Telemedicina ainda está na sala de espera


Atendimento médico já pode ser feito através de consultas por apps e inteligência artificial, mas serviço gera polêmica

Por Matheus Mans

Hoje, quem fica doente precisa sair de casa. Afinal, ainda que muitos médicos aceitem fazer a consulta por meio de WhatsApp e Skype, não há meios oficiais e seguros de encaminhar a receita. Mas a solução para isso já pode estar na tela do seu celular. É a telemedicina, ramo do atendimento médico que leva consultas, exames e triagens direto a plataformas digitais especializadas, e com uma grande leva de startups tentando entrar no mercado.

Milene Rosenthal, fundadora da Telavita. Foto: JF DIORIO/ESTADAO
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Uma dessas startups é a Teldoctor, de teleconsultas. Fundada em 2018, a empresa oferece uma plataforma, via aplicativo ou website, que faz triagem ou atendimento médico simples. Ali, o paciente passa por um questionário típico dos consultórios (idade, cirurgias, remédios) e, depois, relata a dor ou incômodo que sente. A partir daí, o serviço usa uma inteligência artificial própria para fazer um diagnóstico prévio.

Para validar a máquina, um médico do corpo clínico da Teldoctor faz a certificação do caso, que também é enviada digitalmente ao paciente. Como qualquer médico, o profissional da Teldoctor pode prescrever remédios e exames ou fazer encaminhamentos a outros profissionais – ainda que medicamentos específicos, como antibióticos, sejam evitados. Tudo isso é feito em poucos minutos, de maneira digital, com um custo de R$ 69,90.

“Nós fazemos um atendimento primário e que envolva apenas alguma das três mil doenças mais comuns do mundo. Caso a gente perceba que é algo mais grave, estornamos o valor do atendimento e encaminhamos para um pronto-socorro”, explica Marcelo Callegari, sócio da startup. Segundo ele, a startup já realizou 450 mil atendimentos desde a sua criação e tem capacidade para 150 mil consultas ao mês. “O nosso objetivo é levar isso a cidades que não têm atendimento. É desafogar o SUS com uma boa triagem.”

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O alívio de movimento dos prontos-socorros é o que também mira a Teladoc, empresa americana que chegou ao País em 2018 após comprar a Advance Medical, empresa de orientação médica via telefone. Com a união, a companhia passou a oferecer serviços de vídeo – entre os clientes da Teladoc estão BRF, Grupo Renault, o Hospital Sírio Libanês e o Grupo Fleury.

“Hoje, cerca de 51% das pessoas que ligam pelo 0800 e tinham intenção de ir ao pronto-socorro acabam ficando em casa. Quando a gente passar a realizar a consulta, esse número pode subir para 80%”, explica Jean Marc Nieto, diretor-geral da empresa no Brasil. Além de triagem e consultas, a telemedicina olha também para a digitalização de exames. Startups como Portal Telemedicina, acelerada pelo Google, oferecem uma plataforma online que conecta clínicas pequenas ou em regiões remotas com especialistas espalhados pelo Brasil. Ou seja: quem mora em alguma cidade afastada não precisa se deslocar com seu exame para saber os resultados. Basta enviar a documentação pela plataforma e esperar o laudo – os dados ainda ficam armazenados por até cinco anos caso o médico precise recorrer a informações mais antigas.

Legislação

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Apesar das promessas de agilidade e precisão, a telemedicina é alvo de polêmica. No começo do ano, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou a norma 2.227/2018, que regulariza o exercício de medicina via meios digitais em plataformas que sigam regras de segurança e privacidade. Porém, foi revogada dias depois após protestos de parte da comunidade médica, o que fez uma norma de 2002 voltar à ativa. A nova regularização está em consulta pública, e deve ser publicada no fim do ano.

“Em 2002, não havia Facebook, iPad e smartphone. A tecnologia avançou e a medicina tem de acompanhar”, afirma Chao Lung Wen, da Câmara Técnica de Informática em Saúde do CFM. “A comunidade médica tem de entender que é uma oportunidade”, diz. Nos Estados Unidos, onde a prática da telemedicina já é legalizada e possui mercado ativo, a receptividade do público é alta. Segundo a consultoria Accenture, hoje 29% dos 2.338 entrevistados nos Estados Unidos usam alguma forma de atendimento virtual. E mais da metade usa enfermeiros virtuais para monitorar condições de saúde, medicamentos e sinais vitais.

“Alguns centros estão muito avançados e já trabalham ativamente nas áreas de ensino, pesquisa e até atividades assistenciais com telemedicina”, destaca a vice-coordenadora do Núcleo de Educação a Distância e Tecnologias da Informação em Saúde da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), Denise Zornoff. “Mas o Brasil tem um forte potencial. Já tem programas de impacto que colocam o País no mapa da telemedicina e se torna promissor para investimentos neste mercado. É impossível parar a telemedicina.”

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À espera

Não é bem assim. A indefinição da regulamentação freou investimentos – há o receio de que produtos seja restringidos ou proibidos. A Telavita, por exemplo, está em um estado de suspensão com a telemedicina. A startup é uma estrutura preparada para fazer consultas por meio de vídeo. É um modelo testado e validado por conta do serviço de consultas com psicólogos, modalidade que tem sinal verde para funcionar.

No entanto, a startup decidiu esperar a regulação para evitar dores de cabeça no futuro. “A situação é a mesma de quando esperávamos a regulação da teleterapia. Hoje, já podemos fazer orientação, mas não diagnósticos completos”, explica Milene Rosenthal, fundadora da Telavita. O que ela espera é um posicionamento do CFM com relação aos protocolos, já que a prática é difícil de mudar. “As pessoas já consultam médicos por Skype e WhatsApp. Esperamos que o conselho olhe para segurança”, diz.

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Chao Lung Wen, do CFM e também professor da Universidade de São Paulo (USP) na área de telemedicina, vai além: “É preciso que se rompa o desconhecimento com a área. As faculdades de medicina precisam colocar a disciplina de telemedicina ao longo do curso, para os profissionais irem se acostumando”, disse . “Se isso já tivesse sido feito, a nova norma não teria sido questionada.”

‘Uber’ das consultas

Uma startup médica que vai num caminho diferente das que apostam em consultas a distância é a Docway. Fundada por Fábio Tiepolo, em 2015, a startup surgiu com a ideia de “uberização” da medicina. Para isso, a pessoa entra na plataforma, escolhe a especialidade, marca o horário e aguarda a chegada do médico em casa. O pagamento, que tem um valor diferente para cada profissional, é feito por cartão de crédito direto no app. Segundo a companhia, já são 100 mil usuários e 4 mil médicos em mais de 260 cidades.

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A startup quer ir além, mas prefere esperar a regularização do setor para avançar com mais segurança. “Nos preparamos durante 2018 com muito investimento na área para atender a requisitos da teleconsulta. Mas tivemos de ajustar nossos planos e esperar a regularização.” /COLABOROU BRUNO CAPELAS

Hoje, quem fica doente precisa sair de casa. Afinal, ainda que muitos médicos aceitem fazer a consulta por meio de WhatsApp e Skype, não há meios oficiais e seguros de encaminhar a receita. Mas a solução para isso já pode estar na tela do seu celular. É a telemedicina, ramo do atendimento médico que leva consultas, exames e triagens direto a plataformas digitais especializadas, e com uma grande leva de startups tentando entrar no mercado.

Milene Rosenthal, fundadora da Telavita. Foto: JF DIORIO/ESTADAO

Uma dessas startups é a Teldoctor, de teleconsultas. Fundada em 2018, a empresa oferece uma plataforma, via aplicativo ou website, que faz triagem ou atendimento médico simples. Ali, o paciente passa por um questionário típico dos consultórios (idade, cirurgias, remédios) e, depois, relata a dor ou incômodo que sente. A partir daí, o serviço usa uma inteligência artificial própria para fazer um diagnóstico prévio.

Para validar a máquina, um médico do corpo clínico da Teldoctor faz a certificação do caso, que também é enviada digitalmente ao paciente. Como qualquer médico, o profissional da Teldoctor pode prescrever remédios e exames ou fazer encaminhamentos a outros profissionais – ainda que medicamentos específicos, como antibióticos, sejam evitados. Tudo isso é feito em poucos minutos, de maneira digital, com um custo de R$ 69,90.

“Nós fazemos um atendimento primário e que envolva apenas alguma das três mil doenças mais comuns do mundo. Caso a gente perceba que é algo mais grave, estornamos o valor do atendimento e encaminhamos para um pronto-socorro”, explica Marcelo Callegari, sócio da startup. Segundo ele, a startup já realizou 450 mil atendimentos desde a sua criação e tem capacidade para 150 mil consultas ao mês. “O nosso objetivo é levar isso a cidades que não têm atendimento. É desafogar o SUS com uma boa triagem.”

O alívio de movimento dos prontos-socorros é o que também mira a Teladoc, empresa americana que chegou ao País em 2018 após comprar a Advance Medical, empresa de orientação médica via telefone. Com a união, a companhia passou a oferecer serviços de vídeo – entre os clientes da Teladoc estão BRF, Grupo Renault, o Hospital Sírio Libanês e o Grupo Fleury.

“Hoje, cerca de 51% das pessoas que ligam pelo 0800 e tinham intenção de ir ao pronto-socorro acabam ficando em casa. Quando a gente passar a realizar a consulta, esse número pode subir para 80%”, explica Jean Marc Nieto, diretor-geral da empresa no Brasil. Além de triagem e consultas, a telemedicina olha também para a digitalização de exames. Startups como Portal Telemedicina, acelerada pelo Google, oferecem uma plataforma online que conecta clínicas pequenas ou em regiões remotas com especialistas espalhados pelo Brasil. Ou seja: quem mora em alguma cidade afastada não precisa se deslocar com seu exame para saber os resultados. Basta enviar a documentação pela plataforma e esperar o laudo – os dados ainda ficam armazenados por até cinco anos caso o médico precise recorrer a informações mais antigas.

Legislação

Apesar das promessas de agilidade e precisão, a telemedicina é alvo de polêmica. No começo do ano, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou a norma 2.227/2018, que regulariza o exercício de medicina via meios digitais em plataformas que sigam regras de segurança e privacidade. Porém, foi revogada dias depois após protestos de parte da comunidade médica, o que fez uma norma de 2002 voltar à ativa. A nova regularização está em consulta pública, e deve ser publicada no fim do ano.

“Em 2002, não havia Facebook, iPad e smartphone. A tecnologia avançou e a medicina tem de acompanhar”, afirma Chao Lung Wen, da Câmara Técnica de Informática em Saúde do CFM. “A comunidade médica tem de entender que é uma oportunidade”, diz. Nos Estados Unidos, onde a prática da telemedicina já é legalizada e possui mercado ativo, a receptividade do público é alta. Segundo a consultoria Accenture, hoje 29% dos 2.338 entrevistados nos Estados Unidos usam alguma forma de atendimento virtual. E mais da metade usa enfermeiros virtuais para monitorar condições de saúde, medicamentos e sinais vitais.

“Alguns centros estão muito avançados e já trabalham ativamente nas áreas de ensino, pesquisa e até atividades assistenciais com telemedicina”, destaca a vice-coordenadora do Núcleo de Educação a Distância e Tecnologias da Informação em Saúde da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), Denise Zornoff. “Mas o Brasil tem um forte potencial. Já tem programas de impacto que colocam o País no mapa da telemedicina e se torna promissor para investimentos neste mercado. É impossível parar a telemedicina.”

À espera

Não é bem assim. A indefinição da regulamentação freou investimentos – há o receio de que produtos seja restringidos ou proibidos. A Telavita, por exemplo, está em um estado de suspensão com a telemedicina. A startup é uma estrutura preparada para fazer consultas por meio de vídeo. É um modelo testado e validado por conta do serviço de consultas com psicólogos, modalidade que tem sinal verde para funcionar.

No entanto, a startup decidiu esperar a regulação para evitar dores de cabeça no futuro. “A situação é a mesma de quando esperávamos a regulação da teleterapia. Hoje, já podemos fazer orientação, mas não diagnósticos completos”, explica Milene Rosenthal, fundadora da Telavita. O que ela espera é um posicionamento do CFM com relação aos protocolos, já que a prática é difícil de mudar. “As pessoas já consultam médicos por Skype e WhatsApp. Esperamos que o conselho olhe para segurança”, diz.

Chao Lung Wen, do CFM e também professor da Universidade de São Paulo (USP) na área de telemedicina, vai além: “É preciso que se rompa o desconhecimento com a área. As faculdades de medicina precisam colocar a disciplina de telemedicina ao longo do curso, para os profissionais irem se acostumando”, disse . “Se isso já tivesse sido feito, a nova norma não teria sido questionada.”

‘Uber’ das consultas

Uma startup médica que vai num caminho diferente das que apostam em consultas a distância é a Docway. Fundada por Fábio Tiepolo, em 2015, a startup surgiu com a ideia de “uberização” da medicina. Para isso, a pessoa entra na plataforma, escolhe a especialidade, marca o horário e aguarda a chegada do médico em casa. O pagamento, que tem um valor diferente para cada profissional, é feito por cartão de crédito direto no app. Segundo a companhia, já são 100 mil usuários e 4 mil médicos em mais de 260 cidades.

A startup quer ir além, mas prefere esperar a regularização do setor para avançar com mais segurança. “Nos preparamos durante 2018 com muito investimento na área para atender a requisitos da teleconsulta. Mas tivemos de ajustar nossos planos e esperar a regularização.” /COLABOROU BRUNO CAPELAS

Hoje, quem fica doente precisa sair de casa. Afinal, ainda que muitos médicos aceitem fazer a consulta por meio de WhatsApp e Skype, não há meios oficiais e seguros de encaminhar a receita. Mas a solução para isso já pode estar na tela do seu celular. É a telemedicina, ramo do atendimento médico que leva consultas, exames e triagens direto a plataformas digitais especializadas, e com uma grande leva de startups tentando entrar no mercado.

Milene Rosenthal, fundadora da Telavita. Foto: JF DIORIO/ESTADAO

Uma dessas startups é a Teldoctor, de teleconsultas. Fundada em 2018, a empresa oferece uma plataforma, via aplicativo ou website, que faz triagem ou atendimento médico simples. Ali, o paciente passa por um questionário típico dos consultórios (idade, cirurgias, remédios) e, depois, relata a dor ou incômodo que sente. A partir daí, o serviço usa uma inteligência artificial própria para fazer um diagnóstico prévio.

Para validar a máquina, um médico do corpo clínico da Teldoctor faz a certificação do caso, que também é enviada digitalmente ao paciente. Como qualquer médico, o profissional da Teldoctor pode prescrever remédios e exames ou fazer encaminhamentos a outros profissionais – ainda que medicamentos específicos, como antibióticos, sejam evitados. Tudo isso é feito em poucos minutos, de maneira digital, com um custo de R$ 69,90.

“Nós fazemos um atendimento primário e que envolva apenas alguma das três mil doenças mais comuns do mundo. Caso a gente perceba que é algo mais grave, estornamos o valor do atendimento e encaminhamos para um pronto-socorro”, explica Marcelo Callegari, sócio da startup. Segundo ele, a startup já realizou 450 mil atendimentos desde a sua criação e tem capacidade para 150 mil consultas ao mês. “O nosso objetivo é levar isso a cidades que não têm atendimento. É desafogar o SUS com uma boa triagem.”

O alívio de movimento dos prontos-socorros é o que também mira a Teladoc, empresa americana que chegou ao País em 2018 após comprar a Advance Medical, empresa de orientação médica via telefone. Com a união, a companhia passou a oferecer serviços de vídeo – entre os clientes da Teladoc estão BRF, Grupo Renault, o Hospital Sírio Libanês e o Grupo Fleury.

“Hoje, cerca de 51% das pessoas que ligam pelo 0800 e tinham intenção de ir ao pronto-socorro acabam ficando em casa. Quando a gente passar a realizar a consulta, esse número pode subir para 80%”, explica Jean Marc Nieto, diretor-geral da empresa no Brasil. Além de triagem e consultas, a telemedicina olha também para a digitalização de exames. Startups como Portal Telemedicina, acelerada pelo Google, oferecem uma plataforma online que conecta clínicas pequenas ou em regiões remotas com especialistas espalhados pelo Brasil. Ou seja: quem mora em alguma cidade afastada não precisa se deslocar com seu exame para saber os resultados. Basta enviar a documentação pela plataforma e esperar o laudo – os dados ainda ficam armazenados por até cinco anos caso o médico precise recorrer a informações mais antigas.

Legislação

Apesar das promessas de agilidade e precisão, a telemedicina é alvo de polêmica. No começo do ano, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou a norma 2.227/2018, que regulariza o exercício de medicina via meios digitais em plataformas que sigam regras de segurança e privacidade. Porém, foi revogada dias depois após protestos de parte da comunidade médica, o que fez uma norma de 2002 voltar à ativa. A nova regularização está em consulta pública, e deve ser publicada no fim do ano.

“Em 2002, não havia Facebook, iPad e smartphone. A tecnologia avançou e a medicina tem de acompanhar”, afirma Chao Lung Wen, da Câmara Técnica de Informática em Saúde do CFM. “A comunidade médica tem de entender que é uma oportunidade”, diz. Nos Estados Unidos, onde a prática da telemedicina já é legalizada e possui mercado ativo, a receptividade do público é alta. Segundo a consultoria Accenture, hoje 29% dos 2.338 entrevistados nos Estados Unidos usam alguma forma de atendimento virtual. E mais da metade usa enfermeiros virtuais para monitorar condições de saúde, medicamentos e sinais vitais.

“Alguns centros estão muito avançados e já trabalham ativamente nas áreas de ensino, pesquisa e até atividades assistenciais com telemedicina”, destaca a vice-coordenadora do Núcleo de Educação a Distância e Tecnologias da Informação em Saúde da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), Denise Zornoff. “Mas o Brasil tem um forte potencial. Já tem programas de impacto que colocam o País no mapa da telemedicina e se torna promissor para investimentos neste mercado. É impossível parar a telemedicina.”

À espera

Não é bem assim. A indefinição da regulamentação freou investimentos – há o receio de que produtos seja restringidos ou proibidos. A Telavita, por exemplo, está em um estado de suspensão com a telemedicina. A startup é uma estrutura preparada para fazer consultas por meio de vídeo. É um modelo testado e validado por conta do serviço de consultas com psicólogos, modalidade que tem sinal verde para funcionar.

No entanto, a startup decidiu esperar a regulação para evitar dores de cabeça no futuro. “A situação é a mesma de quando esperávamos a regulação da teleterapia. Hoje, já podemos fazer orientação, mas não diagnósticos completos”, explica Milene Rosenthal, fundadora da Telavita. O que ela espera é um posicionamento do CFM com relação aos protocolos, já que a prática é difícil de mudar. “As pessoas já consultam médicos por Skype e WhatsApp. Esperamos que o conselho olhe para segurança”, diz.

Chao Lung Wen, do CFM e também professor da Universidade de São Paulo (USP) na área de telemedicina, vai além: “É preciso que se rompa o desconhecimento com a área. As faculdades de medicina precisam colocar a disciplina de telemedicina ao longo do curso, para os profissionais irem se acostumando”, disse . “Se isso já tivesse sido feito, a nova norma não teria sido questionada.”

‘Uber’ das consultas

Uma startup médica que vai num caminho diferente das que apostam em consultas a distância é a Docway. Fundada por Fábio Tiepolo, em 2015, a startup surgiu com a ideia de “uberização” da medicina. Para isso, a pessoa entra na plataforma, escolhe a especialidade, marca o horário e aguarda a chegada do médico em casa. O pagamento, que tem um valor diferente para cada profissional, é feito por cartão de crédito direto no app. Segundo a companhia, já são 100 mil usuários e 4 mil médicos em mais de 260 cidades.

A startup quer ir além, mas prefere esperar a regularização do setor para avançar com mais segurança. “Nos preparamos durante 2018 com muito investimento na área para atender a requisitos da teleconsulta. Mas tivemos de ajustar nossos planos e esperar a regularização.” /COLABOROU BRUNO CAPELAS

Hoje, quem fica doente precisa sair de casa. Afinal, ainda que muitos médicos aceitem fazer a consulta por meio de WhatsApp e Skype, não há meios oficiais e seguros de encaminhar a receita. Mas a solução para isso já pode estar na tela do seu celular. É a telemedicina, ramo do atendimento médico que leva consultas, exames e triagens direto a plataformas digitais especializadas, e com uma grande leva de startups tentando entrar no mercado.

Milene Rosenthal, fundadora da Telavita. Foto: JF DIORIO/ESTADAO

Uma dessas startups é a Teldoctor, de teleconsultas. Fundada em 2018, a empresa oferece uma plataforma, via aplicativo ou website, que faz triagem ou atendimento médico simples. Ali, o paciente passa por um questionário típico dos consultórios (idade, cirurgias, remédios) e, depois, relata a dor ou incômodo que sente. A partir daí, o serviço usa uma inteligência artificial própria para fazer um diagnóstico prévio.

Para validar a máquina, um médico do corpo clínico da Teldoctor faz a certificação do caso, que também é enviada digitalmente ao paciente. Como qualquer médico, o profissional da Teldoctor pode prescrever remédios e exames ou fazer encaminhamentos a outros profissionais – ainda que medicamentos específicos, como antibióticos, sejam evitados. Tudo isso é feito em poucos minutos, de maneira digital, com um custo de R$ 69,90.

“Nós fazemos um atendimento primário e que envolva apenas alguma das três mil doenças mais comuns do mundo. Caso a gente perceba que é algo mais grave, estornamos o valor do atendimento e encaminhamos para um pronto-socorro”, explica Marcelo Callegari, sócio da startup. Segundo ele, a startup já realizou 450 mil atendimentos desde a sua criação e tem capacidade para 150 mil consultas ao mês. “O nosso objetivo é levar isso a cidades que não têm atendimento. É desafogar o SUS com uma boa triagem.”

O alívio de movimento dos prontos-socorros é o que também mira a Teladoc, empresa americana que chegou ao País em 2018 após comprar a Advance Medical, empresa de orientação médica via telefone. Com a união, a companhia passou a oferecer serviços de vídeo – entre os clientes da Teladoc estão BRF, Grupo Renault, o Hospital Sírio Libanês e o Grupo Fleury.

“Hoje, cerca de 51% das pessoas que ligam pelo 0800 e tinham intenção de ir ao pronto-socorro acabam ficando em casa. Quando a gente passar a realizar a consulta, esse número pode subir para 80%”, explica Jean Marc Nieto, diretor-geral da empresa no Brasil. Além de triagem e consultas, a telemedicina olha também para a digitalização de exames. Startups como Portal Telemedicina, acelerada pelo Google, oferecem uma plataforma online que conecta clínicas pequenas ou em regiões remotas com especialistas espalhados pelo Brasil. Ou seja: quem mora em alguma cidade afastada não precisa se deslocar com seu exame para saber os resultados. Basta enviar a documentação pela plataforma e esperar o laudo – os dados ainda ficam armazenados por até cinco anos caso o médico precise recorrer a informações mais antigas.

Legislação

Apesar das promessas de agilidade e precisão, a telemedicina é alvo de polêmica. No começo do ano, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou a norma 2.227/2018, que regulariza o exercício de medicina via meios digitais em plataformas que sigam regras de segurança e privacidade. Porém, foi revogada dias depois após protestos de parte da comunidade médica, o que fez uma norma de 2002 voltar à ativa. A nova regularização está em consulta pública, e deve ser publicada no fim do ano.

“Em 2002, não havia Facebook, iPad e smartphone. A tecnologia avançou e a medicina tem de acompanhar”, afirma Chao Lung Wen, da Câmara Técnica de Informática em Saúde do CFM. “A comunidade médica tem de entender que é uma oportunidade”, diz. Nos Estados Unidos, onde a prática da telemedicina já é legalizada e possui mercado ativo, a receptividade do público é alta. Segundo a consultoria Accenture, hoje 29% dos 2.338 entrevistados nos Estados Unidos usam alguma forma de atendimento virtual. E mais da metade usa enfermeiros virtuais para monitorar condições de saúde, medicamentos e sinais vitais.

“Alguns centros estão muito avançados e já trabalham ativamente nas áreas de ensino, pesquisa e até atividades assistenciais com telemedicina”, destaca a vice-coordenadora do Núcleo de Educação a Distância e Tecnologias da Informação em Saúde da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), Denise Zornoff. “Mas o Brasil tem um forte potencial. Já tem programas de impacto que colocam o País no mapa da telemedicina e se torna promissor para investimentos neste mercado. É impossível parar a telemedicina.”

À espera

Não é bem assim. A indefinição da regulamentação freou investimentos – há o receio de que produtos seja restringidos ou proibidos. A Telavita, por exemplo, está em um estado de suspensão com a telemedicina. A startup é uma estrutura preparada para fazer consultas por meio de vídeo. É um modelo testado e validado por conta do serviço de consultas com psicólogos, modalidade que tem sinal verde para funcionar.

No entanto, a startup decidiu esperar a regulação para evitar dores de cabeça no futuro. “A situação é a mesma de quando esperávamos a regulação da teleterapia. Hoje, já podemos fazer orientação, mas não diagnósticos completos”, explica Milene Rosenthal, fundadora da Telavita. O que ela espera é um posicionamento do CFM com relação aos protocolos, já que a prática é difícil de mudar. “As pessoas já consultam médicos por Skype e WhatsApp. Esperamos que o conselho olhe para segurança”, diz.

Chao Lung Wen, do CFM e também professor da Universidade de São Paulo (USP) na área de telemedicina, vai além: “É preciso que se rompa o desconhecimento com a área. As faculdades de medicina precisam colocar a disciplina de telemedicina ao longo do curso, para os profissionais irem se acostumando”, disse . “Se isso já tivesse sido feito, a nova norma não teria sido questionada.”

‘Uber’ das consultas

Uma startup médica que vai num caminho diferente das que apostam em consultas a distância é a Docway. Fundada por Fábio Tiepolo, em 2015, a startup surgiu com a ideia de “uberização” da medicina. Para isso, a pessoa entra na plataforma, escolhe a especialidade, marca o horário e aguarda a chegada do médico em casa. O pagamento, que tem um valor diferente para cada profissional, é feito por cartão de crédito direto no app. Segundo a companhia, já são 100 mil usuários e 4 mil médicos em mais de 260 cidades.

A startup quer ir além, mas prefere esperar a regularização do setor para avançar com mais segurança. “Nos preparamos durante 2018 com muito investimento na área para atender a requisitos da teleconsulta. Mas tivemos de ajustar nossos planos e esperar a regularização.” /COLABOROU BRUNO CAPELAS

Hoje, quem fica doente precisa sair de casa. Afinal, ainda que muitos médicos aceitem fazer a consulta por meio de WhatsApp e Skype, não há meios oficiais e seguros de encaminhar a receita. Mas a solução para isso já pode estar na tela do seu celular. É a telemedicina, ramo do atendimento médico que leva consultas, exames e triagens direto a plataformas digitais especializadas, e com uma grande leva de startups tentando entrar no mercado.

Milene Rosenthal, fundadora da Telavita. Foto: JF DIORIO/ESTADAO

Uma dessas startups é a Teldoctor, de teleconsultas. Fundada em 2018, a empresa oferece uma plataforma, via aplicativo ou website, que faz triagem ou atendimento médico simples. Ali, o paciente passa por um questionário típico dos consultórios (idade, cirurgias, remédios) e, depois, relata a dor ou incômodo que sente. A partir daí, o serviço usa uma inteligência artificial própria para fazer um diagnóstico prévio.

Para validar a máquina, um médico do corpo clínico da Teldoctor faz a certificação do caso, que também é enviada digitalmente ao paciente. Como qualquer médico, o profissional da Teldoctor pode prescrever remédios e exames ou fazer encaminhamentos a outros profissionais – ainda que medicamentos específicos, como antibióticos, sejam evitados. Tudo isso é feito em poucos minutos, de maneira digital, com um custo de R$ 69,90.

“Nós fazemos um atendimento primário e que envolva apenas alguma das três mil doenças mais comuns do mundo. Caso a gente perceba que é algo mais grave, estornamos o valor do atendimento e encaminhamos para um pronto-socorro”, explica Marcelo Callegari, sócio da startup. Segundo ele, a startup já realizou 450 mil atendimentos desde a sua criação e tem capacidade para 150 mil consultas ao mês. “O nosso objetivo é levar isso a cidades que não têm atendimento. É desafogar o SUS com uma boa triagem.”

O alívio de movimento dos prontos-socorros é o que também mira a Teladoc, empresa americana que chegou ao País em 2018 após comprar a Advance Medical, empresa de orientação médica via telefone. Com a união, a companhia passou a oferecer serviços de vídeo – entre os clientes da Teladoc estão BRF, Grupo Renault, o Hospital Sírio Libanês e o Grupo Fleury.

“Hoje, cerca de 51% das pessoas que ligam pelo 0800 e tinham intenção de ir ao pronto-socorro acabam ficando em casa. Quando a gente passar a realizar a consulta, esse número pode subir para 80%”, explica Jean Marc Nieto, diretor-geral da empresa no Brasil. Além de triagem e consultas, a telemedicina olha também para a digitalização de exames. Startups como Portal Telemedicina, acelerada pelo Google, oferecem uma plataforma online que conecta clínicas pequenas ou em regiões remotas com especialistas espalhados pelo Brasil. Ou seja: quem mora em alguma cidade afastada não precisa se deslocar com seu exame para saber os resultados. Basta enviar a documentação pela plataforma e esperar o laudo – os dados ainda ficam armazenados por até cinco anos caso o médico precise recorrer a informações mais antigas.

Legislação

Apesar das promessas de agilidade e precisão, a telemedicina é alvo de polêmica. No começo do ano, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou a norma 2.227/2018, que regulariza o exercício de medicina via meios digitais em plataformas que sigam regras de segurança e privacidade. Porém, foi revogada dias depois após protestos de parte da comunidade médica, o que fez uma norma de 2002 voltar à ativa. A nova regularização está em consulta pública, e deve ser publicada no fim do ano.

“Em 2002, não havia Facebook, iPad e smartphone. A tecnologia avançou e a medicina tem de acompanhar”, afirma Chao Lung Wen, da Câmara Técnica de Informática em Saúde do CFM. “A comunidade médica tem de entender que é uma oportunidade”, diz. Nos Estados Unidos, onde a prática da telemedicina já é legalizada e possui mercado ativo, a receptividade do público é alta. Segundo a consultoria Accenture, hoje 29% dos 2.338 entrevistados nos Estados Unidos usam alguma forma de atendimento virtual. E mais da metade usa enfermeiros virtuais para monitorar condições de saúde, medicamentos e sinais vitais.

“Alguns centros estão muito avançados e já trabalham ativamente nas áreas de ensino, pesquisa e até atividades assistenciais com telemedicina”, destaca a vice-coordenadora do Núcleo de Educação a Distância e Tecnologias da Informação em Saúde da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), Denise Zornoff. “Mas o Brasil tem um forte potencial. Já tem programas de impacto que colocam o País no mapa da telemedicina e se torna promissor para investimentos neste mercado. É impossível parar a telemedicina.”

À espera

Não é bem assim. A indefinição da regulamentação freou investimentos – há o receio de que produtos seja restringidos ou proibidos. A Telavita, por exemplo, está em um estado de suspensão com a telemedicina. A startup é uma estrutura preparada para fazer consultas por meio de vídeo. É um modelo testado e validado por conta do serviço de consultas com psicólogos, modalidade que tem sinal verde para funcionar.

No entanto, a startup decidiu esperar a regulação para evitar dores de cabeça no futuro. “A situação é a mesma de quando esperávamos a regulação da teleterapia. Hoje, já podemos fazer orientação, mas não diagnósticos completos”, explica Milene Rosenthal, fundadora da Telavita. O que ela espera é um posicionamento do CFM com relação aos protocolos, já que a prática é difícil de mudar. “As pessoas já consultam médicos por Skype e WhatsApp. Esperamos que o conselho olhe para segurança”, diz.

Chao Lung Wen, do CFM e também professor da Universidade de São Paulo (USP) na área de telemedicina, vai além: “É preciso que se rompa o desconhecimento com a área. As faculdades de medicina precisam colocar a disciplina de telemedicina ao longo do curso, para os profissionais irem se acostumando”, disse . “Se isso já tivesse sido feito, a nova norma não teria sido questionada.”

‘Uber’ das consultas

Uma startup médica que vai num caminho diferente das que apostam em consultas a distância é a Docway. Fundada por Fábio Tiepolo, em 2015, a startup surgiu com a ideia de “uberização” da medicina. Para isso, a pessoa entra na plataforma, escolhe a especialidade, marca o horário e aguarda a chegada do médico em casa. O pagamento, que tem um valor diferente para cada profissional, é feito por cartão de crédito direto no app. Segundo a companhia, já são 100 mil usuários e 4 mil médicos em mais de 260 cidades.

A startup quer ir além, mas prefere esperar a regularização do setor para avançar com mais segurança. “Nos preparamos durante 2018 com muito investimento na área para atender a requisitos da teleconsulta. Mas tivemos de ajustar nossos planos e esperar a regularização.” /COLABOROU BRUNO CAPELAS

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