O que Vale do Silício tem a dizer ao Brasil


Estudantes brasileiros de Stanford buscam na inovação saída para aumentar competitividade da economia brasileira

Por Catia Luz e  de Mountain View (EUA)

No palco, um empreendedor de 23 anos, o brasileiro Henrique Dubugras, fundador da Brex, empresa de cartão de crédito voltado para startups que atua no mercado americano e já carrega o título de unicórnio – valorização superior a US$ 1 bilhão. Na plateia, pesos-pesados do capitalismo brasileiro, como Jorge Paulo Lemann e seu sócio no fundo 3G, Marcel Telles; Carlos Brito, presidente da AB InBev; Elie Horn, fundador da Cyrela; o banqueiro André Esteves, do BTG; além de representantes das famílias Ermírio de Moraes, da Votorantim, ou dos Moreira Salles, do Itaú Unibanco. Boa parte deles tomando notas.

A cena no auditório do Museu da História do Computador, símbolo do Vale do Silício, ilustra bem a atmosfera do Brazil At Silicon Valley, conferência organizada por estudantes brasileiros na Universidade Stanford com o objetivo de procurar soluções, por meio de tecnologia e inovação, para aumentar a competitividade da economia brasileira. Realizado no início da semana passada, o evento de dois dias trouxe representantes de vários setores e partes do mundo para discutir quatro temas: educação, saúde, governo e setor financeiro.

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Da esquerda para a direita: Vélez (NuBank), Street (Stone), Dubugras (Brex) e Micky Malta (Ribbit Capital) debateram soluções para o País Foto: Wish Internacional

A ideia do evento veio de uma espécie de incômodo. “Somos tão privilegiados por estar aqui, temos acesso a tanta informação, que queríamos levar algo para o Brasil”, diz Djalma Rezende, um dos copresidentes da conferência. “Com o evento, levantamos dados para saber onde estamos (foi lançado um estudo da McKinsey sobre a economia digital brasileira) e reunimos um grupo diverso (formado por estudantes, investidores, empresários, empreendedores e governo) para que pudéssemos criar uma rede”, afirma Luciana Barrancos, também copresidente. O grupo de oito alunos atraiu um time influente de padrinhos. Além de Lemann, Rodrigo Xavier, ex-presidente da Merrill Lynch no Brasil, que está em período sabático em Stanford; Eduardo Mufarej, fundador da Renova BR; e Hugo Barra, vice presidente de realidade virtual do Facebook. 

Prova de fogo. Em sua palestra, Dubugras, da Brex, contou como as dificuldades no País serviram como uma espécie de prova de resistência para o mercado americano. “A gente tem tão poucos recursos, que tem de desenvolver um produto muito bom.” O painel sobre as chamadas fintechs – startups focadas em serviços financeiros – reuniu histórias de empresas iniciantes em um setor no qual o País se destaca: David Vélez, do cartão de crédito NuBank, e André Street, da Stone, startup de maquininhas com valor de mercado de US$ 10 bilhões.

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Mas os casos de sucesso não foram capazes de segurar, por exemplo, a operação brasileira do Sequoia Capital, um dos mais importantes fundos de investimento da área de tecnologia. Responsável pelos aportes globais do fundo, Doug Leone não usou meias palavras para explicar por que decidiu sair do País em 2013: o Brasil tem uma escassez assustadora de engenheiros. “Hoje, tudo é uma combinação de ciências como biologia, química e física com engenharia de software. Se pudesse dar um conselho, falaria: faça tudo para formar engenheiros de software”. Segundo ele, o País precisa ainda se concentrar em inovar para resolver problemas locais, sem perder tempo copiando modelos vencedores.

Líder para a América Latina do gigante japonês Softbank, que anunciou no mês passado um fundo de US$ 5 bilhões para a região, Marcelo Claure disse que os países com grandes problemas são os que mais precisam de negócios disruptivos. Ele diz que o Brasil, com as reformas corretas, tem uma grande oportunidade. 

Em meio a investidores e startups, houve também discussões sobre educação, saúde e a importância de se formar de lideranças na gestão pública. Curadora do evento em educação, Iona Szkurnik, da Lumiar Education, reforçou a preocupação em tratar o tema como política de Estado. Entre os convidados para debater o assunto, Yuli Tamir, ex-ministra da Educação de Israel, e Jim Knight, ex-ministro britânico que está à frente da plataforma de treinamento de professores TES. “Startups são importantes, mas não resolvem. Educação precisa ser vista como um valor da sociedade”, diz Iona.

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A uma plateia que reunia pelo menos 10% do PIB brasileiro, o apresentador Luciano Huck, outro padrinho do evento, subiu ao palco com exemplos de como a tecnologia transformou comunidades. “Não dá para planejar construir unicórnios e não perceber um país desigual como o que temos. A elite brasileira tem de ser parte da solução deste problema.” 

Depoimentos

Jorge Paulo Lemann, empresário e investidor

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‘Bela oportunidade para empreendedores’: “Palestrantes excelentes, tratando de temas importantes para o Brasil. Uma bela oportunidade para nossos empreendedores aprenderem e captarem os recursos que precisam para desenvolver seus projetos. Espero que o Brasil tenha, dentro de dez anos, cinco empresas locais de tecnologia entre as de maiores “market cap” (valor de mercado) entre empresas brasileiras cotadas no Brasil ou exterior”. 

Hugo Barra, vice-presidente de realidade virtual do Facebook

‘O Brasil é o próximo candidato a inovador’: “O Brasil tem um pool de talentos, engenharia de ponta e um consumidor com cabeça muito inovadora. Parece ser o próximo candidato a se tornar um polo de criação e consumo de tecnologia. Apesar de grandes dificuldades econômicas e sociais, o País mostra-se favorável à adoção de negócios, serviços e acesso a informações digitais, semelhante a economias desenvolvidas, com boas perspectivas à tecnologia.”

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Rodrigo Xavier, ex-presidente do Merrill Lynch no Brasil

‘O País precisa enterrar os mortos’: “Quando você vê a qualidade da plateia, os empresários que estavam ali, os empreendedores, os investidores, acho que há um clamor. Acho que há uma impressão geral de que a gente tem de fazer alguma coisa pelo País. Nós precisamos parar de olhar o tempo todo para o passado e enterrar os mortos. A revolução tecnológica é muito profunda e muito rápida, e o Brasil ainda está muito atrás.”

Eduardo Mufarej, fundador do Renova BR

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‘Temos um grande desafio pela frente’: “Esse evento foi uma imersão para as pessoas terem insights e desenvolver visões sobre o que você deveria estar fazendo e não está. Temos agora um grande desafio pela frente de trazer gente importante do governo para ouvir isso também, porque é fundamental. Temos de revisitar a forma como estamos fazendo várias iniciativas.”

No palco, um empreendedor de 23 anos, o brasileiro Henrique Dubugras, fundador da Brex, empresa de cartão de crédito voltado para startups que atua no mercado americano e já carrega o título de unicórnio – valorização superior a US$ 1 bilhão. Na plateia, pesos-pesados do capitalismo brasileiro, como Jorge Paulo Lemann e seu sócio no fundo 3G, Marcel Telles; Carlos Brito, presidente da AB InBev; Elie Horn, fundador da Cyrela; o banqueiro André Esteves, do BTG; além de representantes das famílias Ermírio de Moraes, da Votorantim, ou dos Moreira Salles, do Itaú Unibanco. Boa parte deles tomando notas.

A cena no auditório do Museu da História do Computador, símbolo do Vale do Silício, ilustra bem a atmosfera do Brazil At Silicon Valley, conferência organizada por estudantes brasileiros na Universidade Stanford com o objetivo de procurar soluções, por meio de tecnologia e inovação, para aumentar a competitividade da economia brasileira. Realizado no início da semana passada, o evento de dois dias trouxe representantes de vários setores e partes do mundo para discutir quatro temas: educação, saúde, governo e setor financeiro.

Da esquerda para a direita: Vélez (NuBank), Street (Stone), Dubugras (Brex) e Micky Malta (Ribbit Capital) debateram soluções para o País Foto: Wish Internacional

A ideia do evento veio de uma espécie de incômodo. “Somos tão privilegiados por estar aqui, temos acesso a tanta informação, que queríamos levar algo para o Brasil”, diz Djalma Rezende, um dos copresidentes da conferência. “Com o evento, levantamos dados para saber onde estamos (foi lançado um estudo da McKinsey sobre a economia digital brasileira) e reunimos um grupo diverso (formado por estudantes, investidores, empresários, empreendedores e governo) para que pudéssemos criar uma rede”, afirma Luciana Barrancos, também copresidente. O grupo de oito alunos atraiu um time influente de padrinhos. Além de Lemann, Rodrigo Xavier, ex-presidente da Merrill Lynch no Brasil, que está em período sabático em Stanford; Eduardo Mufarej, fundador da Renova BR; e Hugo Barra, vice presidente de realidade virtual do Facebook. 

Prova de fogo. Em sua palestra, Dubugras, da Brex, contou como as dificuldades no País serviram como uma espécie de prova de resistência para o mercado americano. “A gente tem tão poucos recursos, que tem de desenvolver um produto muito bom.” O painel sobre as chamadas fintechs – startups focadas em serviços financeiros – reuniu histórias de empresas iniciantes em um setor no qual o País se destaca: David Vélez, do cartão de crédito NuBank, e André Street, da Stone, startup de maquininhas com valor de mercado de US$ 10 bilhões.

Mas os casos de sucesso não foram capazes de segurar, por exemplo, a operação brasileira do Sequoia Capital, um dos mais importantes fundos de investimento da área de tecnologia. Responsável pelos aportes globais do fundo, Doug Leone não usou meias palavras para explicar por que decidiu sair do País em 2013: o Brasil tem uma escassez assustadora de engenheiros. “Hoje, tudo é uma combinação de ciências como biologia, química e física com engenharia de software. Se pudesse dar um conselho, falaria: faça tudo para formar engenheiros de software”. Segundo ele, o País precisa ainda se concentrar em inovar para resolver problemas locais, sem perder tempo copiando modelos vencedores.

Líder para a América Latina do gigante japonês Softbank, que anunciou no mês passado um fundo de US$ 5 bilhões para a região, Marcelo Claure disse que os países com grandes problemas são os que mais precisam de negócios disruptivos. Ele diz que o Brasil, com as reformas corretas, tem uma grande oportunidade. 

Em meio a investidores e startups, houve também discussões sobre educação, saúde e a importância de se formar de lideranças na gestão pública. Curadora do evento em educação, Iona Szkurnik, da Lumiar Education, reforçou a preocupação em tratar o tema como política de Estado. Entre os convidados para debater o assunto, Yuli Tamir, ex-ministra da Educação de Israel, e Jim Knight, ex-ministro britânico que está à frente da plataforma de treinamento de professores TES. “Startups são importantes, mas não resolvem. Educação precisa ser vista como um valor da sociedade”, diz Iona.

A uma plateia que reunia pelo menos 10% do PIB brasileiro, o apresentador Luciano Huck, outro padrinho do evento, subiu ao palco com exemplos de como a tecnologia transformou comunidades. “Não dá para planejar construir unicórnios e não perceber um país desigual como o que temos. A elite brasileira tem de ser parte da solução deste problema.” 

Depoimentos

Jorge Paulo Lemann, empresário e investidor

‘Bela oportunidade para empreendedores’: “Palestrantes excelentes, tratando de temas importantes para o Brasil. Uma bela oportunidade para nossos empreendedores aprenderem e captarem os recursos que precisam para desenvolver seus projetos. Espero que o Brasil tenha, dentro de dez anos, cinco empresas locais de tecnologia entre as de maiores “market cap” (valor de mercado) entre empresas brasileiras cotadas no Brasil ou exterior”. 

Hugo Barra, vice-presidente de realidade virtual do Facebook

‘O Brasil é o próximo candidato a inovador’: “O Brasil tem um pool de talentos, engenharia de ponta e um consumidor com cabeça muito inovadora. Parece ser o próximo candidato a se tornar um polo de criação e consumo de tecnologia. Apesar de grandes dificuldades econômicas e sociais, o País mostra-se favorável à adoção de negócios, serviços e acesso a informações digitais, semelhante a economias desenvolvidas, com boas perspectivas à tecnologia.”

Rodrigo Xavier, ex-presidente do Merrill Lynch no Brasil

‘O País precisa enterrar os mortos’: “Quando você vê a qualidade da plateia, os empresários que estavam ali, os empreendedores, os investidores, acho que há um clamor. Acho que há uma impressão geral de que a gente tem de fazer alguma coisa pelo País. Nós precisamos parar de olhar o tempo todo para o passado e enterrar os mortos. A revolução tecnológica é muito profunda e muito rápida, e o Brasil ainda está muito atrás.”

Eduardo Mufarej, fundador do Renova BR

‘Temos um grande desafio pela frente’: “Esse evento foi uma imersão para as pessoas terem insights e desenvolver visões sobre o que você deveria estar fazendo e não está. Temos agora um grande desafio pela frente de trazer gente importante do governo para ouvir isso também, porque é fundamental. Temos de revisitar a forma como estamos fazendo várias iniciativas.”

No palco, um empreendedor de 23 anos, o brasileiro Henrique Dubugras, fundador da Brex, empresa de cartão de crédito voltado para startups que atua no mercado americano e já carrega o título de unicórnio – valorização superior a US$ 1 bilhão. Na plateia, pesos-pesados do capitalismo brasileiro, como Jorge Paulo Lemann e seu sócio no fundo 3G, Marcel Telles; Carlos Brito, presidente da AB InBev; Elie Horn, fundador da Cyrela; o banqueiro André Esteves, do BTG; além de representantes das famílias Ermírio de Moraes, da Votorantim, ou dos Moreira Salles, do Itaú Unibanco. Boa parte deles tomando notas.

A cena no auditório do Museu da História do Computador, símbolo do Vale do Silício, ilustra bem a atmosfera do Brazil At Silicon Valley, conferência organizada por estudantes brasileiros na Universidade Stanford com o objetivo de procurar soluções, por meio de tecnologia e inovação, para aumentar a competitividade da economia brasileira. Realizado no início da semana passada, o evento de dois dias trouxe representantes de vários setores e partes do mundo para discutir quatro temas: educação, saúde, governo e setor financeiro.

Da esquerda para a direita: Vélez (NuBank), Street (Stone), Dubugras (Brex) e Micky Malta (Ribbit Capital) debateram soluções para o País Foto: Wish Internacional

A ideia do evento veio de uma espécie de incômodo. “Somos tão privilegiados por estar aqui, temos acesso a tanta informação, que queríamos levar algo para o Brasil”, diz Djalma Rezende, um dos copresidentes da conferência. “Com o evento, levantamos dados para saber onde estamos (foi lançado um estudo da McKinsey sobre a economia digital brasileira) e reunimos um grupo diverso (formado por estudantes, investidores, empresários, empreendedores e governo) para que pudéssemos criar uma rede”, afirma Luciana Barrancos, também copresidente. O grupo de oito alunos atraiu um time influente de padrinhos. Além de Lemann, Rodrigo Xavier, ex-presidente da Merrill Lynch no Brasil, que está em período sabático em Stanford; Eduardo Mufarej, fundador da Renova BR; e Hugo Barra, vice presidente de realidade virtual do Facebook. 

Prova de fogo. Em sua palestra, Dubugras, da Brex, contou como as dificuldades no País serviram como uma espécie de prova de resistência para o mercado americano. “A gente tem tão poucos recursos, que tem de desenvolver um produto muito bom.” O painel sobre as chamadas fintechs – startups focadas em serviços financeiros – reuniu histórias de empresas iniciantes em um setor no qual o País se destaca: David Vélez, do cartão de crédito NuBank, e André Street, da Stone, startup de maquininhas com valor de mercado de US$ 10 bilhões.

Mas os casos de sucesso não foram capazes de segurar, por exemplo, a operação brasileira do Sequoia Capital, um dos mais importantes fundos de investimento da área de tecnologia. Responsável pelos aportes globais do fundo, Doug Leone não usou meias palavras para explicar por que decidiu sair do País em 2013: o Brasil tem uma escassez assustadora de engenheiros. “Hoje, tudo é uma combinação de ciências como biologia, química e física com engenharia de software. Se pudesse dar um conselho, falaria: faça tudo para formar engenheiros de software”. Segundo ele, o País precisa ainda se concentrar em inovar para resolver problemas locais, sem perder tempo copiando modelos vencedores.

Líder para a América Latina do gigante japonês Softbank, que anunciou no mês passado um fundo de US$ 5 bilhões para a região, Marcelo Claure disse que os países com grandes problemas são os que mais precisam de negócios disruptivos. Ele diz que o Brasil, com as reformas corretas, tem uma grande oportunidade. 

Em meio a investidores e startups, houve também discussões sobre educação, saúde e a importância de se formar de lideranças na gestão pública. Curadora do evento em educação, Iona Szkurnik, da Lumiar Education, reforçou a preocupação em tratar o tema como política de Estado. Entre os convidados para debater o assunto, Yuli Tamir, ex-ministra da Educação de Israel, e Jim Knight, ex-ministro britânico que está à frente da plataforma de treinamento de professores TES. “Startups são importantes, mas não resolvem. Educação precisa ser vista como um valor da sociedade”, diz Iona.

A uma plateia que reunia pelo menos 10% do PIB brasileiro, o apresentador Luciano Huck, outro padrinho do evento, subiu ao palco com exemplos de como a tecnologia transformou comunidades. “Não dá para planejar construir unicórnios e não perceber um país desigual como o que temos. A elite brasileira tem de ser parte da solução deste problema.” 

Depoimentos

Jorge Paulo Lemann, empresário e investidor

‘Bela oportunidade para empreendedores’: “Palestrantes excelentes, tratando de temas importantes para o Brasil. Uma bela oportunidade para nossos empreendedores aprenderem e captarem os recursos que precisam para desenvolver seus projetos. Espero que o Brasil tenha, dentro de dez anos, cinco empresas locais de tecnologia entre as de maiores “market cap” (valor de mercado) entre empresas brasileiras cotadas no Brasil ou exterior”. 

Hugo Barra, vice-presidente de realidade virtual do Facebook

‘O Brasil é o próximo candidato a inovador’: “O Brasil tem um pool de talentos, engenharia de ponta e um consumidor com cabeça muito inovadora. Parece ser o próximo candidato a se tornar um polo de criação e consumo de tecnologia. Apesar de grandes dificuldades econômicas e sociais, o País mostra-se favorável à adoção de negócios, serviços e acesso a informações digitais, semelhante a economias desenvolvidas, com boas perspectivas à tecnologia.”

Rodrigo Xavier, ex-presidente do Merrill Lynch no Brasil

‘O País precisa enterrar os mortos’: “Quando você vê a qualidade da plateia, os empresários que estavam ali, os empreendedores, os investidores, acho que há um clamor. Acho que há uma impressão geral de que a gente tem de fazer alguma coisa pelo País. Nós precisamos parar de olhar o tempo todo para o passado e enterrar os mortos. A revolução tecnológica é muito profunda e muito rápida, e o Brasil ainda está muito atrás.”

Eduardo Mufarej, fundador do Renova BR

‘Temos um grande desafio pela frente’: “Esse evento foi uma imersão para as pessoas terem insights e desenvolver visões sobre o que você deveria estar fazendo e não está. Temos agora um grande desafio pela frente de trazer gente importante do governo para ouvir isso também, porque é fundamental. Temos de revisitar a forma como estamos fazendo várias iniciativas.”

No palco, um empreendedor de 23 anos, o brasileiro Henrique Dubugras, fundador da Brex, empresa de cartão de crédito voltado para startups que atua no mercado americano e já carrega o título de unicórnio – valorização superior a US$ 1 bilhão. Na plateia, pesos-pesados do capitalismo brasileiro, como Jorge Paulo Lemann e seu sócio no fundo 3G, Marcel Telles; Carlos Brito, presidente da AB InBev; Elie Horn, fundador da Cyrela; o banqueiro André Esteves, do BTG; além de representantes das famílias Ermírio de Moraes, da Votorantim, ou dos Moreira Salles, do Itaú Unibanco. Boa parte deles tomando notas.

A cena no auditório do Museu da História do Computador, símbolo do Vale do Silício, ilustra bem a atmosfera do Brazil At Silicon Valley, conferência organizada por estudantes brasileiros na Universidade Stanford com o objetivo de procurar soluções, por meio de tecnologia e inovação, para aumentar a competitividade da economia brasileira. Realizado no início da semana passada, o evento de dois dias trouxe representantes de vários setores e partes do mundo para discutir quatro temas: educação, saúde, governo e setor financeiro.

Da esquerda para a direita: Vélez (NuBank), Street (Stone), Dubugras (Brex) e Micky Malta (Ribbit Capital) debateram soluções para o País Foto: Wish Internacional

A ideia do evento veio de uma espécie de incômodo. “Somos tão privilegiados por estar aqui, temos acesso a tanta informação, que queríamos levar algo para o Brasil”, diz Djalma Rezende, um dos copresidentes da conferência. “Com o evento, levantamos dados para saber onde estamos (foi lançado um estudo da McKinsey sobre a economia digital brasileira) e reunimos um grupo diverso (formado por estudantes, investidores, empresários, empreendedores e governo) para que pudéssemos criar uma rede”, afirma Luciana Barrancos, também copresidente. O grupo de oito alunos atraiu um time influente de padrinhos. Além de Lemann, Rodrigo Xavier, ex-presidente da Merrill Lynch no Brasil, que está em período sabático em Stanford; Eduardo Mufarej, fundador da Renova BR; e Hugo Barra, vice presidente de realidade virtual do Facebook. 

Prova de fogo. Em sua palestra, Dubugras, da Brex, contou como as dificuldades no País serviram como uma espécie de prova de resistência para o mercado americano. “A gente tem tão poucos recursos, que tem de desenvolver um produto muito bom.” O painel sobre as chamadas fintechs – startups focadas em serviços financeiros – reuniu histórias de empresas iniciantes em um setor no qual o País se destaca: David Vélez, do cartão de crédito NuBank, e André Street, da Stone, startup de maquininhas com valor de mercado de US$ 10 bilhões.

Mas os casos de sucesso não foram capazes de segurar, por exemplo, a operação brasileira do Sequoia Capital, um dos mais importantes fundos de investimento da área de tecnologia. Responsável pelos aportes globais do fundo, Doug Leone não usou meias palavras para explicar por que decidiu sair do País em 2013: o Brasil tem uma escassez assustadora de engenheiros. “Hoje, tudo é uma combinação de ciências como biologia, química e física com engenharia de software. Se pudesse dar um conselho, falaria: faça tudo para formar engenheiros de software”. Segundo ele, o País precisa ainda se concentrar em inovar para resolver problemas locais, sem perder tempo copiando modelos vencedores.

Líder para a América Latina do gigante japonês Softbank, que anunciou no mês passado um fundo de US$ 5 bilhões para a região, Marcelo Claure disse que os países com grandes problemas são os que mais precisam de negócios disruptivos. Ele diz que o Brasil, com as reformas corretas, tem uma grande oportunidade. 

Em meio a investidores e startups, houve também discussões sobre educação, saúde e a importância de se formar de lideranças na gestão pública. Curadora do evento em educação, Iona Szkurnik, da Lumiar Education, reforçou a preocupação em tratar o tema como política de Estado. Entre os convidados para debater o assunto, Yuli Tamir, ex-ministra da Educação de Israel, e Jim Knight, ex-ministro britânico que está à frente da plataforma de treinamento de professores TES. “Startups são importantes, mas não resolvem. Educação precisa ser vista como um valor da sociedade”, diz Iona.

A uma plateia que reunia pelo menos 10% do PIB brasileiro, o apresentador Luciano Huck, outro padrinho do evento, subiu ao palco com exemplos de como a tecnologia transformou comunidades. “Não dá para planejar construir unicórnios e não perceber um país desigual como o que temos. A elite brasileira tem de ser parte da solução deste problema.” 

Depoimentos

Jorge Paulo Lemann, empresário e investidor

‘Bela oportunidade para empreendedores’: “Palestrantes excelentes, tratando de temas importantes para o Brasil. Uma bela oportunidade para nossos empreendedores aprenderem e captarem os recursos que precisam para desenvolver seus projetos. Espero que o Brasil tenha, dentro de dez anos, cinco empresas locais de tecnologia entre as de maiores “market cap” (valor de mercado) entre empresas brasileiras cotadas no Brasil ou exterior”. 

Hugo Barra, vice-presidente de realidade virtual do Facebook

‘O Brasil é o próximo candidato a inovador’: “O Brasil tem um pool de talentos, engenharia de ponta e um consumidor com cabeça muito inovadora. Parece ser o próximo candidato a se tornar um polo de criação e consumo de tecnologia. Apesar de grandes dificuldades econômicas e sociais, o País mostra-se favorável à adoção de negócios, serviços e acesso a informações digitais, semelhante a economias desenvolvidas, com boas perspectivas à tecnologia.”

Rodrigo Xavier, ex-presidente do Merrill Lynch no Brasil

‘O País precisa enterrar os mortos’: “Quando você vê a qualidade da plateia, os empresários que estavam ali, os empreendedores, os investidores, acho que há um clamor. Acho que há uma impressão geral de que a gente tem de fazer alguma coisa pelo País. Nós precisamos parar de olhar o tempo todo para o passado e enterrar os mortos. A revolução tecnológica é muito profunda e muito rápida, e o Brasil ainda está muito atrás.”

Eduardo Mufarej, fundador do Renova BR

‘Temos um grande desafio pela frente’: “Esse evento foi uma imersão para as pessoas terem insights e desenvolver visões sobre o que você deveria estar fazendo e não está. Temos agora um grande desafio pela frente de trazer gente importante do governo para ouvir isso também, porque é fundamental. Temos de revisitar a forma como estamos fazendo várias iniciativas.”

No palco, um empreendedor de 23 anos, o brasileiro Henrique Dubugras, fundador da Brex, empresa de cartão de crédito voltado para startups que atua no mercado americano e já carrega o título de unicórnio – valorização superior a US$ 1 bilhão. Na plateia, pesos-pesados do capitalismo brasileiro, como Jorge Paulo Lemann e seu sócio no fundo 3G, Marcel Telles; Carlos Brito, presidente da AB InBev; Elie Horn, fundador da Cyrela; o banqueiro André Esteves, do BTG; além de representantes das famílias Ermírio de Moraes, da Votorantim, ou dos Moreira Salles, do Itaú Unibanco. Boa parte deles tomando notas.

A cena no auditório do Museu da História do Computador, símbolo do Vale do Silício, ilustra bem a atmosfera do Brazil At Silicon Valley, conferência organizada por estudantes brasileiros na Universidade Stanford com o objetivo de procurar soluções, por meio de tecnologia e inovação, para aumentar a competitividade da economia brasileira. Realizado no início da semana passada, o evento de dois dias trouxe representantes de vários setores e partes do mundo para discutir quatro temas: educação, saúde, governo e setor financeiro.

Da esquerda para a direita: Vélez (NuBank), Street (Stone), Dubugras (Brex) e Micky Malta (Ribbit Capital) debateram soluções para o País Foto: Wish Internacional

A ideia do evento veio de uma espécie de incômodo. “Somos tão privilegiados por estar aqui, temos acesso a tanta informação, que queríamos levar algo para o Brasil”, diz Djalma Rezende, um dos copresidentes da conferência. “Com o evento, levantamos dados para saber onde estamos (foi lançado um estudo da McKinsey sobre a economia digital brasileira) e reunimos um grupo diverso (formado por estudantes, investidores, empresários, empreendedores e governo) para que pudéssemos criar uma rede”, afirma Luciana Barrancos, também copresidente. O grupo de oito alunos atraiu um time influente de padrinhos. Além de Lemann, Rodrigo Xavier, ex-presidente da Merrill Lynch no Brasil, que está em período sabático em Stanford; Eduardo Mufarej, fundador da Renova BR; e Hugo Barra, vice presidente de realidade virtual do Facebook. 

Prova de fogo. Em sua palestra, Dubugras, da Brex, contou como as dificuldades no País serviram como uma espécie de prova de resistência para o mercado americano. “A gente tem tão poucos recursos, que tem de desenvolver um produto muito bom.” O painel sobre as chamadas fintechs – startups focadas em serviços financeiros – reuniu histórias de empresas iniciantes em um setor no qual o País se destaca: David Vélez, do cartão de crédito NuBank, e André Street, da Stone, startup de maquininhas com valor de mercado de US$ 10 bilhões.

Mas os casos de sucesso não foram capazes de segurar, por exemplo, a operação brasileira do Sequoia Capital, um dos mais importantes fundos de investimento da área de tecnologia. Responsável pelos aportes globais do fundo, Doug Leone não usou meias palavras para explicar por que decidiu sair do País em 2013: o Brasil tem uma escassez assustadora de engenheiros. “Hoje, tudo é uma combinação de ciências como biologia, química e física com engenharia de software. Se pudesse dar um conselho, falaria: faça tudo para formar engenheiros de software”. Segundo ele, o País precisa ainda se concentrar em inovar para resolver problemas locais, sem perder tempo copiando modelos vencedores.

Líder para a América Latina do gigante japonês Softbank, que anunciou no mês passado um fundo de US$ 5 bilhões para a região, Marcelo Claure disse que os países com grandes problemas são os que mais precisam de negócios disruptivos. Ele diz que o Brasil, com as reformas corretas, tem uma grande oportunidade. 

Em meio a investidores e startups, houve também discussões sobre educação, saúde e a importância de se formar de lideranças na gestão pública. Curadora do evento em educação, Iona Szkurnik, da Lumiar Education, reforçou a preocupação em tratar o tema como política de Estado. Entre os convidados para debater o assunto, Yuli Tamir, ex-ministra da Educação de Israel, e Jim Knight, ex-ministro britânico que está à frente da plataforma de treinamento de professores TES. “Startups são importantes, mas não resolvem. Educação precisa ser vista como um valor da sociedade”, diz Iona.

A uma plateia que reunia pelo menos 10% do PIB brasileiro, o apresentador Luciano Huck, outro padrinho do evento, subiu ao palco com exemplos de como a tecnologia transformou comunidades. “Não dá para planejar construir unicórnios e não perceber um país desigual como o que temos. A elite brasileira tem de ser parte da solução deste problema.” 

Depoimentos

Jorge Paulo Lemann, empresário e investidor

‘Bela oportunidade para empreendedores’: “Palestrantes excelentes, tratando de temas importantes para o Brasil. Uma bela oportunidade para nossos empreendedores aprenderem e captarem os recursos que precisam para desenvolver seus projetos. Espero que o Brasil tenha, dentro de dez anos, cinco empresas locais de tecnologia entre as de maiores “market cap” (valor de mercado) entre empresas brasileiras cotadas no Brasil ou exterior”. 

Hugo Barra, vice-presidente de realidade virtual do Facebook

‘O Brasil é o próximo candidato a inovador’: “O Brasil tem um pool de talentos, engenharia de ponta e um consumidor com cabeça muito inovadora. Parece ser o próximo candidato a se tornar um polo de criação e consumo de tecnologia. Apesar de grandes dificuldades econômicas e sociais, o País mostra-se favorável à adoção de negócios, serviços e acesso a informações digitais, semelhante a economias desenvolvidas, com boas perspectivas à tecnologia.”

Rodrigo Xavier, ex-presidente do Merrill Lynch no Brasil

‘O País precisa enterrar os mortos’: “Quando você vê a qualidade da plateia, os empresários que estavam ali, os empreendedores, os investidores, acho que há um clamor. Acho que há uma impressão geral de que a gente tem de fazer alguma coisa pelo País. Nós precisamos parar de olhar o tempo todo para o passado e enterrar os mortos. A revolução tecnológica é muito profunda e muito rápida, e o Brasil ainda está muito atrás.”

Eduardo Mufarej, fundador do Renova BR

‘Temos um grande desafio pela frente’: “Esse evento foi uma imersão para as pessoas terem insights e desenvolver visões sobre o que você deveria estar fazendo e não está. Temos agora um grande desafio pela frente de trazer gente importante do governo para ouvir isso também, porque é fundamental. Temos de revisitar a forma como estamos fazendo várias iniciativas.”

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