Autointitulada a primeira “prevtech” do Brasil (startup dedicada a previdência), a Onze recebeu um aporte de R$ 53 milhões do fundo Ribbit, responsável por ter mirado em fintechs nacionais como Nubank, ContaAzul e Cora — antes do novo aporte, a startup havia recebido um investimento-semente da criadora de startups Red Ventures. O anúncio foi feito nesta nesta terça-feira, 25.
A “prevtech” pretende usar o cheque para expandir equipe comercial, fazer parcerias e aperfeiçoar a plataforma, que é focada em previdência corporativa para pequenas, médias e grandes empresas. O objetivo da empresa é oferecer três opções próprias de fundos de investimento até o fim do ano, quando a startup quer somar 100 clientes na carteira, saindo das 15 atuais no portfólio.
Essa pressa toda em busca de expansão tem motivo. A Onze foi lançada em outubro de 2020, após ter adiado a estreia por conta das instabilidades dos mercados durante o estouro da pandemia de covid-19. Agora é correr atrás do tempo que, dizem os fundadores, não foi tão perdido assim.
“Começamos a construir a startup no final de 2019 e tínhamos a expectativa de lançar no início do ano seguinte, mas esse tempo de pausa foi bom porque possibilitou que a gente começasse o nosso ciclo de conversas com empresas sobre quais eram as suas dores”, diz ao Estadão Antonio Rocha, um dos fundadores e presidente executivo da Onze. “Ganhamos tempo para deixar o produto mais robusto, sem erros e mais integrado.”
Rocha diz que o foco da Onze é conquistar empresas pequenas e médias que queiram utilizar previdência privada para reter talentos, como é o caso das empresas de tecnologia que veem seus funcionários trocando de firma por causa de salários ligeiramente maiores. Outro objetivo da prevtech é conseguir portabilizar empresas que já têm previdências corporativas, mas com “serviços muito ruins, como falta de tecnologia, excesso de carga operacional e fundos com performance ruim” — a portabilidade, diz, é sem custo adicional e a startup faz otimizações para aperfeiçoar o rendimento dos planos.
Mas o diferencial da Onze não está em oferecer planos que podem ser facilmente equiparados pela concorrência, que consiste nos grandes bancos do País. Na verdade, a plataforma oferece um projeto de saúde financeira que permite que tanto os colaboradores quanto os gerentes de Recursos Humanos administrem as finanças e tenham mais conhecimento sobre investimentos.
“Não somos só vendedores de previdência, mas também ajudamos você a cuidar da sua saúde financeira”, diz Rodrigo Neves, cofundador e diretor de operações da Onze. A startup oferece especialistas próprios para dar atendimentos personalizados aos clientes, que antes respondem a um questionário de “checkup” sobre as finanças — ao final, um diagnóstico, como se fosse um score de crédito, é dado, com recomendações. “Tudo isso é feito no aplicativo, que é o mesmo em que a pessoa gerencia a própria previdência.”
Os insights gerados a partir desse diagnóstico, inclusive, podem ser disponibilizados de forma anônima, mas individualizadas, para os departamentos de RH para a execução de políticas de benefícios e políticas de pagamento.
Janela
Não é coincidência que a Onze tenha surgido só agora, depois de um boom de fintechs de crédito e de organizadores financeiros. A reforma da Previdência, aprovada em 2017 pelo governo Temer, e a pandemia de covid-19 mobilizaram o setor de previdência no País, seja ao colocar o tema no noticiário, seja ao expor as vulnerabilidades do indivíduo em tempos apertados.
Para Cláudia Janesko, superintendente executiva da Conecta, empresa com foco em inovação da Associação Brasileira de Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), o segmento de previdência privada tem muitas “dores a serem sanadas”, termo-chavão para as startups. “Temos um novo consumidor que quer mais autonomia, gosta de tecnologia, é mais individual com o fenômeno da pejotização e é um jovem que não fica a vida toda na mesma empresa. Ele gosta de tomar as decisões dele e ter controle e acesso na hora em que ele quer”, diz. “Trazer tecnologia para o setor é uma boa janela.”
Ao mesmo tempo, tecnologia pode não ser o suficiente para o futuro de uma empresa. O professor Gilberto Sarfati, especialista em inovação na Fundação Getúlio Vargas (FGV), aponta que é preciso oferecer um diferencial para conseguir competir com os grandes bancos.
“Os grandes bancos têm mais bala para disparar do que a startup. O modelo de negócio precisa ser mais inovador para justificar a portabilidade do serviço, por exemplo”, explica Sarfati.