Computação espacial: O que é a nova tecnologia que pode ser o fim das telas de celular?


Termo diz respeito a uma nova forma de interação com ambientes físicos e virtuais

Por Guilherme Guerra

Depois de metaverso e inteligência artficial (IA) generativa, o mundo tem se acostumado a uma nova palavra no mercado de tecnologia: computação espacial. Mas, afinal de contas, o que isso significa?

O termo foi anunciado pela Apple em junho do ano passado, quando a companhia revelou pela primeira vez os óculos Vision Pro. Após meses de expectativas, o aparelho chegou nesta sexta-feira, 2, às lojas dos Estados Unidos por preços que vão de US$ 3,5 mil (R$ 17,5 mil) a US$ 4,5 mil (R$ 22,5 mil).

“Assim como o Mac nos apresentou a computação pessoal e o iPhone nos apresentou a computação móvel, o Vision Pro nos apresenta a computação espacial”, declarou o presidente executivo da Apple, Tim Cook, em 5 de junho do ano passado no palco da WWDC, conferência para os desenvolvedores da empresa, em Cupertino, Califórnia, sede da Apple.

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Para a Apple, a computação espacial, que explora o espaço físico em torno da pessoa, é uma continuidade da computação tradicional, área em que a Apple é especialista desde as primeiras máquinas criadas pela dupla de fundadores Steve Jobs e Steve Wozniak, em 1976. É como se a computação espacial fosse uma versão moderna desse tipo de tecnologia que está presente em nosso dia a dia há décadas.

Atualmente, interagimos com máquinas por meio de uma tela física e botões, com uma interface limitada pelo tamanho do display. Quanto maior a tela, mais informações podem ser apresentadas no visor. Já a computação espacial extrapola isso — e vai além da bidimensionalidade de uma tela e usa o espaço físico do usuário para criar interfaces.

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“A computação espacial usa o ambiente à nossa volta para projetar telas e outros objetos”, explica o professor Eduardo Pellanda, da PUC-RS. Na prática, a computação espacial permite que o aparelho saiba o que é a parede, o chão ou uma mesa e consiga performar uma tarefa a partir dessa dimensionalidade. “A máquina entende o espaço físco”, diz ele.

Vision Pro, da Apple, permite ampliar telas em tamanhos em qualquer escala Foto: Divulgação/Apple

Pioneirismo da computação espacial

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O Vision Pro é o primeiro dispositivo da Apple a navegar pelo mercado de computação espacial. E é um dos poucos no mercado a utilizar esse termo — até então, aparelhos no formato de óculos ou capacetes eram apresentados como sendo de realidade virtual (RV), com imersão total, ou de realidade aumentada (RA), com interação com o mundo real por meio de câmeras.

Na categoria de RV, o maior nome é o Quest 3, da Meta, vendido a US$ 500 nos Estados Unidos para ser usado nos games e comunicações imersivas. Há o PSVR 2, óculos de realidade virtual do PlayStation 5, da Sony — cuja utilidade é a área de games, sem conectividade à internet e sem funcionar como ferramenta de comunicação

Já em RA, as utilizações costumam ser mais corporativas. Há os Hololens, da Microsoft, que desenhou o aparelho para ser aplicado a diferentes indústrias, como engenharia aeronáutica e treinamento em cirurgias médicas. Há um novo dispositivo da Sony, revelado em janeiro passado para ajudar na criação de design e de animações. E existem os óculos inteligentes da Meta criados em parceria com a Ray-Ban, que podem transmitir fotos e vídeos diretamente para o Facebook e Instagram, bem como ler e responder mensagens e tocar música.

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“O Vision Pro se diferencia em relação aos outros óculos do mercado por não ser especificamente de RV nem de RA”, explica Pellanda. “Não é uma substituição dos óculos de VR ou VA.”

Nesse sentido, um sinônimo para computação espacial tem sido realidade mista (RM), quando um dispositivo consegue cumprir tanto funções de RV, quanto de RV. Esse é o caso do Vision Pro, da Apple, embora a empresa não utilize essa nomenclatura.

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A Apple afirma que os óculos realizam uma série de atividades, como ver filmes e séries, jogar games, trabalhar, navegar na Web, fazer exercícios e até tirar fotos espaciais — leia mais (”Para que serve o Vision Pro?”).

Para dar conta disso, os óculos da marca precisam de sensores de ponta, bem como um software afiado com inteligência artificial e visão computacional para conseguir “entender” o mundo real.

Vision Pro, da Apple, permite trabalhos multitarefas, com várias janelas em diversos aplicativos Foto: Divulgação/Apple
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O aparelho da companhia tem uma tela de altíssima resolução, superior a 4K em cada lentes dos óculos, com taxa de atualização a 100 Hz. Ainda, há 12 tipos diferentes de câmeras embutidas, com intuito de registrar o mundo externo, rastrear os olhos do usuário e clicar fotos e vídeos espaciais. Dois novos chips (o M2 e o R1) dão conta de todo o processamento de informações por tempo real, integrados ao sistema operacional visionOS.

Uma das grandes novidades do Vision Pro está na forma de interação com o aparelho. Ao contrário do computador pessoal, que exige um teclado e mouse, e do smartphone, que funciona com uma tela multitoque, os óculos da Apple recebem comandos por voz (pela assistente digital Siri), por gestos manuais (como performar pinças com os dedos no ar) e por acompanhamento ocular (que funciona como um indicador para onde “clicar”).

Origem da computação espacial

O termo computação espacial é atribuído ao pesquisador americano Simon Greenwold, que, em 2003, publicou no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) um trabalho de 130 páginas definindo o conceito e apontando caminhos para a tecnologia — quando sequer havia smartphone.

“A computação espacial é a interação humana com uma máquina na qual a máquina retém e manipula referências a objetos e espaços reais. Ela é um componente essencial para tornar nossas máquinas parceiras mais completas em nosso trabalho e diversão”, escreve Greenwold na apresentação do trabalho.

O Vision Pro talvez seja um grande cavalo de Tróia da Apple para acabar com todos esses produtos

Eduardo Pellanda, professor da PUC-RS

Para o professor Pellanda, o avanço da computação espacial pode significar o fim das telas em nosso dia a dia, apontando para um futuro mais interativo com o mundo real, com mais possibilidades em aberto.

“Hoje, temos um mundo multitelas de vários tamanhos, como o smartwatch, smartphone, tablet, computador, TV”, diz. Para cada uma, há uma interface com um fim específico: saúde, dia a dia, leituras mais longas, trabalho e entretenimento. Mas ainda não há nada que cumpra todas essas funções com a mesma eficácia e praticidade. “O Vision Pro talvez seja um grande cavalo de Troia da Apple para acabar com todos esses produtos”, diz Pellanda.

Da mesma forma que o iPhone foi criado sabendo que iria eliminar o iPod e que o iPad poderia reduzir a necessidade por computadores Mac, os óculos de computação espacial da Apple podem ter papel semelhante.

Depois de metaverso e inteligência artficial (IA) generativa, o mundo tem se acostumado a uma nova palavra no mercado de tecnologia: computação espacial. Mas, afinal de contas, o que isso significa?

O termo foi anunciado pela Apple em junho do ano passado, quando a companhia revelou pela primeira vez os óculos Vision Pro. Após meses de expectativas, o aparelho chegou nesta sexta-feira, 2, às lojas dos Estados Unidos por preços que vão de US$ 3,5 mil (R$ 17,5 mil) a US$ 4,5 mil (R$ 22,5 mil).

“Assim como o Mac nos apresentou a computação pessoal e o iPhone nos apresentou a computação móvel, o Vision Pro nos apresenta a computação espacial”, declarou o presidente executivo da Apple, Tim Cook, em 5 de junho do ano passado no palco da WWDC, conferência para os desenvolvedores da empresa, em Cupertino, Califórnia, sede da Apple.

Para a Apple, a computação espacial, que explora o espaço físico em torno da pessoa, é uma continuidade da computação tradicional, área em que a Apple é especialista desde as primeiras máquinas criadas pela dupla de fundadores Steve Jobs e Steve Wozniak, em 1976. É como se a computação espacial fosse uma versão moderna desse tipo de tecnologia que está presente em nosso dia a dia há décadas.

Atualmente, interagimos com máquinas por meio de uma tela física e botões, com uma interface limitada pelo tamanho do display. Quanto maior a tela, mais informações podem ser apresentadas no visor. Já a computação espacial extrapola isso — e vai além da bidimensionalidade de uma tela e usa o espaço físico do usuário para criar interfaces.

“A computação espacial usa o ambiente à nossa volta para projetar telas e outros objetos”, explica o professor Eduardo Pellanda, da PUC-RS. Na prática, a computação espacial permite que o aparelho saiba o que é a parede, o chão ou uma mesa e consiga performar uma tarefa a partir dessa dimensionalidade. “A máquina entende o espaço físco”, diz ele.

Vision Pro, da Apple, permite ampliar telas em tamanhos em qualquer escala Foto: Divulgação/Apple

Pioneirismo da computação espacial

O Vision Pro é o primeiro dispositivo da Apple a navegar pelo mercado de computação espacial. E é um dos poucos no mercado a utilizar esse termo — até então, aparelhos no formato de óculos ou capacetes eram apresentados como sendo de realidade virtual (RV), com imersão total, ou de realidade aumentada (RA), com interação com o mundo real por meio de câmeras.

Na categoria de RV, o maior nome é o Quest 3, da Meta, vendido a US$ 500 nos Estados Unidos para ser usado nos games e comunicações imersivas. Há o PSVR 2, óculos de realidade virtual do PlayStation 5, da Sony — cuja utilidade é a área de games, sem conectividade à internet e sem funcionar como ferramenta de comunicação

Já em RA, as utilizações costumam ser mais corporativas. Há os Hololens, da Microsoft, que desenhou o aparelho para ser aplicado a diferentes indústrias, como engenharia aeronáutica e treinamento em cirurgias médicas. Há um novo dispositivo da Sony, revelado em janeiro passado para ajudar na criação de design e de animações. E existem os óculos inteligentes da Meta criados em parceria com a Ray-Ban, que podem transmitir fotos e vídeos diretamente para o Facebook e Instagram, bem como ler e responder mensagens e tocar música.

“O Vision Pro se diferencia em relação aos outros óculos do mercado por não ser especificamente de RV nem de RA”, explica Pellanda. “Não é uma substituição dos óculos de VR ou VA.”

Nesse sentido, um sinônimo para computação espacial tem sido realidade mista (RM), quando um dispositivo consegue cumprir tanto funções de RV, quanto de RV. Esse é o caso do Vision Pro, da Apple, embora a empresa não utilize essa nomenclatura.

A Apple afirma que os óculos realizam uma série de atividades, como ver filmes e séries, jogar games, trabalhar, navegar na Web, fazer exercícios e até tirar fotos espaciais — leia mais (”Para que serve o Vision Pro?”).

Para dar conta disso, os óculos da marca precisam de sensores de ponta, bem como um software afiado com inteligência artificial e visão computacional para conseguir “entender” o mundo real.

Vision Pro, da Apple, permite trabalhos multitarefas, com várias janelas em diversos aplicativos Foto: Divulgação/Apple

O aparelho da companhia tem uma tela de altíssima resolução, superior a 4K em cada lentes dos óculos, com taxa de atualização a 100 Hz. Ainda, há 12 tipos diferentes de câmeras embutidas, com intuito de registrar o mundo externo, rastrear os olhos do usuário e clicar fotos e vídeos espaciais. Dois novos chips (o M2 e o R1) dão conta de todo o processamento de informações por tempo real, integrados ao sistema operacional visionOS.

Uma das grandes novidades do Vision Pro está na forma de interação com o aparelho. Ao contrário do computador pessoal, que exige um teclado e mouse, e do smartphone, que funciona com uma tela multitoque, os óculos da Apple recebem comandos por voz (pela assistente digital Siri), por gestos manuais (como performar pinças com os dedos no ar) e por acompanhamento ocular (que funciona como um indicador para onde “clicar”).

Origem da computação espacial

O termo computação espacial é atribuído ao pesquisador americano Simon Greenwold, que, em 2003, publicou no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) um trabalho de 130 páginas definindo o conceito e apontando caminhos para a tecnologia — quando sequer havia smartphone.

“A computação espacial é a interação humana com uma máquina na qual a máquina retém e manipula referências a objetos e espaços reais. Ela é um componente essencial para tornar nossas máquinas parceiras mais completas em nosso trabalho e diversão”, escreve Greenwold na apresentação do trabalho.

O Vision Pro talvez seja um grande cavalo de Tróia da Apple para acabar com todos esses produtos

Eduardo Pellanda, professor da PUC-RS

Para o professor Pellanda, o avanço da computação espacial pode significar o fim das telas em nosso dia a dia, apontando para um futuro mais interativo com o mundo real, com mais possibilidades em aberto.

“Hoje, temos um mundo multitelas de vários tamanhos, como o smartwatch, smartphone, tablet, computador, TV”, diz. Para cada uma, há uma interface com um fim específico: saúde, dia a dia, leituras mais longas, trabalho e entretenimento. Mas ainda não há nada que cumpra todas essas funções com a mesma eficácia e praticidade. “O Vision Pro talvez seja um grande cavalo de Troia da Apple para acabar com todos esses produtos”, diz Pellanda.

Da mesma forma que o iPhone foi criado sabendo que iria eliminar o iPod e que o iPad poderia reduzir a necessidade por computadores Mac, os óculos de computação espacial da Apple podem ter papel semelhante.

Depois de metaverso e inteligência artficial (IA) generativa, o mundo tem se acostumado a uma nova palavra no mercado de tecnologia: computação espacial. Mas, afinal de contas, o que isso significa?

O termo foi anunciado pela Apple em junho do ano passado, quando a companhia revelou pela primeira vez os óculos Vision Pro. Após meses de expectativas, o aparelho chegou nesta sexta-feira, 2, às lojas dos Estados Unidos por preços que vão de US$ 3,5 mil (R$ 17,5 mil) a US$ 4,5 mil (R$ 22,5 mil).

“Assim como o Mac nos apresentou a computação pessoal e o iPhone nos apresentou a computação móvel, o Vision Pro nos apresenta a computação espacial”, declarou o presidente executivo da Apple, Tim Cook, em 5 de junho do ano passado no palco da WWDC, conferência para os desenvolvedores da empresa, em Cupertino, Califórnia, sede da Apple.

Para a Apple, a computação espacial, que explora o espaço físico em torno da pessoa, é uma continuidade da computação tradicional, área em que a Apple é especialista desde as primeiras máquinas criadas pela dupla de fundadores Steve Jobs e Steve Wozniak, em 1976. É como se a computação espacial fosse uma versão moderna desse tipo de tecnologia que está presente em nosso dia a dia há décadas.

Atualmente, interagimos com máquinas por meio de uma tela física e botões, com uma interface limitada pelo tamanho do display. Quanto maior a tela, mais informações podem ser apresentadas no visor. Já a computação espacial extrapola isso — e vai além da bidimensionalidade de uma tela e usa o espaço físico do usuário para criar interfaces.

“A computação espacial usa o ambiente à nossa volta para projetar telas e outros objetos”, explica o professor Eduardo Pellanda, da PUC-RS. Na prática, a computação espacial permite que o aparelho saiba o que é a parede, o chão ou uma mesa e consiga performar uma tarefa a partir dessa dimensionalidade. “A máquina entende o espaço físco”, diz ele.

Vision Pro, da Apple, permite ampliar telas em tamanhos em qualquer escala Foto: Divulgação/Apple

Pioneirismo da computação espacial

O Vision Pro é o primeiro dispositivo da Apple a navegar pelo mercado de computação espacial. E é um dos poucos no mercado a utilizar esse termo — até então, aparelhos no formato de óculos ou capacetes eram apresentados como sendo de realidade virtual (RV), com imersão total, ou de realidade aumentada (RA), com interação com o mundo real por meio de câmeras.

Na categoria de RV, o maior nome é o Quest 3, da Meta, vendido a US$ 500 nos Estados Unidos para ser usado nos games e comunicações imersivas. Há o PSVR 2, óculos de realidade virtual do PlayStation 5, da Sony — cuja utilidade é a área de games, sem conectividade à internet e sem funcionar como ferramenta de comunicação

Já em RA, as utilizações costumam ser mais corporativas. Há os Hololens, da Microsoft, que desenhou o aparelho para ser aplicado a diferentes indústrias, como engenharia aeronáutica e treinamento em cirurgias médicas. Há um novo dispositivo da Sony, revelado em janeiro passado para ajudar na criação de design e de animações. E existem os óculos inteligentes da Meta criados em parceria com a Ray-Ban, que podem transmitir fotos e vídeos diretamente para o Facebook e Instagram, bem como ler e responder mensagens e tocar música.

“O Vision Pro se diferencia em relação aos outros óculos do mercado por não ser especificamente de RV nem de RA”, explica Pellanda. “Não é uma substituição dos óculos de VR ou VA.”

Nesse sentido, um sinônimo para computação espacial tem sido realidade mista (RM), quando um dispositivo consegue cumprir tanto funções de RV, quanto de RV. Esse é o caso do Vision Pro, da Apple, embora a empresa não utilize essa nomenclatura.

A Apple afirma que os óculos realizam uma série de atividades, como ver filmes e séries, jogar games, trabalhar, navegar na Web, fazer exercícios e até tirar fotos espaciais — leia mais (”Para que serve o Vision Pro?”).

Para dar conta disso, os óculos da marca precisam de sensores de ponta, bem como um software afiado com inteligência artificial e visão computacional para conseguir “entender” o mundo real.

Vision Pro, da Apple, permite trabalhos multitarefas, com várias janelas em diversos aplicativos Foto: Divulgação/Apple

O aparelho da companhia tem uma tela de altíssima resolução, superior a 4K em cada lentes dos óculos, com taxa de atualização a 100 Hz. Ainda, há 12 tipos diferentes de câmeras embutidas, com intuito de registrar o mundo externo, rastrear os olhos do usuário e clicar fotos e vídeos espaciais. Dois novos chips (o M2 e o R1) dão conta de todo o processamento de informações por tempo real, integrados ao sistema operacional visionOS.

Uma das grandes novidades do Vision Pro está na forma de interação com o aparelho. Ao contrário do computador pessoal, que exige um teclado e mouse, e do smartphone, que funciona com uma tela multitoque, os óculos da Apple recebem comandos por voz (pela assistente digital Siri), por gestos manuais (como performar pinças com os dedos no ar) e por acompanhamento ocular (que funciona como um indicador para onde “clicar”).

Origem da computação espacial

O termo computação espacial é atribuído ao pesquisador americano Simon Greenwold, que, em 2003, publicou no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) um trabalho de 130 páginas definindo o conceito e apontando caminhos para a tecnologia — quando sequer havia smartphone.

“A computação espacial é a interação humana com uma máquina na qual a máquina retém e manipula referências a objetos e espaços reais. Ela é um componente essencial para tornar nossas máquinas parceiras mais completas em nosso trabalho e diversão”, escreve Greenwold na apresentação do trabalho.

O Vision Pro talvez seja um grande cavalo de Tróia da Apple para acabar com todos esses produtos

Eduardo Pellanda, professor da PUC-RS

Para o professor Pellanda, o avanço da computação espacial pode significar o fim das telas em nosso dia a dia, apontando para um futuro mais interativo com o mundo real, com mais possibilidades em aberto.

“Hoje, temos um mundo multitelas de vários tamanhos, como o smartwatch, smartphone, tablet, computador, TV”, diz. Para cada uma, há uma interface com um fim específico: saúde, dia a dia, leituras mais longas, trabalho e entretenimento. Mas ainda não há nada que cumpra todas essas funções com a mesma eficácia e praticidade. “O Vision Pro talvez seja um grande cavalo de Troia da Apple para acabar com todos esses produtos”, diz Pellanda.

Da mesma forma que o iPhone foi criado sabendo que iria eliminar o iPod e que o iPad poderia reduzir a necessidade por computadores Mac, os óculos de computação espacial da Apple podem ter papel semelhante.

Depois de metaverso e inteligência artficial (IA) generativa, o mundo tem se acostumado a uma nova palavra no mercado de tecnologia: computação espacial. Mas, afinal de contas, o que isso significa?

O termo foi anunciado pela Apple em junho do ano passado, quando a companhia revelou pela primeira vez os óculos Vision Pro. Após meses de expectativas, o aparelho chegou nesta sexta-feira, 2, às lojas dos Estados Unidos por preços que vão de US$ 3,5 mil (R$ 17,5 mil) a US$ 4,5 mil (R$ 22,5 mil).

“Assim como o Mac nos apresentou a computação pessoal e o iPhone nos apresentou a computação móvel, o Vision Pro nos apresenta a computação espacial”, declarou o presidente executivo da Apple, Tim Cook, em 5 de junho do ano passado no palco da WWDC, conferência para os desenvolvedores da empresa, em Cupertino, Califórnia, sede da Apple.

Para a Apple, a computação espacial, que explora o espaço físico em torno da pessoa, é uma continuidade da computação tradicional, área em que a Apple é especialista desde as primeiras máquinas criadas pela dupla de fundadores Steve Jobs e Steve Wozniak, em 1976. É como se a computação espacial fosse uma versão moderna desse tipo de tecnologia que está presente em nosso dia a dia há décadas.

Atualmente, interagimos com máquinas por meio de uma tela física e botões, com uma interface limitada pelo tamanho do display. Quanto maior a tela, mais informações podem ser apresentadas no visor. Já a computação espacial extrapola isso — e vai além da bidimensionalidade de uma tela e usa o espaço físico do usuário para criar interfaces.

“A computação espacial usa o ambiente à nossa volta para projetar telas e outros objetos”, explica o professor Eduardo Pellanda, da PUC-RS. Na prática, a computação espacial permite que o aparelho saiba o que é a parede, o chão ou uma mesa e consiga performar uma tarefa a partir dessa dimensionalidade. “A máquina entende o espaço físco”, diz ele.

Vision Pro, da Apple, permite ampliar telas em tamanhos em qualquer escala Foto: Divulgação/Apple

Pioneirismo da computação espacial

O Vision Pro é o primeiro dispositivo da Apple a navegar pelo mercado de computação espacial. E é um dos poucos no mercado a utilizar esse termo — até então, aparelhos no formato de óculos ou capacetes eram apresentados como sendo de realidade virtual (RV), com imersão total, ou de realidade aumentada (RA), com interação com o mundo real por meio de câmeras.

Na categoria de RV, o maior nome é o Quest 3, da Meta, vendido a US$ 500 nos Estados Unidos para ser usado nos games e comunicações imersivas. Há o PSVR 2, óculos de realidade virtual do PlayStation 5, da Sony — cuja utilidade é a área de games, sem conectividade à internet e sem funcionar como ferramenta de comunicação

Já em RA, as utilizações costumam ser mais corporativas. Há os Hololens, da Microsoft, que desenhou o aparelho para ser aplicado a diferentes indústrias, como engenharia aeronáutica e treinamento em cirurgias médicas. Há um novo dispositivo da Sony, revelado em janeiro passado para ajudar na criação de design e de animações. E existem os óculos inteligentes da Meta criados em parceria com a Ray-Ban, que podem transmitir fotos e vídeos diretamente para o Facebook e Instagram, bem como ler e responder mensagens e tocar música.

“O Vision Pro se diferencia em relação aos outros óculos do mercado por não ser especificamente de RV nem de RA”, explica Pellanda. “Não é uma substituição dos óculos de VR ou VA.”

Nesse sentido, um sinônimo para computação espacial tem sido realidade mista (RM), quando um dispositivo consegue cumprir tanto funções de RV, quanto de RV. Esse é o caso do Vision Pro, da Apple, embora a empresa não utilize essa nomenclatura.

A Apple afirma que os óculos realizam uma série de atividades, como ver filmes e séries, jogar games, trabalhar, navegar na Web, fazer exercícios e até tirar fotos espaciais — leia mais (”Para que serve o Vision Pro?”).

Para dar conta disso, os óculos da marca precisam de sensores de ponta, bem como um software afiado com inteligência artificial e visão computacional para conseguir “entender” o mundo real.

Vision Pro, da Apple, permite trabalhos multitarefas, com várias janelas em diversos aplicativos Foto: Divulgação/Apple

O aparelho da companhia tem uma tela de altíssima resolução, superior a 4K em cada lentes dos óculos, com taxa de atualização a 100 Hz. Ainda, há 12 tipos diferentes de câmeras embutidas, com intuito de registrar o mundo externo, rastrear os olhos do usuário e clicar fotos e vídeos espaciais. Dois novos chips (o M2 e o R1) dão conta de todo o processamento de informações por tempo real, integrados ao sistema operacional visionOS.

Uma das grandes novidades do Vision Pro está na forma de interação com o aparelho. Ao contrário do computador pessoal, que exige um teclado e mouse, e do smartphone, que funciona com uma tela multitoque, os óculos da Apple recebem comandos por voz (pela assistente digital Siri), por gestos manuais (como performar pinças com os dedos no ar) e por acompanhamento ocular (que funciona como um indicador para onde “clicar”).

Origem da computação espacial

O termo computação espacial é atribuído ao pesquisador americano Simon Greenwold, que, em 2003, publicou no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) um trabalho de 130 páginas definindo o conceito e apontando caminhos para a tecnologia — quando sequer havia smartphone.

“A computação espacial é a interação humana com uma máquina na qual a máquina retém e manipula referências a objetos e espaços reais. Ela é um componente essencial para tornar nossas máquinas parceiras mais completas em nosso trabalho e diversão”, escreve Greenwold na apresentação do trabalho.

O Vision Pro talvez seja um grande cavalo de Tróia da Apple para acabar com todos esses produtos

Eduardo Pellanda, professor da PUC-RS

Para o professor Pellanda, o avanço da computação espacial pode significar o fim das telas em nosso dia a dia, apontando para um futuro mais interativo com o mundo real, com mais possibilidades em aberto.

“Hoje, temos um mundo multitelas de vários tamanhos, como o smartwatch, smartphone, tablet, computador, TV”, diz. Para cada uma, há uma interface com um fim específico: saúde, dia a dia, leituras mais longas, trabalho e entretenimento. Mas ainda não há nada que cumpra todas essas funções com a mesma eficácia e praticidade. “O Vision Pro talvez seja um grande cavalo de Troia da Apple para acabar com todos esses produtos”, diz Pellanda.

Da mesma forma que o iPhone foi criado sabendo que iria eliminar o iPod e que o iPad poderia reduzir a necessidade por computadores Mac, os óculos de computação espacial da Apple podem ter papel semelhante.

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