A fintech gaúcha Warren é mais uma startup brasileira a promover demissões em massa diante da crise que vem abalando empresas de tecnologia em todo o mundo. Segundo apurou o Estadão, a companhia enxugou o quadro de cerca de 700 funcionários em 7% nesta quarta, 17. A Warren confirmou os desligamentos à reportagem, mas não falou sobre números.
“Após 6 M&As realizados, incorporando a totalidade dos colaboradores das empresas, a Warren fez uma série de revisões de processos e projetos, além de inúmeras avaliações, o que resultou na reestruturação das áreas, na priorização de iniciativas e na readequação do quadro de colaboradores”, afirmou a companhia em nota.
De acordo com a planilha preenchida por ex-funcionários, áreas como gerente de produto, desenvolvimento, pesquisa, analise de dados e previdência privada foram afetadas. Para a reportagem, ex-funcionários afirmaram que o número de demitidos deve ser maior do que contabiliza a planilha colaborativa, que tem 46 pessoas.
A companhia afirmou que os demitido terão um pacote de auxílios, que inclui plano de saúde estendido, consultoria de carreira e “outros materiais de apoio”.
Em abril do ano passado, a Warren levantou R$ 300 milhões em um aporte liderado pelo GIC, fundo soberano de Singapura - no último mês de julho, a companhia revelou uma extensão da rodada, que colocou o Citi Ventures entre os sócios, mas não revelou o valor aportado. O cheque foi o maior da história da startup que, em 2019, havia recebido R$ 25 milhões em uma rodada série A dos fundos Ribbit, Kaszek e Chromo Invest. Em 2020, a empresa levantou R$ 120 milhões na rodada série B, que teve participação de QED, Meli Fund e Quarts.
Em 2022, a empresa comprou as empresas Box TI e MeuPortfolio. Antes disso, ela havia comprado a Renascença DTVM e feito uma fusão com a Vitra Capital.
Fundada em Porto Alegre em 2014 por ex-sócios da XP e em operação desde 2017, a corretora utiliza um robô para oferecer diferentes carteiras para o cliente conforme três variáveis: perfil de investidor, tempo planejado para o investimento e objetivo final. Automaticamente, a plataforma seleciona as carteiras mais apropriadas segundo o gosto do freguês da vez, com maior ou menor risco e maior ou menor rentabilidade no longo ou curto prazo. Além disso, para os mais experientes, é possível montar sua própria carteira.
Crise é severa entre gigantes
Conhecidas por contratar centenas de funcionários ao mês, as startups têm realizado centenas de demissões pelo mundo — o fenômeno não é exclusivo do Brasil. O período tem sido batizado de “inverno das startups”, após a onda positiva causada pela digitalização da pandemia nos últimos dois anos.
Segundo especialistas consultados pelo Estadão nos últimos meses, as demissões ocorrem como reajuste de rota em meio à alta global nos preços e à guerra da Ucrânia, que desorganiza a cadeia produtiva mundial. Nesse cenário, investidores viram as costas para investimentos de risco, como startups. Com isso, levantar rodadas tem sido mais difícil do que durante a pandemia, quando a fonte do capital parecia infinita.
O processo tem sido especialmente duro com as startups maiores, que estão no momento conhecido como “late stage”. Nesse estágio de maturidade, as empresas queimam dinheiro velozmente na tentativa de crescer e ganhar mercado - sem o dinheiro, elas precisam preservar caixa para sobreviver. Entre os unicórnios nacionais que já fizeram demissões em massa em 2022 estão Loggi, QuintoAndar, Loft, Facily, Vtex, Ebanx, Mercado Bitcoin e Olist. A mexicana Kavak, maior unicórnio da América Latina, também fez cortes severos na operação brasileira.
Fundos de investimento alertaram as startups sobre o cenário desafiador nos primeiros meses do ano. O investidor Masayoshi Son, presidente do SoftBank, um dos maiores investidores de startups no Brasil, disse que o conglomerado japonês deve reduzir os investimentos em empresas de tecnologia neste ano.
Além do SoftBank, a aceleradora Y Combinator, uma das mais conhecidas no Vale do Silício, recomendou que as startups reavaliassem suas finanças e que ficassem prontas para cortar gastos. A medida, de acordo com a aceleradora, é uma forma de prever até 24 meses sem investimentos. “Crises econômicas geralmente se tornam grandes oportunidades para os fundadores que mudam rapidamente sua mentalidade, planejam com antecedência e garantem que sua empresa sobreviva”, afirmou a gestora na carta.