Garotas de programa


Nos anos 1960, programação era coisa de mulher. Hoje, há menos mulheres na área do que há 40 anos. O que houve?

Por Redação Link
Atualização:

Nos anos 1960, programação era coisa de mulher. Hoje, há menos mulheres na área do que há 40 anos. O que houve?

Anna Lewis, especial para o Washington Post*

 
continua após a publicidade

“É como planejar um jantar”, disse a almirante Grace Hopper, pioneira da informática, num artigo para a revista Cosmopolitan em 1967. “Você precisa planejar com antecedência e programar cada coisa para que esteja pronta quando você precisar dela.” Carne de panela ou programação de computador – ambas poderiam ser trabalho de mulher.

—- • Siga o ‘Link’ no Twitter e no FacebooK

Na primeira vez que vi esse artigo, estava trabalhando num recrutamento para uma empresa de software. Passei o último ano tentando conseguir que mais mulheres com formação universitária se candidatassem a um programa de estágio de verão. Continuei vendo relatórios dizendo que a proporção de mulheres que em cursos de informática estava crescendo. Era cerca de 25% em algumas instituições de elite, como Harvard, MIT, e Carnegie Mello. Isso pareceu uma boa notícia, mas não foi um aumento triunfante. Foi só um leve aumento em relação ao que havia.

continua após a publicidade

Quando a matéria “The Computer Girls” (As garotas do computador) saiu em Cosmopolitan, 11% das graduadas em informática eram mulheres. No fim dos anos 1970, a porcentagem superou o mesmo número que estamos aplaudindo hoje: 25%. A proporção de mulheres formadas em informática atingiu um pico de 37% em 1984. Depois, as mulheres deixaram a informática aos bandos – enquanto seus números cresciam em todos os outros campos de ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Em 2006, as mulheres eram somente 20% das pessoas em informática.

Os números sugerem que há mulheres aptas; elas simplesmente não estão escolhendo a informática. Talvez um olhar para trás, para o momento “garota do computador” possa ajudar a reverter essa tendência – tanto por companhias que formam esse talento, como para as jovens que não estão querendo codificar.

A programação costumava ser um campo que atraía mulheres, mesmo quando a sociedade era menos favorável à ideia de mulheres buscando carreiras de toda a vida nas ciências.

continua após a publicidade

Nasa. A era da esposa caseira foi também a era da corrida espacial da Guerra Fria. Na coleção de ensaios Gender Codes: Why Women Are Leaving Computing (Códigos de gêneros: por que as mulheres estão abandonando a computação), os ambientes de computação na Nasa são descritos como a própria definição de uma divisão profissional por gênero.

Os sistemas de controle que lançavam homens ao espaço eram dirigidos por computadores mainframe (de grande porte) comandados por instruções de programação escritas em blocos de codificação de papel.

Fileiras e mais fileiras de “perfuradoras de cartões” abarrotavam salas quentes de porão traduzindo as instruções nas folhas em cartões perfurados. Operadores de máquinas (homens) aguardavam em salas espaçosas e frescas acima os mensageiros entregarem os maços de código traduzido que eles alimentariam em leitoras de cartões.

continua após a publicidade

As “perfuradoras de cartões” não tinham perspectiva; elas conservavam seus empregos por alguns anos entre a formação universitária e o casamento. Pensem na série de TV Mad Men com um viés tecnológico e sem vez para Peggy Olson.

Ao mesmo tempo, porém, a indústria de computadores comerciais estava em franca expansão. O setor logo enfrentou uma escassez atroz de programadores e analistas de sistemas. Como muitos setores durante a 2ª Guerra, a informática precisava de força de trabalho, e as mulheres contavam como força de trabalho.

Mulheres formadas começaram a acorrer para aulas de informática, onde poderiam se esquivar das legiões de “perfuradoras de cartões” e entrar diretamente nas fileiras de programadores e analistas de sistemas. Outros fatores também encorajaram sua opção. Por exemplo, muitos programas acadêmicos de informática eram abrigados inicialmente não em divisões de ciência ou engenharia, mas nas faculdades de artes liberais, onde mulheres haviam feito incursões culturais.

continua após a publicidade

Os homens ainda não haviam entrado em quantidades significativas na informática; eles também estavam apenas começando a reagir à demanda do setor. A informática era uma nova fronteira na qual as regras sociais e profissionais ainda estavam indeterminadas.

Controle. No artigo de Cosmopolitan, programadoras se descreveram como “profissionais plenamente aceitas”. Diferentemente de outras profissões tradicionalmente femininas ou outros campos científicos, a programação oferecia às mulheres um grau sem precedente de controle: controle sobre máquinas – “dizer a máquinas milagrosas o que fazer e como fazê-lo” – bem como o controle sobre bons salários e carreiras impulsionadas pela aspiração intelectual.

Será possível que, como nos anos 60, a demanda de programadores pela indústria possa estar alimentando um interesse renovado de mulheres pela informática? As mulheres de hoje enfrentam bem menos elementos de dissuasão que suas antecessoras nos anos 60 e 80. Universidades tentaram recrutá-las para a informática com programas de extensão no ensino médio, oportunidades de networking e um currículo reformado que retira a ênfase da experiência em programação antes da universidade. Mas as mulheres com quem conversei em feiras de emprego lamentam o computador doméstico como um brinquedo de menino, a dominação dos laboratórios de computadores escolares por adolescentes masculinos intimidadores e a desagradável combinação de sexo e violência na maioria dos jogos de computador.

continua após a publicidade

A maioria das mulheres graduadas começou seus cursos introdutórios com menos experiência que seus colegas masculinos, que são tipicamente hackers desde a pré-adolescência. E como as mulheres formadas em cursos de graduação em informática são poucas e muito dispersas, e porque elas tendem a fazer amigos fora de seu campo principal, a falta de amizades pessoais que ajudam a informar escolhas profissionais iniciais colocam as mulheres em desvantagem.

Conversei recentemente com uma estagiária que recordou como o GNOME Project, um projeto de software de fonte aberta e gratuito, recebeu, em 2006, quase 200 inscrições para o Google Summer of Code – todas masculinas. Quando o GNOME anunciou um programa idêntico para mulheres, enfatizando as oportunidades de aprendizado e não a competição dura, ele recebeu pedidos de inscrição de mais de 100 mulheres altamente qualificadas.

O que me espantou ainda mais foi quando ela sugeriu que nosso próprio slogan de campanha – “Nós ajudamos os melhores desenvolvedores do mundo a fazer software melhores” – poderia afastar candidatas em potencial. No mundo da informática, “quando se ouve a expressão ‘os melhores desenvolvedores do mundo’ a gente pensa num rapaz”, disse a estagiária.

A programação oferece desafios intelectuais, a chance de mudar a vida mediante a tecnologia – e um polpudo salário inicial. Décadas atrás, mulheres bem remuneradas programavam com paixão e imaginação ao lado de homens que as recebiam como iguais. As “garotas do computador” de hoje, e seus congêneres masculinos, estão prontos para fazer o mesmo.

*ANNA LEWIS, RECRUTADORA DE TALENTOS FREELANCE E ESCRITORA, FOI ATÉ RECENTEMENTE DIRETORA DE RECRUTAMENTO NA FOG CREEK SOFTWARE.

/ TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

—-Leia mais: • Link no papel – 05/09/2011

Nos anos 1960, programação era coisa de mulher. Hoje, há menos mulheres na área do que há 40 anos. O que houve?

Anna Lewis, especial para o Washington Post*

 

“É como planejar um jantar”, disse a almirante Grace Hopper, pioneira da informática, num artigo para a revista Cosmopolitan em 1967. “Você precisa planejar com antecedência e programar cada coisa para que esteja pronta quando você precisar dela.” Carne de panela ou programação de computador – ambas poderiam ser trabalho de mulher.

—- • Siga o ‘Link’ no Twitter e no FacebooK

Na primeira vez que vi esse artigo, estava trabalhando num recrutamento para uma empresa de software. Passei o último ano tentando conseguir que mais mulheres com formação universitária se candidatassem a um programa de estágio de verão. Continuei vendo relatórios dizendo que a proporção de mulheres que em cursos de informática estava crescendo. Era cerca de 25% em algumas instituições de elite, como Harvard, MIT, e Carnegie Mello. Isso pareceu uma boa notícia, mas não foi um aumento triunfante. Foi só um leve aumento em relação ao que havia.

Quando a matéria “The Computer Girls” (As garotas do computador) saiu em Cosmopolitan, 11% das graduadas em informática eram mulheres. No fim dos anos 1970, a porcentagem superou o mesmo número que estamos aplaudindo hoje: 25%. A proporção de mulheres formadas em informática atingiu um pico de 37% em 1984. Depois, as mulheres deixaram a informática aos bandos – enquanto seus números cresciam em todos os outros campos de ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Em 2006, as mulheres eram somente 20% das pessoas em informática.

Os números sugerem que há mulheres aptas; elas simplesmente não estão escolhendo a informática. Talvez um olhar para trás, para o momento “garota do computador” possa ajudar a reverter essa tendência – tanto por companhias que formam esse talento, como para as jovens que não estão querendo codificar.

A programação costumava ser um campo que atraía mulheres, mesmo quando a sociedade era menos favorável à ideia de mulheres buscando carreiras de toda a vida nas ciências.

Nasa. A era da esposa caseira foi também a era da corrida espacial da Guerra Fria. Na coleção de ensaios Gender Codes: Why Women Are Leaving Computing (Códigos de gêneros: por que as mulheres estão abandonando a computação), os ambientes de computação na Nasa são descritos como a própria definição de uma divisão profissional por gênero.

Os sistemas de controle que lançavam homens ao espaço eram dirigidos por computadores mainframe (de grande porte) comandados por instruções de programação escritas em blocos de codificação de papel.

Fileiras e mais fileiras de “perfuradoras de cartões” abarrotavam salas quentes de porão traduzindo as instruções nas folhas em cartões perfurados. Operadores de máquinas (homens) aguardavam em salas espaçosas e frescas acima os mensageiros entregarem os maços de código traduzido que eles alimentariam em leitoras de cartões.

As “perfuradoras de cartões” não tinham perspectiva; elas conservavam seus empregos por alguns anos entre a formação universitária e o casamento. Pensem na série de TV Mad Men com um viés tecnológico e sem vez para Peggy Olson.

Ao mesmo tempo, porém, a indústria de computadores comerciais estava em franca expansão. O setor logo enfrentou uma escassez atroz de programadores e analistas de sistemas. Como muitos setores durante a 2ª Guerra, a informática precisava de força de trabalho, e as mulheres contavam como força de trabalho.

Mulheres formadas começaram a acorrer para aulas de informática, onde poderiam se esquivar das legiões de “perfuradoras de cartões” e entrar diretamente nas fileiras de programadores e analistas de sistemas. Outros fatores também encorajaram sua opção. Por exemplo, muitos programas acadêmicos de informática eram abrigados inicialmente não em divisões de ciência ou engenharia, mas nas faculdades de artes liberais, onde mulheres haviam feito incursões culturais.

Os homens ainda não haviam entrado em quantidades significativas na informática; eles também estavam apenas começando a reagir à demanda do setor. A informática era uma nova fronteira na qual as regras sociais e profissionais ainda estavam indeterminadas.

Controle. No artigo de Cosmopolitan, programadoras se descreveram como “profissionais plenamente aceitas”. Diferentemente de outras profissões tradicionalmente femininas ou outros campos científicos, a programação oferecia às mulheres um grau sem precedente de controle: controle sobre máquinas – “dizer a máquinas milagrosas o que fazer e como fazê-lo” – bem como o controle sobre bons salários e carreiras impulsionadas pela aspiração intelectual.

Será possível que, como nos anos 60, a demanda de programadores pela indústria possa estar alimentando um interesse renovado de mulheres pela informática? As mulheres de hoje enfrentam bem menos elementos de dissuasão que suas antecessoras nos anos 60 e 80. Universidades tentaram recrutá-las para a informática com programas de extensão no ensino médio, oportunidades de networking e um currículo reformado que retira a ênfase da experiência em programação antes da universidade. Mas as mulheres com quem conversei em feiras de emprego lamentam o computador doméstico como um brinquedo de menino, a dominação dos laboratórios de computadores escolares por adolescentes masculinos intimidadores e a desagradável combinação de sexo e violência na maioria dos jogos de computador.

A maioria das mulheres graduadas começou seus cursos introdutórios com menos experiência que seus colegas masculinos, que são tipicamente hackers desde a pré-adolescência. E como as mulheres formadas em cursos de graduação em informática são poucas e muito dispersas, e porque elas tendem a fazer amigos fora de seu campo principal, a falta de amizades pessoais que ajudam a informar escolhas profissionais iniciais colocam as mulheres em desvantagem.

Conversei recentemente com uma estagiária que recordou como o GNOME Project, um projeto de software de fonte aberta e gratuito, recebeu, em 2006, quase 200 inscrições para o Google Summer of Code – todas masculinas. Quando o GNOME anunciou um programa idêntico para mulheres, enfatizando as oportunidades de aprendizado e não a competição dura, ele recebeu pedidos de inscrição de mais de 100 mulheres altamente qualificadas.

O que me espantou ainda mais foi quando ela sugeriu que nosso próprio slogan de campanha – “Nós ajudamos os melhores desenvolvedores do mundo a fazer software melhores” – poderia afastar candidatas em potencial. No mundo da informática, “quando se ouve a expressão ‘os melhores desenvolvedores do mundo’ a gente pensa num rapaz”, disse a estagiária.

A programação oferece desafios intelectuais, a chance de mudar a vida mediante a tecnologia – e um polpudo salário inicial. Décadas atrás, mulheres bem remuneradas programavam com paixão e imaginação ao lado de homens que as recebiam como iguais. As “garotas do computador” de hoje, e seus congêneres masculinos, estão prontos para fazer o mesmo.

*ANNA LEWIS, RECRUTADORA DE TALENTOS FREELANCE E ESCRITORA, FOI ATÉ RECENTEMENTE DIRETORA DE RECRUTAMENTO NA FOG CREEK SOFTWARE.

/ TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

—-Leia mais: • Link no papel – 05/09/2011

Nos anos 1960, programação era coisa de mulher. Hoje, há menos mulheres na área do que há 40 anos. O que houve?

Anna Lewis, especial para o Washington Post*

 

“É como planejar um jantar”, disse a almirante Grace Hopper, pioneira da informática, num artigo para a revista Cosmopolitan em 1967. “Você precisa planejar com antecedência e programar cada coisa para que esteja pronta quando você precisar dela.” Carne de panela ou programação de computador – ambas poderiam ser trabalho de mulher.

—- • Siga o ‘Link’ no Twitter e no FacebooK

Na primeira vez que vi esse artigo, estava trabalhando num recrutamento para uma empresa de software. Passei o último ano tentando conseguir que mais mulheres com formação universitária se candidatassem a um programa de estágio de verão. Continuei vendo relatórios dizendo que a proporção de mulheres que em cursos de informática estava crescendo. Era cerca de 25% em algumas instituições de elite, como Harvard, MIT, e Carnegie Mello. Isso pareceu uma boa notícia, mas não foi um aumento triunfante. Foi só um leve aumento em relação ao que havia.

Quando a matéria “The Computer Girls” (As garotas do computador) saiu em Cosmopolitan, 11% das graduadas em informática eram mulheres. No fim dos anos 1970, a porcentagem superou o mesmo número que estamos aplaudindo hoje: 25%. A proporção de mulheres formadas em informática atingiu um pico de 37% em 1984. Depois, as mulheres deixaram a informática aos bandos – enquanto seus números cresciam em todos os outros campos de ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Em 2006, as mulheres eram somente 20% das pessoas em informática.

Os números sugerem que há mulheres aptas; elas simplesmente não estão escolhendo a informática. Talvez um olhar para trás, para o momento “garota do computador” possa ajudar a reverter essa tendência – tanto por companhias que formam esse talento, como para as jovens que não estão querendo codificar.

A programação costumava ser um campo que atraía mulheres, mesmo quando a sociedade era menos favorável à ideia de mulheres buscando carreiras de toda a vida nas ciências.

Nasa. A era da esposa caseira foi também a era da corrida espacial da Guerra Fria. Na coleção de ensaios Gender Codes: Why Women Are Leaving Computing (Códigos de gêneros: por que as mulheres estão abandonando a computação), os ambientes de computação na Nasa são descritos como a própria definição de uma divisão profissional por gênero.

Os sistemas de controle que lançavam homens ao espaço eram dirigidos por computadores mainframe (de grande porte) comandados por instruções de programação escritas em blocos de codificação de papel.

Fileiras e mais fileiras de “perfuradoras de cartões” abarrotavam salas quentes de porão traduzindo as instruções nas folhas em cartões perfurados. Operadores de máquinas (homens) aguardavam em salas espaçosas e frescas acima os mensageiros entregarem os maços de código traduzido que eles alimentariam em leitoras de cartões.

As “perfuradoras de cartões” não tinham perspectiva; elas conservavam seus empregos por alguns anos entre a formação universitária e o casamento. Pensem na série de TV Mad Men com um viés tecnológico e sem vez para Peggy Olson.

Ao mesmo tempo, porém, a indústria de computadores comerciais estava em franca expansão. O setor logo enfrentou uma escassez atroz de programadores e analistas de sistemas. Como muitos setores durante a 2ª Guerra, a informática precisava de força de trabalho, e as mulheres contavam como força de trabalho.

Mulheres formadas começaram a acorrer para aulas de informática, onde poderiam se esquivar das legiões de “perfuradoras de cartões” e entrar diretamente nas fileiras de programadores e analistas de sistemas. Outros fatores também encorajaram sua opção. Por exemplo, muitos programas acadêmicos de informática eram abrigados inicialmente não em divisões de ciência ou engenharia, mas nas faculdades de artes liberais, onde mulheres haviam feito incursões culturais.

Os homens ainda não haviam entrado em quantidades significativas na informática; eles também estavam apenas começando a reagir à demanda do setor. A informática era uma nova fronteira na qual as regras sociais e profissionais ainda estavam indeterminadas.

Controle. No artigo de Cosmopolitan, programadoras se descreveram como “profissionais plenamente aceitas”. Diferentemente de outras profissões tradicionalmente femininas ou outros campos científicos, a programação oferecia às mulheres um grau sem precedente de controle: controle sobre máquinas – “dizer a máquinas milagrosas o que fazer e como fazê-lo” – bem como o controle sobre bons salários e carreiras impulsionadas pela aspiração intelectual.

Será possível que, como nos anos 60, a demanda de programadores pela indústria possa estar alimentando um interesse renovado de mulheres pela informática? As mulheres de hoje enfrentam bem menos elementos de dissuasão que suas antecessoras nos anos 60 e 80. Universidades tentaram recrutá-las para a informática com programas de extensão no ensino médio, oportunidades de networking e um currículo reformado que retira a ênfase da experiência em programação antes da universidade. Mas as mulheres com quem conversei em feiras de emprego lamentam o computador doméstico como um brinquedo de menino, a dominação dos laboratórios de computadores escolares por adolescentes masculinos intimidadores e a desagradável combinação de sexo e violência na maioria dos jogos de computador.

A maioria das mulheres graduadas começou seus cursos introdutórios com menos experiência que seus colegas masculinos, que são tipicamente hackers desde a pré-adolescência. E como as mulheres formadas em cursos de graduação em informática são poucas e muito dispersas, e porque elas tendem a fazer amigos fora de seu campo principal, a falta de amizades pessoais que ajudam a informar escolhas profissionais iniciais colocam as mulheres em desvantagem.

Conversei recentemente com uma estagiária que recordou como o GNOME Project, um projeto de software de fonte aberta e gratuito, recebeu, em 2006, quase 200 inscrições para o Google Summer of Code – todas masculinas. Quando o GNOME anunciou um programa idêntico para mulheres, enfatizando as oportunidades de aprendizado e não a competição dura, ele recebeu pedidos de inscrição de mais de 100 mulheres altamente qualificadas.

O que me espantou ainda mais foi quando ela sugeriu que nosso próprio slogan de campanha – “Nós ajudamos os melhores desenvolvedores do mundo a fazer software melhores” – poderia afastar candidatas em potencial. No mundo da informática, “quando se ouve a expressão ‘os melhores desenvolvedores do mundo’ a gente pensa num rapaz”, disse a estagiária.

A programação oferece desafios intelectuais, a chance de mudar a vida mediante a tecnologia – e um polpudo salário inicial. Décadas atrás, mulheres bem remuneradas programavam com paixão e imaginação ao lado de homens que as recebiam como iguais. As “garotas do computador” de hoje, e seus congêneres masculinos, estão prontos para fazer o mesmo.

*ANNA LEWIS, RECRUTADORA DE TALENTOS FREELANCE E ESCRITORA, FOI ATÉ RECENTEMENTE DIRETORA DE RECRUTAMENTO NA FOG CREEK SOFTWARE.

/ TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

—-Leia mais: • Link no papel – 05/09/2011

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.