Um software que ajuda assistentes sociais a registrar todos os atendimentos a famílias em necessidade. Um app capaz de fazer empresas economizarem com serviços de transporte para os funcionários – algo vital em tempos de pandemia. Uma solução de logística que ajuda grandes empresas a terem certeza de que as entregas foram feitas. Esses são alguns dos modelos de negócios por trás das empresas mais bem cotadas no ranking 100 Open Startups (confira a lista abaixo), que busca jogar luz sobre a inovação aberta – isto é, nos bons relacionamentos entre startups novatas e empresas – que acontece no Brasil, muitas vezes em escritórios e garagens no interior, bem distantes dos prédios espelhados e paredes coloridas que deram fama ao setor.
Para participar do ranking, que é divulgado desde 2016, as startups precisam obedecer a algumas regras, como ter faturamento de até R$ 10 milhões no ano anterior e não ter recebido mais do que R$ 10 milhões em investimentos. A pontuação é baseada em uma série de fatores, mas leva especialmente em consideração os contatos e os contratos feitos entre as novatas e o setor corporativo. Segundo Bruno Rondani, CEO da 100 Open Startups, responsável pelo ranking, a disputa para participar da lista nunca foi tão alta: ao todo, mais de 1,3 mil empresas disputaram uma vaga, somando 34.677 pontos – em 2019, o total de pontos conquistados foi de 14.859.
As 10 primeiras colocadas no ranking deste ano, diz Rondani, tiveram de fazer 340 pontos. No ano passado, eram 160; há cinco anos, 18. “É muito bom ver como o ecossistema acelerou, mas especialmente de 2019 para 2020”, afirma o executivo. Segundo ele, o movimento que forçou empresas a se digitalizarem durante o período de isolamento social também chegou às startups menores – a ponto da organização decidir adiar a publicação do ranking para ter um panorama mais fidedigno das mudanças do setor. Para ele, entender como as empresas menores crescem é também um sintoma de saúde do mercado local. “A gente comemora muito os unicórnios, mas são as novatas, as empresas mais discretas, que vão gerar novas cadeias de valor na indústria e ajudar o País a se transformar,” diz.
Na visão de Amure Pinho, presidente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), é interessante que o ranking privilegie os negócios como metodologia de avaliação. “No final do dia, a empresa que dá certo é aquela que gera receita, que gera vendas, não quem tem uma grande ideia”, diz.E isso é importante especialmente no setor B2B, destacado pela lista da 100 Open Startups. “Existem muitos negócios que não são sexy, mas que resolvem dores reais. Essa é a grande sacada das startups.”
Auxílio
A primeira colocada do ranking deste ano, por exemplo, vem do interior de Minas Gerais, tem 12 funcionários e atua em um setor que tem atenção menor entre as startups brasileiras: os serviços para o governo (govtechs). Fundada em 2013, a Gesuas é dona de um sistema que auxilia assistentes sociais e técnicos a registrarem informações sobre famílias em situação de vulnerabilidade, dando visibilidade para que gestores públicos consigam planejar melhor suas campanhas e a redistribuição de recursos. “Hoje, mais de 75 milhões de pessoas fazem parte do Cadastro Único, mas muitas vezes os gestores se sentiam cegos por não conseguirem visualizar os dados”, explica Igor Guadalupe, presidente executivo da startup, cuja sede fica em Viçosa (MG).
Hoje, a Gesuas está em mais de 100 municípios brasileiros e atende a 3,2 milhões de cidadãos, além de 1,4 mil técnicos. Em tempos de pandemia, o sistema da empresa ajudou bastante os municípios. “Conseguimos ajudar cidades como Laguna (SC) ou Ilhabela (SP) a identificar as famílias que precisavam mais urgentemente receber auxílio”, diz Guadalupe. A fim de ajudar durante a emergência, a empresa criou uma versão simples de seu software, cedida para outras 60 cidades ao longo de 2020 – para faturar, a empresa fecha contratos com remuneração baseada no número de habitantes incluídos no Cadastro Único. “A maior parte dos contratos acaba ficando fora da margem de licitação, que tem teto de R$ 17 mil”, explica o empreendedor.
Para Rondani, a posição da Gesuas no ranking se justifica pelo amplo acesso que a empresa conseguiu no setor público. “Negociar com uma cidade às vezes é tão difícil que com uma corporação e a Gesuas traz um exemplo importante para nós, além da função de revelar empresas que podem estar fora do radar dos investidores”, diz. É algo que Guadalupe espera ter em breve, após a divulgação do ranking: segundo ele, a empresa está com negociações em aberto para fazer sua primeira grande rodada de investimentos – o que pode ajudá-la a alcançar até 180 cidades pagantes no final de 2021.
Transformação
A pandemia também fez algumas empresas ampliarem seu escopo. A belorizontina Voll, quinta colocada no ranking, foi criada em 2017 com o plano de ajudar grandes empresas a controlarem seus gastos com apps de transporte. De forma simples, o app da startup reúne um comparativo de preços de serviços como Uber, 99 e Cabify – para usar, o funcionário deve apenas colocar sua origem e destino. Na média, a empresa afirma conseguir entregar até 40% de redução de custos com transporte, além de centralizar o pagamento em uma só conta.
Inicialmente usado para reuniões e por pessoas em cargos mais altos, o app passou a ser uma saída para empresas que precisavam manter serviços essenciais rodando durante a quarentena. “Pode parecer estranho falar de mobilidade na pandemia, com a campanha para ficar em casa, mas muitos negócios não puderam parar. Nesse momento, ajudamos com segurança e economia”, diz Jordana Souza, cofundadora da empresa, que já recebeu aportes de fundos como Wayra e Iporanga e tem hoje 250 clientes, incluindo marcas como Vivo, Heineken, McDonald’s, Pepsico e Sodexo.
Nesta quarta-feira, a empresa dá mais um passo e lança uma solução para os clientes que vai permitir também a reserva de passagens aéreas e hotéis – em todos os casos, a empresa fatura com uma pequena taxa de comissão por cada transação realizada em sua plataforma. “Já temos até uma fila de clientes interessados”, diz Jordana, que viu a equipe de sua empresa quintuplicar ao longo do ano: começou com 20 pessoas e deve fechar em 100 funcionários.
Efeito cadeia
Além de ajudarem na transformação digital de empresas, muitas startups presentes no ranking também ajudam seus clientes a modernizarem a atividade de parceiros e fornecedores. É o caso da Comprovei, décima colocada do 100 Open Startups deste ano: com sede em Itajubá (MG), a novata tem uma plataforma de logística que pode ser contratada por corporações para melhorar a qualidade do serviço das transportadoras – incluindo rastreamento via GPS dos caminhões e digitalização dos documentos de entrega.
Em 2020, é a terceira aparição da mineira no ranking – e segundo Halley Takano, presidente executivo da Comprovei, a presença ajudou a empresa a crescer nos últimos anos. “Só em 2020, ajudaremos 50 milhões de entregas a serem realizadas, para 60 clientes diferentes, incluindo nomes como Basf, Aurora e Suzano”, diz o executivo. Para faturar, a empresa vende um software por assinatura, cujo preço é baseado na quantidade de viagens realizadas – a mensalidade custa pelo menos R$ 1,5 mil.
Para Takano, aparecer no 100 Open Startups ajuda a companhia a fechar novos contratos e crescer de forma orgânica, sem precisar captar investimentos. “Nós gostamos da filosofia das startups camelo, que resistem às adversidades”, diz o executivo. Em 2021, a meta da empresa é escalar suas vendas e seguir crescendo, mas se mantendo fiel às raízes. “Somos de Itajubá e gostamos de estar aqui, ajudando a região a crescer”, afirma. É uma boa amostra de como a inovação pode acontecer em qualquer lugar.
Confira a lista das primeiras colocadas no ranking:
1- Gesuas 2- Aevo 3- Opinion Box 4- Rentbrella 5- Voll 6- Pix Force 7- Standout 8- Rede Parcerias 9- Pris Software 10- Comprovei 11- Guiando 12- Pix Mídia 13- Incentive.me 14- Home Agent 15- Simplifica Fretes 16- Gofind 17- Mereo 18- Onfly 19- Engage 20- Descola 21- Pin People 22- Happmobi 23- Pricefy 24- Prosas 25- Everlog