O Ebanx, startup de sistemas de pagamentos internacionais, demitiu 340 funcionário nesta terça, 21 — isso é o equivalente a 20% do quadro de 1,7 mil pessoas. A informação foi confirmada pela companhia ao Estadão.
“A decisão foi tomada com base no cenário atual do mercado de tecnologia como um todo, impactado de forma profunda e veloz pelo ambiente macroeconômico. O Ebanx mantém o compromisso com sua sustentabilidade e crescimento, seguindo na missão de gerar acesso entre consumidores e empresas globais”, afirmou a companhia em nota enviada à reportagem.
Nas redes sociais, uma planilha circula com os demitidos para ajudá-los na recolocação ao mercado. Internamente, fala-se que as áreas afetadas foram experiência do consumidor, produto, design, marketing, comercial e tecnologia, incluindo pessoas em cargos de gestão. A companhia, porém, afirma que os projetos descontinuados são aqueles que estão fora do foco principal da empresa, que são pagamentos internacionais.
Ainda segundo o Ebanx, os demitidos receberão um pacote de benefícios que inclui valores adicionais e extensão do plano de saúde, além do computador de trabalho. Segundo os ex-funcionários, foram prometidas a extensão de até 1 mês do vale-alimentação e de até 3 meses do plano de saúde. Além disso, a companhia teria se comprometido informalmente a apoiar a recolocação desses profissionais no mercado de trabalho, recomendando-os para outras empresas — mas nada foi firmado oficialmente, disseram fontes consultadas pelo Estadão.
As demissões foram realizadas na manhã desta terça, segundo essas fontes. Após a reunião por videochamada, os acessos aos sistemas da companhia foram desligados, como a plataforma Slack e o e-mail. Os ex-funcionários reclamaram que não puderam se despedir dos colegas.
Golpe duro
O corte profundo no Ebanx é um dos mais duros golpes no ambiente de inovação do País — além do número alto, o Ebanx é o “unicórnio” (startup avaliada em US$ 1 bilhão) nacional com a maior pegada internacionacional entre os afetados. A empresa processa pagamentos internacionais em 15 países da América Latina. Entre os parceiros estão Spotify, AliExpress, Shein, Shopee e Wish.
A crise dos unicórnios já atingiu seis gigantes nacionais: QuintoAndar, Loft, Facily, Olist, Vtex e Mercado Bitcoin realizaram cortes nos últimos dois meses. Além disso, a mexicana Kavak, startup mais valiosa da América Latina, enxugou cerca de 300 trabalhadores de suas operações em São Paulo e no Rio de Janeiro. Entre as startups menores, nomes como Sanar, Sami, Zak e LivUp também já realizaram cortes.
A virada no ambiente de startups foi sinalizado no começo de abril. Masayoshi Son, presidente do SoftBank, um dos maiores investidores de startups no Brasil, disse que o conglomerado japonês deve reduzir os investimentos em empresas de tecnologia neste ano devido aos maus resultados das empresas nas quais investe — as informações são do jornal Financial Times.
Embora as startups brasileiras tenham sido impulsionadas na pandemia, o cenário internacional atual tem novos elementos. A alta global nos juros básicos e a guerra na Ucrânia assustam os mercados internacionais, que buscam ativos seguros e têm menos apetite por risco. Em outras palavras, os fundos de investimento, que enchem o tanque das nossas startups, deixam de ser tão atrativos. Assim, há menos capital para que elas possam manter o crescimento dos anos anteriores.
Sinais
Os sinais de tempos mais duros foram dados no início do ano, quando o Ebanx anunciou que não faria um IPO nos Estados Unidos, como era esperado durante 2021. Em março a empresa também afirmou que não planejava nenhuma rodada de financiamento para o primeiro semestre.
Em dezembro de 2021, o Ebanx anunciou a aquisição da empresa de transferência de dinheiro Remessa Online por R$ 1,2 bilhão. Em junho de 2021, a Advent International pagou US$ 430 milhões por uma participação minoritária no Ebanx.
Fundado em 2012, o Ebanx ficou conhecido por uma solução que ajuda plataformas estrangeiras a venderem no Brasil com pagamentos em moeda local. O Ebanx é o primeiro unicórnio da região Sul do Brasil: atingiu o status em outubro de 2019 após um aporte de valor não divulgado do fundo FTV Capital. Desde então, a empresa não divulgou mais o tamanho do seu valuation. /COLABOROU BRUNO ROMANI