‘Programador será o piloto da inteligência artificial’, diz CEO do GitHub


Thomas Dohmke afirma que é possível criar produtos originais com auxílio de ferramentas baseadas em IA, como o ChatGPT, mas pede regulação clara sobre infração de direitos autorais

Por Lucas Agrela
Atualização:
Foto: DANIEL TEIXEIRA
Entrevista comThomas DohmkeCEO da plataforma para programadores Github

Para Thomas Dohmke, CEO da plataforma para programadores Github, o papel do desenvolvedor de software já começou a mudar com a chegada de ferramentas baseadas em inteligência artificial. Para o executivo da companhia que foi comprada pela Microsoft em 2018, os profissionais de tecnologia precisarão guiar, passo a passo, a IA para executar os trabalhos que desejam, e isso pode aumentar 55% da velocidade da conclusão de projetos.

“O programador será o piloto da inteligência artificial”, afirma Dohmke. O executivo veio pela primeira vez ao País para participar do evento de inovação Web Summit, realizado no Rio de Janeiro.

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O Github tem o Brasil como o terceiro maior mercado fora dos Estados Unidos e já vende por aqui o produto chamado Copilot, um assistente de programação baseado em IA, feito em parceria com a Open AI (organização por trás do ChatGPT) para aumentar a velocidade do desenvolvimento de software. Funciona como o teclado do smartphone que prevê qual será a próxima palavra digitada.

O projeto inovador, porém, enfrenta problemas legais. O Github, a Microsoft e a Open AI enfrentam uma batalha judicial nos tribunais dos Estados Unidos contra acusações de violação de direitos autorais no Copilot. Para o executivo, o software criado com auxílio da inteligência artificial pode tanto ser um produto original quanto um projeto colaborativo (open source). Entretanto, ele pondera que falta clareza para reguladores do mundo todo sobre quando a IA infringe ou não direitos autorais.

Leia, a seguir, os melhores trechos da entrevista de Thomas Dohmke ao Estadão.

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Thomas Dohmke, CEO da Github, afirma que o papel do programador será quebrar o desenvolvimento de software em pequenas etapas e usar a inteligência artificial da melhor forma para aumentar a velocidade de criação Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Como a inteligência artificial está mudando o Github?

Como criadores do Copilot, a inteligência artificial nos ajuda a agilizar o trabalho dos desenvolvedores de software. Essa ferramenta permite que você não perca o foco no que está fazendo. Esse produto foi lançado há dois anos e isso começou a mudar os nossos clientes. Temos hoje mais de um milhão de clientes e mais de 10 mil empresas que usam a versão corporativa do Copilot. 46% do código é escrito pelo Copilot e ele torna os programadores 55% mais ágeis.

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Recursos baseados em inteligência artificial vão ajudar a suprir a falta de profissionais de tecnologia no Brasil e no mundo?

Em um futuro não muito distante, teremos poucos profissionais para lidar com todas as ideias que temos para executar nas empresas. Todos os CEOs hoje já precisam lidar com uma longa lista de pendências de tecnologia ou de problemas de compliance e segurança digital. Ao mesmo tempo, todas as empresas estão se tornando companhias de tecnologia. Marc Andreessen, cofundador do navegador de internet Netscape, dizia que o software estava abocanhando o mundo todo. Eu digo que o software abocanhou o mundo e agora é vez de a IA fazer o mesmo para nos ajudar a navegar nesse novo mundo.

Qual será o papel do programador na era da inteligência artificial, que hoje já escreve código automaticamente?

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O programador será o piloto da inteligência artificial. Por isso, chamamos o nosso produto de Copilot. É ele que pilota o avião, levando o desenvolvimento adiante. Nossa ferramenta permite prever, com base em probabilidades, qual será a próxima palavra digitada pelo profissional. Mas ela precisa de um piloto para ser inteligente e criativa. O profissional precisa entender de arquitetura de sistemas e como diferentes bases de dados e as outras partes da infraestrutura atuam em conjunto. Hoje, uma IA pode escrever pequenas partes de código. Não dá para pedir para ela criar um novo Github. O programador precisa quebrar o problema que tem em mãos em pequenos blocos. O papel do programador será entender como usar a IA para resolver esses pequenos problemas e sintetizar o código para cada parte do software.

Qual é a importância do Github para os negócios da Microsoft?

Os princípios que levaram a Microsoft a comprar o Github se mantêm até hoje. Começa pelo fato de a Microsoft sempre ter sido uma empresa de desenvolvimento de software. A empresa oferece ambientes de programação aos profissionais de tecnologia há mais de 25 anos e o Github se encaixa perfeitamente dentro desse portfólio. Todas as decisões que tomamos em todos os países colocam o desenvolvedor de software em primeiro lugar. A Microsoft acelera o Github e vice-versa. Crescemos de 28 milhões de desenvolvedores em 2018, quando a aquisição foi anunciada, para mais de 100 milhões em 2023. Nossa receita agora é de mais de US$ 1 bilhão.

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Como o Brasil se encaixa na estratégia global de expansão do Github?

O Brasil é o nosso terceiro maior mercado fora dos Estados Unidos. O primeiro é a China, depois a Índia e o Brasil. Vemos muitas oportunidades no País, seja na colaboração de programadores com projetos open source ou com o uso comercial do Github. As companhias brasileiras foram uma das primeiras a adotar o Copilot, incluindo algumas das maiores empresas do País. A IA abriu muitas portas para nós e fez muitos líderes olharem para o futuro em vez de ficarem presos em uma mentalidade antiga de como o desenvolvimento de software deve ser.

Como o Github se mantém como a principal plataforma de compartilhamento de projetos de tecnologia e códigos de programação?

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O Github foi criado de programadores para programadores. É uma comunidade. Assim como no futebol, você pode jogar em dois, mas é mais divertido jogar com um time completo.

Ser líder de mercado tem prós e contras. Como a plataforma combate os vazamentos de dados e os problemas relacionados a acusações de violação de direitos autorais?

Cumprimos as leis de cada país e removemos conteúdos indevidos, além de monitorar e apagar dados que não estejam dentro dos padrões da plataforma. Sobre o treinamento de IA, temos uma posição legal clara de que o treinamento feito com dados open source e em dados públicos da internet é um uso justo. Defendemos essa posição e trabalhamos junto a fundações, como a Linux, para ter uma visão compartilhada sobre o tema. Mas precisamos de uma visão holística no mundo sobre essa questão.

Na sua visão, um software criado com o auxílio de uma ferramenta de inteligência artificial é um produto original?

O produto será o que você quiser que ele seja. Se você quiser, poderá usá-lo como código fechado ou distribuí-lo como open source. Temos um recurso no Copilot que compara o código com a nossa base de dados. Se for encontrado outro igual, o Copilot não exportará esse código. Isso evita que um programador, acidentalmente, recrie um código que já existe no Github. Estamos testando um recurso de, em vez de puramente bloquear o uso, mostrar qual foi o código correspondente encontrado na plataforma. Mas esse ponto volta ao fato de que falta clareza regulatória em relação a quantas linhas de código iguais configuram infrações de direitos autorais.

Há como a inteligência artificial e a privacidade coexistirem?

Sim. O treinamento de IA hoje é feito com dados públicos, como a Wikipedia. A OpenAI desenvolveu a tecnologia do GPT 4 ao longo dos últimos três anos para treinar de forma responsável o modelo de IA. Esse modelo em si não armazena dados, mas sim parâmetros que o ajudam a sintetizar a próxima palavra que deve ser digitada. Os dados usados para treinar a IA precisam ser selecionados de forma ética, prevenindo ataques ao modelo. Com o Copilot, avaliamos a possibilidade de vulnerabilidades de segurança. Tentamos filtrar informações pessoais que o modelo pode criar acidentalmente ao sintetizar palavras no formato de frases. Ao mesmo tempo, você pode pedir a biografia de uma pessoa famosa e receber um resumo. Esse é um caso de uso a ser mantido ao buscarmos o equilíbrio entre a privacidade e o bom resultado de uma IA.

Para Thomas Dohmke, CEO da plataforma para programadores Github, o papel do desenvolvedor de software já começou a mudar com a chegada de ferramentas baseadas em inteligência artificial. Para o executivo da companhia que foi comprada pela Microsoft em 2018, os profissionais de tecnologia precisarão guiar, passo a passo, a IA para executar os trabalhos que desejam, e isso pode aumentar 55% da velocidade da conclusão de projetos.

“O programador será o piloto da inteligência artificial”, afirma Dohmke. O executivo veio pela primeira vez ao País para participar do evento de inovação Web Summit, realizado no Rio de Janeiro.

O Github tem o Brasil como o terceiro maior mercado fora dos Estados Unidos e já vende por aqui o produto chamado Copilot, um assistente de programação baseado em IA, feito em parceria com a Open AI (organização por trás do ChatGPT) para aumentar a velocidade do desenvolvimento de software. Funciona como o teclado do smartphone que prevê qual será a próxima palavra digitada.

O projeto inovador, porém, enfrenta problemas legais. O Github, a Microsoft e a Open AI enfrentam uma batalha judicial nos tribunais dos Estados Unidos contra acusações de violação de direitos autorais no Copilot. Para o executivo, o software criado com auxílio da inteligência artificial pode tanto ser um produto original quanto um projeto colaborativo (open source). Entretanto, ele pondera que falta clareza para reguladores do mundo todo sobre quando a IA infringe ou não direitos autorais.

Leia, a seguir, os melhores trechos da entrevista de Thomas Dohmke ao Estadão.

Thomas Dohmke, CEO da Github, afirma que o papel do programador será quebrar o desenvolvimento de software em pequenas etapas e usar a inteligência artificial da melhor forma para aumentar a velocidade de criação Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Como a inteligência artificial está mudando o Github?

Como criadores do Copilot, a inteligência artificial nos ajuda a agilizar o trabalho dos desenvolvedores de software. Essa ferramenta permite que você não perca o foco no que está fazendo. Esse produto foi lançado há dois anos e isso começou a mudar os nossos clientes. Temos hoje mais de um milhão de clientes e mais de 10 mil empresas que usam a versão corporativa do Copilot. 46% do código é escrito pelo Copilot e ele torna os programadores 55% mais ágeis.

Recursos baseados em inteligência artificial vão ajudar a suprir a falta de profissionais de tecnologia no Brasil e no mundo?

Em um futuro não muito distante, teremos poucos profissionais para lidar com todas as ideias que temos para executar nas empresas. Todos os CEOs hoje já precisam lidar com uma longa lista de pendências de tecnologia ou de problemas de compliance e segurança digital. Ao mesmo tempo, todas as empresas estão se tornando companhias de tecnologia. Marc Andreessen, cofundador do navegador de internet Netscape, dizia que o software estava abocanhando o mundo todo. Eu digo que o software abocanhou o mundo e agora é vez de a IA fazer o mesmo para nos ajudar a navegar nesse novo mundo.

Qual será o papel do programador na era da inteligência artificial, que hoje já escreve código automaticamente?

O programador será o piloto da inteligência artificial. Por isso, chamamos o nosso produto de Copilot. É ele que pilota o avião, levando o desenvolvimento adiante. Nossa ferramenta permite prever, com base em probabilidades, qual será a próxima palavra digitada pelo profissional. Mas ela precisa de um piloto para ser inteligente e criativa. O profissional precisa entender de arquitetura de sistemas e como diferentes bases de dados e as outras partes da infraestrutura atuam em conjunto. Hoje, uma IA pode escrever pequenas partes de código. Não dá para pedir para ela criar um novo Github. O programador precisa quebrar o problema que tem em mãos em pequenos blocos. O papel do programador será entender como usar a IA para resolver esses pequenos problemas e sintetizar o código para cada parte do software.

Qual é a importância do Github para os negócios da Microsoft?

Os princípios que levaram a Microsoft a comprar o Github se mantêm até hoje. Começa pelo fato de a Microsoft sempre ter sido uma empresa de desenvolvimento de software. A empresa oferece ambientes de programação aos profissionais de tecnologia há mais de 25 anos e o Github se encaixa perfeitamente dentro desse portfólio. Todas as decisões que tomamos em todos os países colocam o desenvolvedor de software em primeiro lugar. A Microsoft acelera o Github e vice-versa. Crescemos de 28 milhões de desenvolvedores em 2018, quando a aquisição foi anunciada, para mais de 100 milhões em 2023. Nossa receita agora é de mais de US$ 1 bilhão.

Como o Brasil se encaixa na estratégia global de expansão do Github?

O Brasil é o nosso terceiro maior mercado fora dos Estados Unidos. O primeiro é a China, depois a Índia e o Brasil. Vemos muitas oportunidades no País, seja na colaboração de programadores com projetos open source ou com o uso comercial do Github. As companhias brasileiras foram uma das primeiras a adotar o Copilot, incluindo algumas das maiores empresas do País. A IA abriu muitas portas para nós e fez muitos líderes olharem para o futuro em vez de ficarem presos em uma mentalidade antiga de como o desenvolvimento de software deve ser.

Como o Github se mantém como a principal plataforma de compartilhamento de projetos de tecnologia e códigos de programação?

O Github foi criado de programadores para programadores. É uma comunidade. Assim como no futebol, você pode jogar em dois, mas é mais divertido jogar com um time completo.

Ser líder de mercado tem prós e contras. Como a plataforma combate os vazamentos de dados e os problemas relacionados a acusações de violação de direitos autorais?

Cumprimos as leis de cada país e removemos conteúdos indevidos, além de monitorar e apagar dados que não estejam dentro dos padrões da plataforma. Sobre o treinamento de IA, temos uma posição legal clara de que o treinamento feito com dados open source e em dados públicos da internet é um uso justo. Defendemos essa posição e trabalhamos junto a fundações, como a Linux, para ter uma visão compartilhada sobre o tema. Mas precisamos de uma visão holística no mundo sobre essa questão.

Na sua visão, um software criado com o auxílio de uma ferramenta de inteligência artificial é um produto original?

O produto será o que você quiser que ele seja. Se você quiser, poderá usá-lo como código fechado ou distribuí-lo como open source. Temos um recurso no Copilot que compara o código com a nossa base de dados. Se for encontrado outro igual, o Copilot não exportará esse código. Isso evita que um programador, acidentalmente, recrie um código que já existe no Github. Estamos testando um recurso de, em vez de puramente bloquear o uso, mostrar qual foi o código correspondente encontrado na plataforma. Mas esse ponto volta ao fato de que falta clareza regulatória em relação a quantas linhas de código iguais configuram infrações de direitos autorais.

Há como a inteligência artificial e a privacidade coexistirem?

Sim. O treinamento de IA hoje é feito com dados públicos, como a Wikipedia. A OpenAI desenvolveu a tecnologia do GPT 4 ao longo dos últimos três anos para treinar de forma responsável o modelo de IA. Esse modelo em si não armazena dados, mas sim parâmetros que o ajudam a sintetizar a próxima palavra que deve ser digitada. Os dados usados para treinar a IA precisam ser selecionados de forma ética, prevenindo ataques ao modelo. Com o Copilot, avaliamos a possibilidade de vulnerabilidades de segurança. Tentamos filtrar informações pessoais que o modelo pode criar acidentalmente ao sintetizar palavras no formato de frases. Ao mesmo tempo, você pode pedir a biografia de uma pessoa famosa e receber um resumo. Esse é um caso de uso a ser mantido ao buscarmos o equilíbrio entre a privacidade e o bom resultado de uma IA.

Para Thomas Dohmke, CEO da plataforma para programadores Github, o papel do desenvolvedor de software já começou a mudar com a chegada de ferramentas baseadas em inteligência artificial. Para o executivo da companhia que foi comprada pela Microsoft em 2018, os profissionais de tecnologia precisarão guiar, passo a passo, a IA para executar os trabalhos que desejam, e isso pode aumentar 55% da velocidade da conclusão de projetos.

“O programador será o piloto da inteligência artificial”, afirma Dohmke. O executivo veio pela primeira vez ao País para participar do evento de inovação Web Summit, realizado no Rio de Janeiro.

O Github tem o Brasil como o terceiro maior mercado fora dos Estados Unidos e já vende por aqui o produto chamado Copilot, um assistente de programação baseado em IA, feito em parceria com a Open AI (organização por trás do ChatGPT) para aumentar a velocidade do desenvolvimento de software. Funciona como o teclado do smartphone que prevê qual será a próxima palavra digitada.

O projeto inovador, porém, enfrenta problemas legais. O Github, a Microsoft e a Open AI enfrentam uma batalha judicial nos tribunais dos Estados Unidos contra acusações de violação de direitos autorais no Copilot. Para o executivo, o software criado com auxílio da inteligência artificial pode tanto ser um produto original quanto um projeto colaborativo (open source). Entretanto, ele pondera que falta clareza para reguladores do mundo todo sobre quando a IA infringe ou não direitos autorais.

Leia, a seguir, os melhores trechos da entrevista de Thomas Dohmke ao Estadão.

Thomas Dohmke, CEO da Github, afirma que o papel do programador será quebrar o desenvolvimento de software em pequenas etapas e usar a inteligência artificial da melhor forma para aumentar a velocidade de criação Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Como a inteligência artificial está mudando o Github?

Como criadores do Copilot, a inteligência artificial nos ajuda a agilizar o trabalho dos desenvolvedores de software. Essa ferramenta permite que você não perca o foco no que está fazendo. Esse produto foi lançado há dois anos e isso começou a mudar os nossos clientes. Temos hoje mais de um milhão de clientes e mais de 10 mil empresas que usam a versão corporativa do Copilot. 46% do código é escrito pelo Copilot e ele torna os programadores 55% mais ágeis.

Recursos baseados em inteligência artificial vão ajudar a suprir a falta de profissionais de tecnologia no Brasil e no mundo?

Em um futuro não muito distante, teremos poucos profissionais para lidar com todas as ideias que temos para executar nas empresas. Todos os CEOs hoje já precisam lidar com uma longa lista de pendências de tecnologia ou de problemas de compliance e segurança digital. Ao mesmo tempo, todas as empresas estão se tornando companhias de tecnologia. Marc Andreessen, cofundador do navegador de internet Netscape, dizia que o software estava abocanhando o mundo todo. Eu digo que o software abocanhou o mundo e agora é vez de a IA fazer o mesmo para nos ajudar a navegar nesse novo mundo.

Qual será o papel do programador na era da inteligência artificial, que hoje já escreve código automaticamente?

O programador será o piloto da inteligência artificial. Por isso, chamamos o nosso produto de Copilot. É ele que pilota o avião, levando o desenvolvimento adiante. Nossa ferramenta permite prever, com base em probabilidades, qual será a próxima palavra digitada pelo profissional. Mas ela precisa de um piloto para ser inteligente e criativa. O profissional precisa entender de arquitetura de sistemas e como diferentes bases de dados e as outras partes da infraestrutura atuam em conjunto. Hoje, uma IA pode escrever pequenas partes de código. Não dá para pedir para ela criar um novo Github. O programador precisa quebrar o problema que tem em mãos em pequenos blocos. O papel do programador será entender como usar a IA para resolver esses pequenos problemas e sintetizar o código para cada parte do software.

Qual é a importância do Github para os negócios da Microsoft?

Os princípios que levaram a Microsoft a comprar o Github se mantêm até hoje. Começa pelo fato de a Microsoft sempre ter sido uma empresa de desenvolvimento de software. A empresa oferece ambientes de programação aos profissionais de tecnologia há mais de 25 anos e o Github se encaixa perfeitamente dentro desse portfólio. Todas as decisões que tomamos em todos os países colocam o desenvolvedor de software em primeiro lugar. A Microsoft acelera o Github e vice-versa. Crescemos de 28 milhões de desenvolvedores em 2018, quando a aquisição foi anunciada, para mais de 100 milhões em 2023. Nossa receita agora é de mais de US$ 1 bilhão.

Como o Brasil se encaixa na estratégia global de expansão do Github?

O Brasil é o nosso terceiro maior mercado fora dos Estados Unidos. O primeiro é a China, depois a Índia e o Brasil. Vemos muitas oportunidades no País, seja na colaboração de programadores com projetos open source ou com o uso comercial do Github. As companhias brasileiras foram uma das primeiras a adotar o Copilot, incluindo algumas das maiores empresas do País. A IA abriu muitas portas para nós e fez muitos líderes olharem para o futuro em vez de ficarem presos em uma mentalidade antiga de como o desenvolvimento de software deve ser.

Como o Github se mantém como a principal plataforma de compartilhamento de projetos de tecnologia e códigos de programação?

O Github foi criado de programadores para programadores. É uma comunidade. Assim como no futebol, você pode jogar em dois, mas é mais divertido jogar com um time completo.

Ser líder de mercado tem prós e contras. Como a plataforma combate os vazamentos de dados e os problemas relacionados a acusações de violação de direitos autorais?

Cumprimos as leis de cada país e removemos conteúdos indevidos, além de monitorar e apagar dados que não estejam dentro dos padrões da plataforma. Sobre o treinamento de IA, temos uma posição legal clara de que o treinamento feito com dados open source e em dados públicos da internet é um uso justo. Defendemos essa posição e trabalhamos junto a fundações, como a Linux, para ter uma visão compartilhada sobre o tema. Mas precisamos de uma visão holística no mundo sobre essa questão.

Na sua visão, um software criado com o auxílio de uma ferramenta de inteligência artificial é um produto original?

O produto será o que você quiser que ele seja. Se você quiser, poderá usá-lo como código fechado ou distribuí-lo como open source. Temos um recurso no Copilot que compara o código com a nossa base de dados. Se for encontrado outro igual, o Copilot não exportará esse código. Isso evita que um programador, acidentalmente, recrie um código que já existe no Github. Estamos testando um recurso de, em vez de puramente bloquear o uso, mostrar qual foi o código correspondente encontrado na plataforma. Mas esse ponto volta ao fato de que falta clareza regulatória em relação a quantas linhas de código iguais configuram infrações de direitos autorais.

Há como a inteligência artificial e a privacidade coexistirem?

Sim. O treinamento de IA hoje é feito com dados públicos, como a Wikipedia. A OpenAI desenvolveu a tecnologia do GPT 4 ao longo dos últimos três anos para treinar de forma responsável o modelo de IA. Esse modelo em si não armazena dados, mas sim parâmetros que o ajudam a sintetizar a próxima palavra que deve ser digitada. Os dados usados para treinar a IA precisam ser selecionados de forma ética, prevenindo ataques ao modelo. Com o Copilot, avaliamos a possibilidade de vulnerabilidades de segurança. Tentamos filtrar informações pessoais que o modelo pode criar acidentalmente ao sintetizar palavras no formato de frases. Ao mesmo tempo, você pode pedir a biografia de uma pessoa famosa e receber um resumo. Esse é um caso de uso a ser mantido ao buscarmos o equilíbrio entre a privacidade e o bom resultado de uma IA.

Entrevista por Lucas Agrela

Repórter de economia & negócios, pós-graduado em administração e marketing e em mídias digitais.

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