A startup Diferente, de alimentos orgânicos que seriam descartados por não atender aos padrões estéticos da indústria de alimentos, anuncia nesta terça-feira, 31, a extensão de uma rodada de investimento. Graças ao novo aporte de R$ 16 milhões, a foodtech completa R$ 40 milhões levantados desde março de 2022, quando iniciou a rodada-semente.
O cheque foi liderado pela gestora brasileira Caravela Capital, acompanhada por Collaborative Fund, South South Ventures e Valor Equity Partners, que faz estreia na América do Sul com esta rodada. Eles acompanharam Maya Capital, GFC, FirstMinute, além dos investidores-anjo Tiago Dalvi (Olist), Matias Muchnick (NotCo), Abhi Ramesh (Misfits Market) e Hamish Shepard (Hello Fresh).
“Com essa nova captação, decidimos ter um conforto maior na operação”, afirma em entrevista Eduardo Petrelli, cofundador e presidente executivo da Diferente — ele também comandou a startup James Delivery, uma das pioneiras no Brasil em entregas ultrarrápidas, até o negócio ser comprado pelo Grupo de Açúcar, em dezembro de 2018.
Segundo o CEO, que fundou a companhia com Saulo Marti e Paulo Monçores, a startup opera com eficiência e havia gastado menos de 50% do cheque de R$ 24 milhões captado no ano passado. “Ninguém sabe como 2023 e 2024 vão ser, então decidimos antecipar isso”, diz, referindo-se à escassez de capital no mercado de tecnologia.
Petrelli aponta também que, mesmo em condições adversas para os empreendedores (que têm menos condição de barganha com investidores, mais cautelosos), a Diferente conseguiu fazer um up round, isto é, crescer a avaliação de mercado (valuation) em relação ao ano passado — os números, no entanto, não são revelados. Segundo o CEO, o crescimento na marca se dá pelo tamanho da empresa, que cresceu de um período para o outro.
Com a rodada fechada em R$ 40 milhões, a Diferente quer ampliar o seu negócio, que consiste em fazer entregas recorrentes planejadas (semanal ou quinzenal) de legumes e verduras orgânicos para clientes da Grande São Paulo, ABC, Osasco Barueri, Santana de Parnaíba, Carapicuíba, Itapevi e Jandira.
A companhia reduz custos ao negociar diretamente com agricultores, eliminar intermediários da entrega, operar com eficiência tecnológica e incluir na cesta produtos “diferentes” que não atendem a padrões estéticos do mercado, evitando o descarte desnecessário.
Eduardo Petrelli, CEO da Diferente
“Nosso modelo permite que consigamos entregar alimentos até um raio de 500 quilômetros do nosso centro de distribuição, o que é um mercado potencial de 50 milhões de habitantes”, diz Petrelli. “Temos 36 cidades potenciais para chegar em 2023 e 2024″, acrescenta, descartando um novo centro de distribuição para aumentar o raio de atuação.
Além disso, o cheque vem para investir no algoritmo personalizado da startup, que hoje atua com predição de comportamento dos usuários. Segundo Petrelli, a ideia é transformá-lo em gerativo: “Antes, usamos muitos dados históricos e fazíamos recomendações. Agora, o novo algoritmo se retroalimenta com avaliações do usuário e frequência de pedidos, por exemplo. O consumidor vai ser cada vez mais entendido pela inteligência artificial”, diz. “Temos poucos dados ainda, mas o nosso aplicativo deve incluir dados novos.”
A meta da Diferente é expandir em 20% o número de profissionais na startup, que hoje conta com 75 funcionários (sendo 22 pessoas do time de tecnologia). Além disso, o faturamento deve crescer para R$ 150 milhões, projeta a companhia.
Concorrência na alimentação saudável
O modelo da Diferente esbarra em outras startups do ramo de alimentação (foodtech) saudável, como Raízs, LivUp, Shopper, Jüsto e Daki. Petrelli garante, no entanto, que a empresa deve se manter no mercado sem perder o negócio principal, que é atender pessoas de classe média com compras recorrentes.
“Não vamos entrar no ramo de compras rápidas nem de mesmo dia. Queremos resolver a compra recorrente”, diz Petrelli.