Se os avanços da robótica e da nanotecnologia propiciaram nos últimos anos a criação de novos tratamentos para pacientes, agora o setor de saúde volta os olhos para o boom da inteligência artificial (IA) - a discussão foi um dos tema da Futurecom, um dos principais eventos de tecnologia do País, que acontece até quinta, 10. A expectativa é de que a tecnologia ajude a lidar com o grande volume de dados gerados e utilizados por hospitais, clínicas e empresas do setor.
Uma pesquisa realizada pela consultoria canadense-indiana Precedence Research, por exemplo, aponta que o mercado de produtos e serviços que utilizam IA para a área de saúde deverá movimentar US$ 187,9 bilhões no mundo até 2030. Uma parte deste montante está no Brasil.
“O setor de saúde é um dos que talvez dê maior exposição a todo o ganho que a inteligência artificial pode trazer”, diz Luis Fernando Joaquim, líder da prática de Life Science & Healthcare da Deloitte, em entrevista ao Estadão. “Mas é um setor que ainda carece de gestão e de tecnologia.”
Para Lilian Hoffmann, especialista em tecnologia da informação para o setor de saúde e que até agosto deste ano atuou como diretora executiva de tecnologia e dados da Beneficência Portuguesa, o modelo atual e nacional de sustentabilidade do setor de saúde é insuficiente.
“Chegamos em um ponto que não está bom para ninguém. Nem para o paciente, nem para as empresas e nem para o Governo”, afirmou Hoffmann durante um painel sobre o tema na Futurecom. “A saída passa pela tecnologia.”
Um exemplo dos ganhos da tecnologia está na redução de custos. “É muito útil na questão da gestão empresarial”, afirmou Andrea Bocabello, diretora executiva de estratégia, inovação e ESG do Grupo Fleury. Segundo a executiva, o uso de IA já permite gerar economia no uso de equipamentos de ressonância.
Para Anderson Rocha, professor e pesquisador da Unicamp, há uma “revolução da convergência” em andamento. “Temos cinco tecnologias que mudaram a forma como vivemos: nanotecnologia, robótica, internet das coisas, biotecnologia e, agora, inteligência artificial”, afirmou.
Diagnóstico ruim
O problema está em como levar essa tecnologia para as empresas. Neste sentido, a infraestrutura é o obstáculo. “É necessário levar mais conexão para que os dados sejam transferidos rapidamente, até para que essa tecnologia possa atender às classes mais baixas através dos programas sociais”, disse Hoffmann, ex-Beneficência Portuguesa.
Segundo Cristiano Valerio Ribeiro, gerente de inovação e valor em saúde do Hospital Sírio-Libanês, o maior desafio está em conectar as áreas mais remotas do País. “É preciso repensar toda a linha de cuidado em saúde através do avanço da conectividade”, disse. “Essa é só a primeira parte do problema.”
Para Ribeiro, os investimentos em infraestrutura podem ajudar o setor a resolver uma dor: lidar com uma quantidade cada vez maior de dados. “A saúde ainda é muito ineficiente em gerir dados”, disse. “É preciso repensar o que fazemos com os dados dos pacientes e como navegamos essas informações.”
Joaquim, da Deloitte, segue a mesma linha de raciocínio de Ribeiro. “Quando a gente fala do uso da inteligência artificial em favor da saúde, a grande questão é termos dados estruturados e interconectados para fazer uma correta avaliação de toda uma linha de cuidado e do tratamento que precisa ser ofertado”, afirma.