Aos 51 anos, o israelense Uri Levine é obcecado por resolver problemas. Após cofundar a startup por trás do aplicativo de mapas Waze e vendê-la para o Google em 2013 por quase US$ 1 bilhão, ele ajudou a criar pelo menos outras oito startups em Israel – de um serviço que analisa as tarifas cobradas por planos de previdência privada à um app que localiza defeitos em carros e conecta motoristas a mecânicos. Em entrevista ao Estado, ele falou sobre suas novas apostas, o sucesso das startups israelenses e o que é preciso mudar no Brasil para acelerar as startups locais:
Depois da venda do Waze, quais são suas novas apostas?
Existem muitos problemas para resolver por aí. Agora, eu estou ajudando várias empresas, como o Moovit (leia mais acima) e a Feex, que ajuda as pessoas a entender o quanto elas gastam com tarifas bancárias e como reduzir esse custo. Estou ajudando o Roomer, um site para revenda de reservas de hotéis; a FairFly, que monitora queda nos preços de passagens aéreas depois da compra; e a Engie, que criou um app que se conecta ao computador do carro e faz o diagnóstico de defeitos, além de achar mecânicos por perto. Meu foco são os serviços para consumidores, na área de mobilidade e em outros segmentos. Aposto em serviços que ajudem muitas pessoas ao mesmo tempo.
O que faz as startups israelenses terem sucesso?
Uma das coisas que impedem as startups de crescer é o medo de falhar. Esse medo é grande em muitos países, como no Brasil, mas não existe em Israel. As pessoas não devem ter medo de tentar. Se falharem, não vão carregar um sinal de perdedores para sempre. Na verdade, as estatísticas mostram que um empreendedor que está em sua segunda startup tem cinco vezes mais chances de alcançar o sucesso se comparado com a primeira vez. E isso independe do fato de ele ter fracassado na primeira vez. A experiência importa muito.
Como o ecossistema de startups em Israel tem evoluído?
O ecossistema de startups em Israel é absolutamente incrível. Ele concentra um grande número de startups, de empreendedores, de investidores. Só perdemos para o Vale do Silício. Há cinco anos atrás, não havia nenhum unicórnio (startups com valor superior a US$ 1 bilhão), mas hoje podemos ver entre cinco e dez unicórnios em Israel. Acho que esse número vai crescer cada vez mais.
Como o Waze contribuiu para essa mudança?
Hoje, podemos encontrar mais startups do que nunca em Israel e com metas cada vez mais altas. Acho que parte da razão pode ser atribuída ao Waze, porque a empresa definiu uma nova marca para as startups que estão surgindo, já que foi a maior aquisição de um aplicativo israelense para consumidores. Isso mostrou que Israel pode ter empresas maiores e mais serviços para consumidores.
Grande parte das startups em Israel ainda aposta em serviços para empresas em vez de focar nos consumidores. Por quê?
Criar serviços para consumidores requer mais dinheiro. Quase todos os unicórnios levantaram mais de US$ 100 milhões em investimentos. Essa quantidade de capital não existe em Israel. Então, é difícil para uma startup sustentar uma marca para consumidores. Apesar disso, eu acredito que estamos vendo mais startups em Israel apostando nesse segmento.
Você vê empreendedores estrangeiros criando novas startups em Israel?
Não vejo e eles não devem fazer isso. Para um estrangeiro, criar uma startup aqui é muito mais caro e difícil, pois ele não conhece a cultura, não tem relacionamentos. Além disso, Israel é um mercado pequeno. Por que eles se importariam?
Como você vê a evolução da cena brasileira de startups?
Eu estive várias vezes no Brasil e o ecossistema local está evoluindo, mas não rápido o suficiente. Algumas coisas têm que mudar. A primeira é aumentar o número de brasileiros que querem empreender e a mídia tem papel importante ao contar histórias de startups. Quanto mais startups nascerem, maior será o número de sucessos. E quanto mais sucessos, mais dinheiro de investidores vai circular no País. É preciso também diminuir o medo de falhar. Ele é produto de vários fatores e um deles é regulação. Se quando uma startup quebra, o empreendedor perde todas as suas economias pessoais, o medo de falhar se torna grande e justificável. O terceiro ponto é o suporte governamental. Em vários países, o governo investe nas startups a mesma quantia que os fundos de venture capital. Israel fez isso na década de 1980, quando o governo colocava o mesmo valor que o setor privado nessas empresas. O governo também pode acelerar o ecossistema por meio de incentivos fiscais ou estímulos a investidores de fora. Além disso, as startups brasileiras se tornam globais mais rápido.
Você vê oportunidades de investimento no Brasil?
Eu invisto em muitas startups, a maioria em Israel. Ainda não investi em nenhuma startup brasileira.