A startup imobiliária Loft, especializada em compra e venda de imóveis, realizou nesta quarta-feira, 7, o corte de 12% da companhia, confirma a empresa ao Estadão. Essa é a terceira rodada de demissões da companhia, que soma quase 855 funcionários demitidos ao longo deste ano.
Nesta quarta, foram dispensados 312 funcionários do antigo quadro de 2,6 mil colaboradores. Em abril, a Loft havia cortado 159 pessoas em movimento que chamou de “consolidação da área de crédito”. Em julho, uma nova rodada levou 384 funcionários da startup, cerca de 12% do quadro de 3,2 mil pessoas.
Os funcionários demitidos nesta terceira rodada vão receber extensão do plano de saúde para titular e dependente por mais dois meses, apoio no processo de recolocação profissional (que inclui assinatura do serviço LinkedIn Premium, da rede social corporativa) e facilitação no plano de stock options para pessoas elegíveis ao programa, diz a empresa.
No comunicado, a empresa “agradece a dedicação dos colaboradores desligados e está empenhada em ajudar no que for possível para a sua recolocação no mercado.”
A Loft faz parte do seleto clube dos “unicórnios”, nome dado às startups com avaliação de mercado acima de US$ 1 bilhão. Fundada em 2019, a firma brasileira recebeu valuation de US$ 2,9 bilhões em abril de 2021 após levantar US$ 525 milhões.
Nos meses seguintes, a startup comprou a fintech CredPago, que elimina a figura do fiador na locação de imóveis, e a startup CrediHome no mês seguinte, especializada em crédito. Em dezembro de 2021, a Loft comprou o portal de listagem de imóveis 123i e realizou parcerias com as imobiliárias Mirantte e Zimmerman. Em março de 2022, comprou a Vista, que fornece software de gestão para imobiliárias.
Ao mesmo tempo, a Loft vem aumentando a atuação pelo Brasil. Na semana passada, a companhia anunciou a expansão pelo interior de São Paulo e Rio Grande do Sul, totalizando 28 municípios no Brasil. Para esse crescimento, a empresa tem adotado o que chama de expansão “com custo reduzido e eficiente”, graças ao projeto de parcerias com imobiliárias locais.
Em agosto, a Loft se desfez da Nomah, startup brasileira de estadia curta adquirida em julho de 2020 e que se fundiu com a mexicana e rival Casai.
No comunicado desta quarta, a Loft afirma que os cortes fazem parte de uma “importante etapa da integração da companhia com suas empresas adquiridas, o que resulta na reestruturação de sua operação”, escreve. “Diversos processos entre a plataforma Loft e as empresas adquiridas foram simplificados com a reestruturação, gerando mais sinergias entre as empresas do Grupo que proporcionarão aumento da eficiência operacional e potencializarão ainda mais nossos resultados.”
Crise é grande entre ‘unicórnios’
Conhecidas por contratar centenas de funcionários ao mês, as startups têm realizado centenas de demissões pelo mundo — o fenômeno não é exclusivo do Brasil. O período tem sido batizado de “inverno das startups”, após a onda positiva causada pela digitalização da pandemia nos últimos dois anos.
Segundo especialistas consultados pelo Estadão nos últimos meses, as demissões ocorrem como reajuste de rota em meio à alta global nos preços e à guerra da Ucrânia, que desorganiza a cadeia produtiva mundial. Nesse cenário, investidores viram as costas para investimentos de risco, como startups. Com isso, levantar rodadas tem sido mais difícil do que durante a pandemia, quando o apetite dos investidores por risco era maior.
O processo tem sido especialmente duro com as startups maiores, que estão no momento conhecido como “late stage”. Nesse estágio de maturidade, as empresas queimam dinheiro velozmente na tentativa de crescer e ganhar mercado - sem o dinheiro, elas precisam preservar caixa para sobreviver.
Leia mais
Entre os unicórnios nacionais que já fizeram demissões em massa em 2022 estão Loggi, QuintoAndar, Loft, Facily, Vtex, Ebanx, MadeiraMadeira, Mercado Bitcoin, Olist, Unico, Hotmart, Dock e Wildlife. A mexicana Kavak, maior unicórnio da América Latina, também fez cortes severos na operação brasileira.
Fundos de investimento alertaram as startups sobre o cenário desafiador nos primeiros meses do ano. O investidor Masayoshi Son, presidente do SoftBank, um dos maiores investidores de startups no Brasil, disse em abril que o conglomerado japonês deve reduzir os investimentos em empresas de tecnologia neste ano.
A aceleradora Y Combinator, uma das mais conhecidas no Vale do Silício, recomendou que as startups reavaliassem suas finanças e que ficassem prontos para cortar gastos. A medida, de acordo com a aceleradora, é uma forma de prever até 24 meses sem investimentos. “Crises econômicas geralmente se tornam grandes oportunidades para os fundadores que mudam rapidamente sua mentalidade, planejam com antecedência e garantem que sua empresa sobreviva”, afirmou a gestora na carta.