Startups apoiam diversidade, mas não colocam discurso na prática


Com homens como fundadores, maior parte das pequenas empresas de tecnologia do Brasil contratam poucas mulheres, negros, LGBTQIA+, PCDs e idosos

Por Guilherme Guerra

Geralmente associada à inovação e ao futuro do trabalho, as startups não aliam a teoria à prática no que diz respeito à diversidade: elas saem publicamente em defesa das minorias, mas é baixa ou inexistente a inclusão de mulheres, negros, LGBTQIA+, pessoas com deficiência (PCD) e idosos no dia a dia dessas empresas, revela um estudo feito pela Associação Brasileira de Startups (ABStartups) obtido com exclusividade pelo Estadão.

Quando perguntadas se apoiam a diversidade, a maioria das startups (96,8%) respondeu positivamente. Mas, quando questionadas se a companhia possui algum processo seletivo voltado para a inclusão de grupos minoritários, as respostas negativas somam 60,7%, aponta o levantamento, que entrevistou 2,5 mil startups entre agosto e setembro deste ano.

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Além disso, as companhias enfrentam um cenário de escassez de colaboradores diversos. Quase um terço (31,2%) declara não ter nenhum funcionário preto ou pardo, enquanto o número é de 19,1% de quem afirma não ter funcionárias mulheres. Startups sem idosos, PCDs e transsexuais totalizam 62,3%, 90,3% e 90%, respectivamente.

Do outro lado da mesa, o cenário é bem mais homogêneo. Os fundadores das startups declaram-se homens (78,1%), pardos (51,1%) ou brancos (33,7%), heterossexuais (92,1%) e afirmam ter entre 31 e 40 anos (45%). Ainda, sete em cada dez fundadores atuam como presidente-executivo (o CEO) – o cargo mais alto na empresa.

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Esse é um perfil bastante comum entre os fundadores dos unicórnios brasileiros (startups com avaliação de mercado superior a US$ 1 bilhão). As exceções são poucas e conhecidas: entre elas estão Cristina Junqueira, do Nubank, e Robson Privado, do MadeiraMadeira, primeiro negro a integrar o clube nacional  de fundadores de unicórnios.

Para Ana Flávia Carrilo, coordenadora de informação da ABStartups, o cenário é preocupante e o segmento de inovação no Brasil precisa parar de tratar o assunto como secundário. “Não adianta ter boa vontade se não se coloca a diversidade como prioridade”, diz. “E é o fundador, que é quem toma as decisões, que é quem vai definir a prioridade, o que sempre envolve dinheiro.”

Tamanho não é documento

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As startups mais maduras levam uma vantagem ao abordar a questão da diversidade: por terem mais recursos, conseguem alocar maiores investimentos em departamentos de recursos humanos mais robustos, que podem definir processos seletivos mais diversos. Mas essa não pode ser a desculpa para esperar que os processos de inclusão tenham início.

Ana Flávia diz que as startups menores devem preocupar-se com diversidade já na divulgação das novas vagas, tornando os processos seletivos mais simples de entender para diferentes públicos. Um fator positivo, diz, seria transformar a abertura de vagas em linguagem neutra (em que sufixos marcadores de gênero são substituídos por “e” ou “@”, de modo a ser inclusivo com homens, mulheres e pessoas não binárias simultaneamente). 

Diversidade pode fomentar a inovação, a 'matéria-prima' das startups Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 13/9/2021
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Outra sugestão é abandonar o “startupês”, isto é, termos do vocabulário anglófono de negócios misturados ao português – o que pode confundir e afastar pessoas não familiarizadas com o inglês corporativo. “Apesar de ser aberto internamente, o ambiente de startups pode ser estranho para quem é de fora”, observa.

Porém, trabalhar a entrada de pessoas diversas não inclui somente a etapa seletiva. Esse  é um processo que inclui não só entender quem está de fora da empresa, mas também revisar políticas internas e definir critérios de atração, seleção e retenção de talentos, diz  Renata Mendes, diretora de relações institucionais e governamentais da Endeavor. Para ela, é preciso ter uma análise frequente do feedback desses colaboradores, tanto para entender sobre expectativas, quanto para saber se o ambiente em que trabalham é inclusivo de fato.

No fim das contas, diversidade ainda é minoria dentro do ecossistema de inovação do Brasil: “O que nós percebemos é que empresas lideradas por pessoas negras e por mulheres possuem times mais diversos”, conclui Renata.

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Tanto esforço para incluir mais minorias nas empresas tem motivo, além da inclusão social: é consenso no mundo dos negócios que diversidade acelera a inovação — a “matéria-prima” das startups, por assim dizer. 

Especialistas apontam que apostar em diversidade tem influência no nível de inovação alcançado. “Se você quer soluções diferentes ou resultados diferentes, como você vai conseguir isso perguntando para as mesmas pessoas, que têm os mesmos repertórios?”, aponta Dani Junco, fundadora e CEO da B2Mamy, aceleradora dedicada a empreendedoras. “É ponto comum ter um time diverso e criar um ambiente seguro para que novas soluções surjam. Do contrário, é impossível você conseguir pensar diferente.”

Geralmente associada à inovação e ao futuro do trabalho, as startups não aliam a teoria à prática no que diz respeito à diversidade: elas saem publicamente em defesa das minorias, mas é baixa ou inexistente a inclusão de mulheres, negros, LGBTQIA+, pessoas com deficiência (PCD) e idosos no dia a dia dessas empresas, revela um estudo feito pela Associação Brasileira de Startups (ABStartups) obtido com exclusividade pelo Estadão.

Quando perguntadas se apoiam a diversidade, a maioria das startups (96,8%) respondeu positivamente. Mas, quando questionadas se a companhia possui algum processo seletivo voltado para a inclusão de grupos minoritários, as respostas negativas somam 60,7%, aponta o levantamento, que entrevistou 2,5 mil startups entre agosto e setembro deste ano.

Além disso, as companhias enfrentam um cenário de escassez de colaboradores diversos. Quase um terço (31,2%) declara não ter nenhum funcionário preto ou pardo, enquanto o número é de 19,1% de quem afirma não ter funcionárias mulheres. Startups sem idosos, PCDs e transsexuais totalizam 62,3%, 90,3% e 90%, respectivamente.

Do outro lado da mesa, o cenário é bem mais homogêneo. Os fundadores das startups declaram-se homens (78,1%), pardos (51,1%) ou brancos (33,7%), heterossexuais (92,1%) e afirmam ter entre 31 e 40 anos (45%). Ainda, sete em cada dez fundadores atuam como presidente-executivo (o CEO) – o cargo mais alto na empresa.

Esse é um perfil bastante comum entre os fundadores dos unicórnios brasileiros (startups com avaliação de mercado superior a US$ 1 bilhão). As exceções são poucas e conhecidas: entre elas estão Cristina Junqueira, do Nubank, e Robson Privado, do MadeiraMadeira, primeiro negro a integrar o clube nacional  de fundadores de unicórnios.

Para Ana Flávia Carrilo, coordenadora de informação da ABStartups, o cenário é preocupante e o segmento de inovação no Brasil precisa parar de tratar o assunto como secundário. “Não adianta ter boa vontade se não se coloca a diversidade como prioridade”, diz. “E é o fundador, que é quem toma as decisões, que é quem vai definir a prioridade, o que sempre envolve dinheiro.”

Tamanho não é documento

As startups mais maduras levam uma vantagem ao abordar a questão da diversidade: por terem mais recursos, conseguem alocar maiores investimentos em departamentos de recursos humanos mais robustos, que podem definir processos seletivos mais diversos. Mas essa não pode ser a desculpa para esperar que os processos de inclusão tenham início.

Ana Flávia diz que as startups menores devem preocupar-se com diversidade já na divulgação das novas vagas, tornando os processos seletivos mais simples de entender para diferentes públicos. Um fator positivo, diz, seria transformar a abertura de vagas em linguagem neutra (em que sufixos marcadores de gênero são substituídos por “e” ou “@”, de modo a ser inclusivo com homens, mulheres e pessoas não binárias simultaneamente). 

Diversidade pode fomentar a inovação, a 'matéria-prima' das startups Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 13/9/2021

Outra sugestão é abandonar o “startupês”, isto é, termos do vocabulário anglófono de negócios misturados ao português – o que pode confundir e afastar pessoas não familiarizadas com o inglês corporativo. “Apesar de ser aberto internamente, o ambiente de startups pode ser estranho para quem é de fora”, observa.

Porém, trabalhar a entrada de pessoas diversas não inclui somente a etapa seletiva. Esse  é um processo que inclui não só entender quem está de fora da empresa, mas também revisar políticas internas e definir critérios de atração, seleção e retenção de talentos, diz  Renata Mendes, diretora de relações institucionais e governamentais da Endeavor. Para ela, é preciso ter uma análise frequente do feedback desses colaboradores, tanto para entender sobre expectativas, quanto para saber se o ambiente em que trabalham é inclusivo de fato.

No fim das contas, diversidade ainda é minoria dentro do ecossistema de inovação do Brasil: “O que nós percebemos é que empresas lideradas por pessoas negras e por mulheres possuem times mais diversos”, conclui Renata.

Tanto esforço para incluir mais minorias nas empresas tem motivo, além da inclusão social: é consenso no mundo dos negócios que diversidade acelera a inovação — a “matéria-prima” das startups, por assim dizer. 

Especialistas apontam que apostar em diversidade tem influência no nível de inovação alcançado. “Se você quer soluções diferentes ou resultados diferentes, como você vai conseguir isso perguntando para as mesmas pessoas, que têm os mesmos repertórios?”, aponta Dani Junco, fundadora e CEO da B2Mamy, aceleradora dedicada a empreendedoras. “É ponto comum ter um time diverso e criar um ambiente seguro para que novas soluções surjam. Do contrário, é impossível você conseguir pensar diferente.”

Geralmente associada à inovação e ao futuro do trabalho, as startups não aliam a teoria à prática no que diz respeito à diversidade: elas saem publicamente em defesa das minorias, mas é baixa ou inexistente a inclusão de mulheres, negros, LGBTQIA+, pessoas com deficiência (PCD) e idosos no dia a dia dessas empresas, revela um estudo feito pela Associação Brasileira de Startups (ABStartups) obtido com exclusividade pelo Estadão.

Quando perguntadas se apoiam a diversidade, a maioria das startups (96,8%) respondeu positivamente. Mas, quando questionadas se a companhia possui algum processo seletivo voltado para a inclusão de grupos minoritários, as respostas negativas somam 60,7%, aponta o levantamento, que entrevistou 2,5 mil startups entre agosto e setembro deste ano.

Além disso, as companhias enfrentam um cenário de escassez de colaboradores diversos. Quase um terço (31,2%) declara não ter nenhum funcionário preto ou pardo, enquanto o número é de 19,1% de quem afirma não ter funcionárias mulheres. Startups sem idosos, PCDs e transsexuais totalizam 62,3%, 90,3% e 90%, respectivamente.

Do outro lado da mesa, o cenário é bem mais homogêneo. Os fundadores das startups declaram-se homens (78,1%), pardos (51,1%) ou brancos (33,7%), heterossexuais (92,1%) e afirmam ter entre 31 e 40 anos (45%). Ainda, sete em cada dez fundadores atuam como presidente-executivo (o CEO) – o cargo mais alto na empresa.

Esse é um perfil bastante comum entre os fundadores dos unicórnios brasileiros (startups com avaliação de mercado superior a US$ 1 bilhão). As exceções são poucas e conhecidas: entre elas estão Cristina Junqueira, do Nubank, e Robson Privado, do MadeiraMadeira, primeiro negro a integrar o clube nacional  de fundadores de unicórnios.

Para Ana Flávia Carrilo, coordenadora de informação da ABStartups, o cenário é preocupante e o segmento de inovação no Brasil precisa parar de tratar o assunto como secundário. “Não adianta ter boa vontade se não se coloca a diversidade como prioridade”, diz. “E é o fundador, que é quem toma as decisões, que é quem vai definir a prioridade, o que sempre envolve dinheiro.”

Tamanho não é documento

As startups mais maduras levam uma vantagem ao abordar a questão da diversidade: por terem mais recursos, conseguem alocar maiores investimentos em departamentos de recursos humanos mais robustos, que podem definir processos seletivos mais diversos. Mas essa não pode ser a desculpa para esperar que os processos de inclusão tenham início.

Ana Flávia diz que as startups menores devem preocupar-se com diversidade já na divulgação das novas vagas, tornando os processos seletivos mais simples de entender para diferentes públicos. Um fator positivo, diz, seria transformar a abertura de vagas em linguagem neutra (em que sufixos marcadores de gênero são substituídos por “e” ou “@”, de modo a ser inclusivo com homens, mulheres e pessoas não binárias simultaneamente). 

Diversidade pode fomentar a inovação, a 'matéria-prima' das startups Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 13/9/2021

Outra sugestão é abandonar o “startupês”, isto é, termos do vocabulário anglófono de negócios misturados ao português – o que pode confundir e afastar pessoas não familiarizadas com o inglês corporativo. “Apesar de ser aberto internamente, o ambiente de startups pode ser estranho para quem é de fora”, observa.

Porém, trabalhar a entrada de pessoas diversas não inclui somente a etapa seletiva. Esse  é um processo que inclui não só entender quem está de fora da empresa, mas também revisar políticas internas e definir critérios de atração, seleção e retenção de talentos, diz  Renata Mendes, diretora de relações institucionais e governamentais da Endeavor. Para ela, é preciso ter uma análise frequente do feedback desses colaboradores, tanto para entender sobre expectativas, quanto para saber se o ambiente em que trabalham é inclusivo de fato.

No fim das contas, diversidade ainda é minoria dentro do ecossistema de inovação do Brasil: “O que nós percebemos é que empresas lideradas por pessoas negras e por mulheres possuem times mais diversos”, conclui Renata.

Tanto esforço para incluir mais minorias nas empresas tem motivo, além da inclusão social: é consenso no mundo dos negócios que diversidade acelera a inovação — a “matéria-prima” das startups, por assim dizer. 

Especialistas apontam que apostar em diversidade tem influência no nível de inovação alcançado. “Se você quer soluções diferentes ou resultados diferentes, como você vai conseguir isso perguntando para as mesmas pessoas, que têm os mesmos repertórios?”, aponta Dani Junco, fundadora e CEO da B2Mamy, aceleradora dedicada a empreendedoras. “É ponto comum ter um time diverso e criar um ambiente seguro para que novas soluções surjam. Do contrário, é impossível você conseguir pensar diferente.”

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