Era uma vez um boneco com a cara de Jack Sparrow, o protagonista da série Piratas do Caribe, entrando em uma nova aventura: coletar minérios para construir uma casa de barro e se proteger de leões, avestruzes e cavalos. Tudo pixelizado, claro – pois a história, a primeira contada pelo youtuber Pedro Rezende em seu canal do site de vídeos, é passada dentro do universo de Minecraft. Sete anos depois daquele vídeo, Rezende virou RezendeEvil, dono de um canal de 23,5 milhões de inscritos – e de um Audi R8 Spyder, conversível que custa pelo menos R$ 1,2 milhão.
Embora poucos possam se gabar de um carrão, Rezende está longe de ser o único youtuber de sucesso que se baseou nos bloquinhos criados por Marcus “Notch” Persson: dos 25 maiores canais do YouTube no Brasil, quatro nasceram ou são totalmente dedicados ao Minecraft. No top 10, além de RezendeEvil, há também o Authentic Games, do mineiro Marco Túlio, com 17 milhões de inscritos. Muitos deles têm entre dez e quatro anos. “As crianças me assistem jogar como se estivessem vendo um desenho”, afirma o youtuber Marco Túlio, ao Estado.
Por não ter narrativa definida e oferecer qualquer possibilidade aos jogadores, o Minecraft virou um campo aberto para criadores de conteúdo: nos vídeos, eles não só mostram que jogam bem, mas também podem criar enredos que precisariam de enormes orçamentos no cinema.
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“O que prende as pessoas aos vídeos são as histórias, elas querem saber o que vai acontecer no episódio seguinte”, diz Rezende. Os especialistas concordam: “é um game que não serve só para ser jogado, mas também tem grande potencial para ser assistido”, afirma o pesquisador Francisco Tupy, que hoje desenvolve tese de doutorado sobre o jogo.
Mundo real
Os pioneiros acabaram atraindo a atenção de outros influenciadores para o Minecraft. Para evitar a saturação, ambos mudaram um pouco o tipo de conteúdo que fazem. Hoje, por exemplo, Rezende tem um canal só para Minecraft, com 1,5 milhão de inscritos; no principal, publica quatro vídeos por dia, com pegadinhas, competições e gravações do seu dia a dia.
Além disso, os dois souberam aproveitar outros formatos para ampliar suas criações: ambos têm livros publicados com histórias que se passam no universo pixelizado do game – juntos, os dois volumes criados por RezendeEvil passaram da casa dos 500 mil exemplares vendidos. Além disso, ele também rodou o País todo em teatros com os espetáculos Paraíso e Batalha dos Mundos. “O Minecraft mudou minha vida infinitamente”, afirma Rezende, enquanto acelera com seu conversível.
*É estagiária, sob supervisão do editor Bruno Capelas