Conheça os planos da Movile para ir muito além do iFood


Dona do Playkids, da Sympla e outras, unicórnio movimenta R$ 1 bi ao mês e prioriza diversificação e inteligência artificial; meta é ser a 'Alphabet à brasileira', em referência à holding que controla o Google

Por Bruno Capelas

Conteúdo para crianças. Pagamentos. Serviços de logística e aplicativos de venda de ingressos. Esses são alguns dos negócios da Movile, uma das maiores startups brasileiras – mas conhecida por muita gente apenas como “a dona do iFood”. Não deveria: a empresa de tecnologia hoje transaciona R$ 1 bilhão por mês, com 350 milhões de usuários no mundo e crescimento médio de 70% ano a ano. Em novembro de 2018, se tornou um unicórnio – startup avaliada em mais de US$ 1 bilhão. Para o presidente executivo Fabrício Bloisi, não é suficiente: o plano é ser a “Alphabet brasileira” – uma referência à holding que controla não só o Google, mas também faz ideias ousadas como carros autônomos e lentes de contato para detectar diabetes. 

“É pensar pequeno falar em unicórnios”, diz Bloisi. “O Brasil tem espaço para ter empresas de tecnologia de US$ 100 bilhões, como acontece nos EUA e na China.” Ele diz que pode levar tempo para atingir a meta, mas as armas para chegar lá estão escolhidas: inovação rápida e desenvolvimento de tecnologia feito em casa – em especial, inteligência artificial (IA). “Avaliamos 100 startups por ano para investimentos e temos de 20 a 30 equipes testando projetos ao mesmo tempo”, afirma. “Só duas ou três podem dar certo, mas isso nos ajuda a nos reinventar e crescer rapidamente.” 

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Ambição. Bloisi, da Movile: 'há trilhões à espera e não dá para reduzir o ritmo' Foto: Felipe Rau/Estadão

As ideias que dão certo podem virar novos negócios. Foi assim com o Playkids, app de vídeos infantis que surgiu em 2013 e hoje tem 50 milhões de usuários, em mais de 100 países. Ou com MovilePay, braço de serviços financeiros que surgiu em janeiro para atender o iFood, mas já é usado por 10 mil estabelecimentos no País, incluindo farmácias e mercados. Se não fazem sentido juntos à primeira vista, os serviços diversificados se englobam em uma estratégia de longo prazo: os super aplicativos. 

Na China, “super apps” já são parte do cotidiano: no WeChat, do grupo Tencent, por exemplo, é possível conversar com amigos, pedir comida e realizar pagamentos. No caso da Movile, esse produto é o iFood, que hoje não faz só o pedido de comida, mas também tem funções de pagamento, além de testar entregas de supermercados em cidades como Campinas (SP) e Osasco (SP). “Não somos só uma empresa, mas um ecossistema de inovação”, diz Carlos Moyses, presidente executivo do iFood. Segundo ele, não é difícil imaginar um futuro no qual o app não terá só comida, mas também ingressos da Sympla, outra empresa do grupo, por exemplo. 

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Para David Kallás, coordenador do Centro de Estudos em Negócios do Insper, o desafio de criar um negócio diversificado é grande, mas funciona em países emergentes. “É algo que carece de investimento e de escala”, diz. “O risco é alto, mas quem chega primeiro – e o iFood está bem posicionado – pode ganhar muito.”

Startup tem histórico de ligação com a academia

Nem sempre a Movile foi tão ambiciosa. Criada com outro nome (Compera) por Bloisi e Fábio Póvoa em 1999, quando os dois estavam se formando na Unicamp, a empresa passou sua primeira década com projetos mais triviais. Fazia conteúdo enviado por mensagens SMS para celulares, mas não conseguia ganhar escala. 

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A história mudou em 2008. A crise econômica fez a empresa perceber que precisava parar de gastar dinheiro em “projetos legais, mas que não rendiam muito”. O lançamento do iPhone, no ano anterior, trouxe a percepção de que o SMS não ia durar. Naquele mesmo ano, Bloisi finalizou seu mestrado na FGV-SP, um estudo sobre porque o Brasil não conseguia gerar startups como o Vale do Silício, pela falta de capital de risco e cultura empreendedora. 

Bloisi, ainda na época da Compera, em 2003: conteúdo via SMS e crescimento lento Foto: Movile

A Movile foi sua contraprova. Primeiro, atraiu investidores estrangeiros (a sul-africana Naspers, até hoje acionista) para consolidar parte do mercado de conteúdo para SMS. Depois, apostou em inovação rápida e aportes em pequenas empresas, como Sympla e iFood. No primeiro aporte, em 2013, o aplicativo fazia 20 mil entregas por mês. Em março, chegou a 17,4 milhões de pedidos mensais. 

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A ligação com a academia não parou: hoje, a principal área de tecnologia da Movile fica em Campinas, justamente para atrair os talentos da Unicamp. Para especialistas, conseguir mão de obra especializada é uma das grandes pedras no sapato da startup. “Inteligência artificial será algo tão básico quanto energia elétrica, mas temos escassez de gente boa no Brasil, enquanto as universidades formam para mercados que não existem mais”, diz Pedro Englert, presidente executivo da empresa de educação continuada StartSe. 

Empresa dará cursos de inteligência artificial para milhares de pessoas

Para resolver isso, a Movile investe em educação interna. Nesta semana, a empresa começa a primeira turma da AI Academy (Academia de Inteligência Artificial): um curso específico da tecnologia fornecido para todos seus 3 mil empregados. “É uma tecnologia inserida no dia a dia do negócio e as pessoas precisam conhecer o que ela faz para apoiar seu uso”, diz Bruno Henriques, vice-presidente de IA da Movile. A iniciativa, porém, não ficará restrita à empresa: o plano é oferecer os cursos para qualquer pessoa. 

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As contratações também não param: até 2020, o grupo pretende ter 5 mil pessoas. E os investimentos em IA não se resumem a treinamentos: só o iFood, por exemplo, vai aportar US$ 20 milhões para criar um laboratório voltado à tecnologia. A tendência já ajudou a empresa a diminuir tempos de entrega. Inovações como delivery via drones ou robôs também estão na pauta

Para o futuro, a ambição é maior: fazer as pessoas parar de cozinhar em casa – e saber o que elas querem comer com uma simples conversa de voz, como um mordomo digital. “Há cem anos, todo mundo fazia roupa em casa”, diz Bloisi. “É como vemos comida hoje: é uma tecnologia que ainda não sofreu disrupção.” É uma visão futurista: “se reduzirmos o tempo de entrega e conseguirmos personalizar para cada usuário, poderemos sugerir todas as refeições quando ele ainda está na cama. Basta dizer o que quer e a comida aparece, feita em escala e de forma saudável. Nós só começamos.” 

Conteúdo para crianças. Pagamentos. Serviços de logística e aplicativos de venda de ingressos. Esses são alguns dos negócios da Movile, uma das maiores startups brasileiras – mas conhecida por muita gente apenas como “a dona do iFood”. Não deveria: a empresa de tecnologia hoje transaciona R$ 1 bilhão por mês, com 350 milhões de usuários no mundo e crescimento médio de 70% ano a ano. Em novembro de 2018, se tornou um unicórnio – startup avaliada em mais de US$ 1 bilhão. Para o presidente executivo Fabrício Bloisi, não é suficiente: o plano é ser a “Alphabet brasileira” – uma referência à holding que controla não só o Google, mas também faz ideias ousadas como carros autônomos e lentes de contato para detectar diabetes. 

“É pensar pequeno falar em unicórnios”, diz Bloisi. “O Brasil tem espaço para ter empresas de tecnologia de US$ 100 bilhões, como acontece nos EUA e na China.” Ele diz que pode levar tempo para atingir a meta, mas as armas para chegar lá estão escolhidas: inovação rápida e desenvolvimento de tecnologia feito em casa – em especial, inteligência artificial (IA). “Avaliamos 100 startups por ano para investimentos e temos de 20 a 30 equipes testando projetos ao mesmo tempo”, afirma. “Só duas ou três podem dar certo, mas isso nos ajuda a nos reinventar e crescer rapidamente.” 

Ambição. Bloisi, da Movile: 'há trilhões à espera e não dá para reduzir o ritmo' Foto: Felipe Rau/Estadão

As ideias que dão certo podem virar novos negócios. Foi assim com o Playkids, app de vídeos infantis que surgiu em 2013 e hoje tem 50 milhões de usuários, em mais de 100 países. Ou com MovilePay, braço de serviços financeiros que surgiu em janeiro para atender o iFood, mas já é usado por 10 mil estabelecimentos no País, incluindo farmácias e mercados. Se não fazem sentido juntos à primeira vista, os serviços diversificados se englobam em uma estratégia de longo prazo: os super aplicativos. 

Na China, “super apps” já são parte do cotidiano: no WeChat, do grupo Tencent, por exemplo, é possível conversar com amigos, pedir comida e realizar pagamentos. No caso da Movile, esse produto é o iFood, que hoje não faz só o pedido de comida, mas também tem funções de pagamento, além de testar entregas de supermercados em cidades como Campinas (SP) e Osasco (SP). “Não somos só uma empresa, mas um ecossistema de inovação”, diz Carlos Moyses, presidente executivo do iFood. Segundo ele, não é difícil imaginar um futuro no qual o app não terá só comida, mas também ingressos da Sympla, outra empresa do grupo, por exemplo. 

Para David Kallás, coordenador do Centro de Estudos em Negócios do Insper, o desafio de criar um negócio diversificado é grande, mas funciona em países emergentes. “É algo que carece de investimento e de escala”, diz. “O risco é alto, mas quem chega primeiro – e o iFood está bem posicionado – pode ganhar muito.”

Startup tem histórico de ligação com a academia

Nem sempre a Movile foi tão ambiciosa. Criada com outro nome (Compera) por Bloisi e Fábio Póvoa em 1999, quando os dois estavam se formando na Unicamp, a empresa passou sua primeira década com projetos mais triviais. Fazia conteúdo enviado por mensagens SMS para celulares, mas não conseguia ganhar escala. 

A história mudou em 2008. A crise econômica fez a empresa perceber que precisava parar de gastar dinheiro em “projetos legais, mas que não rendiam muito”. O lançamento do iPhone, no ano anterior, trouxe a percepção de que o SMS não ia durar. Naquele mesmo ano, Bloisi finalizou seu mestrado na FGV-SP, um estudo sobre porque o Brasil não conseguia gerar startups como o Vale do Silício, pela falta de capital de risco e cultura empreendedora. 

Bloisi, ainda na época da Compera, em 2003: conteúdo via SMS e crescimento lento Foto: Movile

A Movile foi sua contraprova. Primeiro, atraiu investidores estrangeiros (a sul-africana Naspers, até hoje acionista) para consolidar parte do mercado de conteúdo para SMS. Depois, apostou em inovação rápida e aportes em pequenas empresas, como Sympla e iFood. No primeiro aporte, em 2013, o aplicativo fazia 20 mil entregas por mês. Em março, chegou a 17,4 milhões de pedidos mensais. 

A ligação com a academia não parou: hoje, a principal área de tecnologia da Movile fica em Campinas, justamente para atrair os talentos da Unicamp. Para especialistas, conseguir mão de obra especializada é uma das grandes pedras no sapato da startup. “Inteligência artificial será algo tão básico quanto energia elétrica, mas temos escassez de gente boa no Brasil, enquanto as universidades formam para mercados que não existem mais”, diz Pedro Englert, presidente executivo da empresa de educação continuada StartSe. 

Empresa dará cursos de inteligência artificial para milhares de pessoas

Para resolver isso, a Movile investe em educação interna. Nesta semana, a empresa começa a primeira turma da AI Academy (Academia de Inteligência Artificial): um curso específico da tecnologia fornecido para todos seus 3 mil empregados. “É uma tecnologia inserida no dia a dia do negócio e as pessoas precisam conhecer o que ela faz para apoiar seu uso”, diz Bruno Henriques, vice-presidente de IA da Movile. A iniciativa, porém, não ficará restrita à empresa: o plano é oferecer os cursos para qualquer pessoa. 

As contratações também não param: até 2020, o grupo pretende ter 5 mil pessoas. E os investimentos em IA não se resumem a treinamentos: só o iFood, por exemplo, vai aportar US$ 20 milhões para criar um laboratório voltado à tecnologia. A tendência já ajudou a empresa a diminuir tempos de entrega. Inovações como delivery via drones ou robôs também estão na pauta

Para o futuro, a ambição é maior: fazer as pessoas parar de cozinhar em casa – e saber o que elas querem comer com uma simples conversa de voz, como um mordomo digital. “Há cem anos, todo mundo fazia roupa em casa”, diz Bloisi. “É como vemos comida hoje: é uma tecnologia que ainda não sofreu disrupção.” É uma visão futurista: “se reduzirmos o tempo de entrega e conseguirmos personalizar para cada usuário, poderemos sugerir todas as refeições quando ele ainda está na cama. Basta dizer o que quer e a comida aparece, feita em escala e de forma saudável. Nós só começamos.” 

Conteúdo para crianças. Pagamentos. Serviços de logística e aplicativos de venda de ingressos. Esses são alguns dos negócios da Movile, uma das maiores startups brasileiras – mas conhecida por muita gente apenas como “a dona do iFood”. Não deveria: a empresa de tecnologia hoje transaciona R$ 1 bilhão por mês, com 350 milhões de usuários no mundo e crescimento médio de 70% ano a ano. Em novembro de 2018, se tornou um unicórnio – startup avaliada em mais de US$ 1 bilhão. Para o presidente executivo Fabrício Bloisi, não é suficiente: o plano é ser a “Alphabet brasileira” – uma referência à holding que controla não só o Google, mas também faz ideias ousadas como carros autônomos e lentes de contato para detectar diabetes. 

“É pensar pequeno falar em unicórnios”, diz Bloisi. “O Brasil tem espaço para ter empresas de tecnologia de US$ 100 bilhões, como acontece nos EUA e na China.” Ele diz que pode levar tempo para atingir a meta, mas as armas para chegar lá estão escolhidas: inovação rápida e desenvolvimento de tecnologia feito em casa – em especial, inteligência artificial (IA). “Avaliamos 100 startups por ano para investimentos e temos de 20 a 30 equipes testando projetos ao mesmo tempo”, afirma. “Só duas ou três podem dar certo, mas isso nos ajuda a nos reinventar e crescer rapidamente.” 

Ambição. Bloisi, da Movile: 'há trilhões à espera e não dá para reduzir o ritmo' Foto: Felipe Rau/Estadão

As ideias que dão certo podem virar novos negócios. Foi assim com o Playkids, app de vídeos infantis que surgiu em 2013 e hoje tem 50 milhões de usuários, em mais de 100 países. Ou com MovilePay, braço de serviços financeiros que surgiu em janeiro para atender o iFood, mas já é usado por 10 mil estabelecimentos no País, incluindo farmácias e mercados. Se não fazem sentido juntos à primeira vista, os serviços diversificados se englobam em uma estratégia de longo prazo: os super aplicativos. 

Na China, “super apps” já são parte do cotidiano: no WeChat, do grupo Tencent, por exemplo, é possível conversar com amigos, pedir comida e realizar pagamentos. No caso da Movile, esse produto é o iFood, que hoje não faz só o pedido de comida, mas também tem funções de pagamento, além de testar entregas de supermercados em cidades como Campinas (SP) e Osasco (SP). “Não somos só uma empresa, mas um ecossistema de inovação”, diz Carlos Moyses, presidente executivo do iFood. Segundo ele, não é difícil imaginar um futuro no qual o app não terá só comida, mas também ingressos da Sympla, outra empresa do grupo, por exemplo. 

Para David Kallás, coordenador do Centro de Estudos em Negócios do Insper, o desafio de criar um negócio diversificado é grande, mas funciona em países emergentes. “É algo que carece de investimento e de escala”, diz. “O risco é alto, mas quem chega primeiro – e o iFood está bem posicionado – pode ganhar muito.”

Startup tem histórico de ligação com a academia

Nem sempre a Movile foi tão ambiciosa. Criada com outro nome (Compera) por Bloisi e Fábio Póvoa em 1999, quando os dois estavam se formando na Unicamp, a empresa passou sua primeira década com projetos mais triviais. Fazia conteúdo enviado por mensagens SMS para celulares, mas não conseguia ganhar escala. 

A história mudou em 2008. A crise econômica fez a empresa perceber que precisava parar de gastar dinheiro em “projetos legais, mas que não rendiam muito”. O lançamento do iPhone, no ano anterior, trouxe a percepção de que o SMS não ia durar. Naquele mesmo ano, Bloisi finalizou seu mestrado na FGV-SP, um estudo sobre porque o Brasil não conseguia gerar startups como o Vale do Silício, pela falta de capital de risco e cultura empreendedora. 

Bloisi, ainda na época da Compera, em 2003: conteúdo via SMS e crescimento lento Foto: Movile

A Movile foi sua contraprova. Primeiro, atraiu investidores estrangeiros (a sul-africana Naspers, até hoje acionista) para consolidar parte do mercado de conteúdo para SMS. Depois, apostou em inovação rápida e aportes em pequenas empresas, como Sympla e iFood. No primeiro aporte, em 2013, o aplicativo fazia 20 mil entregas por mês. Em março, chegou a 17,4 milhões de pedidos mensais. 

A ligação com a academia não parou: hoje, a principal área de tecnologia da Movile fica em Campinas, justamente para atrair os talentos da Unicamp. Para especialistas, conseguir mão de obra especializada é uma das grandes pedras no sapato da startup. “Inteligência artificial será algo tão básico quanto energia elétrica, mas temos escassez de gente boa no Brasil, enquanto as universidades formam para mercados que não existem mais”, diz Pedro Englert, presidente executivo da empresa de educação continuada StartSe. 

Empresa dará cursos de inteligência artificial para milhares de pessoas

Para resolver isso, a Movile investe em educação interna. Nesta semana, a empresa começa a primeira turma da AI Academy (Academia de Inteligência Artificial): um curso específico da tecnologia fornecido para todos seus 3 mil empregados. “É uma tecnologia inserida no dia a dia do negócio e as pessoas precisam conhecer o que ela faz para apoiar seu uso”, diz Bruno Henriques, vice-presidente de IA da Movile. A iniciativa, porém, não ficará restrita à empresa: o plano é oferecer os cursos para qualquer pessoa. 

As contratações também não param: até 2020, o grupo pretende ter 5 mil pessoas. E os investimentos em IA não se resumem a treinamentos: só o iFood, por exemplo, vai aportar US$ 20 milhões para criar um laboratório voltado à tecnologia. A tendência já ajudou a empresa a diminuir tempos de entrega. Inovações como delivery via drones ou robôs também estão na pauta

Para o futuro, a ambição é maior: fazer as pessoas parar de cozinhar em casa – e saber o que elas querem comer com uma simples conversa de voz, como um mordomo digital. “Há cem anos, todo mundo fazia roupa em casa”, diz Bloisi. “É como vemos comida hoje: é uma tecnologia que ainda não sofreu disrupção.” É uma visão futurista: “se reduzirmos o tempo de entrega e conseguirmos personalizar para cada usuário, poderemos sugerir todas as refeições quando ele ainda está na cama. Basta dizer o que quer e a comida aparece, feita em escala e de forma saudável. Nós só começamos.” 

Conteúdo para crianças. Pagamentos. Serviços de logística e aplicativos de venda de ingressos. Esses são alguns dos negócios da Movile, uma das maiores startups brasileiras – mas conhecida por muita gente apenas como “a dona do iFood”. Não deveria: a empresa de tecnologia hoje transaciona R$ 1 bilhão por mês, com 350 milhões de usuários no mundo e crescimento médio de 70% ano a ano. Em novembro de 2018, se tornou um unicórnio – startup avaliada em mais de US$ 1 bilhão. Para o presidente executivo Fabrício Bloisi, não é suficiente: o plano é ser a “Alphabet brasileira” – uma referência à holding que controla não só o Google, mas também faz ideias ousadas como carros autônomos e lentes de contato para detectar diabetes. 

“É pensar pequeno falar em unicórnios”, diz Bloisi. “O Brasil tem espaço para ter empresas de tecnologia de US$ 100 bilhões, como acontece nos EUA e na China.” Ele diz que pode levar tempo para atingir a meta, mas as armas para chegar lá estão escolhidas: inovação rápida e desenvolvimento de tecnologia feito em casa – em especial, inteligência artificial (IA). “Avaliamos 100 startups por ano para investimentos e temos de 20 a 30 equipes testando projetos ao mesmo tempo”, afirma. “Só duas ou três podem dar certo, mas isso nos ajuda a nos reinventar e crescer rapidamente.” 

Ambição. Bloisi, da Movile: 'há trilhões à espera e não dá para reduzir o ritmo' Foto: Felipe Rau/Estadão

As ideias que dão certo podem virar novos negócios. Foi assim com o Playkids, app de vídeos infantis que surgiu em 2013 e hoje tem 50 milhões de usuários, em mais de 100 países. Ou com MovilePay, braço de serviços financeiros que surgiu em janeiro para atender o iFood, mas já é usado por 10 mil estabelecimentos no País, incluindo farmácias e mercados. Se não fazem sentido juntos à primeira vista, os serviços diversificados se englobam em uma estratégia de longo prazo: os super aplicativos. 

Na China, “super apps” já são parte do cotidiano: no WeChat, do grupo Tencent, por exemplo, é possível conversar com amigos, pedir comida e realizar pagamentos. No caso da Movile, esse produto é o iFood, que hoje não faz só o pedido de comida, mas também tem funções de pagamento, além de testar entregas de supermercados em cidades como Campinas (SP) e Osasco (SP). “Não somos só uma empresa, mas um ecossistema de inovação”, diz Carlos Moyses, presidente executivo do iFood. Segundo ele, não é difícil imaginar um futuro no qual o app não terá só comida, mas também ingressos da Sympla, outra empresa do grupo, por exemplo. 

Para David Kallás, coordenador do Centro de Estudos em Negócios do Insper, o desafio de criar um negócio diversificado é grande, mas funciona em países emergentes. “É algo que carece de investimento e de escala”, diz. “O risco é alto, mas quem chega primeiro – e o iFood está bem posicionado – pode ganhar muito.”

Startup tem histórico de ligação com a academia

Nem sempre a Movile foi tão ambiciosa. Criada com outro nome (Compera) por Bloisi e Fábio Póvoa em 1999, quando os dois estavam se formando na Unicamp, a empresa passou sua primeira década com projetos mais triviais. Fazia conteúdo enviado por mensagens SMS para celulares, mas não conseguia ganhar escala. 

A história mudou em 2008. A crise econômica fez a empresa perceber que precisava parar de gastar dinheiro em “projetos legais, mas que não rendiam muito”. O lançamento do iPhone, no ano anterior, trouxe a percepção de que o SMS não ia durar. Naquele mesmo ano, Bloisi finalizou seu mestrado na FGV-SP, um estudo sobre porque o Brasil não conseguia gerar startups como o Vale do Silício, pela falta de capital de risco e cultura empreendedora. 

Bloisi, ainda na época da Compera, em 2003: conteúdo via SMS e crescimento lento Foto: Movile

A Movile foi sua contraprova. Primeiro, atraiu investidores estrangeiros (a sul-africana Naspers, até hoje acionista) para consolidar parte do mercado de conteúdo para SMS. Depois, apostou em inovação rápida e aportes em pequenas empresas, como Sympla e iFood. No primeiro aporte, em 2013, o aplicativo fazia 20 mil entregas por mês. Em março, chegou a 17,4 milhões de pedidos mensais. 

A ligação com a academia não parou: hoje, a principal área de tecnologia da Movile fica em Campinas, justamente para atrair os talentos da Unicamp. Para especialistas, conseguir mão de obra especializada é uma das grandes pedras no sapato da startup. “Inteligência artificial será algo tão básico quanto energia elétrica, mas temos escassez de gente boa no Brasil, enquanto as universidades formam para mercados que não existem mais”, diz Pedro Englert, presidente executivo da empresa de educação continuada StartSe. 

Empresa dará cursos de inteligência artificial para milhares de pessoas

Para resolver isso, a Movile investe em educação interna. Nesta semana, a empresa começa a primeira turma da AI Academy (Academia de Inteligência Artificial): um curso específico da tecnologia fornecido para todos seus 3 mil empregados. “É uma tecnologia inserida no dia a dia do negócio e as pessoas precisam conhecer o que ela faz para apoiar seu uso”, diz Bruno Henriques, vice-presidente de IA da Movile. A iniciativa, porém, não ficará restrita à empresa: o plano é oferecer os cursos para qualquer pessoa. 

As contratações também não param: até 2020, o grupo pretende ter 5 mil pessoas. E os investimentos em IA não se resumem a treinamentos: só o iFood, por exemplo, vai aportar US$ 20 milhões para criar um laboratório voltado à tecnologia. A tendência já ajudou a empresa a diminuir tempos de entrega. Inovações como delivery via drones ou robôs também estão na pauta

Para o futuro, a ambição é maior: fazer as pessoas parar de cozinhar em casa – e saber o que elas querem comer com uma simples conversa de voz, como um mordomo digital. “Há cem anos, todo mundo fazia roupa em casa”, diz Bloisi. “É como vemos comida hoje: é uma tecnologia que ainda não sofreu disrupção.” É uma visão futurista: “se reduzirmos o tempo de entrega e conseguirmos personalizar para cada usuário, poderemos sugerir todas as refeições quando ele ainda está na cama. Basta dizer o que quer e a comida aparece, feita em escala e de forma saudável. Nós só começamos.” 

Conteúdo para crianças. Pagamentos. Serviços de logística e aplicativos de venda de ingressos. Esses são alguns dos negócios da Movile, uma das maiores startups brasileiras – mas conhecida por muita gente apenas como “a dona do iFood”. Não deveria: a empresa de tecnologia hoje transaciona R$ 1 bilhão por mês, com 350 milhões de usuários no mundo e crescimento médio de 70% ano a ano. Em novembro de 2018, se tornou um unicórnio – startup avaliada em mais de US$ 1 bilhão. Para o presidente executivo Fabrício Bloisi, não é suficiente: o plano é ser a “Alphabet brasileira” – uma referência à holding que controla não só o Google, mas também faz ideias ousadas como carros autônomos e lentes de contato para detectar diabetes. 

“É pensar pequeno falar em unicórnios”, diz Bloisi. “O Brasil tem espaço para ter empresas de tecnologia de US$ 100 bilhões, como acontece nos EUA e na China.” Ele diz que pode levar tempo para atingir a meta, mas as armas para chegar lá estão escolhidas: inovação rápida e desenvolvimento de tecnologia feito em casa – em especial, inteligência artificial (IA). “Avaliamos 100 startups por ano para investimentos e temos de 20 a 30 equipes testando projetos ao mesmo tempo”, afirma. “Só duas ou três podem dar certo, mas isso nos ajuda a nos reinventar e crescer rapidamente.” 

Ambição. Bloisi, da Movile: 'há trilhões à espera e não dá para reduzir o ritmo' Foto: Felipe Rau/Estadão

As ideias que dão certo podem virar novos negócios. Foi assim com o Playkids, app de vídeos infantis que surgiu em 2013 e hoje tem 50 milhões de usuários, em mais de 100 países. Ou com MovilePay, braço de serviços financeiros que surgiu em janeiro para atender o iFood, mas já é usado por 10 mil estabelecimentos no País, incluindo farmácias e mercados. Se não fazem sentido juntos à primeira vista, os serviços diversificados se englobam em uma estratégia de longo prazo: os super aplicativos. 

Na China, “super apps” já são parte do cotidiano: no WeChat, do grupo Tencent, por exemplo, é possível conversar com amigos, pedir comida e realizar pagamentos. No caso da Movile, esse produto é o iFood, que hoje não faz só o pedido de comida, mas também tem funções de pagamento, além de testar entregas de supermercados em cidades como Campinas (SP) e Osasco (SP). “Não somos só uma empresa, mas um ecossistema de inovação”, diz Carlos Moyses, presidente executivo do iFood. Segundo ele, não é difícil imaginar um futuro no qual o app não terá só comida, mas também ingressos da Sympla, outra empresa do grupo, por exemplo. 

Para David Kallás, coordenador do Centro de Estudos em Negócios do Insper, o desafio de criar um negócio diversificado é grande, mas funciona em países emergentes. “É algo que carece de investimento e de escala”, diz. “O risco é alto, mas quem chega primeiro – e o iFood está bem posicionado – pode ganhar muito.”

Startup tem histórico de ligação com a academia

Nem sempre a Movile foi tão ambiciosa. Criada com outro nome (Compera) por Bloisi e Fábio Póvoa em 1999, quando os dois estavam se formando na Unicamp, a empresa passou sua primeira década com projetos mais triviais. Fazia conteúdo enviado por mensagens SMS para celulares, mas não conseguia ganhar escala. 

A história mudou em 2008. A crise econômica fez a empresa perceber que precisava parar de gastar dinheiro em “projetos legais, mas que não rendiam muito”. O lançamento do iPhone, no ano anterior, trouxe a percepção de que o SMS não ia durar. Naquele mesmo ano, Bloisi finalizou seu mestrado na FGV-SP, um estudo sobre porque o Brasil não conseguia gerar startups como o Vale do Silício, pela falta de capital de risco e cultura empreendedora. 

Bloisi, ainda na época da Compera, em 2003: conteúdo via SMS e crescimento lento Foto: Movile

A Movile foi sua contraprova. Primeiro, atraiu investidores estrangeiros (a sul-africana Naspers, até hoje acionista) para consolidar parte do mercado de conteúdo para SMS. Depois, apostou em inovação rápida e aportes em pequenas empresas, como Sympla e iFood. No primeiro aporte, em 2013, o aplicativo fazia 20 mil entregas por mês. Em março, chegou a 17,4 milhões de pedidos mensais. 

A ligação com a academia não parou: hoje, a principal área de tecnologia da Movile fica em Campinas, justamente para atrair os talentos da Unicamp. Para especialistas, conseguir mão de obra especializada é uma das grandes pedras no sapato da startup. “Inteligência artificial será algo tão básico quanto energia elétrica, mas temos escassez de gente boa no Brasil, enquanto as universidades formam para mercados que não existem mais”, diz Pedro Englert, presidente executivo da empresa de educação continuada StartSe. 

Empresa dará cursos de inteligência artificial para milhares de pessoas

Para resolver isso, a Movile investe em educação interna. Nesta semana, a empresa começa a primeira turma da AI Academy (Academia de Inteligência Artificial): um curso específico da tecnologia fornecido para todos seus 3 mil empregados. “É uma tecnologia inserida no dia a dia do negócio e as pessoas precisam conhecer o que ela faz para apoiar seu uso”, diz Bruno Henriques, vice-presidente de IA da Movile. A iniciativa, porém, não ficará restrita à empresa: o plano é oferecer os cursos para qualquer pessoa. 

As contratações também não param: até 2020, o grupo pretende ter 5 mil pessoas. E os investimentos em IA não se resumem a treinamentos: só o iFood, por exemplo, vai aportar US$ 20 milhões para criar um laboratório voltado à tecnologia. A tendência já ajudou a empresa a diminuir tempos de entrega. Inovações como delivery via drones ou robôs também estão na pauta

Para o futuro, a ambição é maior: fazer as pessoas parar de cozinhar em casa – e saber o que elas querem comer com uma simples conversa de voz, como um mordomo digital. “Há cem anos, todo mundo fazia roupa em casa”, diz Bloisi. “É como vemos comida hoje: é uma tecnologia que ainda não sofreu disrupção.” É uma visão futurista: “se reduzirmos o tempo de entrega e conseguirmos personalizar para cada usuário, poderemos sugerir todas as refeições quando ele ainda está na cama. Basta dizer o que quer e a comida aparece, feita em escala e de forma saudável. Nós só começamos.” 

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