Mirando diminuir não só a escassez de profissionais de tecnologia do Brasil, mas também fomentar a formação de líderes para comandar equipes de desenvolvedores, a startup de educação Driven anunciou na terça-feira, 24, que recebeu um aporte de R$ 16 milhões, liderado pelo fundo paulistano Iporanga.
O cheque também contou com a participação dos fundos ONEVC, FundersClub e 3G Radar. Ainda, investidores-anjo conhecidos do ecossistema de inovação do País marcaram presença, como Patrick Sigrist (do iFood), Sergio Furio (da Creditas) e Brian Requarth (da VivaReal). Eles se juntaram aos sócios atuais Arpex Capital (Stone), Daniel Castanho (Ânima) e Pedro Thompson (Exame).
Fundada há 8 meses, a Driven vai usar o cheque para investir na escola digital da startup, que tem como objetivo formar, ao final de 9 meses, profissionais que consigam não apenas programar, mas resolver problemas, trabalhar em equipe e, no futuro, ser gestores. A ideia é transformar o programador júnior em sênior, com a chance de se tornar um diretor de equipe.
Atualmente, são 140 alunos matriculados após um processo seletivo de 20 mil inscritos — o objetivo é chegar a 10 mil estudantes até 2025. A edtech aposta no “menos é mais”: poucos passam no processo seletivo, mas os formados se tornam “desenvolvedores de elite”, com talento para liderança após avaliações semanais.
“Em um candidato, olhamos para raciocínio lógico, resiliência e soft skills (habilidades comportamentais)”, explica ao Estadão o presidente executivo Pedro Monteiro, que fundou a startup ao lado de Michel Nigri e Pedro Barros após fundarem a edtech Responde Aí. “Essas competências são importantes para resolver problemas, ter pessoas que são insistentes para buscar soluções e para encontrar profissionais comunicativos.”
No processo seletivo, diversidade é um fator de desempate, favorecendo mulheres, minorias sexuais e pretos e pardos, explica Monteiro. “Fazemos isso por uma questão de dívida histórica, porque temos que ajudar a sociedade, e também porque essa pessoa tem alta chance de contratação, porque é justamente o que as empresas querem hoje em dia”, diz.
O nível de seleção também tem um motivo, além da dificuldade em achar os futuros líderes: a Driven adotou modelo de negócio que, nos Estados Unidos, é chamado de Income Share Agreement (ISA): o estudante começa a pagar as mensalidades (de até R$ 2 mil mensais) somente quando estiver empregado.
Para o gestor Leonardo Teixeira, da Iporanga, esse é um dos diferenciais da startup: “Esse modelo de negócio pressupõe que o aluno seja empregado rapidamente e com salário alto. Para o mercado, isso é uma afirmação muito forte: se a startup participa desse risco, significa que ela tem confiança no próprio taco”.
Na visão do professor de inovação Gilberto Sarfati, da Fundação Getúlio Vargas, o formato da Driven, junto com os fundos de investimento e os sócios envolvidos na startup, indicam que a companhia está no caminho certo.
“Qualquer negócio dedicado a desenvolvimento de programadores tem alto potencial. O buraco é imenso não só no Brasil, mas em escala global”, afirma Sarfati. “E é uma boa ideia financiar os estudos do aluno, porque diminui o gargalo e pode bancar a mensalidade de quem pode não ter dinheiro suficiente para entrar nesse mercado.”