Formação e contratação de profissionais de tecnologia viram oportunidade para startups


Gargalo de mão de obra no mercado de tecnologia cria mercado promissor para startups desde a educação até a conexão com as empresas

Por Giovanna Wolf e Bruna Arimathea

O setor de tecnologia vive um “boom” histórico, com recorde de aquisições e de aportes em startups. Segundo a empresa de inovação Distrito, no primeiro trimestre de 2021, as startups brasileiras receberam US$ 1,9 bilhão em investimentos, 54% do total aplicado em 2020 – período que já havia surpreendido pelos grandes cheques. Porém, para além da euforia, o ritmo acelerado tem trazido uma dor de cabeça latente: a dificuldade de contratar profissionais na área de tecnologia.

Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), a demanda por profissionais na área será de 420 mil pessoas até 2024, tanto em startups quanto em grandes companhias. Diante disso, algumas empresas têm se esforçado para conter esse gargalo, oferecendo soluções em diferentes pontos da jornada de um especialista em tecnologia, desde a educação até a conexão com as empresas. 

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A parte educacional é a solução mais óbvia, e já conta com grandes players globais, como a Udemy e a Digital House – esta última é uma startup argentina que recebeu um aporte de R$ 280 milhões no mês passado. Nomes brasileiros, entretanto, também estão começando a despontar. É o caso da catarinense Rocketseat e da paulista Shawee, que anunciaram uma fusão em outubro de 2020. 

A Rocketseat é uma escola digital de programação, enquanto a Shawee atua diretamente com empresas, oferecendo “hackathons” (eventos de treinamento para desenvolvedores) para aproximar profissionais de companhias – as duas startups foram fundadas em 2017 e já atenderam cerca de 530 mil profissionais no Brasil. 

Rodrigo Terron, diretor de operações da Rocketseat e CEO da Shawee Foto: Felipe Rau/Estadão
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As empresas atuam em diferentes momentos da carreira do profissional. A Rocketseat é dona de uma plataforma de cursos online que oferece formação gratuita para iniciantes e aulas intermediárias e avançadas pagas. “Damos uma certificação alinhada com o mercado. Se um desenvolvedor quer trabalhar no Mercado Livre, ele tem de aprender uma linguagem de programação. Outra startup pode ter outra linguagem. Temos conexão com profissionais do mercado para trazer conteúdos técnicos mirando objetivos”, explica Rodrigo Terron, que agora tem duplo chapéu como diretor de operações da Rocketseat e CEO da Shawee. 

Nesse sentido, a Shawee virou um braço da Rocketseat. “O hackathon, seja em um modelo presencial ou online, é uma forma de levar o desenvolvedor para dentro de cada empresa e contar para ele quais tecnologias aquela companhia usa – a aproximação pode resultar em uma contratação”, explica Terron. Nomes como Quinto Andar, Loft, Vtex, Stone, Itaú, Uber e IBM já usaram o serviço da Shawee – ao todo, a startup já trabalhou em projetos com cerca de 150 empresas.

As duas startups somam 80 funcionários e esperam chegar ao fim de 2021 com 110. Elas se sustentaram até hoje sem a ajuda de capital externo, mas, para acelerar o crescimento, planejam uma rodada de investimento até julho. O valor pretendido não foi revelado. 

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Ainda na parte educacional, a distribuição de cursos online focados em programação também virou um filão para startups. Quem atua nisso é a carioca Classpert, uma plataforma de comparação e busca de cursos online –é como se fosse um “mini Google” que organiza informações de aproximadamente 230 mil cursos online em 10 idiomas, sendo a maior fatia deles aulas de tecnologia. A startup, criada em 2018, tem entre seus investidores a empresa Quero Educação, e os fundos Iporanga Ventures e Canary

“A oferta de cursos online explodiu e é difícil encontrar exatamente o que aprender e qual é o melhor curso. Mostramos o comparativo de informações como tempo de curso, preço e recomendações de usuários”, diz Felipe Jordão, CEO da startup. A Classpert ganha dinheiro pelos cursos vendidos, realizando uma cobrança do produtor do conteúdo a cada transação. 

Durante os primeiros seis meses de 2020, com o impulso da pandemia, a startup registrou um crescimento de 40% em acesso orgânico e faturamento. 

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Além da formação, a conexão de profissionais com as empresas é um ponto sensível, explica Raphael Augusto, sócio diretor de inteligência de mercado da aceleradora Liga Ventures. “É uma competição muito grande por esses profissionais”, diz ele. 

A ânsia por agilidade na contratação é tanta que algumas empresas optam por adquirir startups para chegar mais rápido a esses profissionais, prática conhecida no mercado como “acqui-hiring” (aquisição por contratação). Essa ideia já foi executada pelo Nubank, que, em janeiro de 2020, comprou uma consultoria especializada em engenharia de software e metodologias ágeis e integrou um time de 50 profissionais à sua equipe. 

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É na dificuldade de conexão que a startup Vulpi se propõe a ajudar. Fundada em 2016, a empresa mineira atua no recrutamento e na indicação de profissionais de tecnologia: sua plataforma usa inteligência artificial para cruzar dados de candidatos com empresas. “Quando trabalhei como desenvolvedor numa fábrica, senti o problema. A empresa pegava um projeto novo e o RH se descabelava”, conta Fellipe Couto, presidente executivo da startup. 

Nos últimos cinco anos, a Vulpi atendeu mais de 500 empresas. “Muitas vezes, o RH segue a orientação do gerente de tecnologia para criar uma vaga de desenvolvedor, mas não entende as linguagens e a vaga vira uma sopa de letrinhas, pouco atrativa”, explica Couto. “Na nossa plataforma, ajudamos inclusive o RH que não sabe se existe aquele profissional que a empresa está buscando. O algoritmo interpreta, cria uma ‘vaga-base’ e estabelece os principais parâmetros para aquela demanda”.

André Abreu, presidente executivo da BossaBox Foto: Alex Silva/Estadão
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Nessa ponte, há também quem aposte na flexibilização das contratações. A startup BossaBox, por exemplo, tem uma plataforma que conecta freelancers com companhias, atendendo demandas de projetos específicos de inovação. Criada em 2017, a empresa já atendeu cerca de 100 clientes, entre eles Omo, Hering e Unidas. “Temos uma base de dados de freelancers e os alocamos de acordo com o perfil. Focamos em grandes empresas porque elas estão com mais problemas”, explica André Abreu, presidente executivo da BossaBox. A startup usa algoritmos e também um trabalho de humanos no direcionamento. 

Na visão de especialistas, mais do que uma oportunidade, esses serviços são necessários para que o setor de tecnologia continue crescendo. “Se não investirmos em talentos, o setor pode enfrentar uma estagnação em breve”, diz Ug Cobra, diretor de operações da aceleradora Darwin Startups. “O risco é virar uma caçada cada vez mais selvagem, com empresas lutando para reter o funcionário a qualquer custo”. 

O setor de tecnologia vive um “boom” histórico, com recorde de aquisições e de aportes em startups. Segundo a empresa de inovação Distrito, no primeiro trimestre de 2021, as startups brasileiras receberam US$ 1,9 bilhão em investimentos, 54% do total aplicado em 2020 – período que já havia surpreendido pelos grandes cheques. Porém, para além da euforia, o ritmo acelerado tem trazido uma dor de cabeça latente: a dificuldade de contratar profissionais na área de tecnologia.

Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), a demanda por profissionais na área será de 420 mil pessoas até 2024, tanto em startups quanto em grandes companhias. Diante disso, algumas empresas têm se esforçado para conter esse gargalo, oferecendo soluções em diferentes pontos da jornada de um especialista em tecnologia, desde a educação até a conexão com as empresas. 

A parte educacional é a solução mais óbvia, e já conta com grandes players globais, como a Udemy e a Digital House – esta última é uma startup argentina que recebeu um aporte de R$ 280 milhões no mês passado. Nomes brasileiros, entretanto, também estão começando a despontar. É o caso da catarinense Rocketseat e da paulista Shawee, que anunciaram uma fusão em outubro de 2020. 

A Rocketseat é uma escola digital de programação, enquanto a Shawee atua diretamente com empresas, oferecendo “hackathons” (eventos de treinamento para desenvolvedores) para aproximar profissionais de companhias – as duas startups foram fundadas em 2017 e já atenderam cerca de 530 mil profissionais no Brasil. 

Rodrigo Terron, diretor de operações da Rocketseat e CEO da Shawee Foto: Felipe Rau/Estadão

As empresas atuam em diferentes momentos da carreira do profissional. A Rocketseat é dona de uma plataforma de cursos online que oferece formação gratuita para iniciantes e aulas intermediárias e avançadas pagas. “Damos uma certificação alinhada com o mercado. Se um desenvolvedor quer trabalhar no Mercado Livre, ele tem de aprender uma linguagem de programação. Outra startup pode ter outra linguagem. Temos conexão com profissionais do mercado para trazer conteúdos técnicos mirando objetivos”, explica Rodrigo Terron, que agora tem duplo chapéu como diretor de operações da Rocketseat e CEO da Shawee. 

Nesse sentido, a Shawee virou um braço da Rocketseat. “O hackathon, seja em um modelo presencial ou online, é uma forma de levar o desenvolvedor para dentro de cada empresa e contar para ele quais tecnologias aquela companhia usa – a aproximação pode resultar em uma contratação”, explica Terron. Nomes como Quinto Andar, Loft, Vtex, Stone, Itaú, Uber e IBM já usaram o serviço da Shawee – ao todo, a startup já trabalhou em projetos com cerca de 150 empresas.

As duas startups somam 80 funcionários e esperam chegar ao fim de 2021 com 110. Elas se sustentaram até hoje sem a ajuda de capital externo, mas, para acelerar o crescimento, planejam uma rodada de investimento até julho. O valor pretendido não foi revelado. 

Ainda na parte educacional, a distribuição de cursos online focados em programação também virou um filão para startups. Quem atua nisso é a carioca Classpert, uma plataforma de comparação e busca de cursos online –é como se fosse um “mini Google” que organiza informações de aproximadamente 230 mil cursos online em 10 idiomas, sendo a maior fatia deles aulas de tecnologia. A startup, criada em 2018, tem entre seus investidores a empresa Quero Educação, e os fundos Iporanga Ventures e Canary

“A oferta de cursos online explodiu e é difícil encontrar exatamente o que aprender e qual é o melhor curso. Mostramos o comparativo de informações como tempo de curso, preço e recomendações de usuários”, diz Felipe Jordão, CEO da startup. A Classpert ganha dinheiro pelos cursos vendidos, realizando uma cobrança do produtor do conteúdo a cada transação. 

Durante os primeiros seis meses de 2020, com o impulso da pandemia, a startup registrou um crescimento de 40% em acesso orgânico e faturamento. 

Ponte

Além da formação, a conexão de profissionais com as empresas é um ponto sensível, explica Raphael Augusto, sócio diretor de inteligência de mercado da aceleradora Liga Ventures. “É uma competição muito grande por esses profissionais”, diz ele. 

A ânsia por agilidade na contratação é tanta que algumas empresas optam por adquirir startups para chegar mais rápido a esses profissionais, prática conhecida no mercado como “acqui-hiring” (aquisição por contratação). Essa ideia já foi executada pelo Nubank, que, em janeiro de 2020, comprou uma consultoria especializada em engenharia de software e metodologias ágeis e integrou um time de 50 profissionais à sua equipe. 

É na dificuldade de conexão que a startup Vulpi se propõe a ajudar. Fundada em 2016, a empresa mineira atua no recrutamento e na indicação de profissionais de tecnologia: sua plataforma usa inteligência artificial para cruzar dados de candidatos com empresas. “Quando trabalhei como desenvolvedor numa fábrica, senti o problema. A empresa pegava um projeto novo e o RH se descabelava”, conta Fellipe Couto, presidente executivo da startup. 

Nos últimos cinco anos, a Vulpi atendeu mais de 500 empresas. “Muitas vezes, o RH segue a orientação do gerente de tecnologia para criar uma vaga de desenvolvedor, mas não entende as linguagens e a vaga vira uma sopa de letrinhas, pouco atrativa”, explica Couto. “Na nossa plataforma, ajudamos inclusive o RH que não sabe se existe aquele profissional que a empresa está buscando. O algoritmo interpreta, cria uma ‘vaga-base’ e estabelece os principais parâmetros para aquela demanda”.

André Abreu, presidente executivo da BossaBox Foto: Alex Silva/Estadão

Nessa ponte, há também quem aposte na flexibilização das contratações. A startup BossaBox, por exemplo, tem uma plataforma que conecta freelancers com companhias, atendendo demandas de projetos específicos de inovação. Criada em 2017, a empresa já atendeu cerca de 100 clientes, entre eles Omo, Hering e Unidas. “Temos uma base de dados de freelancers e os alocamos de acordo com o perfil. Focamos em grandes empresas porque elas estão com mais problemas”, explica André Abreu, presidente executivo da BossaBox. A startup usa algoritmos e também um trabalho de humanos no direcionamento. 

Na visão de especialistas, mais do que uma oportunidade, esses serviços são necessários para que o setor de tecnologia continue crescendo. “Se não investirmos em talentos, o setor pode enfrentar uma estagnação em breve”, diz Ug Cobra, diretor de operações da aceleradora Darwin Startups. “O risco é virar uma caçada cada vez mais selvagem, com empresas lutando para reter o funcionário a qualquer custo”. 

O setor de tecnologia vive um “boom” histórico, com recorde de aquisições e de aportes em startups. Segundo a empresa de inovação Distrito, no primeiro trimestre de 2021, as startups brasileiras receberam US$ 1,9 bilhão em investimentos, 54% do total aplicado em 2020 – período que já havia surpreendido pelos grandes cheques. Porém, para além da euforia, o ritmo acelerado tem trazido uma dor de cabeça latente: a dificuldade de contratar profissionais na área de tecnologia.

Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), a demanda por profissionais na área será de 420 mil pessoas até 2024, tanto em startups quanto em grandes companhias. Diante disso, algumas empresas têm se esforçado para conter esse gargalo, oferecendo soluções em diferentes pontos da jornada de um especialista em tecnologia, desde a educação até a conexão com as empresas. 

A parte educacional é a solução mais óbvia, e já conta com grandes players globais, como a Udemy e a Digital House – esta última é uma startup argentina que recebeu um aporte de R$ 280 milhões no mês passado. Nomes brasileiros, entretanto, também estão começando a despontar. É o caso da catarinense Rocketseat e da paulista Shawee, que anunciaram uma fusão em outubro de 2020. 

A Rocketseat é uma escola digital de programação, enquanto a Shawee atua diretamente com empresas, oferecendo “hackathons” (eventos de treinamento para desenvolvedores) para aproximar profissionais de companhias – as duas startups foram fundadas em 2017 e já atenderam cerca de 530 mil profissionais no Brasil. 

Rodrigo Terron, diretor de operações da Rocketseat e CEO da Shawee Foto: Felipe Rau/Estadão

As empresas atuam em diferentes momentos da carreira do profissional. A Rocketseat é dona de uma plataforma de cursos online que oferece formação gratuita para iniciantes e aulas intermediárias e avançadas pagas. “Damos uma certificação alinhada com o mercado. Se um desenvolvedor quer trabalhar no Mercado Livre, ele tem de aprender uma linguagem de programação. Outra startup pode ter outra linguagem. Temos conexão com profissionais do mercado para trazer conteúdos técnicos mirando objetivos”, explica Rodrigo Terron, que agora tem duplo chapéu como diretor de operações da Rocketseat e CEO da Shawee. 

Nesse sentido, a Shawee virou um braço da Rocketseat. “O hackathon, seja em um modelo presencial ou online, é uma forma de levar o desenvolvedor para dentro de cada empresa e contar para ele quais tecnologias aquela companhia usa – a aproximação pode resultar em uma contratação”, explica Terron. Nomes como Quinto Andar, Loft, Vtex, Stone, Itaú, Uber e IBM já usaram o serviço da Shawee – ao todo, a startup já trabalhou em projetos com cerca de 150 empresas.

As duas startups somam 80 funcionários e esperam chegar ao fim de 2021 com 110. Elas se sustentaram até hoje sem a ajuda de capital externo, mas, para acelerar o crescimento, planejam uma rodada de investimento até julho. O valor pretendido não foi revelado. 

Ainda na parte educacional, a distribuição de cursos online focados em programação também virou um filão para startups. Quem atua nisso é a carioca Classpert, uma plataforma de comparação e busca de cursos online –é como se fosse um “mini Google” que organiza informações de aproximadamente 230 mil cursos online em 10 idiomas, sendo a maior fatia deles aulas de tecnologia. A startup, criada em 2018, tem entre seus investidores a empresa Quero Educação, e os fundos Iporanga Ventures e Canary

“A oferta de cursos online explodiu e é difícil encontrar exatamente o que aprender e qual é o melhor curso. Mostramos o comparativo de informações como tempo de curso, preço e recomendações de usuários”, diz Felipe Jordão, CEO da startup. A Classpert ganha dinheiro pelos cursos vendidos, realizando uma cobrança do produtor do conteúdo a cada transação. 

Durante os primeiros seis meses de 2020, com o impulso da pandemia, a startup registrou um crescimento de 40% em acesso orgânico e faturamento. 

Ponte

Além da formação, a conexão de profissionais com as empresas é um ponto sensível, explica Raphael Augusto, sócio diretor de inteligência de mercado da aceleradora Liga Ventures. “É uma competição muito grande por esses profissionais”, diz ele. 

A ânsia por agilidade na contratação é tanta que algumas empresas optam por adquirir startups para chegar mais rápido a esses profissionais, prática conhecida no mercado como “acqui-hiring” (aquisição por contratação). Essa ideia já foi executada pelo Nubank, que, em janeiro de 2020, comprou uma consultoria especializada em engenharia de software e metodologias ágeis e integrou um time de 50 profissionais à sua equipe. 

É na dificuldade de conexão que a startup Vulpi se propõe a ajudar. Fundada em 2016, a empresa mineira atua no recrutamento e na indicação de profissionais de tecnologia: sua plataforma usa inteligência artificial para cruzar dados de candidatos com empresas. “Quando trabalhei como desenvolvedor numa fábrica, senti o problema. A empresa pegava um projeto novo e o RH se descabelava”, conta Fellipe Couto, presidente executivo da startup. 

Nos últimos cinco anos, a Vulpi atendeu mais de 500 empresas. “Muitas vezes, o RH segue a orientação do gerente de tecnologia para criar uma vaga de desenvolvedor, mas não entende as linguagens e a vaga vira uma sopa de letrinhas, pouco atrativa”, explica Couto. “Na nossa plataforma, ajudamos inclusive o RH que não sabe se existe aquele profissional que a empresa está buscando. O algoritmo interpreta, cria uma ‘vaga-base’ e estabelece os principais parâmetros para aquela demanda”.

André Abreu, presidente executivo da BossaBox Foto: Alex Silva/Estadão

Nessa ponte, há também quem aposte na flexibilização das contratações. A startup BossaBox, por exemplo, tem uma plataforma que conecta freelancers com companhias, atendendo demandas de projetos específicos de inovação. Criada em 2017, a empresa já atendeu cerca de 100 clientes, entre eles Omo, Hering e Unidas. “Temos uma base de dados de freelancers e os alocamos de acordo com o perfil. Focamos em grandes empresas porque elas estão com mais problemas”, explica André Abreu, presidente executivo da BossaBox. A startup usa algoritmos e também um trabalho de humanos no direcionamento. 

Na visão de especialistas, mais do que uma oportunidade, esses serviços são necessários para que o setor de tecnologia continue crescendo. “Se não investirmos em talentos, o setor pode enfrentar uma estagnação em breve”, diz Ug Cobra, diretor de operações da aceleradora Darwin Startups. “O risco é virar uma caçada cada vez mais selvagem, com empresas lutando para reter o funcionário a qualquer custo”. 

O setor de tecnologia vive um “boom” histórico, com recorde de aquisições e de aportes em startups. Segundo a empresa de inovação Distrito, no primeiro trimestre de 2021, as startups brasileiras receberam US$ 1,9 bilhão em investimentos, 54% do total aplicado em 2020 – período que já havia surpreendido pelos grandes cheques. Porém, para além da euforia, o ritmo acelerado tem trazido uma dor de cabeça latente: a dificuldade de contratar profissionais na área de tecnologia.

Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), a demanda por profissionais na área será de 420 mil pessoas até 2024, tanto em startups quanto em grandes companhias. Diante disso, algumas empresas têm se esforçado para conter esse gargalo, oferecendo soluções em diferentes pontos da jornada de um especialista em tecnologia, desde a educação até a conexão com as empresas. 

A parte educacional é a solução mais óbvia, e já conta com grandes players globais, como a Udemy e a Digital House – esta última é uma startup argentina que recebeu um aporte de R$ 280 milhões no mês passado. Nomes brasileiros, entretanto, também estão começando a despontar. É o caso da catarinense Rocketseat e da paulista Shawee, que anunciaram uma fusão em outubro de 2020. 

A Rocketseat é uma escola digital de programação, enquanto a Shawee atua diretamente com empresas, oferecendo “hackathons” (eventos de treinamento para desenvolvedores) para aproximar profissionais de companhias – as duas startups foram fundadas em 2017 e já atenderam cerca de 530 mil profissionais no Brasil. 

Rodrigo Terron, diretor de operações da Rocketseat e CEO da Shawee Foto: Felipe Rau/Estadão

As empresas atuam em diferentes momentos da carreira do profissional. A Rocketseat é dona de uma plataforma de cursos online que oferece formação gratuita para iniciantes e aulas intermediárias e avançadas pagas. “Damos uma certificação alinhada com o mercado. Se um desenvolvedor quer trabalhar no Mercado Livre, ele tem de aprender uma linguagem de programação. Outra startup pode ter outra linguagem. Temos conexão com profissionais do mercado para trazer conteúdos técnicos mirando objetivos”, explica Rodrigo Terron, que agora tem duplo chapéu como diretor de operações da Rocketseat e CEO da Shawee. 

Nesse sentido, a Shawee virou um braço da Rocketseat. “O hackathon, seja em um modelo presencial ou online, é uma forma de levar o desenvolvedor para dentro de cada empresa e contar para ele quais tecnologias aquela companhia usa – a aproximação pode resultar em uma contratação”, explica Terron. Nomes como Quinto Andar, Loft, Vtex, Stone, Itaú, Uber e IBM já usaram o serviço da Shawee – ao todo, a startup já trabalhou em projetos com cerca de 150 empresas.

As duas startups somam 80 funcionários e esperam chegar ao fim de 2021 com 110. Elas se sustentaram até hoje sem a ajuda de capital externo, mas, para acelerar o crescimento, planejam uma rodada de investimento até julho. O valor pretendido não foi revelado. 

Ainda na parte educacional, a distribuição de cursos online focados em programação também virou um filão para startups. Quem atua nisso é a carioca Classpert, uma plataforma de comparação e busca de cursos online –é como se fosse um “mini Google” que organiza informações de aproximadamente 230 mil cursos online em 10 idiomas, sendo a maior fatia deles aulas de tecnologia. A startup, criada em 2018, tem entre seus investidores a empresa Quero Educação, e os fundos Iporanga Ventures e Canary

“A oferta de cursos online explodiu e é difícil encontrar exatamente o que aprender e qual é o melhor curso. Mostramos o comparativo de informações como tempo de curso, preço e recomendações de usuários”, diz Felipe Jordão, CEO da startup. A Classpert ganha dinheiro pelos cursos vendidos, realizando uma cobrança do produtor do conteúdo a cada transação. 

Durante os primeiros seis meses de 2020, com o impulso da pandemia, a startup registrou um crescimento de 40% em acesso orgânico e faturamento. 

Ponte

Além da formação, a conexão de profissionais com as empresas é um ponto sensível, explica Raphael Augusto, sócio diretor de inteligência de mercado da aceleradora Liga Ventures. “É uma competição muito grande por esses profissionais”, diz ele. 

A ânsia por agilidade na contratação é tanta que algumas empresas optam por adquirir startups para chegar mais rápido a esses profissionais, prática conhecida no mercado como “acqui-hiring” (aquisição por contratação). Essa ideia já foi executada pelo Nubank, que, em janeiro de 2020, comprou uma consultoria especializada em engenharia de software e metodologias ágeis e integrou um time de 50 profissionais à sua equipe. 

É na dificuldade de conexão que a startup Vulpi se propõe a ajudar. Fundada em 2016, a empresa mineira atua no recrutamento e na indicação de profissionais de tecnologia: sua plataforma usa inteligência artificial para cruzar dados de candidatos com empresas. “Quando trabalhei como desenvolvedor numa fábrica, senti o problema. A empresa pegava um projeto novo e o RH se descabelava”, conta Fellipe Couto, presidente executivo da startup. 

Nos últimos cinco anos, a Vulpi atendeu mais de 500 empresas. “Muitas vezes, o RH segue a orientação do gerente de tecnologia para criar uma vaga de desenvolvedor, mas não entende as linguagens e a vaga vira uma sopa de letrinhas, pouco atrativa”, explica Couto. “Na nossa plataforma, ajudamos inclusive o RH que não sabe se existe aquele profissional que a empresa está buscando. O algoritmo interpreta, cria uma ‘vaga-base’ e estabelece os principais parâmetros para aquela demanda”.

André Abreu, presidente executivo da BossaBox Foto: Alex Silva/Estadão

Nessa ponte, há também quem aposte na flexibilização das contratações. A startup BossaBox, por exemplo, tem uma plataforma que conecta freelancers com companhias, atendendo demandas de projetos específicos de inovação. Criada em 2017, a empresa já atendeu cerca de 100 clientes, entre eles Omo, Hering e Unidas. “Temos uma base de dados de freelancers e os alocamos de acordo com o perfil. Focamos em grandes empresas porque elas estão com mais problemas”, explica André Abreu, presidente executivo da BossaBox. A startup usa algoritmos e também um trabalho de humanos no direcionamento. 

Na visão de especialistas, mais do que uma oportunidade, esses serviços são necessários para que o setor de tecnologia continue crescendo. “Se não investirmos em talentos, o setor pode enfrentar uma estagnação em breve”, diz Ug Cobra, diretor de operações da aceleradora Darwin Startups. “O risco é virar uma caçada cada vez mais selvagem, com empresas lutando para reter o funcionário a qualquer custo”. 

O setor de tecnologia vive um “boom” histórico, com recorde de aquisições e de aportes em startups. Segundo a empresa de inovação Distrito, no primeiro trimestre de 2021, as startups brasileiras receberam US$ 1,9 bilhão em investimentos, 54% do total aplicado em 2020 – período que já havia surpreendido pelos grandes cheques. Porém, para além da euforia, o ritmo acelerado tem trazido uma dor de cabeça latente: a dificuldade de contratar profissionais na área de tecnologia.

Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), a demanda por profissionais na área será de 420 mil pessoas até 2024, tanto em startups quanto em grandes companhias. Diante disso, algumas empresas têm se esforçado para conter esse gargalo, oferecendo soluções em diferentes pontos da jornada de um especialista em tecnologia, desde a educação até a conexão com as empresas. 

A parte educacional é a solução mais óbvia, e já conta com grandes players globais, como a Udemy e a Digital House – esta última é uma startup argentina que recebeu um aporte de R$ 280 milhões no mês passado. Nomes brasileiros, entretanto, também estão começando a despontar. É o caso da catarinense Rocketseat e da paulista Shawee, que anunciaram uma fusão em outubro de 2020. 

A Rocketseat é uma escola digital de programação, enquanto a Shawee atua diretamente com empresas, oferecendo “hackathons” (eventos de treinamento para desenvolvedores) para aproximar profissionais de companhias – as duas startups foram fundadas em 2017 e já atenderam cerca de 530 mil profissionais no Brasil. 

Rodrigo Terron, diretor de operações da Rocketseat e CEO da Shawee Foto: Felipe Rau/Estadão

As empresas atuam em diferentes momentos da carreira do profissional. A Rocketseat é dona de uma plataforma de cursos online que oferece formação gratuita para iniciantes e aulas intermediárias e avançadas pagas. “Damos uma certificação alinhada com o mercado. Se um desenvolvedor quer trabalhar no Mercado Livre, ele tem de aprender uma linguagem de programação. Outra startup pode ter outra linguagem. Temos conexão com profissionais do mercado para trazer conteúdos técnicos mirando objetivos”, explica Rodrigo Terron, que agora tem duplo chapéu como diretor de operações da Rocketseat e CEO da Shawee. 

Nesse sentido, a Shawee virou um braço da Rocketseat. “O hackathon, seja em um modelo presencial ou online, é uma forma de levar o desenvolvedor para dentro de cada empresa e contar para ele quais tecnologias aquela companhia usa – a aproximação pode resultar em uma contratação”, explica Terron. Nomes como Quinto Andar, Loft, Vtex, Stone, Itaú, Uber e IBM já usaram o serviço da Shawee – ao todo, a startup já trabalhou em projetos com cerca de 150 empresas.

As duas startups somam 80 funcionários e esperam chegar ao fim de 2021 com 110. Elas se sustentaram até hoje sem a ajuda de capital externo, mas, para acelerar o crescimento, planejam uma rodada de investimento até julho. O valor pretendido não foi revelado. 

Ainda na parte educacional, a distribuição de cursos online focados em programação também virou um filão para startups. Quem atua nisso é a carioca Classpert, uma plataforma de comparação e busca de cursos online –é como se fosse um “mini Google” que organiza informações de aproximadamente 230 mil cursos online em 10 idiomas, sendo a maior fatia deles aulas de tecnologia. A startup, criada em 2018, tem entre seus investidores a empresa Quero Educação, e os fundos Iporanga Ventures e Canary

“A oferta de cursos online explodiu e é difícil encontrar exatamente o que aprender e qual é o melhor curso. Mostramos o comparativo de informações como tempo de curso, preço e recomendações de usuários”, diz Felipe Jordão, CEO da startup. A Classpert ganha dinheiro pelos cursos vendidos, realizando uma cobrança do produtor do conteúdo a cada transação. 

Durante os primeiros seis meses de 2020, com o impulso da pandemia, a startup registrou um crescimento de 40% em acesso orgânico e faturamento. 

Ponte

Além da formação, a conexão de profissionais com as empresas é um ponto sensível, explica Raphael Augusto, sócio diretor de inteligência de mercado da aceleradora Liga Ventures. “É uma competição muito grande por esses profissionais”, diz ele. 

A ânsia por agilidade na contratação é tanta que algumas empresas optam por adquirir startups para chegar mais rápido a esses profissionais, prática conhecida no mercado como “acqui-hiring” (aquisição por contratação). Essa ideia já foi executada pelo Nubank, que, em janeiro de 2020, comprou uma consultoria especializada em engenharia de software e metodologias ágeis e integrou um time de 50 profissionais à sua equipe. 

É na dificuldade de conexão que a startup Vulpi se propõe a ajudar. Fundada em 2016, a empresa mineira atua no recrutamento e na indicação de profissionais de tecnologia: sua plataforma usa inteligência artificial para cruzar dados de candidatos com empresas. “Quando trabalhei como desenvolvedor numa fábrica, senti o problema. A empresa pegava um projeto novo e o RH se descabelava”, conta Fellipe Couto, presidente executivo da startup. 

Nos últimos cinco anos, a Vulpi atendeu mais de 500 empresas. “Muitas vezes, o RH segue a orientação do gerente de tecnologia para criar uma vaga de desenvolvedor, mas não entende as linguagens e a vaga vira uma sopa de letrinhas, pouco atrativa”, explica Couto. “Na nossa plataforma, ajudamos inclusive o RH que não sabe se existe aquele profissional que a empresa está buscando. O algoritmo interpreta, cria uma ‘vaga-base’ e estabelece os principais parâmetros para aquela demanda”.

André Abreu, presidente executivo da BossaBox Foto: Alex Silva/Estadão

Nessa ponte, há também quem aposte na flexibilização das contratações. A startup BossaBox, por exemplo, tem uma plataforma que conecta freelancers com companhias, atendendo demandas de projetos específicos de inovação. Criada em 2017, a empresa já atendeu cerca de 100 clientes, entre eles Omo, Hering e Unidas. “Temos uma base de dados de freelancers e os alocamos de acordo com o perfil. Focamos em grandes empresas porque elas estão com mais problemas”, explica André Abreu, presidente executivo da BossaBox. A startup usa algoritmos e também um trabalho de humanos no direcionamento. 

Na visão de especialistas, mais do que uma oportunidade, esses serviços são necessários para que o setor de tecnologia continue crescendo. “Se não investirmos em talentos, o setor pode enfrentar uma estagnação em breve”, diz Ug Cobra, diretor de operações da aceleradora Darwin Startups. “O risco é virar uma caçada cada vez mais selvagem, com empresas lutando para reter o funcionário a qualquer custo”. 

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