ENVIADA ESPECIAL A SAN JOSE - A inteligência artificial (IA) deixou de ser um produto de ficção científica e se tornou o objetivo final de toda empresa de tecnologia no último ano. Com a Samsung não foi diferente. A fabricante de eletrônicos sul-coreana decidiu, porém, explorar a IA dentro de alguns dos seus principais produtos - os celulares - e lançou nesta quarta-feira, 17, o Galaxy AI, seu novo sistema de IA construído especialmente para smartphones.
A novidade é uma aposta da companhia para mudar a lógica do setor, no qual smartphones e outros eletrônicos se acostumaram a beber da IA por aplicativos e plataformas de terceiros. Segundo TM Roh, presidente da divisão de dispositivos móveis da Samsung, “a IA vai trazer grandes mudanças para a indústria do celular e para a maneira como vivemos”. A apresentação aconteceu em um evento na Califórnia em que o Estadão esteve presente.
O que é o Galaxy AI?
Galaxy AI é o ecossistema de inteligência artificial desenvolvido pela Samsung para seus novos celulares a partir do modelo amplo de linguagem (LLM, na sigla em inglês) Gauss, como foi batizado pela Samsung, lançado no final do ano passado. O nome é uma homenagem ao matemático e astrônomo alemão Carl Friedrich Gauss, responsável por teoremas nas áreas de geometria, eletrostática e estatística.
Na Samsung, é o Gauss que permite que os modelos do Galaxy S24 possam ter ferramentas de IA generativa, além das funções de tradução e transcrição, por exemplo. O modelo utilizado para essas atividades é o Samsung Gauss Language, com foco em produtos de linguagem.
Por enquanto, apenas os modelos lançados neste ano vão receber a IA, mas a expectativa é que celulares mais antigos, com capacidade de processamento compatível com a tecnologia, possam receber também algumas das ferramentas anunciadas.
O objetivo é facilitar o uso de recursos de IA, dispensando a necessidade de sair dos apps em navegação para usar outras plataformas. Além disso, fornecer funções de IA dentro do próprio celular coloca a empresa em uma posição de concorrência no setor, já que boa parte da navegação em várias dessas plataformas são feitas pelo próprio aparelho.
De olho nesse mercado, no lançamento dos modelos da família S deste ano, por exemplo, a Samsung anunciou que seus celulares agora poderão fazer tradução simultânea em ligações e mensagens de voz e texto, recursos que algumas IAs, como o ChatGPT, por exemplo, já podiam executar. A diferença para esses serviços, então, é o local de processamento das informações.
Apesar de informar pouco sobre o funcionamento ou o treinamento do Gauss para equipar o ecossistema Galaxy AI, a companhia afirmou que não usa informações dos usuários em nuvem para alimentar o LLM. Isso porque mesmo com um processador dedicado, algumas ferramentas precisam passar pela internet para serem acessadas.
Um exemplo é a função de resumo de notas, no aplicativo de mesmo nome do Galaxy S24. Para analisar as informações e retornar com um resultado resumido e organizado para o usuário, é preciso um processamento em nuvem, que não acontece localmente no telefone - ou seja, demandam conexão com a internet.
Outras funções, como a tradução simultânea de ligações ou de mensagens, serão feitas diretamente no celular. Uma das explicações da empresa é que a IA foi integrada ao teclado do celular para processar as atividades direto no telefone.
Imagens
Neste primeiro momento, o foco da IA generativa nas imagens não é adicionar elementos na foto e, sim, retirar ou reconstruir cenários a partir dos elementos já existentes na imagem. Uma ferramenta de geração de comandos, como o DALL-E, da OpenAI, ou o Midjourney, porém, não estão descartados pela empresa, mas ainda não há previsão para que esse tipo de ferramenta apareça nos celulares da marca.
O Gauss, porém, já possui uma vertente apenas para a criação de imagens. Chamada Samsung Gauss Image, a IA ‘’é um modelo de imagem generativo que pode facilmente gerar e editar imagens criativas, incluindo alterações e adições de estilo, ao mesmo tempo que converte imagens de baixa resolução em alta resolução’', explicou a empresa em seu site.
Atualmente, o Galaxy AI trabalha com algumas edições, onde é necessário remover algum objeto da foto, por exemplo. Nesses casos, a IA é responsável por preencher o “vazio” reconstruindo o mesmo cenário presente na foto original - o recurso foi batizado de edição generativa. Esses recursos, por exemplo, podem ser vistos na versão mais recente do Photoshop.
Para essas modificações, todas as fotos trabalhadas com IA terão uma identificação automática, onde o sistema insere uma marca d’água na imagem para indicar um conteúdo alterado. A Samsung também informou que a informação fica registrada nos metadados da imagem - assim, mesmo se a marca d’água for cortada propositalmente da foto, os metadados vão indicar que a imagem foi alterada via IA. O recurso visa antecipar uma discussão que começa a esquentar no cenário global: a necessidade de identificação de conteúdo gerado por algoritmos.
Além do Samsung Gauss Language, Samsung Gauss Image, a empresa também desenvolveu o Samsung Gauss Code, que gera códigos de programação a partir de comandos ordenados pelo usuário.
*Repórter viajou a convite da Samsung Brasil