disparador à tecla sensível ao toque com mudanças de função. Um botão dedicado a câmeras já havia sido testado em celulares da Sony nos anos 2010, mas a qualidade de imagens estava longe do patamar atual, o que acabou derrotando a ideia. A volta do botão foi possível graças à melhoria das câmeras que a empresa tem buscado nos últimos anos
Além disso, a decisão é uma tentativa de trazer algo novo para um mercado onde é cada vez mais difícil inovar - as pessoas, afinal, já se acostumaram com o design padrão daquilo que define um smartphone.
Ainda, com a obrigatoriedade de fazer o lançamento ser voltado para inteligência artificial (IA) - uma questão essencial para que a Apple acompanhasse o mercado de smartphones que já possuem as ferramentas - trazer um chamariz para um elemento de hardware também passa a impressão de que, fisicamente, o telefone vai oferecer mudanças significativas para o usuário.
“A questão de chamar atenção para o botão e todas as suas funcionalidades foi uma possibilidade interessante de mostrar que tinha um upgrade em todo o sistema de câmeras e não apenas na parte óptica”, afirma Pellanda.
Cautela
Ainda assim, especialistas apontam que é preciso esperar para saber se, de fato, a novidade vai se tornar um movimento amplo da indústria. De acordo com Prado, o novo botão não significa um retorno aos velhos tempos.
“Isso não sinaliza um retorno dos botões físicos nos smartphones. Esse recurso parece atender a uma demanda específica e mais profissional para se fazer fotografias, e não a uma tendência mais ampla. As inovações no design físico dos produtos da Apple têm se concentrado em pequenos detalhes, como acabamento e leveza dos materiais, enquanto os maiores avanços continuam ocorrendo nos aspectos tecnológicos”, aponta Prado.
Com isso, nos próximos meses, caso haja uma adoção do botão por outras empresas, o movimento poderá ter menos a ver com a função (ou o próprio botão em si) e mais com a tendência que a Apple pode trazer ao adotar a tecla extra - o que justifica o “frenesi” em torno do lançamento.
“O conjunto ficou bem interessante. E acho que deve ter muita gente que vai querer trocar o telefone só por causa dessa função. Eles acertaram nesse contexto”, afirma Pellanda.
* a jornalista viajou a convite da Apple