A nova geração de startups latinas que quer alçar voo no Brasil


Empresas de países da região entram no País com mercado gigante na mira e com Mercado Livre e Rappi como inspiração

Por Giovanna Wolf
Atualização:

Seja pelas dimensões continentais ou pela quantidade de gente, poucas são as startups brasileiras que já são criadas olhando para todo o continente americano – o mais comum é que a atuação se limite às fronteiras nacionais. Mas a recíproca não é verdadeira:inspiradas pelo exemplo da argentina Mercado Livre e, mais recentemente, da colombiana Rappi, uma nova geração de startups latinas têm chegado ao Brasil nos últimos tempos, de olho em fazer do País não só uma base para o crescimento, mas também seu maior mercado. 

Uma delas é a argentina Wabi, dona de um aplicativo de delivery que pode ser definido como “Rappi de bairro”, com foco em pequenos comércios, como mercadinhos, padarias e lojas de conveniência. Fundada em 2019 e já presente em 13 países, a empresa abriu sua operação no Brasil em março, após ter sido impulsionada pela Coca-Cola em seu país de origem. Por aqui, já tem cerca de 800 estabelecimentos parceiros no Rio de Janeiro e em São Paulo. Mas os planos são grandes.

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Aplicativo Wabi, comandado porCarla Papazian no País, aposta em entregas de comércio de bairro em até 15 minutos Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Hoje, o México representa quase 40% da nossa operação mundial. Mas pelo tamanho e pelo potencial do mercado brasileiro, a expectativa é de que o País represente 70% do mercado global da Wabi em 2021”, disse Carla Papazian, gerente da Wabi no Brasil, em entrevista ao Estadão — a executiva argentina se mudou para São Paulo no ano passado para administrar a operação do app. Para se diferenciar de concorrentes como iFood, UberEats e a própria Rappi, a Wabi aposta em entregas superlocais, de até 15 minutos, feitas pelos próprios estabelecimentos de bairro. 

Não há cobrança de taxas de entrega nem custo para os lojistas – por enquanto, a operação é sustentada por dinheiro de investimentos, mas a meta é fechar parcerias com empresas de bens de consumo a médio prazo. Outro diferencial está na forma do pedido ser realizado: ao entrar no app, o usuário escolhe os produtos que deseja, e, em seguida, a plataforma envia um alerta para os estabelecimento próximos — a loja que aceitar o pedido será responsável pela entrega.

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Para Gilberto Sarfati, coordenador do mestrado de gestão e competitividade da FGV, é natural que startups latinas olhem para o mercado brasileiro. “O Brasil é um mercado gigantesco para elas, além de ser próximo fisicamente e culturalmente”, diz. “Muitas vezes, as operações brasileiras dessas empresas acabam se tornando maiores que a atuação no próprio país de origem, como é o caso do Mercado Livre.”

‘¡Hola!’

No caso da mexicana Yalochat, o Brasil é particularmente atrativo por ser um dos maiores consumidores de WhatsApp do mundo — a startup oferece uma plataforma para companhias personalizarem o atendimento de seus consumidores por meio de apps de mensagens como WhatsApp, Facebook Messenger e WeChat, sem a necessidade de download de um novo aplicativo. A empresa começou a operar no Brasil há um ano e meio. 

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Em agosto, a empresa ganhou um reforço “local”: um aporte de US$ 15 milhões liderado pelo fundo B Capital Group, de Eduardo Saverin, o brasileiro cofundador do Facebook. Entre outros planos, parte do dinheiro será usado para a expansão da operação no Brasil, que já conta com clientes como a Femsa – lá fora, a empresa é parceira de marcas como Nestlé e Burger King. 

“O Brasil é uma das nossas prioridades. Vemos que o País está se digitalizando muito, mas o movimento não acontece em todo lugar”, diz Javier Mata, CEO da Yalochat. “Ainda há muito espaço para democratizar o uso de tecnologia e permitir que todo mundo que temWhatsApp, que é uma ferramenta acessível, consiga usar serviços digitais”, afirma o executivo, que diz estar estudando português. 

Na visão de Guilherme Fowler, professor de empreendedorismo do Insper, a pandemia também está acelerando os planos dessa nova geração de startups latinas. “Com a crise e a desaceleração das economias nacionais, a base de consumidores dentro desses países acaba não se expandindo como as empresas gostariam”, afirma. “Vir para o Brasil é um caminho para buscar novos clientes.”

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Inspiração

As trajetórias do Mercado Livre e da Rappi também funcionam como um exemplo para essas empresas, afirmam especialistas – algo que é visto com bons olhos pela colombiana. “Acredito que passamos a inspiração de que o Brasil é um país com muita oportunidade e que gosta de tecnologia e inovação”, diz Sérgio Saraiva, presidente do Rappi no Brasil. 

Porém, apesar do potencial, o processo de conquistar um novo mercado não é simples: segundo os especialistas ouvidos pelo Estadão, diferenças na legislação e nos costumes podem ser entraves para as latinas aqui. Além disso, lidar com malha tributária brasileira e até mesmo a desvalorização cambial atual podem desanimar os novatos. 

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Para deslanchar no Brasil e superar esses problemas, a startup de logística Liftit aposta em parcerias com empresas brasileiras – caso da aliança com a TruckPad, por exemplo, para ter acesso à uma rede de caminhoneiros. Outra parceria que está sendo costurada para breve é com a Loggi. Fundada em janeiro de 2017 na Colômbia, a Liftit tem 40 funcionários em São Paulo e mais dois no Rio de Janeiro, além de clientes como Renner e Danone, interessadas na solução de transporte de “última milha” da empresa. 

Quem também aposta no conhecimento de parceiros locais é a chilena Cornershop, que faz entregas de produtos de mercado. Comprada pelo Uber em outubro de 2019, a empresa começou a operar discretamente no Brasil em janeiro. “Esperamos que o Brasil daqui a pouco tempo seja o nosso principal mercado pelo menos na América Latina. Para nós, o Brasil é um mercado-chave não só pelo tamanho, mas também porque a adoção do usuário é muito grande”, diz Felix Lulion, diretor de expansão da Cornershop

Para Guilherme Fowler, do Insper, o desempenho das startups latinas no País pode trazer respostas interessantes – não só para as empresas, mas para o ecossistema brasileiro. “Se elas forem bem sucedidas, será um sinal de que o mercado nacional é dinâmico e aberto, mesmo em tempos de crise.” 

Seja pelas dimensões continentais ou pela quantidade de gente, poucas são as startups brasileiras que já são criadas olhando para todo o continente americano – o mais comum é que a atuação se limite às fronteiras nacionais. Mas a recíproca não é verdadeira:inspiradas pelo exemplo da argentina Mercado Livre e, mais recentemente, da colombiana Rappi, uma nova geração de startups latinas têm chegado ao Brasil nos últimos tempos, de olho em fazer do País não só uma base para o crescimento, mas também seu maior mercado. 

Uma delas é a argentina Wabi, dona de um aplicativo de delivery que pode ser definido como “Rappi de bairro”, com foco em pequenos comércios, como mercadinhos, padarias e lojas de conveniência. Fundada em 2019 e já presente em 13 países, a empresa abriu sua operação no Brasil em março, após ter sido impulsionada pela Coca-Cola em seu país de origem. Por aqui, já tem cerca de 800 estabelecimentos parceiros no Rio de Janeiro e em São Paulo. Mas os planos são grandes.

Aplicativo Wabi, comandado porCarla Papazian no País, aposta em entregas de comércio de bairro em até 15 minutos Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Hoje, o México representa quase 40% da nossa operação mundial. Mas pelo tamanho e pelo potencial do mercado brasileiro, a expectativa é de que o País represente 70% do mercado global da Wabi em 2021”, disse Carla Papazian, gerente da Wabi no Brasil, em entrevista ao Estadão — a executiva argentina se mudou para São Paulo no ano passado para administrar a operação do app. Para se diferenciar de concorrentes como iFood, UberEats e a própria Rappi, a Wabi aposta em entregas superlocais, de até 15 minutos, feitas pelos próprios estabelecimentos de bairro. 

Não há cobrança de taxas de entrega nem custo para os lojistas – por enquanto, a operação é sustentada por dinheiro de investimentos, mas a meta é fechar parcerias com empresas de bens de consumo a médio prazo. Outro diferencial está na forma do pedido ser realizado: ao entrar no app, o usuário escolhe os produtos que deseja, e, em seguida, a plataforma envia um alerta para os estabelecimento próximos — a loja que aceitar o pedido será responsável pela entrega.

Para Gilberto Sarfati, coordenador do mestrado de gestão e competitividade da FGV, é natural que startups latinas olhem para o mercado brasileiro. “O Brasil é um mercado gigantesco para elas, além de ser próximo fisicamente e culturalmente”, diz. “Muitas vezes, as operações brasileiras dessas empresas acabam se tornando maiores que a atuação no próprio país de origem, como é o caso do Mercado Livre.”

‘¡Hola!’

No caso da mexicana Yalochat, o Brasil é particularmente atrativo por ser um dos maiores consumidores de WhatsApp do mundo — a startup oferece uma plataforma para companhias personalizarem o atendimento de seus consumidores por meio de apps de mensagens como WhatsApp, Facebook Messenger e WeChat, sem a necessidade de download de um novo aplicativo. A empresa começou a operar no Brasil há um ano e meio. 

Em agosto, a empresa ganhou um reforço “local”: um aporte de US$ 15 milhões liderado pelo fundo B Capital Group, de Eduardo Saverin, o brasileiro cofundador do Facebook. Entre outros planos, parte do dinheiro será usado para a expansão da operação no Brasil, que já conta com clientes como a Femsa – lá fora, a empresa é parceira de marcas como Nestlé e Burger King. 

“O Brasil é uma das nossas prioridades. Vemos que o País está se digitalizando muito, mas o movimento não acontece em todo lugar”, diz Javier Mata, CEO da Yalochat. “Ainda há muito espaço para democratizar o uso de tecnologia e permitir que todo mundo que temWhatsApp, que é uma ferramenta acessível, consiga usar serviços digitais”, afirma o executivo, que diz estar estudando português. 

Na visão de Guilherme Fowler, professor de empreendedorismo do Insper, a pandemia também está acelerando os planos dessa nova geração de startups latinas. “Com a crise e a desaceleração das economias nacionais, a base de consumidores dentro desses países acaba não se expandindo como as empresas gostariam”, afirma. “Vir para o Brasil é um caminho para buscar novos clientes.”

Inspiração

As trajetórias do Mercado Livre e da Rappi também funcionam como um exemplo para essas empresas, afirmam especialistas – algo que é visto com bons olhos pela colombiana. “Acredito que passamos a inspiração de que o Brasil é um país com muita oportunidade e que gosta de tecnologia e inovação”, diz Sérgio Saraiva, presidente do Rappi no Brasil. 

Porém, apesar do potencial, o processo de conquistar um novo mercado não é simples: segundo os especialistas ouvidos pelo Estadão, diferenças na legislação e nos costumes podem ser entraves para as latinas aqui. Além disso, lidar com malha tributária brasileira e até mesmo a desvalorização cambial atual podem desanimar os novatos. 

Para deslanchar no Brasil e superar esses problemas, a startup de logística Liftit aposta em parcerias com empresas brasileiras – caso da aliança com a TruckPad, por exemplo, para ter acesso à uma rede de caminhoneiros. Outra parceria que está sendo costurada para breve é com a Loggi. Fundada em janeiro de 2017 na Colômbia, a Liftit tem 40 funcionários em São Paulo e mais dois no Rio de Janeiro, além de clientes como Renner e Danone, interessadas na solução de transporte de “última milha” da empresa. 

Quem também aposta no conhecimento de parceiros locais é a chilena Cornershop, que faz entregas de produtos de mercado. Comprada pelo Uber em outubro de 2019, a empresa começou a operar discretamente no Brasil em janeiro. “Esperamos que o Brasil daqui a pouco tempo seja o nosso principal mercado pelo menos na América Latina. Para nós, o Brasil é um mercado-chave não só pelo tamanho, mas também porque a adoção do usuário é muito grande”, diz Felix Lulion, diretor de expansão da Cornershop

Para Guilherme Fowler, do Insper, o desempenho das startups latinas no País pode trazer respostas interessantes – não só para as empresas, mas para o ecossistema brasileiro. “Se elas forem bem sucedidas, será um sinal de que o mercado nacional é dinâmico e aberto, mesmo em tempos de crise.” 

Seja pelas dimensões continentais ou pela quantidade de gente, poucas são as startups brasileiras que já são criadas olhando para todo o continente americano – o mais comum é que a atuação se limite às fronteiras nacionais. Mas a recíproca não é verdadeira:inspiradas pelo exemplo da argentina Mercado Livre e, mais recentemente, da colombiana Rappi, uma nova geração de startups latinas têm chegado ao Brasil nos últimos tempos, de olho em fazer do País não só uma base para o crescimento, mas também seu maior mercado. 

Uma delas é a argentina Wabi, dona de um aplicativo de delivery que pode ser definido como “Rappi de bairro”, com foco em pequenos comércios, como mercadinhos, padarias e lojas de conveniência. Fundada em 2019 e já presente em 13 países, a empresa abriu sua operação no Brasil em março, após ter sido impulsionada pela Coca-Cola em seu país de origem. Por aqui, já tem cerca de 800 estabelecimentos parceiros no Rio de Janeiro e em São Paulo. Mas os planos são grandes.

Aplicativo Wabi, comandado porCarla Papazian no País, aposta em entregas de comércio de bairro em até 15 minutos Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Hoje, o México representa quase 40% da nossa operação mundial. Mas pelo tamanho e pelo potencial do mercado brasileiro, a expectativa é de que o País represente 70% do mercado global da Wabi em 2021”, disse Carla Papazian, gerente da Wabi no Brasil, em entrevista ao Estadão — a executiva argentina se mudou para São Paulo no ano passado para administrar a operação do app. Para se diferenciar de concorrentes como iFood, UberEats e a própria Rappi, a Wabi aposta em entregas superlocais, de até 15 minutos, feitas pelos próprios estabelecimentos de bairro. 

Não há cobrança de taxas de entrega nem custo para os lojistas – por enquanto, a operação é sustentada por dinheiro de investimentos, mas a meta é fechar parcerias com empresas de bens de consumo a médio prazo. Outro diferencial está na forma do pedido ser realizado: ao entrar no app, o usuário escolhe os produtos que deseja, e, em seguida, a plataforma envia um alerta para os estabelecimento próximos — a loja que aceitar o pedido será responsável pela entrega.

Para Gilberto Sarfati, coordenador do mestrado de gestão e competitividade da FGV, é natural que startups latinas olhem para o mercado brasileiro. “O Brasil é um mercado gigantesco para elas, além de ser próximo fisicamente e culturalmente”, diz. “Muitas vezes, as operações brasileiras dessas empresas acabam se tornando maiores que a atuação no próprio país de origem, como é o caso do Mercado Livre.”

‘¡Hola!’

No caso da mexicana Yalochat, o Brasil é particularmente atrativo por ser um dos maiores consumidores de WhatsApp do mundo — a startup oferece uma plataforma para companhias personalizarem o atendimento de seus consumidores por meio de apps de mensagens como WhatsApp, Facebook Messenger e WeChat, sem a necessidade de download de um novo aplicativo. A empresa começou a operar no Brasil há um ano e meio. 

Em agosto, a empresa ganhou um reforço “local”: um aporte de US$ 15 milhões liderado pelo fundo B Capital Group, de Eduardo Saverin, o brasileiro cofundador do Facebook. Entre outros planos, parte do dinheiro será usado para a expansão da operação no Brasil, que já conta com clientes como a Femsa – lá fora, a empresa é parceira de marcas como Nestlé e Burger King. 

“O Brasil é uma das nossas prioridades. Vemos que o País está se digitalizando muito, mas o movimento não acontece em todo lugar”, diz Javier Mata, CEO da Yalochat. “Ainda há muito espaço para democratizar o uso de tecnologia e permitir que todo mundo que temWhatsApp, que é uma ferramenta acessível, consiga usar serviços digitais”, afirma o executivo, que diz estar estudando português. 

Na visão de Guilherme Fowler, professor de empreendedorismo do Insper, a pandemia também está acelerando os planos dessa nova geração de startups latinas. “Com a crise e a desaceleração das economias nacionais, a base de consumidores dentro desses países acaba não se expandindo como as empresas gostariam”, afirma. “Vir para o Brasil é um caminho para buscar novos clientes.”

Inspiração

As trajetórias do Mercado Livre e da Rappi também funcionam como um exemplo para essas empresas, afirmam especialistas – algo que é visto com bons olhos pela colombiana. “Acredito que passamos a inspiração de que o Brasil é um país com muita oportunidade e que gosta de tecnologia e inovação”, diz Sérgio Saraiva, presidente do Rappi no Brasil. 

Porém, apesar do potencial, o processo de conquistar um novo mercado não é simples: segundo os especialistas ouvidos pelo Estadão, diferenças na legislação e nos costumes podem ser entraves para as latinas aqui. Além disso, lidar com malha tributária brasileira e até mesmo a desvalorização cambial atual podem desanimar os novatos. 

Para deslanchar no Brasil e superar esses problemas, a startup de logística Liftit aposta em parcerias com empresas brasileiras – caso da aliança com a TruckPad, por exemplo, para ter acesso à uma rede de caminhoneiros. Outra parceria que está sendo costurada para breve é com a Loggi. Fundada em janeiro de 2017 na Colômbia, a Liftit tem 40 funcionários em São Paulo e mais dois no Rio de Janeiro, além de clientes como Renner e Danone, interessadas na solução de transporte de “última milha” da empresa. 

Quem também aposta no conhecimento de parceiros locais é a chilena Cornershop, que faz entregas de produtos de mercado. Comprada pelo Uber em outubro de 2019, a empresa começou a operar discretamente no Brasil em janeiro. “Esperamos que o Brasil daqui a pouco tempo seja o nosso principal mercado pelo menos na América Latina. Para nós, o Brasil é um mercado-chave não só pelo tamanho, mas também porque a adoção do usuário é muito grande”, diz Felix Lulion, diretor de expansão da Cornershop

Para Guilherme Fowler, do Insper, o desempenho das startups latinas no País pode trazer respostas interessantes – não só para as empresas, mas para o ecossistema brasileiro. “Se elas forem bem sucedidas, será um sinal de que o mercado nacional é dinâmico e aberto, mesmo em tempos de crise.” 

Seja pelas dimensões continentais ou pela quantidade de gente, poucas são as startups brasileiras que já são criadas olhando para todo o continente americano – o mais comum é que a atuação se limite às fronteiras nacionais. Mas a recíproca não é verdadeira:inspiradas pelo exemplo da argentina Mercado Livre e, mais recentemente, da colombiana Rappi, uma nova geração de startups latinas têm chegado ao Brasil nos últimos tempos, de olho em fazer do País não só uma base para o crescimento, mas também seu maior mercado. 

Uma delas é a argentina Wabi, dona de um aplicativo de delivery que pode ser definido como “Rappi de bairro”, com foco em pequenos comércios, como mercadinhos, padarias e lojas de conveniência. Fundada em 2019 e já presente em 13 países, a empresa abriu sua operação no Brasil em março, após ter sido impulsionada pela Coca-Cola em seu país de origem. Por aqui, já tem cerca de 800 estabelecimentos parceiros no Rio de Janeiro e em São Paulo. Mas os planos são grandes.

Aplicativo Wabi, comandado porCarla Papazian no País, aposta em entregas de comércio de bairro em até 15 minutos Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Hoje, o México representa quase 40% da nossa operação mundial. Mas pelo tamanho e pelo potencial do mercado brasileiro, a expectativa é de que o País represente 70% do mercado global da Wabi em 2021”, disse Carla Papazian, gerente da Wabi no Brasil, em entrevista ao Estadão — a executiva argentina se mudou para São Paulo no ano passado para administrar a operação do app. Para se diferenciar de concorrentes como iFood, UberEats e a própria Rappi, a Wabi aposta em entregas superlocais, de até 15 minutos, feitas pelos próprios estabelecimentos de bairro. 

Não há cobrança de taxas de entrega nem custo para os lojistas – por enquanto, a operação é sustentada por dinheiro de investimentos, mas a meta é fechar parcerias com empresas de bens de consumo a médio prazo. Outro diferencial está na forma do pedido ser realizado: ao entrar no app, o usuário escolhe os produtos que deseja, e, em seguida, a plataforma envia um alerta para os estabelecimento próximos — a loja que aceitar o pedido será responsável pela entrega.

Para Gilberto Sarfati, coordenador do mestrado de gestão e competitividade da FGV, é natural que startups latinas olhem para o mercado brasileiro. “O Brasil é um mercado gigantesco para elas, além de ser próximo fisicamente e culturalmente”, diz. “Muitas vezes, as operações brasileiras dessas empresas acabam se tornando maiores que a atuação no próprio país de origem, como é o caso do Mercado Livre.”

‘¡Hola!’

No caso da mexicana Yalochat, o Brasil é particularmente atrativo por ser um dos maiores consumidores de WhatsApp do mundo — a startup oferece uma plataforma para companhias personalizarem o atendimento de seus consumidores por meio de apps de mensagens como WhatsApp, Facebook Messenger e WeChat, sem a necessidade de download de um novo aplicativo. A empresa começou a operar no Brasil há um ano e meio. 

Em agosto, a empresa ganhou um reforço “local”: um aporte de US$ 15 milhões liderado pelo fundo B Capital Group, de Eduardo Saverin, o brasileiro cofundador do Facebook. Entre outros planos, parte do dinheiro será usado para a expansão da operação no Brasil, que já conta com clientes como a Femsa – lá fora, a empresa é parceira de marcas como Nestlé e Burger King. 

“O Brasil é uma das nossas prioridades. Vemos que o País está se digitalizando muito, mas o movimento não acontece em todo lugar”, diz Javier Mata, CEO da Yalochat. “Ainda há muito espaço para democratizar o uso de tecnologia e permitir que todo mundo que temWhatsApp, que é uma ferramenta acessível, consiga usar serviços digitais”, afirma o executivo, que diz estar estudando português. 

Na visão de Guilherme Fowler, professor de empreendedorismo do Insper, a pandemia também está acelerando os planos dessa nova geração de startups latinas. “Com a crise e a desaceleração das economias nacionais, a base de consumidores dentro desses países acaba não se expandindo como as empresas gostariam”, afirma. “Vir para o Brasil é um caminho para buscar novos clientes.”

Inspiração

As trajetórias do Mercado Livre e da Rappi também funcionam como um exemplo para essas empresas, afirmam especialistas – algo que é visto com bons olhos pela colombiana. “Acredito que passamos a inspiração de que o Brasil é um país com muita oportunidade e que gosta de tecnologia e inovação”, diz Sérgio Saraiva, presidente do Rappi no Brasil. 

Porém, apesar do potencial, o processo de conquistar um novo mercado não é simples: segundo os especialistas ouvidos pelo Estadão, diferenças na legislação e nos costumes podem ser entraves para as latinas aqui. Além disso, lidar com malha tributária brasileira e até mesmo a desvalorização cambial atual podem desanimar os novatos. 

Para deslanchar no Brasil e superar esses problemas, a startup de logística Liftit aposta em parcerias com empresas brasileiras – caso da aliança com a TruckPad, por exemplo, para ter acesso à uma rede de caminhoneiros. Outra parceria que está sendo costurada para breve é com a Loggi. Fundada em janeiro de 2017 na Colômbia, a Liftit tem 40 funcionários em São Paulo e mais dois no Rio de Janeiro, além de clientes como Renner e Danone, interessadas na solução de transporte de “última milha” da empresa. 

Quem também aposta no conhecimento de parceiros locais é a chilena Cornershop, que faz entregas de produtos de mercado. Comprada pelo Uber em outubro de 2019, a empresa começou a operar discretamente no Brasil em janeiro. “Esperamos que o Brasil daqui a pouco tempo seja o nosso principal mercado pelo menos na América Latina. Para nós, o Brasil é um mercado-chave não só pelo tamanho, mas também porque a adoção do usuário é muito grande”, diz Felix Lulion, diretor de expansão da Cornershop

Para Guilherme Fowler, do Insper, o desempenho das startups latinas no País pode trazer respostas interessantes – não só para as empresas, mas para o ecossistema brasileiro. “Se elas forem bem sucedidas, será um sinal de que o mercado nacional é dinâmico e aberto, mesmo em tempos de crise.” 

Seja pelas dimensões continentais ou pela quantidade de gente, poucas são as startups brasileiras que já são criadas olhando para todo o continente americano – o mais comum é que a atuação se limite às fronteiras nacionais. Mas a recíproca não é verdadeira:inspiradas pelo exemplo da argentina Mercado Livre e, mais recentemente, da colombiana Rappi, uma nova geração de startups latinas têm chegado ao Brasil nos últimos tempos, de olho em fazer do País não só uma base para o crescimento, mas também seu maior mercado. 

Uma delas é a argentina Wabi, dona de um aplicativo de delivery que pode ser definido como “Rappi de bairro”, com foco em pequenos comércios, como mercadinhos, padarias e lojas de conveniência. Fundada em 2019 e já presente em 13 países, a empresa abriu sua operação no Brasil em março, após ter sido impulsionada pela Coca-Cola em seu país de origem. Por aqui, já tem cerca de 800 estabelecimentos parceiros no Rio de Janeiro e em São Paulo. Mas os planos são grandes.

Aplicativo Wabi, comandado porCarla Papazian no País, aposta em entregas de comércio de bairro em até 15 minutos Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Hoje, o México representa quase 40% da nossa operação mundial. Mas pelo tamanho e pelo potencial do mercado brasileiro, a expectativa é de que o País represente 70% do mercado global da Wabi em 2021”, disse Carla Papazian, gerente da Wabi no Brasil, em entrevista ao Estadão — a executiva argentina se mudou para São Paulo no ano passado para administrar a operação do app. Para se diferenciar de concorrentes como iFood, UberEats e a própria Rappi, a Wabi aposta em entregas superlocais, de até 15 minutos, feitas pelos próprios estabelecimentos de bairro. 

Não há cobrança de taxas de entrega nem custo para os lojistas – por enquanto, a operação é sustentada por dinheiro de investimentos, mas a meta é fechar parcerias com empresas de bens de consumo a médio prazo. Outro diferencial está na forma do pedido ser realizado: ao entrar no app, o usuário escolhe os produtos que deseja, e, em seguida, a plataforma envia um alerta para os estabelecimento próximos — a loja que aceitar o pedido será responsável pela entrega.

Para Gilberto Sarfati, coordenador do mestrado de gestão e competitividade da FGV, é natural que startups latinas olhem para o mercado brasileiro. “O Brasil é um mercado gigantesco para elas, além de ser próximo fisicamente e culturalmente”, diz. “Muitas vezes, as operações brasileiras dessas empresas acabam se tornando maiores que a atuação no próprio país de origem, como é o caso do Mercado Livre.”

‘¡Hola!’

No caso da mexicana Yalochat, o Brasil é particularmente atrativo por ser um dos maiores consumidores de WhatsApp do mundo — a startup oferece uma plataforma para companhias personalizarem o atendimento de seus consumidores por meio de apps de mensagens como WhatsApp, Facebook Messenger e WeChat, sem a necessidade de download de um novo aplicativo. A empresa começou a operar no Brasil há um ano e meio. 

Em agosto, a empresa ganhou um reforço “local”: um aporte de US$ 15 milhões liderado pelo fundo B Capital Group, de Eduardo Saverin, o brasileiro cofundador do Facebook. Entre outros planos, parte do dinheiro será usado para a expansão da operação no Brasil, que já conta com clientes como a Femsa – lá fora, a empresa é parceira de marcas como Nestlé e Burger King. 

“O Brasil é uma das nossas prioridades. Vemos que o País está se digitalizando muito, mas o movimento não acontece em todo lugar”, diz Javier Mata, CEO da Yalochat. “Ainda há muito espaço para democratizar o uso de tecnologia e permitir que todo mundo que temWhatsApp, que é uma ferramenta acessível, consiga usar serviços digitais”, afirma o executivo, que diz estar estudando português. 

Na visão de Guilherme Fowler, professor de empreendedorismo do Insper, a pandemia também está acelerando os planos dessa nova geração de startups latinas. “Com a crise e a desaceleração das economias nacionais, a base de consumidores dentro desses países acaba não se expandindo como as empresas gostariam”, afirma. “Vir para o Brasil é um caminho para buscar novos clientes.”

Inspiração

As trajetórias do Mercado Livre e da Rappi também funcionam como um exemplo para essas empresas, afirmam especialistas – algo que é visto com bons olhos pela colombiana. “Acredito que passamos a inspiração de que o Brasil é um país com muita oportunidade e que gosta de tecnologia e inovação”, diz Sérgio Saraiva, presidente do Rappi no Brasil. 

Porém, apesar do potencial, o processo de conquistar um novo mercado não é simples: segundo os especialistas ouvidos pelo Estadão, diferenças na legislação e nos costumes podem ser entraves para as latinas aqui. Além disso, lidar com malha tributária brasileira e até mesmo a desvalorização cambial atual podem desanimar os novatos. 

Para deslanchar no Brasil e superar esses problemas, a startup de logística Liftit aposta em parcerias com empresas brasileiras – caso da aliança com a TruckPad, por exemplo, para ter acesso à uma rede de caminhoneiros. Outra parceria que está sendo costurada para breve é com a Loggi. Fundada em janeiro de 2017 na Colômbia, a Liftit tem 40 funcionários em São Paulo e mais dois no Rio de Janeiro, além de clientes como Renner e Danone, interessadas na solução de transporte de “última milha” da empresa. 

Quem também aposta no conhecimento de parceiros locais é a chilena Cornershop, que faz entregas de produtos de mercado. Comprada pelo Uber em outubro de 2019, a empresa começou a operar discretamente no Brasil em janeiro. “Esperamos que o Brasil daqui a pouco tempo seja o nosso principal mercado pelo menos na América Latina. Para nós, o Brasil é um mercado-chave não só pelo tamanho, mas também porque a adoção do usuário é muito grande”, diz Felix Lulion, diretor de expansão da Cornershop

Para Guilherme Fowler, do Insper, o desempenho das startups latinas no País pode trazer respostas interessantes – não só para as empresas, mas para o ecossistema brasileiro. “Se elas forem bem sucedidas, será um sinal de que o mercado nacional é dinâmico e aberto, mesmo em tempos de crise.” 

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