‘Agora somos uma empresa de moradia’, diz CEO do QuintoAndar


Após virar unicórnio em 2019 e ver movimentação grande no mercado em 2020, startup mira o mercado de compra e venda de residências e almeja reduzir burocracias com inovação

Por Bruno Capelas

Ao longo dos últimos anos, a startup brasileira QuintoAndar ficou conhecida pelo aluguel residencial. Dona de um sistema que conecta inquilinos e proprietários sem precisar de seguro fiança, caução ou fiador, a empresa chegou em 2019 ao raro status de unicórnio – avaliada em pelo menos US$ 1 bilhão – justamente por conta desse serviço. Mas agora a companhia de Gabriel Braga e André Penha quer ir além: “agora somos uma empresa de moradia”, diz o primeiro, CEO da empresa, em entrevista ao Estadão

Em outras palavras, ele busca dar destaque ao fato de que o QuintoAndar agora também oferece um serviço para quem quer comprar ou vender uma casa. Foi algo anunciado no final de 2019, que se acelerou ao longo de 2020, e agora é o plano principal da empresa para 2021. Para Braga, mais do que a simples intermediação de compra e venda, sua startup pode ajudar a aliviar algumas dores desse mercado – como facilitar o crédito, melhorar a burocracia e reduzir tempo de transação. “Às vezes, você demora quatro meses entre fazer a compra e pegar a chave. Não é nem preciso dizer que isso é uma dor do mercado”, afirma. 

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Gabriel Braga, do QuintoAndar, mira expansão de compra e venda de imóveis em 2021 Foto: QuintoAndar

Um dos focos nessa expansão, além da inovação, será o aspecto geográfico: hoje, o QuintoAndar atua em 30 cidades com o serviço de aluguel. Já o de compra e venda está em apenas 12, sendo só duas capitais – Rio e São Paulo. Mas, para crescer neste mercado, a empresa vai enfrentar uma concorrência crescente. Além de outras startups de peso, como a OLX e a Loft, a companhia também terá pela frente uma série de novas startups no mercado imobiliário, que já tratam o QuintoAndar como uma “empresa tradicional”. “É algo que me deixa orgulhoso, mas também humilde”, diz Braga. 

Ao Estadão, ele fala ainda sobre como o QuintoAndar atravessou 2020 – a empresa chegou à marca de R$ 30 bilhões em ativos sob gestão em setembro – e os planos para o futuro. Também detalha mais sobre que inovações podem acontecer no mercado de habitação e comenta o momento do ecossistema nacional. Para Braga, há uma safra muito boa de novas empresas surgindo, com fundadores, investidores e times já sabendo bem o que fazer. A seguir, os principais trechos da entrevista.

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2020 foi um ano muito desafiador para startups. Como o QuintoAndar chega ao final dessa temporada? 

Nós aprendemos muito neste ano, seja pela pandemia bagunçando o dia a dia ou por uma intenção nossa de expandir nossa visão. Começamos o ano como uma empresa focada em aluguel, agora somos uma empresa focada em moradia. Nós lançamos compra e venda de apartamentos no final do ano passado e é um segmento que cresceu muito rápido. Ele pegou carona na infraestrutura que a gente já tinha para o aluguel. Agora, queremos desenvolver inovações específicas para esse mercado. Há muita sinergia entre os dois produtos, era uma hipótese que se comprovou. A principal aposta para 2021 é focar nessa expansão da plataforma de moradia. 

No meio do ano, o sr. disse ao Estadão que as pessoas estavam repensando suas casas. Como isso de fato se mostrou ao longo do ano? 

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Isso se consolidou ao longo dos últimos seis meses, mas houve migração em todas as direções. Houve quem buscou imóveis maiores em regiões fora do centro, mas também uma busca grande por imóveis mais baratos, para quem estava tentando readequar orçamentos. Com isso, veio também uma redução de juros e movimentação que aqueceu o mercado. Nos próximos anos, teremos uma combinação interessante: as pessoas vão valorizar mais suas casas e há um movimento econômico que vai privilegiar a compra de imóveis, seja para morar ou para alugar. Além disso, vamos ver uma profissionalização do aluguel: quando os juros caem e a renda fixa deixa de ser atrativa, os imóveis voltam a ser interessantes como investimento. Isso trará um efeito saudável no mercado. 

Aluguel e compra de imóveis são dois negócios parecidos, mas também diferentes: um tem recorrência, o outro não, por exemplo. O que o sr. vê de sinergias e disparidades nas duas áreas?

A parte que é similar ao aluguel é que é preciso ter um estoque de imóveis grande, bem organizado, para que depois ele possa ser transacionado da melhor forma possível. Além disso, nós conseguimos agregar ao aluguel uma série de ferramentas que facilitam a vida do proprietário. Esperamos fazer algo similar no mercado de compra e venda de imóveis, com imóveis mais acessíveis e transações mais rápidas. Hoje, o processo de crédito imobiliário é obscuro, até porque muita gente não passa por isso mais de uma vez, então é difícil. E às vezes, demora três ou quatro meses para pegar a chave do imóvel. Não precisa nem dizer que isso é uma dor do mercado. Além disso, é um setor cheio de frio na barriga e assimetria de informação. 

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Que tipo de coisas podem ser desenvolvidas, ainda mais em um mercado que tem forte presença do setor público, como o de habitação? 

Tem uma parte do negócio que está sim, atrelada ao governo e controlada pelos grandes bancos. Não dá para criar alternativas de financiamento que vão ser tão competitivas quanto as do setor público, mas é possível criar mecanismos alternativos e processos diferentes. Podemos olhar para algo que ajude o cliente a acessar o financiamento, mas de forma diferente e isso pode mudar o mercado. Os produtos financeiros, por si só, podem não ser tão diferenciados entre si. Mas quando eles estão conectados com uma visão de ponta a ponta, isso faz diferença. E nós temos isso: podemos ser marketplace, mas também fintech, com gerenciamento de propriedade, são pecinhas de uma engrenagem que dão uma experiência fluida para o cliente. 

Em 2019, um dos grandes anúncios do QuintoAndar foi um programa de reformas de apartamentos, em que a startup punha a mão na massa pelos proprietários. Em 2020, o programa foi encerrado. O que aconteceu? 

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Foi uma experiência válida. Nosso objetivo principal era inspirar o mercado na importância de cuidar dos imóveis. E ali, provamos que a reforma agrega valor tanto para proprietários quanto para inquilinos. É difícil atrair um cliente quando o produto é ruim e abandonado. Mas a gente também queria entender até onde a gente ia. Somos uma empresa de tecnologia e precisamos de escala para ter liquidez. E reforma é uma área difícil de escalar. O problema continua lá, a oportunidade também, mas agora estimulamos os proprietários a fazer as reformas de outra forma. 

Nos últimos meses, muitas startups têm aparecido no setor de habitação e usam o QuintoAndar como uma referência de incumbente, quase como as fintechs faziam com os bancões. Como é se ver nesse lugar? 

É natural que as pessoas precisem de referências. Tem dois lados nisso: um é o fato de que as startups estão nesse caminho porque alguém já mostrou que a tese faz sentido. E tem outro que é o processo de inovação e imitação andando lado a lado. Não sei se isso me afeta, para falar a verdade. O relevante é pensar o que o mercado e o cliente quer: algumas dessas empresas atuam de forma complementar à gente, outras vão competir. Mas me deixa orgulhoso ser referência. Por outro lado, quero ser humilde e pensar que o mundo segue andando. Precisamos continuar inovando e criando, mas de forma geral, é positivo que haja esse darwinismo. 

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O QuintoAndar virou unicórnio em 2019, bem como outras startups do País. Agora, esse grupo enfrenta um outro desafio, que é avançar para um patamar quase inédito em empresas de tecnologia no Brasil. Como o sr. vê esse momento? 

Nós começamos a ter agora uma safra de empresas. Isso vai ser interessante. Tem um grupo de empresas que recebeu aportes em 2019, com o mercado aquecido, e agora atravessou o turbilhão de 2020. Nos próximos anos, essas empresas vão criar uma musculatura de verdade e atingir uma escala interessante. Em 2021 e 2022, vamos ver quem está mesmo trilhando o rumo de ser uma empresa duradoura, seja com novas rodadas ou começando a pensar em abrir capital. É interessante pensar nisso, até porque estamos vendo marcos acontecendo aqui e lá fora: eu passei pelo Airbnb em 2011, olha o impacto que eles causam hoje no mundo. O mesmo vale para o DoorDash, que era uma sala na frente da minha no MBA em Stanford. Vai ser legal ver exemplos brasileiros disso. Em 2020, a gente viu o MercadoLivre ser a maior empresa latina, e é uma empresa de tech. Nos próximos cinco anos, vamos ver outras empresas latinas e brasileiras entrando nesses rankings. No QuintoAndar, o que motiva a gente é uma jornada duradoura. 

E como o sr. vê o momento do ecossistema? 

Tem uma nova geração de empresas vindo aí que me impressiona muito. Especialmente pelo preparo tanto de fundadores e investidores, como dos times. No início, a gente tentava muito descobrir como fazer as coisas. A nova geração se beneficia disso: tem fundador que já sabe o que fazer, as primeiras 10, 20, 50 pessoas do time já passou por startups e entende do riscado. Além disso, os investidores já entendem melhor a natureza dos negócios, estão confiantes em suas apostas e tem velocidade nas decisões. Acredito que essa nova sofra vai chegar a patamares interessantes em menos tempo, vai ter uma escalada mais rápida. 

O sr. passou pelo Airbnb em 2011 e eles agora abriram capital. Em 2020, também vimos IPOs de startups brasileiras na B3. É algo que o QuintoAndar ambiciona? 

No QuintoAndar, a gente pensa que quer ser uma empresa duradoura e assume que a gente um dia vai ser uma empresa pública. É um mecanismo de amadurecimento e perenidade, mas sem pressa ou plano específico. O que acho que mudou é que, nos últimos 10 anos, muitas empresas grandes ficaram muito grandes no mercado privado. E nos fundadores, isso criou alergia ao mercado público. Dá dor de cabeça prestar contas trimestralmente, ainda mais quando há dinheiro disponível no mercado privado. Por outro lado, começo a perceber maior preparo do mercado público para acolher empresas de tecnologia, valorizando essas empresas e permitindo que elas cresçam. Amazon e MercadoLivre são dois exemplos disso. Acho que é algo positivo para o ecossistema. Para nós, tentamos nos preparar para isso, olhando para excelência de gestão e organização, mas não chegou a hora certa para a gente. 

Ao longo dos últimos anos, a startup brasileira QuintoAndar ficou conhecida pelo aluguel residencial. Dona de um sistema que conecta inquilinos e proprietários sem precisar de seguro fiança, caução ou fiador, a empresa chegou em 2019 ao raro status de unicórnio – avaliada em pelo menos US$ 1 bilhão – justamente por conta desse serviço. Mas agora a companhia de Gabriel Braga e André Penha quer ir além: “agora somos uma empresa de moradia”, diz o primeiro, CEO da empresa, em entrevista ao Estadão

Em outras palavras, ele busca dar destaque ao fato de que o QuintoAndar agora também oferece um serviço para quem quer comprar ou vender uma casa. Foi algo anunciado no final de 2019, que se acelerou ao longo de 2020, e agora é o plano principal da empresa para 2021. Para Braga, mais do que a simples intermediação de compra e venda, sua startup pode ajudar a aliviar algumas dores desse mercado – como facilitar o crédito, melhorar a burocracia e reduzir tempo de transação. “Às vezes, você demora quatro meses entre fazer a compra e pegar a chave. Não é nem preciso dizer que isso é uma dor do mercado”, afirma. 

Gabriel Braga, do QuintoAndar, mira expansão de compra e venda de imóveis em 2021 Foto: QuintoAndar

Um dos focos nessa expansão, além da inovação, será o aspecto geográfico: hoje, o QuintoAndar atua em 30 cidades com o serviço de aluguel. Já o de compra e venda está em apenas 12, sendo só duas capitais – Rio e São Paulo. Mas, para crescer neste mercado, a empresa vai enfrentar uma concorrência crescente. Além de outras startups de peso, como a OLX e a Loft, a companhia também terá pela frente uma série de novas startups no mercado imobiliário, que já tratam o QuintoAndar como uma “empresa tradicional”. “É algo que me deixa orgulhoso, mas também humilde”, diz Braga. 

Ao Estadão, ele fala ainda sobre como o QuintoAndar atravessou 2020 – a empresa chegou à marca de R$ 30 bilhões em ativos sob gestão em setembro – e os planos para o futuro. Também detalha mais sobre que inovações podem acontecer no mercado de habitação e comenta o momento do ecossistema nacional. Para Braga, há uma safra muito boa de novas empresas surgindo, com fundadores, investidores e times já sabendo bem o que fazer. A seguir, os principais trechos da entrevista.

2020 foi um ano muito desafiador para startups. Como o QuintoAndar chega ao final dessa temporada? 

Nós aprendemos muito neste ano, seja pela pandemia bagunçando o dia a dia ou por uma intenção nossa de expandir nossa visão. Começamos o ano como uma empresa focada em aluguel, agora somos uma empresa focada em moradia. Nós lançamos compra e venda de apartamentos no final do ano passado e é um segmento que cresceu muito rápido. Ele pegou carona na infraestrutura que a gente já tinha para o aluguel. Agora, queremos desenvolver inovações específicas para esse mercado. Há muita sinergia entre os dois produtos, era uma hipótese que se comprovou. A principal aposta para 2021 é focar nessa expansão da plataforma de moradia. 

No meio do ano, o sr. disse ao Estadão que as pessoas estavam repensando suas casas. Como isso de fato se mostrou ao longo do ano? 

Isso se consolidou ao longo dos últimos seis meses, mas houve migração em todas as direções. Houve quem buscou imóveis maiores em regiões fora do centro, mas também uma busca grande por imóveis mais baratos, para quem estava tentando readequar orçamentos. Com isso, veio também uma redução de juros e movimentação que aqueceu o mercado. Nos próximos anos, teremos uma combinação interessante: as pessoas vão valorizar mais suas casas e há um movimento econômico que vai privilegiar a compra de imóveis, seja para morar ou para alugar. Além disso, vamos ver uma profissionalização do aluguel: quando os juros caem e a renda fixa deixa de ser atrativa, os imóveis voltam a ser interessantes como investimento. Isso trará um efeito saudável no mercado. 

Aluguel e compra de imóveis são dois negócios parecidos, mas também diferentes: um tem recorrência, o outro não, por exemplo. O que o sr. vê de sinergias e disparidades nas duas áreas?

A parte que é similar ao aluguel é que é preciso ter um estoque de imóveis grande, bem organizado, para que depois ele possa ser transacionado da melhor forma possível. Além disso, nós conseguimos agregar ao aluguel uma série de ferramentas que facilitam a vida do proprietário. Esperamos fazer algo similar no mercado de compra e venda de imóveis, com imóveis mais acessíveis e transações mais rápidas. Hoje, o processo de crédito imobiliário é obscuro, até porque muita gente não passa por isso mais de uma vez, então é difícil. E às vezes, demora três ou quatro meses para pegar a chave do imóvel. Não precisa nem dizer que isso é uma dor do mercado. Além disso, é um setor cheio de frio na barriga e assimetria de informação. 

Que tipo de coisas podem ser desenvolvidas, ainda mais em um mercado que tem forte presença do setor público, como o de habitação? 

Tem uma parte do negócio que está sim, atrelada ao governo e controlada pelos grandes bancos. Não dá para criar alternativas de financiamento que vão ser tão competitivas quanto as do setor público, mas é possível criar mecanismos alternativos e processos diferentes. Podemos olhar para algo que ajude o cliente a acessar o financiamento, mas de forma diferente e isso pode mudar o mercado. Os produtos financeiros, por si só, podem não ser tão diferenciados entre si. Mas quando eles estão conectados com uma visão de ponta a ponta, isso faz diferença. E nós temos isso: podemos ser marketplace, mas também fintech, com gerenciamento de propriedade, são pecinhas de uma engrenagem que dão uma experiência fluida para o cliente. 

Em 2019, um dos grandes anúncios do QuintoAndar foi um programa de reformas de apartamentos, em que a startup punha a mão na massa pelos proprietários. Em 2020, o programa foi encerrado. O que aconteceu? 

Foi uma experiência válida. Nosso objetivo principal era inspirar o mercado na importância de cuidar dos imóveis. E ali, provamos que a reforma agrega valor tanto para proprietários quanto para inquilinos. É difícil atrair um cliente quando o produto é ruim e abandonado. Mas a gente também queria entender até onde a gente ia. Somos uma empresa de tecnologia e precisamos de escala para ter liquidez. E reforma é uma área difícil de escalar. O problema continua lá, a oportunidade também, mas agora estimulamos os proprietários a fazer as reformas de outra forma. 

Nos últimos meses, muitas startups têm aparecido no setor de habitação e usam o QuintoAndar como uma referência de incumbente, quase como as fintechs faziam com os bancões. Como é se ver nesse lugar? 

É natural que as pessoas precisem de referências. Tem dois lados nisso: um é o fato de que as startups estão nesse caminho porque alguém já mostrou que a tese faz sentido. E tem outro que é o processo de inovação e imitação andando lado a lado. Não sei se isso me afeta, para falar a verdade. O relevante é pensar o que o mercado e o cliente quer: algumas dessas empresas atuam de forma complementar à gente, outras vão competir. Mas me deixa orgulhoso ser referência. Por outro lado, quero ser humilde e pensar que o mundo segue andando. Precisamos continuar inovando e criando, mas de forma geral, é positivo que haja esse darwinismo. 

O QuintoAndar virou unicórnio em 2019, bem como outras startups do País. Agora, esse grupo enfrenta um outro desafio, que é avançar para um patamar quase inédito em empresas de tecnologia no Brasil. Como o sr. vê esse momento? 

Nós começamos a ter agora uma safra de empresas. Isso vai ser interessante. Tem um grupo de empresas que recebeu aportes em 2019, com o mercado aquecido, e agora atravessou o turbilhão de 2020. Nos próximos anos, essas empresas vão criar uma musculatura de verdade e atingir uma escala interessante. Em 2021 e 2022, vamos ver quem está mesmo trilhando o rumo de ser uma empresa duradoura, seja com novas rodadas ou começando a pensar em abrir capital. É interessante pensar nisso, até porque estamos vendo marcos acontecendo aqui e lá fora: eu passei pelo Airbnb em 2011, olha o impacto que eles causam hoje no mundo. O mesmo vale para o DoorDash, que era uma sala na frente da minha no MBA em Stanford. Vai ser legal ver exemplos brasileiros disso. Em 2020, a gente viu o MercadoLivre ser a maior empresa latina, e é uma empresa de tech. Nos próximos cinco anos, vamos ver outras empresas latinas e brasileiras entrando nesses rankings. No QuintoAndar, o que motiva a gente é uma jornada duradoura. 

E como o sr. vê o momento do ecossistema? 

Tem uma nova geração de empresas vindo aí que me impressiona muito. Especialmente pelo preparo tanto de fundadores e investidores, como dos times. No início, a gente tentava muito descobrir como fazer as coisas. A nova geração se beneficia disso: tem fundador que já sabe o que fazer, as primeiras 10, 20, 50 pessoas do time já passou por startups e entende do riscado. Além disso, os investidores já entendem melhor a natureza dos negócios, estão confiantes em suas apostas e tem velocidade nas decisões. Acredito que essa nova sofra vai chegar a patamares interessantes em menos tempo, vai ter uma escalada mais rápida. 

O sr. passou pelo Airbnb em 2011 e eles agora abriram capital. Em 2020, também vimos IPOs de startups brasileiras na B3. É algo que o QuintoAndar ambiciona? 

No QuintoAndar, a gente pensa que quer ser uma empresa duradoura e assume que a gente um dia vai ser uma empresa pública. É um mecanismo de amadurecimento e perenidade, mas sem pressa ou plano específico. O que acho que mudou é que, nos últimos 10 anos, muitas empresas grandes ficaram muito grandes no mercado privado. E nos fundadores, isso criou alergia ao mercado público. Dá dor de cabeça prestar contas trimestralmente, ainda mais quando há dinheiro disponível no mercado privado. Por outro lado, começo a perceber maior preparo do mercado público para acolher empresas de tecnologia, valorizando essas empresas e permitindo que elas cresçam. Amazon e MercadoLivre são dois exemplos disso. Acho que é algo positivo para o ecossistema. Para nós, tentamos nos preparar para isso, olhando para excelência de gestão e organização, mas não chegou a hora certa para a gente. 

Ao longo dos últimos anos, a startup brasileira QuintoAndar ficou conhecida pelo aluguel residencial. Dona de um sistema que conecta inquilinos e proprietários sem precisar de seguro fiança, caução ou fiador, a empresa chegou em 2019 ao raro status de unicórnio – avaliada em pelo menos US$ 1 bilhão – justamente por conta desse serviço. Mas agora a companhia de Gabriel Braga e André Penha quer ir além: “agora somos uma empresa de moradia”, diz o primeiro, CEO da empresa, em entrevista ao Estadão

Em outras palavras, ele busca dar destaque ao fato de que o QuintoAndar agora também oferece um serviço para quem quer comprar ou vender uma casa. Foi algo anunciado no final de 2019, que se acelerou ao longo de 2020, e agora é o plano principal da empresa para 2021. Para Braga, mais do que a simples intermediação de compra e venda, sua startup pode ajudar a aliviar algumas dores desse mercado – como facilitar o crédito, melhorar a burocracia e reduzir tempo de transação. “Às vezes, você demora quatro meses entre fazer a compra e pegar a chave. Não é nem preciso dizer que isso é uma dor do mercado”, afirma. 

Gabriel Braga, do QuintoAndar, mira expansão de compra e venda de imóveis em 2021 Foto: QuintoAndar

Um dos focos nessa expansão, além da inovação, será o aspecto geográfico: hoje, o QuintoAndar atua em 30 cidades com o serviço de aluguel. Já o de compra e venda está em apenas 12, sendo só duas capitais – Rio e São Paulo. Mas, para crescer neste mercado, a empresa vai enfrentar uma concorrência crescente. Além de outras startups de peso, como a OLX e a Loft, a companhia também terá pela frente uma série de novas startups no mercado imobiliário, que já tratam o QuintoAndar como uma “empresa tradicional”. “É algo que me deixa orgulhoso, mas também humilde”, diz Braga. 

Ao Estadão, ele fala ainda sobre como o QuintoAndar atravessou 2020 – a empresa chegou à marca de R$ 30 bilhões em ativos sob gestão em setembro – e os planos para o futuro. Também detalha mais sobre que inovações podem acontecer no mercado de habitação e comenta o momento do ecossistema nacional. Para Braga, há uma safra muito boa de novas empresas surgindo, com fundadores, investidores e times já sabendo bem o que fazer. A seguir, os principais trechos da entrevista.

2020 foi um ano muito desafiador para startups. Como o QuintoAndar chega ao final dessa temporada? 

Nós aprendemos muito neste ano, seja pela pandemia bagunçando o dia a dia ou por uma intenção nossa de expandir nossa visão. Começamos o ano como uma empresa focada em aluguel, agora somos uma empresa focada em moradia. Nós lançamos compra e venda de apartamentos no final do ano passado e é um segmento que cresceu muito rápido. Ele pegou carona na infraestrutura que a gente já tinha para o aluguel. Agora, queremos desenvolver inovações específicas para esse mercado. Há muita sinergia entre os dois produtos, era uma hipótese que se comprovou. A principal aposta para 2021 é focar nessa expansão da plataforma de moradia. 

No meio do ano, o sr. disse ao Estadão que as pessoas estavam repensando suas casas. Como isso de fato se mostrou ao longo do ano? 

Isso se consolidou ao longo dos últimos seis meses, mas houve migração em todas as direções. Houve quem buscou imóveis maiores em regiões fora do centro, mas também uma busca grande por imóveis mais baratos, para quem estava tentando readequar orçamentos. Com isso, veio também uma redução de juros e movimentação que aqueceu o mercado. Nos próximos anos, teremos uma combinação interessante: as pessoas vão valorizar mais suas casas e há um movimento econômico que vai privilegiar a compra de imóveis, seja para morar ou para alugar. Além disso, vamos ver uma profissionalização do aluguel: quando os juros caem e a renda fixa deixa de ser atrativa, os imóveis voltam a ser interessantes como investimento. Isso trará um efeito saudável no mercado. 

Aluguel e compra de imóveis são dois negócios parecidos, mas também diferentes: um tem recorrência, o outro não, por exemplo. O que o sr. vê de sinergias e disparidades nas duas áreas?

A parte que é similar ao aluguel é que é preciso ter um estoque de imóveis grande, bem organizado, para que depois ele possa ser transacionado da melhor forma possível. Além disso, nós conseguimos agregar ao aluguel uma série de ferramentas que facilitam a vida do proprietário. Esperamos fazer algo similar no mercado de compra e venda de imóveis, com imóveis mais acessíveis e transações mais rápidas. Hoje, o processo de crédito imobiliário é obscuro, até porque muita gente não passa por isso mais de uma vez, então é difícil. E às vezes, demora três ou quatro meses para pegar a chave do imóvel. Não precisa nem dizer que isso é uma dor do mercado. Além disso, é um setor cheio de frio na barriga e assimetria de informação. 

Que tipo de coisas podem ser desenvolvidas, ainda mais em um mercado que tem forte presença do setor público, como o de habitação? 

Tem uma parte do negócio que está sim, atrelada ao governo e controlada pelos grandes bancos. Não dá para criar alternativas de financiamento que vão ser tão competitivas quanto as do setor público, mas é possível criar mecanismos alternativos e processos diferentes. Podemos olhar para algo que ajude o cliente a acessar o financiamento, mas de forma diferente e isso pode mudar o mercado. Os produtos financeiros, por si só, podem não ser tão diferenciados entre si. Mas quando eles estão conectados com uma visão de ponta a ponta, isso faz diferença. E nós temos isso: podemos ser marketplace, mas também fintech, com gerenciamento de propriedade, são pecinhas de uma engrenagem que dão uma experiência fluida para o cliente. 

Em 2019, um dos grandes anúncios do QuintoAndar foi um programa de reformas de apartamentos, em que a startup punha a mão na massa pelos proprietários. Em 2020, o programa foi encerrado. O que aconteceu? 

Foi uma experiência válida. Nosso objetivo principal era inspirar o mercado na importância de cuidar dos imóveis. E ali, provamos que a reforma agrega valor tanto para proprietários quanto para inquilinos. É difícil atrair um cliente quando o produto é ruim e abandonado. Mas a gente também queria entender até onde a gente ia. Somos uma empresa de tecnologia e precisamos de escala para ter liquidez. E reforma é uma área difícil de escalar. O problema continua lá, a oportunidade também, mas agora estimulamos os proprietários a fazer as reformas de outra forma. 

Nos últimos meses, muitas startups têm aparecido no setor de habitação e usam o QuintoAndar como uma referência de incumbente, quase como as fintechs faziam com os bancões. Como é se ver nesse lugar? 

É natural que as pessoas precisem de referências. Tem dois lados nisso: um é o fato de que as startups estão nesse caminho porque alguém já mostrou que a tese faz sentido. E tem outro que é o processo de inovação e imitação andando lado a lado. Não sei se isso me afeta, para falar a verdade. O relevante é pensar o que o mercado e o cliente quer: algumas dessas empresas atuam de forma complementar à gente, outras vão competir. Mas me deixa orgulhoso ser referência. Por outro lado, quero ser humilde e pensar que o mundo segue andando. Precisamos continuar inovando e criando, mas de forma geral, é positivo que haja esse darwinismo. 

O QuintoAndar virou unicórnio em 2019, bem como outras startups do País. Agora, esse grupo enfrenta um outro desafio, que é avançar para um patamar quase inédito em empresas de tecnologia no Brasil. Como o sr. vê esse momento? 

Nós começamos a ter agora uma safra de empresas. Isso vai ser interessante. Tem um grupo de empresas que recebeu aportes em 2019, com o mercado aquecido, e agora atravessou o turbilhão de 2020. Nos próximos anos, essas empresas vão criar uma musculatura de verdade e atingir uma escala interessante. Em 2021 e 2022, vamos ver quem está mesmo trilhando o rumo de ser uma empresa duradoura, seja com novas rodadas ou começando a pensar em abrir capital. É interessante pensar nisso, até porque estamos vendo marcos acontecendo aqui e lá fora: eu passei pelo Airbnb em 2011, olha o impacto que eles causam hoje no mundo. O mesmo vale para o DoorDash, que era uma sala na frente da minha no MBA em Stanford. Vai ser legal ver exemplos brasileiros disso. Em 2020, a gente viu o MercadoLivre ser a maior empresa latina, e é uma empresa de tech. Nos próximos cinco anos, vamos ver outras empresas latinas e brasileiras entrando nesses rankings. No QuintoAndar, o que motiva a gente é uma jornada duradoura. 

E como o sr. vê o momento do ecossistema? 

Tem uma nova geração de empresas vindo aí que me impressiona muito. Especialmente pelo preparo tanto de fundadores e investidores, como dos times. No início, a gente tentava muito descobrir como fazer as coisas. A nova geração se beneficia disso: tem fundador que já sabe o que fazer, as primeiras 10, 20, 50 pessoas do time já passou por startups e entende do riscado. Além disso, os investidores já entendem melhor a natureza dos negócios, estão confiantes em suas apostas e tem velocidade nas decisões. Acredito que essa nova sofra vai chegar a patamares interessantes em menos tempo, vai ter uma escalada mais rápida. 

O sr. passou pelo Airbnb em 2011 e eles agora abriram capital. Em 2020, também vimos IPOs de startups brasileiras na B3. É algo que o QuintoAndar ambiciona? 

No QuintoAndar, a gente pensa que quer ser uma empresa duradoura e assume que a gente um dia vai ser uma empresa pública. É um mecanismo de amadurecimento e perenidade, mas sem pressa ou plano específico. O que acho que mudou é que, nos últimos 10 anos, muitas empresas grandes ficaram muito grandes no mercado privado. E nos fundadores, isso criou alergia ao mercado público. Dá dor de cabeça prestar contas trimestralmente, ainda mais quando há dinheiro disponível no mercado privado. Por outro lado, começo a perceber maior preparo do mercado público para acolher empresas de tecnologia, valorizando essas empresas e permitindo que elas cresçam. Amazon e MercadoLivre são dois exemplos disso. Acho que é algo positivo para o ecossistema. Para nós, tentamos nos preparar para isso, olhando para excelência de gestão e organização, mas não chegou a hora certa para a gente. 

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